O não adiamento do Enem é uma política antieducacional e excludente
O Ministério da Educação abriu as inscrições para o Enem no último dia 11, com encerramento no dia 22 de maio, sendo o formato das provas opcionais aos candidatos em sua forma tradicional presencial ou digital, a serem feitas em duas etapas respectivamente nas datas de 01 e 08 de outubro e 22 e 29 de novembro. Ao sustentar a manutenção do Enem este ano e com este novo formato em meio às fragilidades e defasagens de ensino pelas quais os estudantes estão passando durante a pandemia do Covid-19, o Ministro da Educação (sic) Abrahan Weintraub demonstra uma política que vai contra o que esta pasta ministerial deveria defender, sendo entre outras coisas uma atitude elitista, excludente e de um nível que chega à sociopatia ao não se sensibilizar com as condições (ou a falta delas) com que os estudantes terão que fazer esta prova.
Estudantes de todo o Brasil estão em isolamento social e realizando estudos remotos à distância, o que já acarreta uma precarização do aprendizado, e isto para aqueles que tem possibilidade de fazê-lo, pois verificamos que 58% das casas no país não possui computadores, 38% não tem acesso à internet, 59% das classes C e D não navegam na internet e66% das casas na zona rural não possuem nenhum acesso à internet. Isto por si só evidencia o desnível imposto a milhões de estudantes que farão a prova do Enem, que possibilita acesso nas universidades federais e contam na pontuação para diversas universidades estaduais.
Já que não existe um acesso universal ao ensino superior como uma sociedade verdadeiramente democrática deveria ter, os estudantes devem passar pelo funil social da prova e sonham com sua vaga em uma boa universidade por meio do Enem. Porém,esta dita gestão da educação sob o desgoverno de Bolsonaro está transformando este sonho em um verdadeiro pesadelo de ansiedades, frustações e estresses para os estudantes. Como relata Camilly Mendes, 17, estudante do 3°ano do Ensino Médio na Rede Estadual Pública de São Paulo em São Miguel Pta, na Zona Leste da capital, “As universidades públicas do nosso país atualmente estão totalmente elitizadas. O ensino superior ficou ainda mais distante dos alunos de escolas públicas e de classe média baixa, isso graças à precariedade de ensino que encontramos na rede pública do nosso país. Com a pandemia que atinge fortemente nossa educação no momento, fica ainda mais difícil ter acesso à educação. Portanto, deve ser de obrigação do ministério da educação adiar o Enem e assim, prezar por um processo justo e dar oportunidades para estudantes de periferias brasileiras a entrar em uma universidade”.
A suspensão do calendário escolar seria a política mais adequada neste momento em que devemos preservar a vida, o que deveria implicar automaticamente no adiamento do Enem, porém mesmo com a realidade social brasileira, optaram pelo estudo remoto que não contempla a todos. O adiamento da realização do Enem seria uma demonstração de sensibilidade para com os estudantes, porém quem disse que existe algo de adequado e empático por parte do governo genocida e eugênico de Bolsonaro em relação à população?
Se existe uma lógica por detrás desta medida é exatamente a orientação ideológica deste governo e do “anti-ministro da educação”, orientação esta feita pelo astrólogo charlatão (redundância) e autonomeado filósofo (sic) Olavo de Carvalho. Este ideólogo de direita em vários de seus pronunciamentos* apregoa e questiona o papel do Estado como provedor da Educação Pública, defende a subsidiação escolar por fundações privadas e que é preciso desregulamentar a educação e resumir o papel do Estado ao de fazer processos seletivos, pelos quais seria responsável apenas por testes de aprovação baseados na avaliação de três aptidões básicas: ler, escrever e fazer contas. Ou seja, apenas habilidades técnicas, demonstrando que o astrólogo não quer cabeças pensantes através de uma educação crítica e libertadora, mas sim,corpos alienados de consciência e como mão-de-obra barata.
Esse projeto de educação é um projeto de dominação que coaduna com todas as políticas adotadas por Bolsonaro e sua turma: não esqueçamos que o primeiro indicado pelo astrólogo para o ministério da educação foi Ricardo Vélez Rodríguez, outro de seus discípulos, que deu uma entrevista** em sua brevíssima e desastrosa passagem pela pasta afirmando que “a ideia de universidade para todos não existe”,que “o ensino superior deve ser reservado para uma elite intelectual” e defendeu entusiasticamente o ensino técnico, pois segundo ele, ajuda os jovens a ingressarem mais rapidamente no mercado de trabalho. Durante seu mandato, continuouo enxugamento dos financiamentos de permanência estudantil. Aí estão expressas as intenções de Olavo e olavetes, com um detalhe curioso: o astrólogo não terminou o ensino fundamental.
O atual Ministro da Educação (sic), Weintraub, é tão desastroso como o anterior, mas infelizmente não tão breve (já passou de um ano na pasta). Entre seus pronunciamentos problemáticos dignos de uma ópera bufa, conduziu o último processo do Enem e, apesar de afirmar que tinha sido o melhor Enem de todos os tempos, a realidade por trás da declaração ufanista evidencia o contrário. Houvevários problemas, sendo o mais grave, o erro na correção de milhares de provas por falhas na impressão dos cadernos e cartões respostas, falha esta que ocasionou atrasos no cadastramento do Sisu. Apesar desta pataquada passada, Weintraub segue como um Sancho Pança no auxílio quixotesco ao projeto Olavista/Bolsonarista e, como fiel escudeiro, deve seguir as vontades do mestre que, mesmo com a atual situação do país vai manter o Enem em suas datas anunciadas.
Neste ano teremos ainda a novidade das provas digitais, em datas diferentes da física, o que significa que serão provas diferentes para um mesmo processo seletivo, ocasionando um desnível entre os concorrentes. Além de tudo isso, as datas das provas digitais coincidem com as datas de importantes vestibulares país afora (incluindo o da Fuvest, o mais concorrido do país que dáacesso àUSP), quem se inscreveu sem se atentara isto e escolheu a forma digital, não poderá mais trocar a opção. Mais uma demonstração de seletividade elitista absurda, desdenhosa e escabrosa.
Os estudantes devem reagir com ações conjuntas por todo o país neste 15 de maio em que se comemora um ano do “Tsunami da Educação”, conhecido como “O Dia Nacional de Greve na Educação”, em defesa da educação pública gratuita, democrática e de qualidade socialmente referenciada e contra o corte de verbas perpetrados pelo Ministro (sic) Weintraub, que ousou dizer que os cortes deviam ser feitos pois as universidades federais eram uma “balbúrdia”. Devemos subir a tag #AdiaEnem, demonstrar nossa insatisfação com estas políticas adotadas e nos prepararmos para o bom combate nas ruas quando esta pandemia passar paratirar com grandes manifestações esta canalhada que ora está no poder.
*https://www.google.com.br/…/1547145578_294383.html%3foutput…
**https://www.google.com.br/…/ideia-de-universidade-para-todo…