Nota do Setorial de mulheres da LSR sobre as 15 travestis presas e oprimidas pela polícia de São Paulo

Hoje, 5 de outubro de 2017, 15 travestis foram presas sem justificativa nenhuma na Praça da República em São Paulo. Alega-se que estavam se prostituindo próximo a uma escola. É importante lembrar que prostituição não é crime no Brasil, porém para as forças do estado capitalista isso é um mero detalhe. O projeto de assepsia social – a “limpeza” de toda e qualquer minoria estigmatizada socialmente – e de gentrificação do bairro República continua a todo vapor. A República sempre foi um bairro tradicional LGBT, contudo, nos últimos anos, a chamada “revitalização” tem elevado o valor dos alugueis e novos comércios mais caros têm aberto na região, abrindo caminho para a velha gentrificação que expulsa os mais pobres e privilegia os mais ricos.

O alvo de hoje são pessoas de uma das categorias mais estigmatizadas socialmente: travestis. Sejam trabalhadoras sexuais ou não, as travestis são vistas como perigosas simplesmente por existirem. Seus corpos são tomados como inerentemente sexuais e pervertidos. Sua presença considerada um incomodo e uma ofensa. Por isso, prende-se travestis por simplesmente serem travestis. Não têm o direito de ir e vir assegurado, apenas podem existir à sombra da sociedade cumprindo a única função a que a sociedade lhes atribui: serem máquinas de sexo.

A transfobia mata todo dia no país que mais mata travestis no mundo e cuja expectativa de vida das mesmas é de cerca de 35 anos. A LGBTfobia, mais especificamente a transfobia, tem que ser discutida nas escolas, no trabalho e inclusive nos sindicatos como forma de combate à opressão e violências contra as pessoas LGBT. Uma abordagem feminista socialista deve enfrentar as questões que envolvem os corpos e vidas trans numa sociedade capitalista marcada profundamente pela divisão do trabalho por gênero e pela forte concepção do sexo enquanto elemento imutável, natural ou divino. É preciso discutir como as pessoas trans são tratadas socialmente, como são excluídas do mercado de trabalho e excluídas do campo afetivo-sexual, exceto sob o olhar da fetichização.

É preciso também dar visibilidade a casos como esse. Entendemos a grande mídia se isentar de noticiar travestis, mas é tarefa da esquerda socialista dar visibilidade e solidariedade à luta das pessoas trans. Por isso, entendemos como necessidade imediata compor com os movimentos um ato contra a transfobia e em apoio a essa e todas outras travestis que sofrem cotidianamente transfobia.

Não há socialismo sem enfrentarmos também as questões das opressões na sociedade capitalista. Chega de Transfobia! Pelo fortalecimento das mulheres trans e contra a LGBTfobia no Brasil e no mundo!