Retorno às aulas em Natal: o prefeito teve que recuar! Mas até quando?

O Prefeito da Cidade do Natal, Álvaro Dias (PSDB), tornou pública nessa terça-feira (28/07) a sua intenção de autorizar o retorno às aulas em escolas públicas e particulares, mas teve que recuar da sua decisão um dia depois devido à forte pressão que sofreu de professoras, professores, mães, pais, estudantes e seus responsáveis. A decisão inicial, que era absurda, provocou revolta e preocupação entre professoras, professores e trabalhadores da educação, uma vez que a pandemia causada pelo novo coronavírus ainda não está devidamente controlada e existem os riscos que a medida traz às vidas de diversas pessoas.

São muitas as professoras e os professores que possuem comorbidades ou que convivem com pessoas nessas condições que ficaram assustadas e assustados porque ainda não conheciam os termos desse retorno, uma vez que que não havia um protocolo de biossegurança divulgado no momento do anúncio. O próprio comitê científico não tinha um parecer divulgado para embasar a decisão e, diante da falta de informações e para não colocarem as suas vidas ou as de pessoas de seu convívio em risco, alguns profissionais de escolas privadas, os primeiros que retornariam, passaram a falar em pedir demissão. 

Apesar da Cidade do Natal estar passando por uma queda das taxas de óbitos por Covid-19 e por uma diminuição dos índices de ocupação de leitos de UTI, a pandemia ainda não está sob controle e o retorno às aulas expõe não apenas os profissionais da educação e seus parentes, mas também as crianças, os adolescentes e as pessoas que compartilham o lar com eles. Embora nas faixas etárias mais baixas a doença tenda a ser menos agressiva, muitas das pessoas que vivem com esses estudantes compõem os grupos de risco para o Covid-19, o que pode não só potencializar um recrudescimento da doença, mas também abrir a possibilidade de mais famílias terem que lamentar a perda de um ente querido.

Segundo a nota técnica da FioCruz publicada em 22 de julho, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde, existem, no Brasil, pelo menos 3.879.379 adultos de idades entre 18 e 59 anos que possuem diabetes, doenças do coração ou doenças do pulmão que vivem com crianças e adolescentes que possuem idades entre 3 e 17 anos, ou seja, em idade escolar. Ainda de acordo com essa pesquisa, existem também 5.397.482 idosos (60 anos e mais) que convivem com crianças e adolescentes que possuem idades entre 3 e 17 anos. 

É de conhecimento comum que as doenças mencionadas anteriormente, bem como a idade mais elevada, fazem com que essas pessoas componham os grupos de risco para o Covid-19. Somadas, são 9.276.860 pessoas que convivem com crianças e adolescentes em idade escolar e que, por isso, terão as suas vidas colocadas em risco com um possível retorno às aulas em condições inadequadas de controle da pandemia. Isso é ainda mais grave no Rio Grande do Norte, em que o índice de idosos e adultos com diabetes, doenças do coração ou doenças do pulmão que convivem com menores entre 3 e 17 anos é a maior de todos os estados do Brasil, chegando a 6.1%, quando a média nacional é de 4.4%!

Mais que números, essas são vidas de avós, de avôs, de mães, pais, esposas, maridos e demais parentes que têm valor inestimável para aquelas e aqueles que convivem com eles e que participam diretamente dos cuidados e da educação desses estudantes. A perda de qualquer uma dessas pessoas faria qualquer número que vemos diariamente se converter em um nome de alguém que se ama e essa possibilidade é absolutamente inaceitável!

A tentativa frustrada de retorno às aulas em um momento ainda inadequado foi fruto da pressão do empresariado da educação, que seguirá empenhado nessa volta o mais rápido possível e a qualquer custo. É preciso destacar, contudo, que esse retorno às aulas presenciais não pode desconsiderar as vidas, a infraestrutura das escolas, nem sempre adequada, a precarização do trabalho no contexto de pandemia e a ampliação das desigualdades sociais, em especial em relação aos estudantes de escola pública.

O Prefeito Álvaro Dias e o empresariado da educação tiveram que recuar momentaneamente da sua decisão em decorrência da pressão que sofreram e isso mostra o quanto as nossas vozes são importantes. Não se pode atribuir essa importante vitória apenas ao fato do prefeito pretender disputar a reeleição em 2020. A revolta que a medida gerou, a visibilidade que a pauta da educação consegue ter na sociedade e a força que esse setor tem são grandes e, se avançar em seu processo de organização, é capaz de alcançar vitórias importantes! É por isso que os sindicatos, trabalhadoras e trabalhadores da educação privada e pública, mães e pais, responsáveis e estudantes precisam manter a defesa de que nossas vidas importam e estão acima dos lucros! Precisamos seguir atentas, atentos, mobilizadas e mobilizados contra essas medidas! Não vamos aceitar essa retomada presencial a qualquer custo e sem diálogo com os maiores interessados!

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