Plínio de Arruda Sampaio Jr fala sobre sua entrada no PSOL: ”Precisamos saber ir da reforma para revolução”

Plínio de Arruda Sampaio Jr, professor de economia da Unicamp, foi um dos que ingressaram no PSOL no fim de setembro. O Socialismo Revolucionário falou com ele sobre como vê as lições para a construção do PSOL.

Como foi sua saída do PT?

– É evidente que o ciclo do PT acabou. Isso foi vivido pelos militantes de maneira diferenciada. No meu caso, que militei no grupo de economistas, e que há muito tempo estava em grande desacordo com a direção, o detonador da crise foi a adoção de uma política econômica antagônica a tudo que acumulamos dentro do partido. Por isso a saída dos economistas foi massiva e rápida.

– Ao lado disso, no meu caso, a disputa das prévias [para definir o candidato a prefeito do PT] de São Paulo em 2002 foi uma lição de que não havia a mais remota possibilidade de mudar o partido por dentro, pois já não havia o menor vestígio de democracia interna. Por isso, dizíamos, sem democracia não aceitamos a disciplina partidária.

Sua entrada no PSOL se deu apenas em setembro deste ano, apesar de ter rompido com o PT já em janeiro, por quê?

– Estou convencido que é importante a esquerda reconstruir seus instrumentos de luta: partidários, sindicais e de lutas sociais. Isso será um processo lento. Não tinha pressa para entrar no PSOL porque queria digerir as lições do que aconteceu com o PT. Decidi minha entrada quando percebi que o PSOL pode ser um guarda-chuva institucional, um espaço de debate e de luta, importante no processo de rearticulação da esquerda socialista.

Quais são então as lições que o PSOL deve tirar da experiência do PT?

– Falei para a Heloísa Helena, quando ela convidou um grupo de intelectuais a entrar no PSOL, no escritório do Chico de Olivei­ra em São Paulo, que se não fizéssemos uma crítica profunda do que foi a experiência do PT, correríamos o risco de repetir suas taras.

– No meu entendimento, a principal lição é entender que o fiasco do PT representa a prova histórica definitiva do fracasso da experiência social-democrática no Brasil. O novo partido tem que partir da crítica dessa experiência. Precisamos de um partido que tenha uma outra radicalidade.

O que seria isso?

– O PSOL tem obrigação de ter uma leitura da realidade. Qual é o problema do Brasil? Quais são suas possíveis soluções? É em função de tal diagnóstico que se deve definir a organização partidária.

– O partido não é um fim em si. Se o partido não tiver uma análise correta do momento histórico, corremos o risco de, novamente, criar um instrumento que não esteja a altura dos desafios históricos.

– A esquerda não precisa de uma legenda para disputar a eleição. Ela precisa de um instrumento para fazer a revolução brasileira. Isso não quer dizer que não se deve disputar a elei­ção, pois ela é um momento de diálogo com a população, é um momento em que a classe traba­lhadora discute política.

Quais são as idéias que devem ganhar força nesse período dentro do partido?

– Um país ameaçado de reversão neocolonial precisa urgentemente de um instrumento de luta capaz de enfrentar o imperialismo. Um pais onde vigora um padrão de luta de classe duríssimo precisa de um partido capaz de enfrentar uma contra-revolução permanente. Um pais no qual o espaço de mudança dentro da ordem se esgota rapidamente, precisa ter muita clareza sobre como combinar reforma e revolução.

– Enfim, precisamos de um instrumento que esteja preparado para passar da reforma para a revolução de maneira muito rápida. Não é porque queremos, mas é porque a burguesia não abre espaço para a reforma. Esse que é o partido que o Brasil precisa. Não precisamos de uma esquerda parlamentar.

Como deve ser a atuação do PSOL no próximo período?

– Um dos riscos que devemos evitar é o cretinismo parlamentar. Esse é um dos problemas do PT. Se o partido ficar subordinado ao cretinismo parlamentar, estará liquidado. Estrategicamen­te, acho que o PSOL deve fazer o seguinte: ter uma crítica à esquerda ao governo Lula; ser porta-voz das lutas populares – a reforma agrária, a defesa da Petrobrás, a transposição do São Francisco, a luta contra a Refor­ma Universitária, a defesa da Amazônia, e a luta contra a política econômica. Enfim, na minha opinião, a principal tarefa do PSOL é ganhar a confiança da classe trabalhadora.

Com o governo Lula, como você vê a resposta dos trabalhadores em relação a disposição de luta?

– Olha, pelo tamanho da trombada a esquerda tem se saído bem. Tem demonstrado muito mais vitalidade do que seria de se supor. Existe muita resistência, muitas greves… O problema é que a divisão da esquerda confunde e compromete a eficácia das forças de esquerda e não ha instrumentos para centralizar as lutas.

– Mas o debate político, hoje, é de uma qualidade muito superior ao que ocorria antes do governo Lula. A vanguarda da classe trabalhadora hoje é bem menos ingênua do que foi a um tempo atrás.

– Não acho que a esquerda esteja condenada a ficar marginalizada do processo político. Ao contrário, se tivermos competência política e criatividade, temos toda a possibilidade, num prazo médio, de reorganizar a esquerda e criar condições para retomar a iniciativa política.