1º Encontro de Mulheres da Conlutas: um passo importante para a luta das mulheres trabalhadoras

Em pleno momento de retomada das lutas e reorganização da classe trabalhadora, combativa e resistente, acontece o 1º Encontro Nacional de Mulheres da Conlutas. Este encontro teve com objetivo central organizar as reivindicações das mulheres trabalhadoras, dos sindicatos e movimentos sociais, de modo a possibilitar uma intervenção com pauta própria e definida coletivamente no congresso nacional da Conlutas, em julho deste mesmo ano.

O encontro aconteceu entre os dias 19 e 21 de abril de 2008. Houve mais de 1100 inscritos, sendo 1002 mulheres, o restante de homens que estavam como observadores. A maioria dos homens presentes estava trabalhando na estrutura do encontro e nas banquinhas de livros.  O SR, conjuntamente com a ARS, CLS e AS, intervimos pela Tese “Lutas paralElas” com 21 delegadas (12 companheiras do SR e 9 companheiras do MTL-DI, Gráficos e MPRA – Movimento Popular Pela Reforma Agrária).  A nossa tese, de algum modo, foi a única capaz de unificar as bandeiras de luta das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade.

Apesar de sermos minoria e das mulheres ligadas ao PSTU hegemonizarem o encontro, conseguimos pautar questões importantes, como por exemplo, contribuir para que saísse uma resolução de conjuntura que caracterizasse a especificidade da luta das mulheres trabalhadoras, e para além disso, conseguimos participar de todos os Grupos de Discussão (legalização do aborto, GLBTT, mulheres camponesas, mulheres jovens, conjuntura, sindical dentre outros) colocando a nossa tese e debatendo com as demais companheiras presentes diversos pontos importantes para a luta das mulheres trabalhadoras hoje. Contamos também com uma saudação da companheira do CIO, Sheri Hamilton, sindicalista educadora, militante da seção da África do Sul. Após a saudação, à noite, fizemos um debate onde Sheri pôde colocar a realidade da luta das mulheres trabalhadoras na África do Sul.

Foi aprovada na plenária final uma grande pauta consensual onde estavam presentes bandeiras históricas do movimento de mulheres trabalhadoras: como trabalho igual salário igual; resolução favorável à legalização do aborto; contra a violência sexista; contra as reformas neoliberais que atingem as mulheres mais brutalmente, a exemplo da reforma trabalhista que não garante mais o direito à licença maternidade ou ainda a reforma da previdência, que equipara tempo de contribuição entre homens e mulheres ignorando a dupla jornada de trabalho; a construção de mais creches. Enfim, bandeiras de luta necessárias para melhorar as condições de vida das mulheres trabalhadoras.

Uma outra resolução importante aprovada foi que o GT de mulheres da Conlutas terá a tarefa de impulsionar um movimento de mulheres trabalhadoras, mais amplo que a própria Conlutas, capaz de intervir na luta de modo organizado e na defesa dos nossos direitos. Essa resolução de algum modo, reflete a inexistência de um movimento de mulheres hoje combativo, anti-governista capaz de defender as nossa reivindicações e bandeiras.

As principais polêmicas foram: política de cotas às mulheres na composição das direções sindicais, estudantis e do movimento popular; veto à participação dos sindicatos de policiais à Conlutas e a imediata expulsão de militantes que já se encontram filiados; fusão da Conlutas à Intersindical; denúncia da Heloisa Helena e sua postura contra à legalização do aborto e participação na Campanha da Igreja em defesa da vida. Nenhuma destas polêmicas foram aprovadas.

Nós, do Bloco de Esquerda, defendemos cotas já, apoio às greves dos policiais e à participação de sua base na Conlutas. Quanto à fusão, defendemos a unidade da Conlutas e Intersindical rumo a construção de uma nova Central Sindical; e a respeito da HH, apresentamos uma moção, que localiza a nossa diferença com a HH em relação a este tema específico, ressaltando a resolução congressual do PSOL, fazendo um chamado à companheira para participar de um debate interno da Conlutas, cujo tema central seja a legalização do aborto.

De todo modo, o debate realizado no interior do encontro, nas mesas de abertura, na apresentação das teses, foi um debate bastante qualificado e avançado politicamente. Isso nos mostra a importância da Conlutas neste processo de reoganização sindical e popular e sua potencialidade de organização e aglutinação de parcela significativa da classe. Contudo, para que isso aconteça, será necessário ficarmos muito atentos e intervimos de maneira contundente para que não caiamos nas armadilhas da velha estrutura burocrática sindical.

A nova configuração da classe trabalhadora não nos permite mais manter a mesma estrutura e cometer os mesmos erros do passado. O GT de mulheres da Conlutas deverá ser orgânico, real e ter uma participação efetiva na luta das mulheres trabalhadoras, não podendo se resumir a um veículo de transmissão da política geral da Conlutas.

Para isso precisamos nos mobilizar e nos organizarmos para intervimos localmente na construção destes GT’s. Pautar as nossas bandeiras e criar uma dinâmica própria e efetiva capaz de dialogar com as companheiras que compartilham das mesmas dores, dificuldades e necessidades de luta. O nosso não descolamento da luta real e cotidiana se faz necessário para não cairmos numa política auto-construtiva, isso sim abortaria o nosso projeto de transformação e a potencialidade da Conlutas e especificamente deste GT de mulheres.

Em síntese, saímos deste encontro com muita energia e com disposição militante para construímos esta frente de luta capaz de ser uma ferramenta real a contribuir para a organização das nossas lutas especificas, nunca secundárias.