A crise econômica mundial e as perspectivas para a Europa

Por 30 anos, mas especialmente desde 1989 e o colapso do stalinismo, o capitalismo neoliberal – resumido no chamado ‘Consenso de Washington’ – dominou o capitalismo mundial. De fato, os capitalistas e seus ideólogos, assim como a maioria dos líderes sindicais e “trabalhistas’, adotaram a idéia de que o capitalismo desregulado era o melhor e o mais eficiente sistema possível para distribuir bens e serviços para os povos do mundo. Contudo, devastadora crise econômica mundial viu esse aparentemente poderoso edifício ideológico rachando até as bases. Os políticos e economistas capitalistas estão disputando espaço para explicar que seu sistema já está ou está para cair em uma ‘depressão’ ou pelo menos em uma “grande recessão” [Strauss-Kahn, chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI)].

Velocidade e profundidade da crise

Essa crise ainda não mostrou todo o seu alcance, mas já levou a uma destruição sem precedentes de riqueza e recursos por todo o mundo. Um comentarista capitalista da Grã-Bretanha, Hamish McRae, editor econômico do jornal The Independent, escreveu que um terço do produto interno bruto (PIB) do mundo foi destruído pela crise. Ele também prevê que se levará 10 anos para superarmos a destruição de riqueza já experimentada. O Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB, em inglês) foi ainda mais longe pontuando: “As quedas no valor dos ativos financeiros por todo o mundo pode ter alcançado mais de US$50.000 bilhões, equivalente a produção econômica global em um ano”. Essa é provavelmente uma subestimação do perigo desencadeado por essa crise, já que parece não levar em conta os efeitos do crash sobre a “economia real”. O Banco Mundial também declarou que “os países em desenvolvimento enfrentam uma lacuna financeira de US$270 bilhões – US$700 bilhões por ano à medida que secam os fluxos de capitais. Apenas um quarto dos países vulneráveis são capazes de amortecer o golpe da desaceleração econômica”. O ADB estima as perdas de capital na Ásia ano passado, excluindo o Japão, em US$9.625 bilhões ou 109% do PIB, comparado com a média global de 80%-85% do PIB. Para a América Latina a estimativa das perdas para 2008 é de US$2.119 bilhões ou 57% do PIB do continente. Schumpeter, o conhecido guru econômico capitalista, uma vez caracterizou o capitalismo como um processo de “destruição criativa”. Tem havido muita “destruição”, como esses dados indicam, e muito pouca “criatividade” no horizonte para a massa da classe trabalhadora e dos pobres por todo o planeta. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho estima que algo entre 30 e 50 milhões de trabalhadores ficarão desempregados ou serão jogados no turbilhão cinzento do “subemprego” no próximo ano. Adicionalmente, 90 milhões é o número previsto no aumento dos pobres como resultado da crise. É pouco surpreendente que Martin Wolf, no Financial Times, tenha escrito que os custos da crise até agora tem sido equivalentes aos de uma “guerra”.

Esses números indicam o caráter épico desta crise, que jogou a burguesia e seus porta-vozes em uma situação de pânico. Seu ânimo beira à semi-desmoralização, resumido em uma série de artigos no Financial Times, que cada vez mais assume o caráter de um “boletim interno” do capitalismo mundial, não apenas britânico. Eles mapearam as perspectivas, até onde puderam, para a burguesia mundial no próximo período. Suas conclusões? “Não apenas o sistema financeiro está assolado com perdas em uma escala que ninguém previu, mas também os pilares da fé sobre os quais esse novo capitalismo financeiro fora construído colapsaram. Isso deixou todos, do ministro das finanças e o presidente do Banco Central ao pequeno investidor ou acionista de fundos de pensão privado de uma bússola intelectual, estupefato e confuso.” O chefe de operações do Merrill Lynch em Moscou foi além: “Nosso mundo se despedaçou – e honestamente eu não sei o que irá substitui-lo. A bússola pela qual nós, como americanos, nos guiávamos sumiu… A última vez em que eu vi algo assim, em termos de senso de desorientação e perda, foi entre meus amigos [na Rússia] quando a União Soviética acabou”. O colapso na Rússia, a contra-revolução social depois de 1989, foi a maior contração das forças produtivas na história de um país, exceto a dos EUA entre 1929 e 1933.

Tão desorientados estão os estrategistas do capital que eles até procuram consolo nas obras de Marx e mesmo do anteriormente execrado Lenin. O famoso ditado deste, de que o capitalismo sempre encontra uma saída, foi citado com aprovação por um ideólogo do capitalismo no Financial Times! Esse comentarista esqueceu de dizer que Lenin acrescentou que isso era possível apenas com um imenso e intolerável sofrimento da classe trabalhadora, “sobre os ossos da classe trabalhadora” e de suas organizações, como escreveu Trotsky. Sem dúvida, se a classe trabalhadora não procurar uma saída através da revolução socialista, o capitalismo sempre se restabelecerá, embora com um equilíbrio instável. Mas como Trotsky observou no início dos anos 30, a situação objetiva – em termos da profundidade e velocidade da crise – por todo o mundo pode ser chamada, “com algum grau de justificação”, como pré-revolucionária. Isso sob a condição de que tal termo seja definido como cobrindo uma era que abarque vários anos de “fluxos e refluxos parciais”, que podem ocorrer entre uma situação pré-revolucionária e uma situação diretamente revolucionária.

Em outras palavras, como argumentou o CIO, essa crise assumirá um caráter prolongado; não é apenas uma crise, mas uma série de crises. Ela já introduziu uma instabilidade extrema nas moedas, um acúmulo massivo nos dívidas públicas – um “roubo geracional”, como o candidato presidencial republicano de direita McCain a descreveu – e enormes problemas para o capitalismo que em ultimo caso só podem ser resolvidos com um ataque direto aos padrões de vida da classe trabalhadora. Contudo, o período anterior de capitalismo neoliberal, que se desenvolveu ao longo de três décadas, determinou em primeira instância os processos não apenas na economia, mas na política e na consciência da classe trabalhadora. Tudo o que garantiu o sucesso do capitalismo agora está se transformando em seu oposto. A globalização desembocou em um período de “desglobalização”. A massiva expansão do comércio mundial, com uma diminuição das barreiras tarifárias e uma certa superação do próprio estado nacional, abasteceu o boom. Agora, em um novo cenário econômico, isso se transformou em protecionismo e em um colapso incrível no mercado mundial no rastro de uma contração da economia mundial, estimada, ou subestimada, pelo FMI como algo em torno de 0,5% a 2% este ano. Apenas isso significa que essa crise é pior do que qualquer uma desde os anos 1930. Apenas depois da crise de 1973-75 fomos capazes de ver que esta não resultou em uma queda real na produção mundial, mas uma grande desaceleração das taxas de crescimento. Apesar de todas as súplicas do FMI e das promessas feitas na última cúpula do G20, ou daquelas que serão piedosamente proferidas em abril, o protecionismo é inevitável. Os “líderes [capitalistas] falam globalmente [mas] pensam nacionalmente”, foi o comentário de um “expert” econômico sobre a próxima reunião do G20. Pode não ser na escala da Lei Smoot-Hawley [de 1930], que elevou as tarifas de mais de 20.000 itens apenas nos EUA, mas já é considerável. Liderados pela Grã-Bretanha, os governos europeus competiram um contra o outro para resgatar seus próprios correntistas, introduzir subsídios para as indústrias enfermas, por exemplo a indústria de carros. Isso já teve um efeito catastrófico naqueles mais dependentes do mercado mundial – especialmente na indústria manufatureira – tais como Japão, Alemanha, China e os países industrializados da Ásia.

Os pacotes de estímulo podem funcionar?

O quanto essa crise pode durar e pode o governo Obama, com seus pacotes de estímulos, resgatar o capitalismo mundial? O capitalismo mundial e seus representantes mais sérios, no que concernem as perspectivas, confessam abertamente sua perplexidade, incerteza e falta de previsão sobre o que pode acontecer no front econômico. Portanto, o elemento mais consciente no movimento dos trabalhadores, os marxistas, não pode dar respostas definitivas. Os pacotes de estímulo dos vários governos capitalistas estão avaliados em cerca de 2% do PIB mundial. Na Europa, no momento, esta cifra está em 0,85%, com mais 2,1% disponiveis em linhas de crédito estendidas e outras garantias. Nos EUA, o pacote de estímulo que passou pelo congresso foi de US$787 bilhões (5,6% do PIB) e as garantias e hipotecas ao Fannie Mae e Freddie Mac totalizam um extra de US$275 bilhões. Isto irá contribuir para um déficit do orçamento estimado em US$1,75 trilhões ou 12,3% do PIB! Na Grã-Bretanha, um dos maiores pacotes de estímulo, fora o da China, enquanto porcentagem do PIB – o último “alívio quantitativo” do Banco da Inglaterra – chegara, se for implementado, a 5% do PIB, um total de 150 bilhões de libras. Este é um sinal do desespero do capitalismo, de seus ideólogos e partidos de evitar ou mitigar os efeitos desse crash.

O sistema financeiro – especialmente os bancos – está em ruínas por todo o capitalismo mundial. Sem dúvida, sua primeira e mais visível expressão foi atingir o modelo “anglo-saxônico” de capitalismo, especialmente os EUA e Grã-Bretanha. Nestes países, o processo de “financeirização” foi levado mais longe, com as mais calamitosas conseqüências agora localizadas lá. Os bancos na Grã-Bretanha e EUA – se não em todo o mundo capitalista – estão tecnicamente insolventes no momento. Eles são, de fato, “bancos zumbis”. Isso apesar do fato de que o controle majoritário da maioria do setor bancário na Grã-Bretanha é exercido pelo estado, assim como, de fato, também nos EUA. Mas tanto Brown quanto Obama resistem à idéia de encerrar a “zumbificação” dos bancos, como disse Paul Krugman, o economista capitalista keynesiano. Isso pelas razões que esboçamos anteriormente. A nacionalização plena representará uma confissão aberta da bancarrota do “empreendimento privado”. Mas mesmo decididos direitistas do sistema, como James Baker, Secretário do Tesouro do primeiro George Bush, e o antigo guru econômico Alan Greenspan, agora são a favor da “nacionalização temporária”. Mesmo os keynesianos veem a nacionalização como uma “medida a curto prazo”, lamentável mas inevitável, necessária para resgatar o sistema, tal como o governo sueco fez em uma escala menor no começo dos anos 1990. Tão ávidos estão para impor essa solução ao regime Obama que keynesianos como Krugman procuram abandonar o termo “nationalização” e apresentá-la como “pré-privatização”, primeiro uma estatização e então a entrega de volta aos criminosos financeiros que os arruinaram em primeiro lugar. Apesar de todas as suas hesitações, à medida que a crise se aprofundar – com 600,000 por mês nos últimos três meses adicionados à fila do desemprego nos EUA, os piores números desde 1945 – a pressão pela estatização do setor financeiro pode se tornar irresistível para os capitalistas. Ao mesmo tempo, temos que enfatizar a necessidade do controle e gestão democráticos e socialistas do setor estatal, como explicamos no artigo da Socialism Today e no site do CIO sobre o programa de transição. 

Podem as medidas de Obama – e as de Brown e outros governos capitalistas – conseguir seu objetivo, antes de tudo proteger o capitalismo mundial e então lançar as bases para uma recuperação? O principal das injeções estatais é destinado para evitar uma armadilha deflacionária, o que Keynes descreveu como o “paradoxo da poupança”. As taxas de juros estão próximas ou efetivamente em zero, o que torna os bancos relutantes em emprestar, os clientes a não pedir emprestado e os depositantes relutantes em depositar. O problema para o capitalismo em crise não é tanto o crédito – há de fato uma “greve do crédito” por parte dos bancos – mas a falta de “demanda”, como pontuam muitos economistas burgueses. O que é isso senão uma manifestação do fenômeno de “superprodução” – um absurdo em épocas pré-capitalistas, como Marx salientou. A burguesia da Europa, Alemanha e Japão num primeiro momento atacou o “modelo anglo-saxônico” de financeirização como responsável pela crise – acreditando que eram imunes à desaceleração. Mas na realidade a crise de superprodução que atualmente experimentamos era inevitável, independentemente da crise financeira. A combinação mortal da crise financeira e a da “economia real” serviu apenas para reforçar, prolongar e aprofundar essa crise orgânica do capitalismo. A superprodução do capital, da classe trabalhadora, e agora cada vez mais da classe média, manifesta-se nessa crise. É improvável que as medidas dos governos capitalistas para “estimular” a economia tenham pleno sucesso. Não está excluído, de fato é provável, que Obama seja capaz de colocar alguma proteção na economia dos EUA, assim como Brown na Grã-Bretanha. Temos que acrescentar que a situação atual é única em escala, profundidade e rapidez. As medidas tomadas ou propostas são sem precedentes, mesmo quando julgadas pelo padrão dos anos 1930. Nunca na história – nem mesmo nos anos 1930 – os capitalistas procuraram evitar tão desesperadamente a crise do modo como estão tentando agora.

Efeitos sobre a China

A China não é capaz, como dissemos de antemão, de oferecer um salva-vidas para o capitalismo mundial. O relacionamento entre os EUA e a China no nível econômico tem sido uma variante da “Destruição Mutuamente Assegurada” (MAD, em inglês), que foi usada no passado para descrever o relacionamento militar entre capitalismo e stalinismo. A receita de ativos em dólar como pagamento das exportações chinesas aos EUA – o equivalente a US$1,600 para cada cidadão chinês – sustentou a balança comercial dos EUA e garantiu um mercado para as mercadorias chinesas. Contudo, a China agora, de acordo com o Independent em Londres, está “enfrentando sua pior crise financeira em um século”. Ao mesmo tempo, a economia chinesa, de acordo com o FMI, irá crescer bem abaixo dos 8% projetados pelas autoridades chinesas. Milhares de negócios colapsaram e o investimento estrangeiro direto está caindo, apesar “das garantias do governo de que as barreiras para o dinheiro estrangeiro estão caindo” [International Herald Tribune]. A quantidade de capital americano posto para funcionar na China em janeiro e fevereiro caiu pela metade. Ao mesmo tempo, a China está usando essa crise para investir no estrangeiro, comprando indústrias especialmente na África e em outras partes do mundo neocolonial.

Vendo suas mercadorias sendo barradas nos EUA e outros lugares, o regime procura desenvolver o mercado interno. Para esse fim está proposto um programa de estímulo de pelo menos US$580 bilhões, o “maior programa de estímulo fiscal que o mundo já viu” [The Independent]. Mas isso está no papel; não está claro quanto do que é prometido que é apenas reciclagem de “dinheiro velho” e o que é novo. Não obstante, há um certo escopo – talvez mais escopo, por causa do papel do estado – para usar suas reservas financeiras e introdução um grande programa de investimentos em infraestrutura. Embora não “salve” o capitalismo mundial, poderia ter um certo efeito ao suavizar a desaceleração na China. Isso é ainda mais provável por causa do papel do setor estatal, que ainda é considerável. Ele é muito maior do que qualquer outro país comparável, mesmo na Ásia, onde o estado ainda exerce um certo controle, como na Coréia do Sul etc.

A questão das proporções da economia que permanece estatal ou no “setor privado” ainda é uma questão para discussão e debate, não apenas no CIO, mas mesmo entre comentaristas burgueses. Por exemplo, em um livro polêmico baseado “em resmas de recém-revelados dados financeiros”, Ya Shin Wang, um dos primeiros críticos do “milagre econômico” da China, argumenta que nos últimos 10 anos o país na verdade se tornou “menos capitalista e menos livre economicamente”. De fato, ele argumenta: “No começo dos anos 1980, o governo essencialmente estrangulou os empreendedores privados emergentes, que tinham que competir tanto com macro-empresas estatais quanto com as gigantes multinacionais”. Isso é ainda uma questão controversa dentro de nossas fileiras, mas o que é indiscutível é que o estado começou a se afirmar – sob o açoite direto desta crise, tanto interna quanto externamente, enquanto o setor privado está dormente. O governo e as elites privilegiadas sob as quais ele se apóia estão tentando impedir uma explosão de raiva popular com o aumento do desemprego, as enormes e crescentes disparidades na riqueza etc, com uma mistura de ‘cooptação’, especialmente da classe média urbana, e repressão. Não é provável que consiga, especialmente a médio e longo prazo. Mas teremos que mapear o desenvolvimento da economia chinesa e a situação social e política à medida que se desenvolve, como nossos camaradas têm feito.

Raiva da classe trabalhadora

Tal é o afundamento da economia dos EUA que até a posição inicial estratosférica de Obama nas pesquisas de opinião começou a mudar. Em uma questão de meses após a posse, sua posição sobre a economia, sua popularidade, é menos do que a de George W. Bush no mesmo período de seu mandato! Essa é uma indicação da extrema volatilidade que marca essa crise. Ela torna difícil para os capitalistas e, portanto, para nós, prever precisamente a provável marcha dos eventos e os efeitos sociais e políticos da crise. Em muitos países, apesar de sua severidade, a crise parece ser parte de uma “guerra de mentira”. Quando as “bombas” começarem a cair, através de um enorme aumento no desemprego, será uma questão diferente. Os capitalistas conscientemente procuram embotar a resistência da classe trabalhadora cortando salários e implementando jornadas de trabalho mais curtas ao invés do fechamento total das fábricas, locais de trabalho e indústrias. Há também a consciência da classe trabalhadora herdada do período anterior; muitos acreditam que a crise atual e seus sintomas sejam um “pequeno desvio”, acabarão logo e assim voltaremos à “normalidade”. Contudo, a crise já provocou ações de reflexo por parte da classe trabalhadora, especialmente quando a burguesia procura atacar os ganhos passados, como na Irlanda, França, Itália e, em escala menor, outros países europeus, como a Bélgica. Foi a tentativa de minar os benefícios da saúde, especialmente dos velhos, que provocou manifestações em massa na Irlanda no fim do ano passado, que agora foram seguidos por uma imensa manifestação em fevereiro em Dublin e a ameaça de uma greve geral em março, embora os líderes sindicais estejam fazendo tudo para desencaminhar esse movimento. Testemunhamos o mesmo fenômeno na França, com uma greve colossal em janeiro e em 19 de março, com mais de 3 milhões tomando parte nas manifestações. Sarkozy, da zombaria de que a França parecia “imune” às greves, nos primeiros meses deste ano voltou a falar mais uma vez na ameaça de um novo “1968”. A ocupação da Sorbonne pelos estudantes poderia ser um presságio do que está por vir, assim como a greve geral em Guadalupe e Martinica e seus efeitos sobre a Guiana Francesa.

Há também uma amarga hostilidade de classe generalizada para com aqueles que são vistos como os principais autores da crise atual, os banqueiros e financistas. Isso tem sido enormemente agravado pela incrível arrogância dos bancos e companhias de seguros como a AIG, que foi resgatada pelo governo dos EUA ao custo de US$170 bilhões e ainda assim pretendia pagar US$175m em bônus! O levante contra a AIG e os bancos obrigou Obama a impor uma taxa de 90% em “retenção de bônus” onde os bancos estão recebendo ajuda estatal. Isso por sua vez levou os bancos a denunciar uma “caça às bruxas McCarthista” e o cheiro de “tumbrils” [vagão usado para transportar condenados à guilhotina] e da “Revolução Francesa”! Esse é um reflexo da polarização de classes que já se desenvolve e uma amostra do sentimento generalizado de oposição ao sistema capitalista, e não apenas de parte dele, que tomará forma no próximo período. Uma camada de jovens e trabalhadores já está tirando conclusões socialistas e revolucionárias, e estão se voltando para o CIO. Outra camada está observando o CIO e suas seções nacionais, com alguns esperando para ver se nosso prognóstico se confirmará ou não! Com base nos eventos e em nosso trabalho, muitos destes podem e irão se unir às nossas fileiras.

Colapso dos antigos estados stalinistas

Esse também será o caso nos antigos estados stalinistas da Rússia e Leste Europeu. Paradoxalmente, a implosão econômica é maior aqui do que em quase qualquer outro lugar, mas a consciência das massas está ainda mais atrasada. O “capitalismo gangster” falhou, mas o “verdadeiro capitalismo democrático” ainda está para ser testado, raciocinam muitos, mesmo os trabalhadores. Essas róseas ilusões serão despedaçadas pelos tumultuosos eventos iminentes, não apenas na região mas em todo lugar. A ascensão de partidos de massas dos trabalhadores, e especialmente de poderosas forças marxistas na Europa Ocidental, EUA, Japão e no mundo neocolonial exercerão uma decisiva influência na mudança de perspectiva dos trabalhadores e prepararão o caminho para o crescimento de nossas forças nesta região.

Ao mesmo tempo, houve espontâneas explosões de raiva nas ruas do Leste Europeu e Rússia. Vimos manifestações na Letônia, Vladivostok na Rússia e em outros lugares que pressagiam um movimento de massas ainda maior, dada a piora catastrófica da posição das economias do Leste Europeu e da própria Rússia. Vários países estão na “beira do abismo” no Leste Europeu: Hungria, Romênia, Ucrânia e outros, assim como a Rússia. O desemprego na Rússia, por exemplo, irá praticamente dobrar de 6,3% para 12% este ano. Isso com o fato de que meio milhão de russos esperam ainda salários não pagos e a inflação está na casa das dezenas. O colapso europeu e mundial do mercado de carros irá atingir com agudeza particular os países do Leste Europeu e Rússia. O deslocamento das fábricas de carros pelas multinacionais para a região tinha por objetivo a mão de obra barata e abundante, e portanto lucros maiores e a exportação de carros para os países da Europa Ocidental, Japão e EUA. Agora o mercado colapsou, e assim também regiões inteiras que dependiam da produção de carros. A indústria doméstica russa também será afetada. Por exemplo, Togliatti, no Volga, tem 60% da população envolvida na produção do Lada, cujas vendas colapsaram. A maioria da população na cidade, portanto, ficará desempregada. Um comentarista de Moscou disse que a atual crise será muito pior que a de 1998 e “a situação é pior do que no início dos anos 1990”. Para completar, a lista dos mais ricos da Forbes mostrou que o número de bilionários russos caiu de 87 ano passado para 32 agora. É nada surpreendente que o antigo líder soviético Gorbachev – que foi o porteiro da introdução do capitalismo na Rússia – agora declare que o “melhor do socialismo e do capitalismo” é a saída. De fato, este era seu programa original quando chegou ao poder em 1985 por um stalinismo “reformado”. O Leste Europeu e a Rússia fornecerão alguns dos piores exemplos de fracassos para o capitalismo no próximo período.

As repercussões do colapso de uma série de regimes no Leste Europeu, como a Hungria, são sérias. Seus possíveis efeitos sobre os bancos de países centrais da Europa Ocidental são severos. Por exemplo, a Áustria ameaça experimentar um colapso similar a 1931 se, como é possível, os países do Báltico e do Leste Europeu quebrarem nesta crise. Os bancos austríacos são altamente “alavancados” – com importantes dívidas massivas – assim como o sistema bancário suíço. Os bancos austríacos e italianos são os mais expostos. Os empréstimos bancários austríacos aos países do Leste Europeu são agora quase equivalentes a 70% do PIB da Áustria. Isso significa que tanto a Itália quanto a Áustria não estão em posição de fornecer qualquer resgate de seus próprios bancos e estão desesperadamente implorando por um “pacote” da União Européia (UE) que os resgate. De fato, a Europa está ainda mais exposta do que os EUA a uma “crise sub-prime”. A situação na Rússia é a mesma. Treze países que outrora foram parte da “União Soviética” em 2008 acumularam uma dívida conjunta aos bancos estrangeiros, em moedas estrangeiras, de mais de US$1 trilhão. Algo disso, uma quantia miserável, foi para investimentos, mas a maioria, como nos EUA, foi para o consumo ou propriedades imobiliárias. O International Herald Tribune expressou a preocupação da burguesia européia: “A crise da dívida no Leste Europeu é muito mais do que um problema econômico. O declínio nos padrões de vida causado por essa crise está provocando intranqüilidade social. Os devedores americanos sub-prime que tiveram suas casas tomadas não estão – pelo menos ainda – se amotinando nas ruas. Os trabalhadores no Leste Europeu estão. As raízes da democracia na região não são profundas e o espectro do nacionalismo de direita continua uma ameaça.”

Isso mostra graficamente como a integração do capitalismo – a um nível sem precedentes mesmo em comparação com o período pré-1ª guerra mundial – significa que a crise em um setor ou região pode detonar uma série de colapsos econômicos em outros. Vimos isso nos anos 30, com a bancarrota e cancelamento ou semi-cancelamento do pagamento das dívidas de muitos países na Europa e no mundo neocolonial, especialmente na América Latina, resultantes da depressão. É provável algo similar neste período. O PIB na Letônia caiu em 4,6% ano passado e espera-se que caia mais 12% em 2009! O desemprego excedeu os 10%, o que pressagia um período de “instabilidade” que “criará certamente espaço pra um líder populista” [Financial Times]. Essa é uma outra palavra para partidos da extrema-direita, que começaram a crescer na Hungria, Letônia e outros países da Europa Oriental. Esses países, junto com Irlanda, Espanha, Grécia e Portugal, irão provavelmente enfrentar as mais graves desacelerações no próximo período.

Capitalismo europeu em crise

Irlanda e Grécia são de particular importância para nós por causa da presença que temos no movimento dos trabalhadores nestes países. Estima-se que a economia irlandesa possa se contrair em 20% nos próximos anos, o que produzirá convulsões sociais e políticas em uma escala muito maior do que mesmo o tumultuoso passado da Irlanda. Além disso, o euro, que agia como um escudo no início da crise para países economicamente expostos como a Irlanda, se tornará uma enorme camisa de força. Nenhum “reajustamento” através da desvalorização da moeda é possível enquanto continuarem dentro da eurozona. A taxa de câmbio da Itália, por exemplo, levando-se em conta a inflação, é estimada em um terço maior do que a exigida pela situação econômica que o país enfrenta. Emergiram cifras esmagadoras que mostram a implosão econômica que a Itália experimentou no período passado. Ela está inchada com uma enorme burocracia, com gastos em “representação política” que agora equivale ao total da França, Alemanha, Grã-Bretanha e Espanha! Com esse fardo e sua falta de competitividade com seus rivais mais próximos, a economia italiana está afundando na lama. Os gastos em educação, que continuamente caíram desde os anos 1990, responde por meros 4,6% do PIB (o da Dinamarca é de 8.4%). Incrivelmente, apenas metade da população tem qualquer tipo de formação após o ensino fundamental, quase 20 pontos percentuais abaixo da média européia. O número de leitos de hospital por habitante diminuiu em um terço sob a “nova república” e agora está na metade da Alemanha e da França. A obstrução colossal do sistema legal resultou em dois aposentados septuagenários que levavam um caso contra o instituto de segurança social recebendo a notícia de que poderiam ter uma audiência sobre seu caso no ano 2020! O desemprego, que era de esmagadores 12% em meados dos anos 1990, hoje caiu para 6% “oficialmente”. Mas a maioria, metade dos novos postos em 2006, envolve contratos de curto prazo e são de todo modo “precários”. 

Itália, Espanha e o efeito na eurozona

Numa base capitalista, a Itália, como o Japão, é uma empresa moribunda. Há não muito tempo, durante a “Segunda República”, a Itália desfrutava do segundo maior PIB (após Alemanha) per capita dos grandes estados da UE, medido na paridade do poder de compra – um padrão de vida em termos reais acima do da França e Grã-Bretanha. Hoje ela está bem abaixo da média da UE, que por sua vez agora está menor por causa da relativa pobreza dos estados do Leste Europeu, e está “próxima de ser ultrapassada pela Grécia”. Parte da responsabilidade por esse estado de coisas está, é claro, nas costas da “esquerda”, especialmente dos líderes do ex-partido comunista, primeiro na DS e depois no PRC. Essa situação, contudo, está preparando massivas explosões na Itália e o renascimento da tradição radical e revolucionária do passado. Nossas pequenas forças, trabalhando nas condições difíceis de um enorme enfraquecimento da esquerda, estão bem colocadas para jogar um papel no ressurgimento do genuíno marxismo e do socialismo na Itália.

A Espanha tem visto um aumento colossal no desemprego – 3,3 milhões de trabalhadores fora do trabalho. O déficit no orçamento é de pelo menos 6,5% do PIB e a economia irá afundar em 3% este ano. A construção de casas – que respondia diretamente por 7,5% do PIB em 2006 – está paralisada. Não é surpreendente que foi dito sobre isso: “Esta é a estrutura perfeita, junto com a crise financeira, para uma depressão”. A posição dos grandes clubes de futebol espanhóis, renomados em todo mundo, também foi afetada profundamente. Por exemplo, David Villa, marcador do primeiro gol da Espanha em uma recente vitória sobre a Inglaterra, é membro do time de Valencia. Seu salário foi atrasado “indefinidamente” pelo clube endividado! Estouraram manifestações de trabalhadores; os líderes sindicais organizaram paradas, mas não se tomou uma ação decisiva para parar a espiral descendente. Um comentarista burguês declarou no Financial Times: “A economia espanhola não terá um crescimento de 3% por cerca de sete anos. Os espanhóis perderão metade de sua riqueza. É horrível”. 

A Espanha em um período estava usando metade do cimento da Europa em um boom de construção massivamente superaquecido. Esse boom agora colapsou na cara do capitalismo espanhol, com um milhão de casas vazias e desemprego na casa de 14%, ameaçando ir para 20% no próximo período. Estes dados conjuram espectros, no futuro próximo, similares àqueles que levaram à guerra civil espanhola. Marx descreveu o colapso da Espanha como um “declínio lento e inglório”. Isso foi quando a Espanha estava entre as nações atrasadas e de segunda escala da Europa. A Espanha “moderna” se desenvolveu a uma velocidade economicamente frenética durante o boom e ameaça um colapso igualmente veloz no próximo período. O país, como alguns dos outros países do sul da Europa, está na beira de uma catástrofe e é vital que o CIO procure ajudar as genuínas forças marxistas e revolucionárias que emergirão neste país. 

A eurozona pode colapsar, por causa de “saída voluntária” de seus membros mais pobres e sitiados. Mas a iniciativa para o fim da eurozona poderia vir dos mais “ricos”, Alemanha em particular, que reluta em resgatar as nações mais pobres e pode se recusar a pagar pela manutenção da eurozona. A Irlanda se transformou, em uma questão de meses, de um “hot-spot” de construção para o status de “Bob, o Construtor” [do programa animado de televisão]. As repercussões políticas em cada país irão variar dependendo do que ocorreu antes. Na Irlanda, o governo do Fianna Fáil enfrenta um colapso a qualquer momento. O ressurgimento dos partidos de oposição, especialmente do Partido Trabalhista na Irlanda do Sul, indica uma grande mudança política na consciência. As genuínas forças socialistas e marxistas, tais como o nosso partido na Irlanda do Sul, emergirão mais fortes no próximo período.

Extrema direita e imigração

Também a direita, a extrema-direita em particular, está em marcha, como dito antes. Esse é o caso naqueles países com significativas minorias ciganas no Leste Europeu. Por exemplo, o Jobbik, um partido húngaro de extrema direita que escolheu essa minoria como alvo, ganhou 8,5% dos votos nas eleições locais no ano passado. A hostilidade contra “imigrantes” e outras minorias está aumentando em toda a região e na Europa como um todo. O perigo do racismo e da extrema-direita é evidente também nos países mais desenvolvidos. Os africanos e ambulantes residentes na Espanha manifestaram-se duas vezes em fevereiro em Madri contra o racismo e as batidas policiais. Mais tarde vazou a notícia de que a polícia recebeu cotas semanais de prisões de “imigrantes ilegais”. No sul pobre da Espanha, especialmente na Andaluzia, milhares de outros imigrantes sem comida ou abrigo inundaram as cidades no começo do inverno, “procurando em vão trabalho na colheita de azeitonas que já tinham sido tomados por espanhóis”. Portanto, já estamos vendo pelo menos o esboço da formação de “favelas”, até hoje exclusividade do mundo neocolonial e que os EUA experimentaram em alguma medida nos anos 1930. Até na Grã-Bretanha imigrantes demitidos do Leste Europeu, especialmente Polônia, começaram a habitar os subúrbios das cidades, no início do que podem se tornar “favelas”. O mesmo desespero com a deterioração das condições sociais começou a se manifestar na Espanha. O colapso dos pequenos negócios levou, por exemplo, um dono de uma empresa de construção arruinado pela crise a encenar cinco assaltos a bancos! Outro ameaçou atirar em si mesmo a menos que os empréstimos que a câmara local lhe devia fossem pagos. Um desespero similar era evidente em outros países, com incidentes “terroristas” algumas vezes envolvendo trabalhadores individuais ou um pequeno grupo coletivamente. Por exemplo, um trabalhador turco apontou uma arma para sua própria cabeça em um dramático gesto contra a situação econômica em deterioração do lado de fora do escritório do primeiro-ministro turco no começo de março.

Trabalhadores franceses entram em ação

Um movimento mais consciente dos trabalhadores é significativamente mais evidente nas ocupações, ou na ameaça disso, na França, Escócia, Irlanda, e que pode se tornar o padrão em outros países à medida que piora a situação econômica. O The Economist comenta em sua edição de 19 de março sobre a situação na França:

“Serge Foucher, chefe da Sony na França, foi sequestrado em 12 de março por trabalhadores da fábrica que querem melhores termos de demissão. Eles o trancaram numa sala de reuniões e barricaram a planta com três enormes troncos de árvores. Libertado no dia seguinte, o sr. Foucher parecia reagir com tranquilidade. ‘Estou feliz em estar livre e ver a luz do dia novamente”, ele disse.

“Os homens de negócios na França não acham graça. Eles notaram que as autoridades não pediram à polícia para libertar o sr. Foucher. Ao invés, o vice-prefeito local acompanhou-o nas negociações seguintes com os trabalhadores, que ganharam o que queriam: um acordo de demissões melhor. Isso tudo confirma a falta de simpatia geral para os empresários na França, queixa-se um executivo.

“Tomar executivos como reféns é uma tática estabelecida na França, que tem uma história de confrontos nas relações trabalhistas. Mas isso parece se tornar mais comum. Em janeiro de 2008 o chefe britânico de uma fábrica de sorvetes foi seqüestrado durante a noite depois de anunciar planos para demitir metade de seus trabalhadores (naquela ocasião, a polícia interviu). Em fevereiro de 2008 o chefe de uma fábrica de autopeças foi sequestrado depois que os trabalhadores perceberam que ele planejava deslocar a operação para a Eslováquia. Dez dias depois, os trabalhadores de uma fábrica de pneus da Michelin trancaram dois altos executivos em protesto com os planos de fechar a planta.”

Ele teme que o exemplo possa se espalhar:

“Trabalhadores em outros países tomam os patrões como reféns ocasionalmente, mas a França é a única nação onde isso ocorre freqüentemente. A prática pode se espalhar? ‘Pelo estado da economia mundial, não me surpreenderia se patrões fossem sequestrados pelos trabalhadores com mais frequência,’ diz David Partner, especialista em seqüestro e resgate da Miller Insurance, uma agência de seguros afiliada à Lloyd de Londres.

“Sit-ins [greves com ocupação] já estão se tornando mais comuns. Em dezembro, trabalhadores ocuparam uma fábrica de janelas em Chicago por cinco dias para assegurar as indenizações por demissão a que tinham direito. Em fevereiro, trabalhadores de Waterford Wedgwood, Irlanda, marcharam para dentro dos escritórios da Deloitte, firma de contabilidade, e se recusaram a sair até terem uma reunião com o recebedor da companhia. Na América, diz Gary Chaison, professor de relações sindicais da Universidade de Clark, Massachusetts, é provável que os trabalhadores se tornem mais militantes por causa de um senso de injustiça por causa do pagamento. ‘Eu posso facilmente imaginar sequestros de executivos acontecendo aqui em meses’, diz.”

Zapatero, o primeiro-ministro ‘socialista’, conseguiu na maior parte manter o apoio a seu partido nas recentes eleições regionais apesar da terrível situação econômica. Isso em parte por causa do medo do Partido Popular (PP), com suas raízes ainda no período de Franco, e a vaga esperança das massas de que essa crise seja “temporária”. Além disso, a estrutura familiar – como em outros países do sul da Europa, como Grécia – age como uma rede de segurança em tempos difíceis, ao contrário do norte da Europa. Em certa medida, isso protege algumas pessoas contra os piores efeitos de uma crise econômica, mas há um limite para isso. Uma vez que a classe trabalhadora se convencer do caráter duradoura da crise, as tradições militantes dos trabalhadores espanhóis – que na superfície parecem estar dormentes no último período – irão reviver. É urgente que o genuíno marxismo encontre um caminho até os melhores trabalhadores e jovens na Espanha na situação explosiva que se abre. O mesmo se aplica a Portugal.

Grécia, o “elo mais fraco”

A Grécia ainda é o elo mais fraco na cadeia do capitalismo europeu nesta etapa. Os camaradas gregos mostraram muito claramente, em materiais recentes no site do CIO, os principais processos do país, incluindo as greves gerais e o ânimo da classe trabalhadora e os jovens. Não há necessidade de repeti-los aqui. É suficiente dizer que apesar da calmaria do movimento atualmente – inevitável depois de tanta energia gasta e sem qualquer resultado aparente, como a renúncia forçada do governo – a situação objetiva subjacente ainda contém importantes elementos de uma situação pré-revolucionária. Além disso, o hiato atual é muito instável e uma explosão das tensões sociais é inteiramente possível. A Grécia, com um déficit no orçamento de 14%, pode ser “rebaixado” pelas agências de avaliação por causa de suas dívidas. Isso por sua vez pode provocar a “bancarrota nacional”, que será seguida por mais cortes brutais nos ganhos sociais, salários e condições dos trabalhadores gregos. Isso provocará mais explosões.

Crise na Irlanda

A Irlanda não está muito longe da Grécia; de fato, com o tempo ela enfrenta uma posição potencialmente pior, pois começou de um nível econômico muito superior. Desfrutando de um dos mais altos padrões de vida na UE – uma estimativa dizia que era o maior – a velocidade da queda da Irlanda é, em certo sentido, igual com à da Islândia, com quem foi comparada: “Reykjavik sobre o Liffey” [a capital da Islândia e o rio que passa por Dublin, a capital da Irlanda]. A taxa de crescimento anual de 9% do passado se tornará uma memória distante, com a expectativa de que a economia se contraia em 6,5% apenas esse ano. Isso por sua vez obrigou o governo do Fianna Fáil a lançar ferozes ataques aos padrões de vida, com o estado recentemente impondo um corte de pagamento de 7,5% aos trabalhadores do setor público. Isso provocou a manifestação de massas de fevereiro, a maior em 30 anos na Irlanda. Aumenta a pressão para uma mobilização similar em 30 de março, mas o órgão sindical oficial, o Irish Congress of Trade Unions, decidiu realizar a votação sobre somente entre os sindicalistas que não tinham recebido o aumento do Acordo Salarial Nacional. Nosso partido corretamente exigiu que todos os sindicalistas fossem chamados para 30 de março, assim como toda a classe trabalhadora que enfrenta uma catástrofe, com o desemprego chegando a provavelmente meio milhão. Uma greve dos servidores públicos mal-pagos e a ocupação da Waterford Glass são indicações do crescente descontentamento da classe trabalhadora irlandesa. Nosso partido está bem posicionado para intervir nesse ânimo explosivo, para aumentar nossos números e nosso peso social na sociedade, especialmente entre a classe trabalhadora.

Não seremos os únicos a crescer em uma situação como essa; o Partido Trabalhista Irlandês, estagnado por décadas, agora experimenta um renascimento à medida que as massas procuram por uma alternativa aos desacreditados Fianna Fáil e Fine Gael. Os ex-partidos dos trabalhadores – e o Partido Trabalhista Irlandês se inclui nesta categoria – oferecem pouco espaço para os trabalhadores entrarem e radicalizarem-nos. Mas onde alguns desses partidos não estiveram associados recentemente com os governos no poder, não está excluído que possam desfrutar não apenas um crescimento eleitoral, mas também um certo influxo de novos trabalhadores e jovens em busca de luta. Os marxistas não têm fetiches sobre qualquer questão, menos ainda para perspectivas de partidos que afirmam estarem na estrutura do movimento dos trabalhadores. Não está excluído que o Partido Trabalhista Irlandês possa experimentar um crescimento de membros, que devemos procurar influenciar. Ao mesmo tempo, a luta sindical é de importância crucial a curto prazo, com um cenário similar ao enfrentado pela classe trabalhadora no período imediato do pré-1ª Guerra Mundial se aproximando da Irlanda nos próximos anos. Esse período viu momentosas batalhas de classes, culminando no locaute de 1913. As greves gerais ou greves gerais parciais na Irlanda são precursores disto. Igualmente, o plano eleitoral é vital, já que o governo do Fianna Fáil pode colapsar subitamente sob o poso de suas próprias contradições e com o fedor da corrupção o cercando. Um novo e muito importante capítulo pode se abrir para os marxistas em nosso partido na Irlanda no período que entramos.

Greve Geral na França

Oportunidades similares ocorrem em outros países europeus, acima de tudo na França. A greve geral de janeiro, seguida pela enorme exibição do poder da classe trabalhadora em março, com até três milhões de pessoas se manifestando, transformou a situação social e política na França. 78% dos francês consideraram a greve geral de março “justificada”. Um cartaz declarava: “Os franceses autorizaram o movimento sindical a articular sua oposição a Nicholas Sarkozy.” Outro líder empresarial alertou que a França enfrenta uma “guerra de classes” que poderia minar os esforços de reformas de Sarkozy. O chefe da agência de pesquisas Publicis declarou: “As pessoas estão realmente com raiva”. Ele também diz que o governo “atiçou o descontentamento”. Ao mesmo tempo, o Financial Times declarou: “Está longe de ser claro se a tensão social (manifestada nas greves e ocupações) irá se solidificar em um movimento político coerente capaz de paralisar o governo do sr. Sarkozy”. Tal confiança é inteiramente devida à prevaricação dos líderes sindicais, que estão dispostos a dissipar esse movimento. 

Patrões exigem‘sacrificios’

A burguesia em toda a Europa irá perseguir uma política de “dividir e governar” a classe trabalhadora. Na Irlanda, a mídia está conduzindo uma feroz campanha buscando jogar os trabalhadores do setor privado contra os empregados “privilegiados” do setor estatal. Estes trabalhadores “gananciosos” estão vivendo às custas – supostamente com salários e pensões inflacionados – dos pobres, dos velhos e daqueles no setor privado. Uma campanha similar tem como mira os servidores civis e trabalhadores municipais na Grã-Bretanha, o que poderia assumir um caráter especialmente agudo na preparação e depois da eleição geral. Na vanguarda desta campanha a nível europeu está o Banco Central Europeu. Ele tem chamado por uma “redução dos salários e gastos públicos”. Sua lógica estranha sustenta que “a restrição aos pagamentos ajudará a impedir que o desemprego deixe cicatrizes em uma grande proporção das pessoas em idade de trabalhar… Os governos devem perseguir políticas corajosas de restrição dos gastos, especialmente no caso dos salários públicos”. A resposta a estas políticas claramente “anti-keynesianas” foi dada por trabalhadores alemães que “entraram em greve… essa semana por salários mais altos – argumentando que salários maiores eram necessários para estimular a economia da Europa”. [Financial Times] Tais são os absurdos do capitalismo que seus representantes europeus, em um cenário de “demanda comprimida”, admitida de todos os lados, apóiam medidas de “anti-demandas”. Mas essa é a lógica do capitalismo, cujo ponto de partida e chegada é maximizar os lucros e dividi-los entre a classe dominante. Os lucros já se contraíram nesta crise; os dividendos – a quantidade paga aos detentores de ações que vivem às custas da classe trabalhadora – são os mais baixos pagos desde 1938. Há também um crescimento na ‘supercapacidade’ na indústria. Este é outro indicativo da crise generalizada do capitalismo. 

Ao mesmo tempo, não são apenas os trabalhadores do setor público que são convocados a fazer “sacrifícios”; muitos trabalhadores no setor privado, especialmente na indústria automobilística, experimentaram selvagens cortes nos salários, de 10%, 15% ou mesmo 20%. Para os operários da Toyota na Grã-Bretanha, que aceitaram recentemente uma “redução salarial de 10%”, isso significa uma renda anual reduzida de 2 mil libras! Portanto, a possibilidade de uma luta combinada dos trabalhadores dos setores público e privado nunca foi tão grande, já que todos os setores da classe trabalhadora enfrentam cortes nos padrões de vida, erosão dos ganhos passados, prolongamento da jornada nas indústrias que ainda são viáveis, ataques à saúde e aposentadorias etc. Esse é um processo que afeta os países mais pobres da Europa assim como aqueles que até recentemente estavam na categoria de países “ricos”.

Alemanha e Norte da Europa

A Alemanha, a locomotiva da Europa, como comentamos antes, ao invés de encarar uma ensolarada perspectiva econômica, mapeada pelo governo Merkel, agora enfrenta outra súbita implosão econômica. Forçado a introduzir seu próprio “pacote de estímulos” – depois de meses de teimosa resistência – o governo ainda alerta sobre uma crescente dívida pública e excessiva liquidez. Um “especialista” econômico declarou: “Os bancos centrais nos EUA e Grã Bretanha estão agora literalmente imprimindo dinheiro. Isso cria um potencial inflacionário difícil de deter”. Os capitalistas coletivamente decidiram em sua maioria que uma rodada moderada de “inflação” é o único modo de escapar da armadilha deflacionária que está engolfando o capitalismo mundial no presente momento. Com a lembrança da hiperinflação da república de Weimar – especialmente 1923 – a classe dominante alemã teme entrar nessa estrada. Mas a alternativa numa sob o capitalismo é um enorme aumento no desemprego que está a caminho na Alemanha. 

As outras potências da Europa também estão sendo arrastadas para um turbilhão econômico descendente. Na Bélgica, os trabalhadores enfrentam empregos temporários e significativos cortes no pagamento. Os Países Baixos também serão arrastados, assim como a Escandinávia. A Suécia – crucial para nós por causa de nosso trabalho de décadas lá – enfrenta provavelmente o maior desafio social e econômico, provavelmente maior do que o dos anos 1990s, no próximo período. O país está na “moda” no momento nos círculos econômicos capitalistas por causa da experiência do começo dos anos 1990. Sua solução é vista como um modelo de políticas que poderiam ser adotadas por países maiores com essa crise. Nouriel Roubini, o Mr. Apocalipse do capitalismo mundial, declarou, junto com vários outros: “Somos todos suecos agora.” A nacionalização de pelo menos algumas empresas falidas, como os bancos, é o caminho a seguir, ele diz. Mas o capitalismo sueco apenas nacionalizou dois bancos naquele período: o Nordbanken, que já foi estatal, e o Götabanken. Além disso, como disse Paul Krugman, a nacionalização não é apenas um fenômeno sueco, mas é “tão americano quanto uma torta de maçã”. Dois pequenos bancos por semana – com pouca publicidade – são de fato nacionalizados nos EUA. O que atrai a classe dominante para o suposto “modelo sueco”? A nacionalização foi temporária – embora durasse muito mais tempo do que uns poucos meses; anos de fato – e o governo, como o governo Brown hoje, adotou uma política de “manter a distância” com eles. A crise sueca, contudo, por mais severa que tenha sido na época, ocorreu pouco antes do início do crescimento econômico dos anos 1990.

Efeitos da crise na UE

Nenhum cenário tão rosa se aproxima agora do capitalismo mundial, incluindo o europeu. O ponto crucial que o CIO deve enfatizar, especialmente suas seções européias, é que essa crise, longo de já ter “atingido o fundo”, pode ser mais profunda e prolongada do que mesmo o mais “pessimista” comentarista capitalista pode imaginar. Por exemplo, Philip Stevens, o editor político do FT, declarou recentemente que na Grã Bretanha “não há dinheiro”. Isso é um exagero pois, como o governo demonstrou, já se pode recorrer à impressão de dinheiro – embora com um caráter eletrônico hoje em dia – para buscar lubrificar o motor da economia. Mas isso mostra a incerteza subjacente e a confusão dos principais comentaristas do capitalismo. Os EUA seguiram os passos de Brown com uma injeção significativa de dinheiro. Isso não pode resolver a crise, mas pode construir um para-choque que, junto com outras medidas, suavizaria o impacto. Mas o colossal aumento da dívida estatal significa uma colisão inevitável entre as classes no futuro. O déficit orçamentário combinado nos quatro maiores países da eurozona – Alemanha, França, Itália e Espanha – chegará a 6,4% do PIB em 2010, um aumento do 5,8% esse ano, e apenas 2% em 2008! Prevê-se que sua dívida pública suba para quase 83% do PIB, de 79% esse ano e 71% em 2008. Os capitalistas tentarão arrancar isso de volta com aumentos de impostos – já esboçados pelo governo Brown para o futuro – ou em ataques diretos aos empregos, benefícios sociais etc. A UE, por sua vez, será despedaçada por estes acontecimentos. A crise já viu a vingança do estado nação, que tanto os comentaristas capitalistas quando aqueles do SUQI profetizaram que tinha sido enterrado pela “integração da EU”. Como criminosos acorrentados a uma carreta, os capitalistas foram forçados a colaborar, mas os 27 membros da UE não hesitarão em atacar um ao outro para proteger seus interesses “nacionais”. O descarado favorecimento de Sarkozy da indústria de carros é aceito calmamente pela comissão da UE com um mínimo de protestos. O colapso do euro – uma possibilidade distinta dependendo de quão severa, longa e profunda será a crise – reforçaria essas divisões. 

Oportunidades para o CIO em novas formações

Ao nos opormos ao capitalismo europeu, não caímos num nacionalismo estreito, mas contrapomos uma alternativa socialista e dos trabalhadores. Para isso, a participação de várias de nossas seções nas próximas eleições européias é importante. Na Suécia, Bélgica, Irlanda e especialmente Grã-Bretanha, temos oportunidades de apresentar nosso programa, se não de ganhar votos significativos. Na Grã-Bretanha, contudo, a aliança com o sindicato ferroviário RMT e o Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPB), apesar das limitações que esboçamos em nosso site, não obstante é um passo significativo. Nas conferências de imprensa, Bob Crow, do RMT já enfatizou a idéia de uma “Europa dos trabalhadores” em oposição à UE capitalista. Sem dúvida, esse avanço significativo para uma voz independente da classe trabalhadora – apesar das objeções estridentes dos grupos de ultra-esquerda – tem a possibilidade de registrar uma oposição dos trabalhadores à UE. É também um ponto de convergência contra o ultra-direitista BNP, que está a uma distância de alcance de ganhar assentos no parlamento europeu. Em nosso site, demos nossas razões porque consideramos isso, apesar das muitas hesitações, como um passo à frente. Não há garantias de sucesso, especialmente na luta eleitoral, o nível mais baixo da luta de classes. Mas apesar dos enormes obstáculos, essa aliança tem a possibilidade de atingir os melhores trabalhadores e jovens, com nós apresentando elementos de uma alternativa socialista. Além disso, pode lançar as bases para um novo partido de massas dos trabalhados na Grã-Bretanha, colocado por toda a situação.

O desenvolvimento de novos partidos de massa dos trabalhadores ainda é crucial para nosso trabalho na Europa e em escala mundial. Não é preciso elaborar mais uma vez aqui as razões para isso. A ascensão do die Linke na Alemanha, do SYRIZA na Grécia e agora do Novo Partido Anticapitalista (Nouveau parti anticapitaliste – NPA) na França não é acidental. O líder do NPA, Olivier Besancenot, já é considerado a figura política mais significativa depois do próprio Sarkozy. Além disso, de acordo com uma pesquisa recente, Besancenot, descrito como o “líder trotskista da extrema-esquerda” é agora tão “confiável” quanto o próprio presidente. Apesar da fraqueza do NPA, em programa e estrutura, não obstante isso representa um significativo passo à frente e o CIO em geral, e nossa seção francesa em particular, o apóiam. Contudo, não está claro se o NPA irá crescer em termos de números, atraindo novas camadas ou se implantando-se na classe trabalhadora. Eleitoralmente, ele não foi ainda testado. Mas, dada a explosiva situação social na França – mesmo Ségolène Royal, a derrotada candidata presidencial do Partido Socialista, declarou recentemente: “Não se esqueçam da Revolução Francesa” – e da falta de uma alternativa eleitoral viável da esquerda, o NPA pode ocupar esse vácuo e atingir significativo apoio. Isso, contudo, não garantiria seu sucesso. A questão do programa, da intervenção das lutas sindicais e sociais, é vital para encontrar um eco significativo e duradouro entre novas camadas que sem dúvida procuram por uma alternativa. Nossa participação, embora uma força pequena no momento, pode possibilitar um crescimento significativo do movimento em geral e das forças conscientes do marxismo em particular.

Uma questão vital para o NPA é o programa do partido, especialmente a questão de uma alternativa governamental a Sarkozy. Por não haver partido de massas dos trabalhadores na França e o NPA não ter sido ainda testado, não podemos designar especificamente partidos para formar essa alternativa governamental. Quando o Partido Socialista e o Partido Comunista Francês eram partidos de trabalhadores burgueses podíamos propor o slogan de um “governo socialista-comunista”. Isso, por sua vez, é apenas uma variante da abordagem dos bolcheviques em 1917. Contra a coalizão burguesa os bolcheviques propunham “Todo o poder aos sovietes” quando os mencheviques e socialistas-revolucionários tinham uma maioria dentro dos sovietes. Na prática, isso era um chamado para um governo menchevique-socialista-revolucionário, excluindo os partidos burgueses e baseado nos sovietes, com os bolcheviques como uma “oposição leal”. Em certo sentido, isso foi realizado pela coalizão de Kerensky que precedeu sua derrubada e a tomada do poder pelos bolcheviques. Contudo, essa questão assume um caráter diferente hoje, mais como uma forma algébrica, por causa da ausência de tais partidos de massa. Mas na luta contra o governo Sarkozy, os trabalhadores procurarão por algum tipo de governo em oposição ao de Sarkozy. Ao lado da abolição da presidência, do Senado e por uma assembléia unicameral, devemos levantar a questão de um “governo dos trabalhadores”. Que forças ocupam tal posição depende do desenvolvimento da luta. Essa é uma resposta que devemos dar aos trabalhadores que perguntam que estará neste ‘governo dos trabalhadores’.

A formulação de demandas de transição, agitação e propaganda assume grande importância no desenvolvimento de nossas seções, especialmente as da Europa. Temos que tentar intervir onde temos forças significativas para dar uma liderança nas lutas que estão se abrindo. Na Grã-Bretanha, temos o peso político para lançar a campanha ‘Youth Fight for Jobs’ (Juventude na Luta por Empregos). Mas também a nível europeu temos que considerar a preparação, nas diferentes seções nacionais, de greves dos secundaristas. A severidade da crise, que afeta mais os jovens, junto com os ataques à educação, o que efetivamente nega as aberturas que existiam há décadas para as gerações anteriores cursarem um curso superior, nos dá a oportunidade, com os secundaristas em particular de colocar a questão de uma luta de resistência. Isso poderia levar ao desenvolvimento de greves secundaristas no padrão da Alemanha no período recente e as que ocorreu sob nossa direção em 1985 na Grã Bretanha e na Espanha em 1986.

As perspectivas para a seção de Inglaterra e Gales são especialmente relevantes no próximo período. O capitalismo britânico está entre os mais expostos, a um nível que agora se aproxima da do sul da Europa. O governo Brown está por um fio e pode colapsar a qualquer momento. A perspectiva para Brown é sem dúvida tentar “fabricar” um boom de curto prazo, especialmente através de aumento da quantidade de dinheiro, e a esperança de que isso se misture com as medidas de Obama, para dar-lhe a possibilidade de um quarto governo do Novo Trabalhismo. Se Cameron e os Tories chegarem ao poder, contudo, o cenário que se abriria para a Grã-Bretanha seria similar ao que o governo Sarkozy enfrenta na França no momento. Por causa disso a idéia de um “governo nacional”, uma coalizão, veio à tona. Não se pode descartar que haverá um “parlamento suspenso”, com nenhum partido tendo uma maioria clara depois da próxima eleição. 

Em tudo isso, a incapacidade dos partidos capitalistas será mostrada ainda mais, e com isso a possibilidade de novos partidos emergindo em certo momento. Nossa participação no die Linke na Alemanha – apesar dos fúteis esforços de manter nossos principais camaradas de fora – no SYRIZA e agora no NPA justificou nossa perspectiva sobre a emergência de novos partidos de massas dos trabalhadores, mas também abre um período crucial no qual nossas idéias serão testadas perante novas audiências de trabalhadores e jovens. Portanto, as conclusões que esse Birô Europeu tira da análise precedente são as seguintes:

O capitalismo, incluindo o europeu, enfrenta uma crise global, que resultará em enormes explosões sociais, incluindo a possibilidade de greves gerais, manifestações de massas, ocupações de fábricas, para os quais o CIO e suas seções têm que estar preparados. Os eventos irão desenvolver a consciência da classe trabalhadora, especialmente quando combinados com o crescimento das idéias e organizações socialistas e marxistas, incluindo as do CIO. Temos que participar em todos os genuínos movimentos da classe trabalhadora que representam um avanço, apesar de qualquer fraqueza de programa e organização, levantando nosso programa e perspectivas, como preparação para as forças marxistas de massas no futuro. O CIO emergiu do último período, especialmente da era dos anos 1990 e primeira metade desta década, mais forte ideológica e numericamente do que no passado, e bem preparado para intervir nesta situação. Esperamos, com base nisto, desenvolver significativamente as forças do marxismo, apelar para as novas camadas da classe trabalhadora que entram em ação a se unirem a nós, atrair os melhores das outras organizações de esquerda para nossas fileiras, e também empreender passos sérios para unir e amalgamar as genuínas forças do marxismo na Europa na ação e fornecer uma alternativa real para as camadas mais desenvolvidas da classe trabalhadora e da juventude, como um passo a frente para partidos marxistas na Europa como parte de uma internacional de massas.