O papel do PSOL na reorganização sindical e popular
O PSOL nasceu como decisivo pólo de reorganização política da esquerda socialista depois da perda definitiva do PT. No campo sindical e popular, um processo de reorganização também se acelerou com a transformação da CUT em correia de transmissão do governo Lula. Além de outras iniciativas, foi desse processo que nasceram a Conlutas e posteriormente a Intersindical.
O peso do PSOL nesse processo de reorganização sindical e popular foi desproporcional à sua importância política e influência de massas. Muitos militantes do PSOL jogaram e jogam papel central tanto na Conlutas como na Intersindical, além de outros movimentos. Mas, como partido, ou seja, adotando um projeto político global, coerente e organizado, o PSOL não foi protagonista.
Alguns argumentam que isso se deu porque o partido era muito incipiente e tinha que cumprir enormes tarefas, como a obtenção do registro legal, por exemplo, que atrapalharam sua estruturação e organização. Há também o argumento de que o PSOL é um partido plural, de caráter amplo, que reúne no seu interior diferentes setores da esquerda socialista e isso, embora seja positivo de forma geral, acabou provocando certa fragmentação atrapalhando uma ação mais coerente do partido como um todo.
Esses argumentos têm base na realidade e são parte da explicação. Porém, em nosso entendimento, há uma razão política de fundo que nem sempre é assumida no debate. Ela tem a ver com a estratégia política que o partido está assumindo, principalmente no último período.
A linha política consolidada no 1° Congresso do partido em 2007 deixa claro que há no campo majoritário do PSOL uma evidente prioridade da luta institucional, materializada nas disputas eleitorais, que leva a uma intervenção nos movimento sociais subordinada a essa prioridade.
Nova etapa na atuação sindical do PSOL
Desde a realização da sua I Conferência Sindical em março desse ano, o PSOL passou a atuar com um grau de coordenação maior no processo de reorganização sindical e popular. A resolução votada deu um passo adiante ao propor explicitamente e com o apoio de todas as correntes do partido a formação de uma nova Central que unificasse a Conlutas e a Intersindical e buscasse ampliar esse processo.
Depois da Conferência, setores do PSOL com atuação na Intersindical e que anteriormente eram muito refratários à idéia de unificação com a Conlutas, passaram a defender essa posição. Isso fez com que uma parcela expressiva, possivelmente majoritária dos delegados ao Encontro Nacional da Intersindical, realizado em abril desse ano, defendesse uma política de unificação.
Desde então, porém, existe um risco de retrocesso em relação à dinâmica estabelecida na Conferência sindical do partido. A ruptura recente da Conlutas anunciada pela direção do Sindsprev do Rio de Janeiro e demais setores vinculados ao MTL/Poder Popular, assim como do MES, ambas correntes do campo majoritário do PSOL, pode apontar para um risco de fragmentação maior no processo de reorganização sindical e popular.
Fragmentação em linhas partidárias um retrocesso
A fragmentação do sindicalismo mais combativo e independente em linhas partidárias seria um grande retrocesso. Isso vale tanto para a Conlutas diante da ameaça de práticas hegemonistas por parte do PSTU, quanto para as pressões no sentido de que o PSOL construa seu próprio campo de atuação sindical.
Se a proposta minoritária levantada por alguns na Conferência Sindical do PSOL que apontava para a constituição de uma Central sindical envolvendo apenas os sindicatos influenciados pelo PSOL e alguns poucos aliados começar a ganhar corpo, quem perde é o conjunto do processo de reorganização sindical e popular.
O argumento de que a divisão da Conlutas ajudaria uma unificação superior não se sustenta. Mesmo discordando de muitos dos métodos do PSTU na Conlutas, não se pode dizer que a formação de uma nova Central está bloqueada por culpa da Conlutas.
A Conlutas é mais ampla que o PSTU e representa um processo real de organização sindical e popular. Foi também por isso que avançou numa direção mais aberta e inclusiva e decidiu formalmente fazer um chamado à unidade com a Intersindical. Não podemos deixar que isso se reverta no próximo período.
Uma nova central unitária baseada numa democracia interna autêntica e no respeito às diferenças comportaria todas as visões no campo do movimento sindical e popular que não se atrelou ao governo.
Não podemos aceitar que um grau maior de organicidade na intervenção do PSOL no movimento sindical e popular acabe gerando mais fragmentação e conflito. O papel do PSOL é usar toda sua autoridade e influência para ajudar no processo de reunificação da esquerda no movimento sindical e popular e construir uma nova Central unitária que envolva a todos.
Essa vocação unitária, plural, democrática e combativa esteve na base da fundação do PSOL e deve ser resgatada e fortalecida e não abandonada.