Movimento derruba governador de Porto Rico – cancele a dívida!

Somos a maioria e não temos medo!

Depois de mais de uma semana de constantes protestos, o povo porto-riquenho finalmente forçou o governador Ricardo Rosselló a renunciar na noite de 24 de julho. O anúncio veio depois que centenas de milhares de porto-riquenhos protestaram fechando todas as saídas da rodovia principal e parando o país. “Ricky” apareceu na Fox News logo depois de explicar que não se demitiria porque queria “terminar o que começou”. Perguntaram a ele quem em seu país o apoiava e não soube responder. Isso era aparente ao andar pelas ruas de San Juan. Cada esquina, cada placa, cada fachada de loja tinha a demanda do povo: “Renuncie Ricky!”. 

A ilha está em meio a uma devastadora recessão que já dura 13 anos, com centenas de milhares de pessoas partindo de Porto Rico para o continente. O governo declarou falência em 2017. Embora o presidente Trump afirme que o número é muito menor, 4.645 pessoas morreram como resultado do furacão Maria e centenas de milhares continuam sofrendo com a falta do básico, incluindo abrigo. Os danos causados pelo furacão são estimados entre 90 e 120 bilhões de dólares. O Conselho de Supervisão Fiscal, indicado pelo governo dos EUA – chamado ironicamente de “La Junta” – continuou com as políticas de austeridade e cortes incansáveis, junto com privatizações de energia, escolas e telecomunicações, arrasando o padrão de vida de milhões de pessoas. As estatísticas são chocantes: mais de 44% dos trabalhadores e jovens vivem na pobreza.

Desde a tragédia do furacão Maria, o fundo de emergência da ilha tornou-se alvo de especulação, má gestão e corrupção. Medidas de “alívio da dívida” significaram que as escolas foram vendidas e o dinheiro foi embolsado por funcionários corruptos. Em um protesto, uma menina da escola segurava um cartaz que dizia: “A violência está fechando minha escola”. 

A mensagem de texto vazada entre Roselló e funcionários que provocou os protestos mostrou com insensibilidade chocante a verdadeira natureza da elite. Essa foi a gota d’água. Em centenas de mensagens de texto incriminatórias, eles brincaram sobre o assassinato da prefeita de San Juan, Carmen Yúlin Cruz, fizeram comentários homofóbicos e piadas sobre cadáveres que se acumularam depois do furacão Maria. 

Na segunda-feira, 22 de julho, depois da grande greve geral, o governador renunciou à presidência de seu partido e disse que não se candidataria à reeleição, mas isso não foi suficiente. Eles queriam que ele saísse imediatamente! Membros da Alternativa Socialista estavam em San Juan para participar e relatar.

Havia planos de ação para toda a semana, incluindo uma marcha de quinta-feira pela “Milha do Ouro”, o distrito financeiro de San Juan é a sede do principal banco da ilha, o Banco Popular, cujo presidente faz parte de La Junta, o conselho consultivo financeiro de Porto Rico. Uma das demandas do movimento é de abolir esse organismo não eleito, por isso uma marcha por esta rua seria uma mensagem importante. Outro dia de protesto em massa foi marcado para o sábado seguinte para bloquear o maior shopping center da ilha. Um membro da família Fonalleda – outra ala da elite, proprietária do shopping – escreveu uma carta a Ricky pedindo-lhe que ouvisse o povo e se demitisse. O sindicato dos caminhoneiros também disse que se ele não desistisse até aquela segunda-feira eles entrariam em greve. Uma greve de motoristas de caminhão pararia basicamente todo o comércio em toda a ilha. E, enquanto isso, todos os dias na Fortaleza – a mansão do governador – havia constantes protestos ameaçando crescer ainda mais.

Sem dúvida, toda essa pressão e a ameaça de uma nova escalada de protestos, com grandes repercussões econômicas, forçou o governador a finalmente ceder às demandas do movimento e renunciar. Esta foi uma vitória do povo porto-riquenho!

A dimensão dos protestos, a solidariedade e unidade demonstrada pelos cidadãos comuns de Porto Rico durante esta luta foram algo histórico. Havia uma compreensão total por parte de pessoas de todas as idades na ilha de que a única maneira de se livrar de Ricky, era ficar nas ruas. Sindicatos, estudantes, o clero e a comunidade LGBT trabalharam juntos e se coordenaram para continuar com as ações em todo o país todos os dias. Não houve violência por parte das pessoas. Houve uma unidade sobre as ações. Os gritos de palavra de ordem seguiam sem interrupção. 

“Ricky renuncia, e leva La Junta!”

Mas e agora? Depois que Ricky se demitiu, a secretária de Justiça Wanda Vázquez eraa próxima na fila para se tornar a nova governadora e, embora ela não fosse uma participante do infame “chat”, ela era quase tão impopular quanto Ricky. Os protestos continuaram e Wanda declarou que não assumiria o cargo. 

Em 2 de agosto, Pedro Pierluisi foi empossado como novo governador de Porto Rico. “Ele é um capitalista de extrema direita que representa o setor privado. Ele não presta”, disse-nos um ativista estudantil da Universidade de Porto Rico. Para piorar as coisas, antes de tomar posse, ele era um advogado que trabalhava  como representante de La Junta, o próprio conselho financeiro que o povo da ilha estava gritando para que Ricky levasse consigo quando se demitiu. La Junta é um órgão antidemocrático, não eleito, que tem controle e supervisão colonial sobre a economia de Porto Rico. Ele implementa cortes extremos e austeridade que mantém a ilha empobrecida há anos em nome do pagamento de uma dívida injusta. La Junta deve ir!

Os protestos continuaram exigindo uma verdadeira mudança no regime de corrupção e elitismo que governa a ilha há anos. Isto obrigou o Senado e a Suprema Corte de Porto Rico a anular o juramento de Pierliusi como governador no dia 9 de agosto. O resultado foi que Wanda Vázquez tornou-se governadora em seu lugar. Mas os porto-riquenhos não estão satisfeitos e mais protestos aconteceram no mesmo dia, pedindo também sua saída e exigindo que as pessoas e não as negociações internas do partido decidam o novo governador. Dado o alto nível de desilusão pública com o sistema político, parece provável que os protestos continuem. 

O povo de Porto Rico tem demonstrado que a ação em massa pode e vai derrubar políticos corruptos. Mas, como vimos, isso pode simplesmente levar a que políticos ainda mais corruptos tomem seu lugar. É hora de os trabalhadores e a juventude da ilha enfrentarem o regime colonial, a oligarquia financeira e a ditadura do grande capital sobre a vida das pessoas. Já foram anunciadas assembleias populares em massa em toda a ilha para debater quais são os próximos passos que o movimento precisa dar para desafiar o regime podre que Rosselló presidiu. 

Os capitalistas de Wall Street estão dispostos a empobrecer o país para encher seus bolsos como fazem em todo o mundo. Os trabalhadores nos EUA devem estar ao lado de nossas irmãs e irmãos porto-riquenhos para lutar contra o colonialismo e a austeridade que, em última instância, significa lutar contra o capitalismo. 

A incrível luta de massas tem mostrado o caminho para desafiar qualquer novo ataque do grande capital e da administração Trump em Porto Rico e em todo o continente americano. As idéias de socialismo, luta e solidariedade estão despertando novamente na América do Norte e Central. Nos EUA, as ideias do socialismo estão sendo debatidas entre uma nova geração como resultado da campanha sobre Bernie Sanders e as novas greves e lutas dos trabalhadores. Estas são as forças que os trabalhadores e os jovens da ilha podem ter como aliados para continuar a luta contra La Junta e por um Porto Rico democrático e socialista como parte de uma federação socialista da América do Norte.   

Nós defendemos:

  • Organizar protestos de solidariedade em massa no continente para apoiar nossos irmãos e irmãs em Porto Rico! 
  • Abolir a Junta (o Conselho de Supervisão Fiscal). Cancelar a dívida. Descolonizar Porto Rico!
  • Ajuda financeira plena para reconstruir casas, infraestrutura e restaurar serviços devastados pelo furacão Maria em toda a ilha.
  • Reverter todos os cortes; reabrir escolas. Fim da privatização – devolver as telecomunicações e a energia elétrica à propriedade pública. Eleições imediatas; varrer todo o establishment corrupto; por candidatos dos trabalhadores, completamente independentes de todos os interesses empresariais, para acabar com a corrupção e lutar por um programa claro que defenda as necessidades dos trabalhadores e dos pobres, não dos bancos e das grandes empresas – por um Porto Rico socialista e democrático.