Armaram pros 18! Protestar não é crime!

O final de agosto e início de setembro de 2016 foi marcado por uma semana ininterrupta de mobilizações de rua contra Temer e por novas eleições. No sétimo dia de protesto (04/09/16) 22 jovens foram presos antes mesmo de conseguirem chegar até a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.

Estes jovens que se conheceram pela internet marcaram de se encontrar antes do ato no metrô Consolação. Queriam se conhecer e ficar juntos porque tinham em comum pouca experiência nas manifestações e bastante garra pra lutar contra o governo.

Organizaram um grupo de WhatsApp, combinaram os detalhes e quando se encontraram no metrô um dos membros do grupo propôs que fossem caminhando até o Centro Cultural São Paulo para encontrar mais pessoas.

No caminho, todos perceberam que havia helicópteros e muitos carros da PM, mas o que não perceberam foi que tudo aquilo era uma emboscada armada contra eles. A pessoa que os convenceu a irem até o Centro Cultural era um infiltrado do Exército, com a patente de capitão, que atuava nas redes sociais para colher informações para os serviços de inteligência.

Balta, como se denominava nas redes sociais, atuava no facebook e tinder e aparentava ser um estudante com orientação política de esquerda. Menos de cinco minutos depois de chegarem ao Centro Cultural, 22 pessoas foram presas por mais de 40 policiais que saiam de todos os lados, carros, ônibus e até helicóptero da PM. Entre eles, havia 8 menores.

Foi somente no dia seguinte, depois de mais de 12 horas detidos, que conseguiram a liberação depois que um juiz considerou precipitada a “prisão para averiguação” diante da absoluta falta de provas.

Todos ali acreditavam que processo não seguiria adiante dada a própria afirmação da justiça. Mas, em dezembro do mesmo ano os 18 jovens maiores de idade receberam a notificação de que um promotor havia retomado o caso.

Somente em agosto de 2017, quase um ano depois da detenção, uma juíza acata a denúncia e dá seguimento ao caso. Os 18 respondem por aliciamento de menores e formação de quadrilha como associação criminosa.

O processo apresenta enormes contradições que mostram uma clara tentativa de criminalização da luta. O registro na delegacia de que os jovens estavam todos de preto e com capuz não confere com a imagens do momento que foram detidos.

Isto demonstra como a repressão utiliza da construção caricaturizada de manifestantes perigosos para dividir o movimento e as lutas, além de criar provas inexistente sobre uma forma de luta entendida como algo criminoso.

Um movimento de apoio e solidariedade se organizou em torno das mães e pais dos 18 e dos próprios jovens criminalizados. Este é um movimento importante que deve ser fortalecida por todos aqueles que lutam.

Sabemos que a polícia, os empresários e latifundiários são responsáveis pelo extermínio de jovens negros das periferias, camponeses e trabalhadores rurais e indígenas. Mas há também uma forte perseguição a ativistas e lutadores no país.

Têm crescido a criminalização de indivíduos que não são efetivamente dos movimentos sociais, mas que são usados como bode expiatório das manifestações. Como vimos na condenação de Rafael Braga, preto e pobre que passava pela manifestação com materiais de limpeza e foi detido nas manifestações de 2013 e condenado.

O caso dos 18 jovens detidos no Centro Cultural São Paulo também tem este caráter. O que apresenta de novo e perigoso é o fato de ser uma emboscada armada por um infiltrado do Exército. Este infiltrado teve acusações contra ele que não foram aceitas e será uma das testemunhas contra os 18. Balta, na verdade William Pina Botelho, teve uma progressão na carreira e hoje é major do Exército.

Protestar não é crime! Armaram pros 18!
Não podemos permitir a condenação destes jovens e mais criminalização das lutas! Toda solidariedade aos 18 do Centro Cultural São Paulo!

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