Holanda: Imigrantes morrem em incêndio “como ratos numa gaiola”
O centro de detenção temporária não estava nos padrões de segurança
Um bombeiro cansado e velho, com muitos anos de experiência, tinha lágrimas nos olhos. Ele balançou sua cabeça: “Alguma coisa terrivelmente deu errado nessa noite”. Outro trabalhador de resgate disse: “Isso foi realmente terrível; nós tivemos que pegar todos os prisioneiros mortos de suas celas. Eles não tiveram chance.”
Depois de um terrível incêndio no centro de detenção no Aeroporto International Schiphol, perto de Amsterdã, 11 corpos estendidos esperavam para serem transportados ao mortuário para a identificação. Muitos deles foram retirados do prédio por macas improvisadas com portas da prisão. O incêndio, que começou logo depois da meia-noite do dia 27 de Outubro, matou 11 e feriu 15.
O centro de detenção era na verdade uma prisão provisória. Foi construída para alojar os traficantes de drogas (principalmente da América Latina) que ingerem cocaína em bolsas de plástico. Depois também foi usada para prender imigrantes ilegais. O incêndio ardeu por três horas pelas 12 celas de capacidade para duas pessoas. A prisão consistia em unidades pré-fabricadas. Cerca de 300 pessoas foram detidas no centro. Uma ala inteira foi destruída, claramente mostrando seu projeto pobre e provando que os bombeiros foram chamados tarde demais. As celas só podiam ser abertas manualmente e os corredores eram bem estreitos.
A Organização Européia de Proteção aos Detidos depois de conversar com os sobreviventes concluiu: “Eles estavam como ratos na gaiola.”
O quadro de funcionários não estava completo no prédio e aqueles que trabalhavam não estavam qualificados para os procedimentos de incêndio. Um dos prisioneiros entrevistados indicou que os guardas subestimaram o incêndio. Quando os prisioneiros sentiram o cheiro de fumaça, os guardas se recusaram a acreditar. O sindicato do setor público (ABVAKABO) deixou claro que os prisioneiros de celas temporárias estão sob risco maior do que aqueles em prisões normais. Há menos guardas e eles recebem um treinamento pior. O porta-voz do sindicato, Dieter, disse que três guardas eram responsáveis por 43 prisioneiros.
Depois dos incêndios anteriores (houve dois, um quando o prédio ainda não estava sendo usado) organizações de segurança apontaram que o prédio não se enquadrava nos critérios de segurança. Apesar de medida terem sido tomadas depois, elas foram claramente insuficientes.
A tragédia é uma clara conseqüência da forma como pequenos traficantes de drogas, normalmente desesperados pela pobreza, e imigrantes “ilegais” são tratados pelos governos de toda a Europa. A máfia política do “trancar e mandar embora” é responsável pelas condições na prisão temporária de Schiphol. Muitos que estavam à procura de asilo morreram quando foram mandados para os países de origem. Estes não contam para as preocupações do governo.
O desastre escancarou para todos o destino dos imigrantes. Mais holandeses vêem a propaganda racista e anti-imigrante dos principais partidos, de partes da mídia e do governo. Como uma indicação disso, holandeses corajosamente manifestaram-se contra o tratamento aos imigrantes ilegais na noite depois do desastre da prisão de Schiphol.
Os socialistas exigem um inquérito independente pelos sindicatos e organizações dos direitos dos imigrantes sobre o incidente, incluindo as políticas governamentais. Os sindicatos e a esquerda devem fazer uma campanha contra as leis de imigração racistas e as condições bárbaras nas quais os imigrantes e os em busca de asilo são pegos. A contra-ofensiva aos cortes do governo holandês deve continuar e avançar unindo os trabalhadores de todas as origens. Moradia, emprego, renda decentes e um sistema realmente fundado no bem-estar devem estar disponíveis para todos.