Avança a reorganização sindical e popular

Até o final do ano passado, havia um quadro muito negativo em relação ao avanço do processo de recomposição da esquerda no movimento sindical e popular.

O II Encontro da Intersindical, realizado em abril, havia terminado em crise e dividido em relação à proposta de se construir uma nova Central a partir de uma unidade com a Conlutas.

O Congresso da Conlutas, apesar de vitorioso, foi realizado em julho sob o impacto da ruptura do MTL e outros setores.

Nem mesmo o Seminário Nacional da esquerda, realizado em novembro, em São Paulo – uma iniciativa da Conlutas, Intersindical, MST, MTST, PSOL, PSTU e PCB – para debater a crise econômica e ações na conjuntura – foi capaz de aprovar um calendário que contemplasse tanto a intervenção unificada nas lutas, bem como a sequência do debate sobre o processo de reoorganização sindical.

A proposta de se realizar uma atividade unificada dos setores signatários desse seminário durante o Fórum Social Mundial (FSM) foi rejeitada. Com esse desfecho, havia uma perspectiva muita ruim sobre a recomposição da esquerda para 2009.

Felizmente, esse quadro começou a mudar a partir da iniciativa dos setores que eram favoráveis a realização dessa atividade no FSM. Conlutas, correntes internas da Intersindical, MTL, MAS, MTST e Pastoral Operária resolveram bancar politicamente esta atividade, mesmo com a discordância da ASS e do PCB e as dificuldades apresentadas pelo MST de São Paulo.

Houve diversas reuniões preparatórias e a atividade acabou acontecendo em Belem, durante o FSM, no dia 29 de janeiro. O balanço político é extremamente positivo.

Participaram mais de 800 lutadores e foi aprovado um manifesto bastante avançado. O manifesto apontava um diagnóstico da crise, uma plataforma de exigências aos patrões e governos, um plano de ação para o próximo período e um calendário de debates sobre a reeorganização sindical. Esse processo deve culminar na realização de um grande Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, previsto para ser realizado até o final deste ano e que terá como pauta a formação de uma nova Central.

Um calendário unificado de lutas

O calendário de lutas aprovado na atividade da esquerda socialista, realizada no FSM, tem sido implementado no processo de resistência contra a tentativa de patrões e governos em transferir os custos da crise econômica para as costas dos trabalhadores.

Os atos realizados no dia 11/02 no Rio de Janeiro na sede da Vale do Rio e no dia 12/02 realizados em São Paulo e Minas Gerais, em frente as sedes respectivas da Fiesp e Fiemg, foram importantes para mostrar aos trabalhadores que há uma alternativa às demissões ou redução de direitos defendidas pela CUT e Força Sindical.

Essa alternativa aponta a necessidade de uma luta solidária e unificada dos trabalhadores.

A única possibilidade de revertermos as 804 demissões da GM e as 4.200 da Embraer passa pela construção de um grande movimento político com a participação de todos os movimentos sociais, de todas as centrais sindicais, das pastorais sociais da igreja, dos partidos de esquerda, contra as demissões e redução de direitos.

Dentro deste contexto, entendemos como correto, o chamado insistente que a Conlutas tem realizado a todas as centrais sindicais para que estejam unidas nessa luta. Isso não significa qualquer tipo de revisão de avaliação do caráter pelego e traidor de suas direções ou recuo de nossa plataforma programática de combate à crise.

Esse chamado é importante não só para derrotar esses ataques, mas para dialogar e incidir sobre os trabalhadores que são base dessas centrais sindicais e mostrar a eles que é possível outro caminho além daquele defendido por suas direções.

Construir o 1º de abril

E é partir dessa perspectiva de enfrentamento contra os ataques de patrões e governos que ganha importância fundamental a construção do dia 1º de abril com um Dia Nacional de Mobilização e Luta.

Esse dia não pode ser apenas um dia de luta da Conlutas e Intersindical. É necessário que ele seja abraçado por um maior número de setores e movimentos sociais.

O calendário de lutas aprovado no FSM aponta também a necessidade de balanço das ações realizadas no dia 1º de abril e a avaliação sobre a possibilidade de prepararmos uma grande manifestação em Brasília para exigirmos de Lula, o atendimento de nossas reivindicações.

Além disso, coloca de forma correta a necessidade dar darmos um sentido político comum a essas mobilizações, visando a sua generalização, o que passa por iniciarmos, desde já, um debate nas bases dos sindicatos e movimentos sociais, sobre a adoção de ações mais radicalizadas como a greve geral.

Papel ativo do PSOL

O PSOL pode e deve intervir de forma mais consequente na luta contra as demissões e redução de direitos. É necessário que as figuras públicas do partido, como os parlamentares e em particular a companheira Heloísa Helena, participem de forma direta de todas as ações dos trabalhadores da Vale, GM e Embraer contra as demissões.

Essa participação mais decisiva do PSOL poderia ajudar a evitar que estas lutas continuassem isoladas e se transformassem em referência para um grande movimento político nacional contra as demissões e redução de direitos.

Além disso, é responsabilidade de todas correntes do PSOL jogar um papel mais ativo no processo de reoorganização e implementar de forma mais consequente as resoluções do próprio partido que apontam a necessidade da construção de uma nova Central para o país.

O papel ativo do PSOL não deve se dar porque o partido fará tudo para ser hegemônico na nova Central, mas sim para contribuir para que a nova ferramenta de luta seja ampla, de massas, e se constitua como uma alternativa efetiva às centrais governistas como a CUT e a Força Sindical.

O caráter sindical e popular não pode ser um obstáculo para a unidade

Um dos temas fundamentais do seminário nacional sobre reeorganização que será realizado em abril será o do caráter da nova central.

Nós do Comitê de Unificação SR/CLS temos o entendimento de que a nova Central deve ter um caráter sindical e popular. Isso significa que deve ser uma Central classista que reúna organizações sindicais, mas também outros movimentos sociais.

Para fazer frente à conjuntura atual e à situação da classe trabalhadora hoje é necessário o máximo de unidade dos trabalhadores da cidade e do campo, da juventude e de outros movimentos sociais.

Entretanto, entendemos que em hipótese alguma, a definição do caráter da nova central possa ser utilizada como um obstáculo para a unidade.

A construção da unidade se concretiza através da experiência comum, do debate franco e democrático e da tolerância, o que não impede que todas correntes e setores possam defender de forma democrática, dentro da nova entral que esperamos formar, as suas concepções. 

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