A crise se aprofunda na Europa

A Europa está à beira de uma nova crise profunda. Os governos não oferecem nenhuma saída. Eles só concordam que o preço para salvar o sistema capitalista deve ser pago pelo povo trabalhador. Enquanto novos pacotes de cortes e ataques são implementados, continua a resistência, com greves gerais e grandes mobilizações.

Os pacotes de “ajuda” concedidos à Irlanda, Portugal e Grécia, trazem a mesma política que levou à “década perdida” na América Latina. Os pacotes de “resgate” têm sido condicionados a grandes cortes nos gastos públicos e ataques aos trabalhadores. Na Grécia isso tem levado a uma queda na renda disponível das famílias em até 50%, e uma crescente pobreza. Porém, essa política fracassou em tirar os países da crise. Pelo contrário, ela tem levado a uma crise profunda nas economias desses países. Novamente a Grécia tem o pior quadro, com o PIB caindo 15% em três anos e o desemprego disparando.

Como na América Latina, todo esse sacrifício é em vão. Apesar de todos os cortes, as dívidas só aumentam. As dívidas públicas da União Europeia aumentaram de 7 trilhões de euros em 2009 para 8,7 trilhões esse ano e tudo indica que a Europa está caindo em uma nova recessão nesse final de ano.

O calote na dívida grega era inevitável. O último acordo abriu para certa redução da dívida (calote parcial), mas isso não resolverá o problema. E está evidente que um calote grego não será algo isolado, por isso o mercado está cobrando um “prêmio de risco” em forma de juros mais altos nos outros países endividados. Os juros na Itália e Espanha, países bem maiores do que Grécia, Portugal e Irlanda, estão chegando a um nível insustentável, e vão acabar precisando de ajuda externa. Os juros estão subindo também na França, na Bélgica e até a Alemanha teve problemas com a última venda de títulos públicos.

Crise financeira

A crise das finanças públicas afeta também os bancos, já que muitos deles tem grandes investimentos em papéis públicos. Os bancos europeus já pagam mais pelo seguro contra calote do que na crise de 2008-2009. Parte do nervosismo vem do fato de que o projeto da moeda comum europeia, o euro, está ficando cada vez mais inviável. Uma ruptura da Zona do Euro iria precipitar uma nova gigante crise financeira e econômica mundial.

Isso já está afetando o Brasil. As empresas brasileiras estão com maiores dificuldades em tomar empréstimos no mercado internacional. Como em 2008, esse pode se tornar o principal canal de contágio da crise no Brasil.

Nos últimos meses vimos como a classe trabalhadora continua a se mobilizar contra os ataques. Na Itália houve uma greve geral no dia 06 de setembro. No dia 24 de novembro foi organizada uma nova greve geral em Portugal, exatamente um ano após a grande greve geral de 2010. Segundo os sindicatos, três milhões de trabalhadores cruzaram os braços. A economia está em profunda crise, no ano que vem o PIB deve cair 3%. O novo governo de direita anunciou novos cortes na educação e saúde, cortes nos salários e aposentadorias e aumento da jornada de trabalho de 40 para 42,5 horas semanais e uma aceleração das privatizações.

Na Grã Bretanha 30 sindicatos nacionais convocaram o que na prática é uma greve geral do setor público contra os ataques às aposentadorias. É a maior greve no país desde a greve geral de 1926.

Na Grécia vimos duas greves gerais em outubro, uma no dia 05 e a greve de 48 horas de 19-20 de outubro, que veio após um grande onda de greves e ocupações no setor público. Uma nova greve geral está convocada para dezembro.

Crise política

Desde 2008, oito governos caíram na Europa. Só no último mês caíram os governos na Itália, Grécia e Espanha. No caso de Berlusconi na Itália e Papandreu na Grécia, os primeiros-ministros renunciaram pela pressão do mercado, e foram substituídos pelos tecnocratas Lucas Papademos na Grécia e Mario Monti na Itália, com o único objetivo de implementar mais cortes.

Mas enquanto se troca de governo, a mesma política prevalece pela falta de uma alternativa coerente.

Alternativa socialista

O processo de reconstrução da esquerda socialista ainda é algo incipiente. Muitas vezes falta confiança em defender uma alternativa socialista coerente, ou o foco é meramente eleitoral. Essa política acaba falhando em atrair principalmente a nova geração de jovens que está se radicalizando, como os ‘indignados’.

As eleições na Espanha recente dão uma amostra do que seria possível. A Esquerda Unida (uma frente eleitoral encabeçada pelo Partido Comunista), apesar de ser bastante institucionalizada, conseguiu avançar de 2 para 11 deputados (crescendo mais em número de votos do que o vencedor Partido Popular), graças a um programa eleitoral radical, incluindo exigindo a nacionalização dos bancos e setores chaves da economia, redução da jornada de trabalho, investimentos em trabalho e serviços públicos, etc.

Um avanço maior seria possível, se esse programa radical fosse vinculado a uma atuação nas lutas do dia a dia, nos sindicatos e movimentos, para conquistar uma nova geração para uma alternativa socialista. 

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