A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Em nosso caminho para Wembley
Nas eleições de maio na Inglaterra o Militant foi excepcionalmente bem em várias áreas onde se candidatou pela 1ª vez. Em East Hull, por exemplo, Keith Ellis ganhou 771 votos nas eleições para a câmara local – 34% dos votos. Ele concorreu como um vereador efetivo, tendo sido expulso do Grupo Trabalhista por votar contra um pacote de cortes de £25 milhões. Apesar de tudo, foi um resultado tremendo e após uma vitoriosa campanha de reuniões de rua e em residências e panfletos sobre todas as questões importantes afetando os trabalhadores. Seus 34% de votos contrastou favoravelmente com os 44% do candidato Trabalhista vitorioso. O Trabalhismo recebeu um verdadeiro susto com os 3 partidos distritais em Hull investindo seu tempo tentando conter o apoio que estávamos recebendo. Até o MP de East Hull John Prescott foi trazido. Em Bulwell, Nottingham, Gary Freeman se candidatou pelo Militant Labour, recebendo 656 votos, 22.2% do total. O organizador trabalhista local declarou que Gary Freeman “não tinha chances”. Contudo, ao longo da eleição ele foi forçado a mudar o tom. A imprensa local apresentou o manifesto de todos, menos do Militant Labour. Mesmo os Verdes tiveram seu espaço para falar de sua política e foram apontados como uma organização com raízes locais “que pode fazer bem”. A campanha por Gary Freeman mobilizou trabalhadores que estavam politicamente apáticos no passado. Milhares de panfletos foram distribuídos, 1.575 cópias do Militant vendidas e 4 reuniões públicas de sucesso realizadas. 21 pessoas concordaram em pagar cotas e se tornar membros. Isso lançou as bases para um novo núcleo na área de Bulwell.
Em Coventry os Conservadores receberam um duro golpe na pré-eleição de Longford. O partido do governo recebeu apenas 5% mais de votos do que o Militant Labour. Rob Windsor, nosso candidato, recebeu 423 votos, 11% do total. No Nordeste, no distrito de Hardwick da câmara de Cleveland, Patrick Graham recebeu 341 votos, 24.9% do total. Um vereador Trabalhista aceitou que o “Militant Labour ganhou a juventude porque não fazemos mais campanha ou coisa alguma.” (1)
A luta dos trabalhadores da Timex foi um dos epicentros do comício nacional em junho chamado para lançar, numa escala nacional, o Militant Labour como uma organização socialista independente. 1,200 trabalhadores, jovens, negros asiáticos e mulheres foram mobilizados para o Centro de Conferência de Wembley para começar bem a organização. Um impressivo grupo de oradores foi reunido,entre os quais estava Sandra Walker, grevista da Timex, que recebeu 2 ovações durante sua contribuição. Ela declarou:
As mulheres estão na linha de frente nesta luta e tem se transformado de ovelhas em leoas… Precisamos de apoio sindical nacional. Se nossos ancestrais tivessem escutado sobre legalidade não teríamos nem sindicatos nem Partido Trabalhista. Há muitas disputas como a Timex. Unidade é força, e já é hora de mostrarmos esta unidade e esta força. (2)
Eu disse:
Os líderes Trabalhistas praticam o eu-tambéismo. Os Conservadores decidem sua política de manhã, o Trabalhismo as seguem à tarde. Mas o Militant Labour ainda está lutando.Quem podemos comparar a nós?Quantos obituários e réquiens têm sido ditos sobre os ossos do Militant e então semanas depois, como por mágica, nós ‘re-emergimos’ como o Sunday Times disse recentemente!Vozes nos acusam de dividir o movimento. Fui membro do Partido Trabalhista por 23 anos até ser expulso em 1983. Éramos tolerados quando pequenos mas não agora. Lutamos pelo socialismo. Na Grã-Bretanha ele não será uma prisão estatal unipartidária do stalinismo mas uma economia planejada baseada nas idéias de Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Os melhores dias do Militant Labour estão à nossa frente. Una-se a nossa luta. (3)
Tommy Sheridan saudou o lançamento do Militant Labour para toda Grã-Bretanha:
Extraímos políticas das salas enfumaçadas e nas ruas da Grã-Bretanha… O sucesso eleitoral do Scottish Militant Labour provou que o socialismo radical pode chamar atenção. As eleições são um meio importante de transmitir idéias mas nunca um substituto para a luta de classes – a luta diária na vida do povo trabalhador. (4)
Havia jovens oradores, como Lois Austin da Juventude contra o Racismo na Europa, e de outros países, como Sam, membro do CNA da África do Sul. Raymond De Bord foi calorosamente saudado como orador da JCR (Juventude Revolucionária Comunista da França). Ele declarou:
Somos uma pequena organização mas estamos construindo uma posição importante entre a juventude francesa. Depois do ato da YRE em 24 de outubro (Bruxelas), nós formamos a YRE na França. Encontramos o Militant Labour pela 1ª vez no ato da YRE e esperamos por um contato mais estreito. Uma vitória para o Militant Labour na Grã-Bretanha é uma vitória para o socialismo na França. (5)
A JCR posteriormente se uniu ao Comitê por uma Internacional Operária (CIO), a organização internacional da qual o Militant Labour é a seção britânica, e tem crescido em influência e números como resultado de sua intervenção na insurgência dos trabalhadores e jovens que tem ocorrido na França. Uma das melhores acolhidas do dia veio de Julie Donovan, que graficamente descreveu as condições das mulheres trabalhadoras:
Depressão não tem nada a ver com personalidade mas com condições. A Seguridade Social paga£25por semana a menos que o governo admita a necessidade de nutrição adequada para impedir doenças de saúde e insônia.Os Conservadores culpam os pais solteiros pelos problemas da sociedade e os pressionam com a Lei de Apoio à Criança (CSA). Não podemos mais agüentar isso.As mulheres estão se organizando. Lutando ao lado das sindicalistas da DSS que tem que operar a CSA, podemos torná-lo impraticável. Há 3 anos atrás a violência doméstica, que atinge 1 em 3 mulheres, era considerada uma questão individual e não para os sindicatos. Agora 5 sindicatos tem encampado as demandas da CADV. O governo que girar o relógio para trás mas as mulheres estão se organizando. (6)
Outros oradores incluíam Tony Mulhearn, Dave Nellist, Janet Gibson, George Silcott, irmão do encarcerado Winston Silcott, e Larlan Davis da campanha M25.
Apelo para o Fundo de Luta
A apreciação dos oradores foi mostrada pelo impressionante apelo do fundo de luta que levantou £33.800. Houve um soluço por toda o centro da conferência quando a 1ª doação foi feita. Alec Thraves, que fez o apelo financeiro, perguntou se alguém poderia dar uma doação de £5.000 – mas o 1ª cheque foi de £10.000 de um trabalhador de Bristol. Visitantes internacionais deram somas enormes, £70 de 2 visitantes de Vancouver,£20 de um visitante de Michigan e £500 prometidos de um visitante europeu. A habilidade do Militant em gerar recursos financeiros assumiu lendárias, senão míticas proporções aos olhos dos adversários. Michael Crick cita um”ex-membro”sobre suas experiências de comparecer aos eventos do Militant.
“se seus bolsos não estavam vazios… alguém os obrigava a revirá-los para ter certeza que os cofres estavam nus quando você saia.Conheci pessoas que costumavam esconder seus últimos 30p para poderem voltar para casa de ônibus”. (The March of Militant p143).
Não acreditamos em espremer nossos apoiadores, que eram em sua maioria trabalhadores com meios limitados, até seus bolsos estarem vazios. Mas as idéias do Militant inspiraram grande espírito de auto-sacrifício, sem a qual não é possível mudar a história.Este espírito, contudo, precisava ser organizado. Clare Doyle como Tesoureiro Nacional iniciou os métodos financeiros que se tornaram a marca do Militant.Nick Wrack habilmente seguiu seus passos e em 1994 se tornou o editor do Militant. Quando ele deixou o cargo, Judy Beishon, uma tenaz e incansável membro do time financeiro do Militant por muitos anos, se tornou a Tesoureira Nacional do Militant Labour, uma posição em que ainda está.
Para os marxistas as idéias são primárias. Mas boas idéias não são nada a menos que os meios de demonstrar estas idéias sejam adquiridos. Uma atitude séria em relação às idéias e uma abordagem meticulosa de organização, especialmente ao coletar dinheiro, foi uma das razões do sucesso do Militant. Não admira que um observador do comício, do Partido Verde da Austrália, pode escrever subseqüentemente:
A atmosfera era de raivosa indignação do capitalismo – um sentimento que faltava em muitas outras conferências de esquerda – e um comprometimento com a ação… embora o SWP afirme ter 8 mil membros… seu impacto na política britânica é insignificante. O Militant, com sua base nas comunidades trabalhadoras, mereceu uma proeminência nacional por sua abordagem de atuar em vez de falar. (7)
Mesmo o New Statesman, não exatamente morrendo de amores pelo Militant no passado, concedeu que o comício foi extremamente impressivo,
… havia uma energia e entusiasmo no comício… Uma clara demanda de pelo menos 2 oradores foi pelo fim da era de “homens cinzas em ternos cinza”, prontamente um homem cinza num terno cinza na plataforma removeu seu paletó.As falas foram muito inspiradoras. No caminho para casa, eu conversei com um jovem inexperiente, que claramente se divertiu. Ele achava que o inicio com shows de laser e música foi realmente bom. Eu comentei a mensagem dupla de usar a música tema…”Eu não sabia que ela era de Tubarão“, ele disse. (8)
Mas talvez o melhor testemunho da sucesso do comício veio do relatório dos grevistas da Timex strikers, sobre suas impressões a seus colegas: “Cada orador foi excelente, um evento muito agradável e que valeu a pena.” (9)
A gerência da Timex, contudo, declarou que a fábrica seria fechada no Natal numa tentativa de chantagear 150trabalhadores qualificadas para voltar ao trabalho com salários reduzidos. Este plano foi rejeitado por 341 votos a 2. Mostrou que a luta era agora até o fim entre a gerência da Timex e os trabalhadores. Contudo, os trabalhadores foram encorajados pela renúncia forçada de Peter Hall. Mas eles ainda estavam ultrajados pela perspectiva de fechamento da fábrica. Quando o piquete de massas em 19 de junho fechou a Timex, mesmo os seguranças do sítio não encontraram nenhum jeito.No comício nos portões Tommy Sheridan recebeu enorme apoio quando falou da necessidade de um greve geral de 24 horas de toda Escócia. Se referindo à ameaça de remover a maquinaria ele declarou:
No meu entendimento a maquinaria e a técnica naquela fábrica pertence ao povo e devemos fazer tudo o que é necessário para assegurar que a maquinaria fique aqui e não levada para foram por alguma outra multinacional. (10)
10 mil pessoas se reuniram na marcha. Numa vitoriosa reunião do Scottish Militant Labour depois do comício o SML foi agradecido por um membro do comitê de greve por fornecer organizadores e pela cobertura na linha de piquete durante a longa disputa de 21 semanas. Estes sentimentos não eram compartilhados pelo Sunday Times ou o Scotland on Sunday. Um bombardeio de ofensas da mídia foi desencadeado contra os sindicatos, os próprios trabalhadores e o SML. A ‘imprensa de qualidade’ descreveu a luta sobre a Timex como uma entre “dinossauros”. O Sunday Times num editorial gritou que a fábrica estava sendo “destruída por dinossauros”. (11) A charge do Scotland on Sunday era de 2 dinossauros, um o Militant e o outro a gerência, lutando entre si com a fábrica da Timex no meio. “Quem temos que culpar, Peter Hall, Tommy Sheridan ou John Kydd Junior, o demitido dirigente do AEEU da Timex?” (12) As mulheres da Timex foram descritas como as “bruxas de Dundee”. Contudo, o Sunday Times também indicou o medo dos patrões:
Timex pode ser em si um assunto escocês menor mas era o que diziam sobre o poll tax e vejam o que aconteceu. Deus nos ajude se a Timex se tornar uma plataforma para uma cruzada renovada contra a legislação sindical do governo. (13)
Pedimos a John Kydd Junior por uma avaliação honesta do papel do SML na disputa:
“O papel do SML na disputa da Timex realçou a ênfase de classe da disputa. Sua solidariedade,apoio e encorajamento ajudaram a sustentar a moral dos piquetes em cada etapa da disputa. Sua abordagem de ação direta assegurou um reconhecimento nacional e levou a disputa a níveis mais alto. Os que condenaram o apoio do SML falharam em reconhecer a natureza de classe da disputa e por suas ações ajudaram e instigaram a Engineering Employers Federation e a companhia”. (14)
Mais distúrbios para Major
A única coisa que sustentava o governo Major no poder era a falta de qualquer desafio real da frente parlamentar Trabalhista. Os Conservadores estavam vacilando mas o apoio ao Trabalhismo nas pesquisas de fato caiu em 2% com a desilusão geral com as políticas implementadas. Nós comentamos: “O mais fraco governo na memória viva não pode resistir a uma oposição organizada.” (15)
Ao longo de 1993 e na maior parte de 1994 o fator crucial sustentando Major no poder era a fraqueza da frente parlamentar Trabalhista junto com uma direção sindical completamente impotente. As raízes disso eram ideológicas, primeiramente; os líderes Trabalhistas direitistas eram partidários das políticas pró-mercado e suas diferenças com os Conservadores eram apenas de representação, ou sombras de desacordo. E esta era a época da mais devastadora recessão da Grã-Bretanha em 60 anos. Foi uma das razões porque o Militant Labour de novo decidiu se candidatar numa pré-eleição em Lambeth pelo distrito de Oval em 22 de julho. A preocupação que isso provocou nas fileiras da direita Trabalhista foi mostrada pelo fato que a seção de fraudes da Scotland Yard prendeu a vereadora do Militant Labour Anne Hollifield por votar e apresentar um orçamento durante a maratona de reuniões sobre o orçamento de 12 horas da câmara no começo do ano. Isso porque ela não pagou o seu poll tax. Ela foi autuada por desrespeitar a seção 106 da Lei de Finanças Local, que proibia vereadores com atrasos do poll tax de votar matérias sobre impostos municipais. O crime real de Anne Hollifield foi que ela liderou o movimento anti-poll tax em Lambeth e desde que se tornou vereadora em 1990 prometeu não pagar seu poll tax em solidariedade com os mais pobres do município. A campanha eleitoral mais uma vez chegou a partes de Lambeth que nenhum outro partido era capaz ou preparado para ir. Um incidente resumiu o efeito da campanha: “Compre uma dose dupla de uísque para ela “, (16) gritavam 3 antigos eleitores Liberais de Lynne Kelly. Ela sozinha conseguiu convence-los a votar no Militant Labour no caminho para o centro de votação. O agente Conservador na noite da eleição declarou em voz alta: “Bem, pelo menos o Militant não ficará em 3º; que alivio.” (17) Mas como Steve Nally comentou:
Que alívio! Minutos depois o sangue sumiu de sua face quando percebeu que pela 2ª vez numa corrida pré-eleitoral em Lambeth nós batemos os Conservadores. (18)
246 votaram no Militant Labour e centenas mais foram inspirados pela campanha. 550 cópias do Militant foram vendidas e £250 levantados para o fundo de luta, novos membros foram ganhos e 40 indicaram ao assinar cartões que queriam se unir ao Militant Labour. O efeito da campanha foi sentido depois do resultado quando no sábado seguinte um velho trabalhador negro parou o tráfico em Brixton Road quando pulou do seu carro e apertou vigorosamente as mãos de Steve Nally. Quando Steve contou a ele o resultado ele disse: “Bem feito, jovem, diga ao seu povo que eles estão no caminho certo”. (19)
[Nota dos editores: Rob foi subseqüentemente eleito como vereador em Coventry, ao lado de Dave Nellist e Karen Mackay]
1 Militant 1134 14.5.93 2 Militant 1138 11.6.93 3 ibid 4 ibid 5 ibid 6 ibid 7 Green Left 21.7.93 8 New Statesman/Society 11.6.93 9 Militant 1138 11.6.93 10 Militant 1140 25.6.93 11 Sunday Times 20.6.93 |
12 Scotland On Sunday 20.6.93 13 Sunday Times 20.6.93 14 Militant International Review 54 Nov/Dec 1993 15 Militant 1137 4.6.93 16 Militant 1145 6.8.93 17 ibid 18 ibid 19 ibid |