A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Em marcha acelerada

A VISÃO DO MILITANT do futuro foi expressa no 1º número de 1990. A manchete principal: “Revolução no Leste Europeu”, e próximo ao logotipo do jornal: “1990 – O ano que surraremos o poll tax” (1). O ano anterior tinha testemunhado a tempestade se aproximando sobre esta questão. No inicio de 1989 as palavras do vereador de Glasgow e Vice-presidente da Federação Anti-Poll Tax de Strathclyde Chic Stevenson, se tornou o lema para a luta na Escócia no próximo ano.

Não tenho nada a fazer com o poll tax de Thatcher. Votei contra a câmara distrital de Glasgow fixasse sua parte da taxa de £92 por pessoa, junto com outros cinco vereadores… Uma campanha massiva de não-pagamento ainda está para ser organizada. Isso tem o apoio dos Partidos Trabalhistas locais e a massa do povo nos conjuntos habitacionais. Com este apoio, as câmaras Trabalhistas podem tornar o poll tax inoperante se chamarem o povo a recusar o pagamento. Não é serviço das câmaras Trabalhistas fazer o trabalho sujo dos Conservadores. Fui eleito para combater Thatcher, não para curvar o pescoço para o poll tax. (2)

Palavras de apoio com planos de ação procederam da manifestação de massa em março em Glasgow contra o poll tax. A manifestação teve que ser construída sem o envolvimento da burocracia trabalhista ou da direção sindical, face às suas tentativas abertas e rancorosas de estragá-la. Mas eles não contavam com a profundidade do sentimento por toda Grã-Bretanha nesta questão. Os trabalhadores de fora da Escócia estavam determinados a dar o máximo de assistência possivel aos trabalhadores escoceses nesta batalha crucial.

Trem Vermelho – O Poll Tax Express

Em Londres eles levantaram as finanças para o “Trem Vermelho” se dirigir para a “linha de frente”. Nós descrevemos a atmosfera:

“O Anti-Poll Tax Express”, disse o enorme quadro iluminado de informações da estação Euston… Todas as 600 cadeiras estão ocupadas – o trem está lotado. Muitos são colegiais, um bom número de jovens negros; três mulheres de uma estação em Deptford que decidiram ir apenas na noite anterior; sindicalistas, Young Socialists… cantando durante toda a jornada: nenhuma chance ou qualquer descanso!… Posso ouvir gaitas de foles. Que horas são? 4.20 am – chegamos! As gaitas passam pela janela flanqueadas por 2 camaradas com bandeiras vermelhas. É nosso chamado matinal!… Os camaradas escoceses nos saúdam – Teremos um comício bem aqui na estação. (3)

Houve uma mobilização fenomenal de Merseyside à medida que mil viajavam da área para essa manifestação.

Vinte mil tomaram as ruas de Glasgow contra a taxa inquisitorial de Thatcher. A determinação em derrotar o poll tax foi mostrada pelos trabalhadores de Welsh que desistiram de dois bilhetes para o jogo de rugby Wales v England: “O jogo é de apenas 80 minutos mas o poll tax pode durar o resto de minha vida.”(4) No que se refere ao tempo, foi um dia terrível em Glasgow, com a chuva caindo desde manhã cedo até bem depois do ato terminar Mas com as faixas tremulando o espírito era maior que um radioso dia de sol quente. Num comício na Alexandra Park, Tommy Sheridan, presidente da Federação Escocesa Anti-Poll Tax, disse a milhares:

Muitas pessoas disseram que não deveríamos receber esta manifestação… provamos a eles que estão milhares de vezes errados. Temos causado um tremor que irá virar um terremoto de não-pagamento… Mas não é suficiente ir aos atos. Precisamos que vocês voltem aos seus conjuntos habitacionais e sindicatos e serem ativos. Se cada sindicalista botar pressão sob seus líderes, então Maggie Thatcher não será capaz de coletar qualquer poll tax porque os sindicatos irão impedir sua implementação… Estamos construindo uma nova Red Clydeside na Escócia que não pagará o poll tax.

Ron Brown, MP Trabalhista por Edimburgo Leith, declarou:

Não temos tempo de esperar três anos pelo próximo governo Trabalhista, porque precisamos de uma campanha de massas contra o poll tax para termos certeza que teremos um governo Trabalhista.

Hannah Sell, que ainda era a representante da juventude no NEC Trabalhista, declarou:

Vou assegurar que o NEC escute isso. Eles querem um milhão de novos membros do partido. Precisamos assegurar que eles serão um milhão de trabalhadores preparados para lutar contra o poll tax. (5)

Terry Fields trouxe solidariedade em nome dos trabalhadores de Liverpool. Sua posição corajosa sobre o poll tax, incluindo sua preparação para ir para a prisão, iria atrair para ele o ódio rancoroso da direita do movimento trabalhista e uma profunda estima e afeição dos trabalhadores comuns.

Registrar ou não

No período preparatório para 1 de abril, a questão de se o povo deveria se registrar ou não foi uma questão calorosamente debatida tanto dentro das fileiras do Militant e do movimento anti-poll. O registro para o poll tax era esperado para ocorrer na Inglaterra e Gales em maio, mas seria uma grande questão na Escócia em todo o período precedente. Havia aqueles como Tommy Sheridan que consistentemente se recusaram a se registrar e houve muitos trabalhadores que se uniram a eles. Contudo, nós consideramos que

não-registrar não é um modo efetivo de combater o poll tax. Se as pessoas se registram ou não, elas ainda serão postas nos registros. E se alguém se recusar deliberadamente a se registrar estará sujeito à multa de £50 libras. Portanto não advogamos a política de não-registro. Mas não significa que vamos apenas esperar enquanto os registros tomam lugar. A questão das formas pode ser o sinal para aumentar a campanha contra o poll tax e assentar as bases para um movimento de massas de não-pagamento – a única política que pode efetivamente derrotá-la. (6)

Militant procurou imitar o que foi feito na Escócia. Advogamos que no resto da Grã-Bretanha uma campanha poderia ser adotada envolvendo devolver os formulários exigindo mais informação antes de assiná-los, lobbies, demonstrações e aglomerações de massa dos formulários e coletivamente os enviando de volta.

Havia um considerável sentimento contra os vereadores Trabalhistas que cumpriam com o poll tax e perseguiam energeticamente a questão do registro. Na Região Central da Escócia, controlada pelo Trabalhismo as contas bancárias dos que não se registraram foram bloqueadas e deduzidas £50 de multa. Reconhecemos que a resistència continuaria, mas que seguir na via do não-registro seria ineficiente e poderia se voltar contra o movimento. Ao mesmo tempo as uniões anti-poll tax estavam empenhadas em defender todos os que se não se registraram e combater as multas ou qualquer outra vitimização vinda dos conselhos.

Na questão das alternativas ao poll tax exigimos a restauração dos subsídios do governo aos conselhos locais roubados pelos Conservadores. Em 1989 estes tinham se acumulados para mais de £29 bilhões. Com sua restauração seria então possivel aumentar os serviços e até mesmo baixar aluguéis. A alternativa dos líderes Trabalhistas, que poucos entenderam, de um imposto de renda local, que poderia aumentar 20% da receita das câmaras, e um imposto de propriedade junto, era completamente inoperável e seria logo abandonada.

Ato de 24 de junho em Glasgow

A introdução da taxa na Escócia ampliou o círculo do protesto. As demonstrações escocesas de março e abril foram seguidas por uma confiante, viva e juvenil manifestação em 24 de junho em Glasgow. O MP de Hillhead George Galloway a chamou “um grande rio de demonstração”.

Milhares de pessoas se reuniram, um mar de faixas, bandeiras e cartazes vermelhos, ouro, vermelhas e brancas. Vizinhos das janelas acenavam alegremente para a marcha, faixas sendo vistas delas. Galloway declarou: “Isso é certamente parte de um exército de um milhão de pessoas que se recusam a pagar.” Ele foi seguido por Dick Douglas, um dos poucos MPs que ainda apoiavam o não pagamento massivo, que declarou: “Esse é um comício popular extraordinário. É uma desgraça que os líderes do movimento trabalhista não estejam aqui.” (7)

Sobre a marcha em julho

A segunda frente foi aberta em julho na manifestação de massas do TUC em Manchester e Walthamstow, a 1º manifestação em Londres contra o poll tax. Em Manchester 30 mil sindicalistas de cada região da Grã-bretanha mostraram sua hostilidade ao poll tax. Ela foi oficialmente chamada pelo TUC mas nenhuma preparação real foi empreendida. O máximo que qualquer sindicato nacional fez foi enviar um panfleto aos delegados sindicais. Havia um mar de faixas e manifestantes com os apoiadores do Militant encontrando uma enorme resposta na manifestação.

A única nota discordante neste dia foi um “delegado sindical” cuidadosamente selecionado da Escócia que abriu o comício com um ataque ao poll tax mas então jogou um balde de água fria quando declarou que o “não-pagamento não era a opção”. Houve um tumulto que não se abateu quando Norman Willis, secretário geral do TUC falou. Ele se restringiu aos apelos aos valores da família e condições decentes. David Blunkett, MP, e outros atacaram o não-pagamento ou evitaram qualquer menção de como combater a taxa. Quando o Coro Vermelho de Manchester chegou para fechar o comício eles anunciaram que eles foram proibidos de cantar uma de suas canções porque uma das linhas chamava pelo não-pagamento. A audiência exigiu que eles cantassem, mas o TUC efetivamente os censurou puxando os plugs dos PA.

Contudo, nesta hora a multidão diminuiu para quase 200 com um significativo setor da marcha indo para uma reunião especial do Militant, que lotou para escutar Tommy Sheridan e outros que chamavam para que a campanha na Escócia se espalhasse para o resto da Grã-Bretanha. A temperatura da oposição à taxa foi mostrada por uma magnífica mobilização na manifestação da União Anti-Poll Tax de Alum Rock (Birmingham), composta principalmente de trabalhadores asiáticos que cantavam, “não poll tax, não poll tax”. (8)

A manifestação de Walthamstow, embora com apenas 200, foi típica das centenas de tais eventos organizados e foi significativo ao atrair trabalhadores e jovens que “normalmente” nunca participaram de uma manifestação. Havia até mesmo um contingente dos fãs de futebol do Leyton Orient. Um homem chegou à sede anti-poll tax e perguntou: “Vocês estão preparados para quebrar a lei?” Antes que alguém respondesse, ele disse, “Meu avô irá para a prisão antes de colaborar com as leis Conservadoras.” Ele era o neto de um dos vereadores de Poplar cujo palavra de ordem: “Melhor quebrar a lei do que quebrar os pobres” estava escrita nos cartazes da marcha. (9)

No início da resistência na Inglaterra e Gales havia um certo ceticismo sobre se o não-pagamento seria vitorioso. Contudo, nesta batalha a luta na Escócia e seu crescente sucesso foi uma arma inestimável. Os ativistas anti-poll tax eram capazes de apontar os milhões ou mais que estavam se recusando a pagar a taxa. Nenhum murmúrio desta campanha apareceu na imprensa fora da Escócia. Mas por milhares de canais diferentes a informação se infiltrou, especialmente pelos panfletos e esclarecimentos feitos pelas uniões anti-poll tax. Isso jogou um papel crucial em construir e aumentar a confiança dos trabalhadores no resto da Grã-Bretanha para resistir à introdução da taxa.

Dave Nellist apóia o não-pagamento

Poucas vozes no Parlamento, como as de Dave Nellist e Terry Fields, procuraram alertar o governo do que estava para vir. Junto com vários outros MPs pouco antes dos Comuns se reunirem em julho Dave Nellist declarou,

Dei um claro alerta ao Secretário de Estado que milhões de pessoas na Inglaterra e Gales não seriam capazes de pagar o poll tax e que milhões seriam indispostos… Apenas dois anos atrás o Grupo de Reformas Conservador descreveu o poll tax como ´justo apenas no sentido que a Peste Negra era justa, atacando jovens e velhos ricos e pobres, empregados e desempregados.’… Esta descrição estava errada num aspecto básico. Pelo menos os ricos escapariam da praga – Eles não iriam pagar o poll tax.

Quanto à Escócia ele declarou que “no domingo se estimava, de 3.9 milhões de escoceses que deveriam pagar a taxa, 800 mil escoceses não estão pagando.” (10)

Mesmo nos meses de verão de julho, agosto e setembro a campanha contra o poll tax era implacável. A 3º Conferência da Federação Anti-Poll Tax de Strathclyde ocorreu em agosto com uma alta moral à medida que a resistência de massas à implementação da taxa era detalhada. Até mesmo nas distantes ilhas Orkney o número de não-pagadores era estimado em 43% e nas Shetlands em 48%. O ponto alto da conferência foi uma fala de Janette McGinn, viúva do lendário escritor de músicas escocês Matt McGinn, que recusou-se a se registrar e foi multada em £50. Em 4 de julho algumas de suas posses foram ponderadas (estimadas) como o primeiro passo para a sua venda. Após o contato com a Federação milhares de pessoas estavam preparados para descer à sua casa. Em face à hostilidade de massas a câmara adiou a ponderação. Janette McGinn declarou: “a Federação mostrou em ação o que as palavras ´unidade é força’ significam”. (11)

Nesta conferência o jornal da Federação de Strathclyde Pay No Poll Tax News foi lançado. Um conflito não menos intenso ocorreu no Leste da Escócia onde as primeiras uniões anti-poll tax foram criadas. A Câmara regional de Lothian se reuniu em 29 de agosto. Os negócios municipais normais foram interrompidos pela irrupção de fúria contra os vereadores Trabalhistas que estavam implementando o poll tax. Vereadores tiveram que se proteger de um bombardeio de livros de pagamento do poll tax atirados de cada parte disponível da galeria pública pelos manifestantes furiosos. A mensagem clara era “retorno ao remetente”. Mas o líder Trabalhista John Mulvey se recusou a fazer uma declaração clara de que a câmara não perseguiria os não-pagadores, que agora totalizavam 160 mil em Lothian.

O Fed

Capitalizando sobre o sucesso na Escócia foi decidindo, com os apoiadores do Militant na liderança, se preparar para a próxima batalha pelo lançamento da campanha em toda Grã-Bretanha. Foi então feito um chamado por uma conferência no Manchester Free Trade Hall em 25 de novembro. Em sua preparação Tommy Sheridan declarou: “Acreditamos que vamos criar tal crise política para o governo da sra. Thatcher que o poll tax será repelido.” (12)

15 MPs Trabalhistas apoiavam a nova campanha e representantes de 20 federações anti-poll tax se reuniram para criar o comitê de direção para a campanha da Grã-Bretanha. Tommy Sheridan foi eleito como presidente.

Uma das mais vitais tarefas da Federação era conter a campanha de desinformação do governo sobre quantos estavam se recusando a pagar.

A luta anti-poll tax sem dúvida redundou em beneficio eleitoral para o Trabalhismo. Sua posição nas pesquisas subia à medida que a luta contra o poll tax, a qual contribuiu pouco ou nada, sistematicamente minava o apoio ao governo. Os líderes Trabalhistas pagavam os que eram responsáveis por isso, os líderes anti-poll tax, com perseguição.

Trabalhismo expulsa Sheridan

Depois de uma luta prolongada Tommy Sheridan foi eventualmente expulso do Partido Trabalhista em setembro. 250 apoiadores se reuniram numa reunião para pressionar o Comitê Constitucional Nacional (NCC) que foi reunido pelo comitê executivo nacional do Partido Trabalhista para considerar esta expulsão. Foi mais como um show de TV. A única conexão com o socialismo no dia foi o cantar da Bandeira Vermelha e da Internacional pelos apoiadores do Militant, ativistas anti-poll tax e outros fora do inquérito. Tommy Sheridan declarou confiantemente à multidão, de uma janela do segundo andar, que não importasse o que acontecesse naquele dia uma massiva campanha de não pagamento continuaria por toda a extensão da Escócia.

Tommy Sheridan foi expulso por ser um membro do Militant ao mesmo tempo em que o NEC Trabalhista estava readmitindo membros do Partido Social Democrata.

Fed criado

Em 25 de novembro no Manchester Free Trade Hall, Tommy saudou 2 mil delegados, de cada região da Grã-Bretanha, como um “exército em marcha”.(13) Esta conferência criou a poderosa Federação Anti-Poll Tax de toda Grã-Bretanha. Esta entidade jogaria um papel decisivo na história do movimento da classe trabalhadora e, portanto na história britânica, como os eventos em 1990 estavam para demonstrar. Os diretores eleitos foram: Tommy Sheridan como presidente, Maureen Reynolds (de Manchester) como tesoureiro, e Steve Nally (de Lambeth) como secretário, (com Kevin Miles de Wallsend se tornando “diretor de comunicações” no ano seguinte).

Houve muita discussão entre nossas fileiras sobre as propostas a serem apresentadas na conferência sobre a estrutura da Federação e a composição do comitê nacional. A influência do Militant era tão decisiva nas uniões anti-poll tax que seria inteiramente possivel para nós ganhar uma “vitória total”, e ter todas as posições no comitê nacional. Decidimos contra isso, na tentativa de dar ao movimento uma base o mais ampla possivel, para facilitar a atração de todas as forças genuínas que estavam preparadas para lutar contra o imposto. Por isso em algumas áreas foi concordado que não nos oporíamos a estes não-Militants. Foi o caso em Yorkshire, Londres e no Sudoeste. Em questão de meses de sua formação este corpo seria catapultado para uma proeminência nacional à medida que a resistência à taxa de Thatcher crescia para as proporções de um furacão.

ID cards e Hillsborough

Mas esta não foi a única política de Thatcher que levantou uma feroz oposição nesta época. Ela propôs no inicio do ano um sistema de cartões identidade para os torcedores de futebol, com o suposto objetivo de acabar com o vandalismo no futebol. Simon Donovan, um jovem apoiador, sugeriu que organizássemos uma campanha nesta questão.

A campanha teve grande sucesso, envolvendo tanto fãs quanto jogadores. Mike Suter – nosso apoiador – foi um dos líderes da campanha, aparecendo no programa da BBC Breakfast Time para discutir o caso. Jogadores profissionais proeminentes de futebol, como Paul Davis do Arsenal, apoiaram publicamente a campanha. Ela culminou num comício de 300 fãs no Westminster’s Central Hall em maio, presidido por Dave Webb e saudado por Terry Fields. A tragédia de Hillsborough tinha ocorrido apenas poucas semanas antes. Isso deu um peso adicional à campanha porque, como Terry Fields comentou:

Eu tinha dois filhos e um sobrinho em Hillsborough. Tremo ao pensar o que poderia acontecer se meus filhos tivessem que produzir os ID cards. Precisamos de um inquérito dos trabalhadores em Hillsborough. As pessoas estão dizendo: “Não conseguiremos nada deste inquérito policial. O que aconteceu desde o Herald of Free Enterprise ou o fogo em Kings Cross?”

Criticando as condições nos campo de futebol, ele comentou: “Saneamento não existe, refrigeração é insuficiente – então você olha em volta e vê diretores em seus camarotes bebericando champagne.” (14)

50 mil assinaturas em petições foram entregues por Terry Fields e outros de Liverpool para a Downing Street protestando contra a infame reportagem do The Sun sobre o desastre de Hillsborough. A reportagem fedorenta do The Sun levou a um boicote em Liverpool, e ainda hoje suas vendas ainda não se recuperaram. A cidade de Liverpool foi traumatizada pelo terrível desastre de Hillsborough. Comentando sobre os números que periciados, o Militant disse:

Eles morreram devido a um sistema que põe a avidez antes da segurança. A classe trabalhadora de Liverpool e Grã-Bretanha exige: “Nunca mais”. Não houve nenhuma cobertura.Os responsáveis devem ser indiciados.Ministros Conservadores tentam desviar as críticas hipocritamente se unindo ao luto. Inaceitavelmente, um político anônimo tentou culpar os fãs… O futebol é um negócio lucrativo. Milhões são extraídos pelos grandes clubes e companhias de loteria esportiva. Agora este dinheiro precisa ser devolvido para dar aos campos condições seguras. Os clubes de futebol precisam ser tomados pelas autoridades locais e dirigidos para o benefício da comunidade local. Os torcedores, os jogadores e o movimento dos trabalhadores precisam se encarregar disso para poder assegurar segurança e conforto e o uso pleno das instalações esportivas. (15)

Um dos nossos panfletos mais vendidos – Reclame o jogo –, escrito por John Reid, foi produzido nesta época. Está indo para a terceira edição e ganhou apoio de fãs do país e de fora.

MI5

Ao mesmo tempo o programa de TV First Tuesday confirmou o que todos suspeitavam, que o Serviço Secreto, na forma do MI5, espiava sistematicamente o Militant. Este programa revelou que um espião free-lance foi usado para grampear nossos escritórios de Liverpool. Alguns dos métodos sujos das ditaduras militares foram usadas por Thatcher e seu governo contra os que se atreviam a se opor a eles, especialmente durante a batalha de Liverpool.

O grampo, que foi banido oficialmente em muitos países, ainda ocorria na “democrática Grã-Bretanha”. Foi reportado que um certo Coghlan foi contratado pelo MI5 para fazer este trabalho. Ele disse que o MI5 tentou, mas falhou em infiltrar agentes em nossas reuniões, então se voltaram para ele. Numa noite ele instalou um ponto eletrônico na parede e na moldura das janelas no escritório de Liverpool do Militant, que transmitia discussões do escritório para um agente do MI5 posto a 300 jardas de distância. De acordo com Coghlan, o MI5 estava “preocupado com o crescimento e influência do Militant sobre a câmara da cidade.” (16)

Mostrando sua bile contra o Militant, o Liverpool Echo, num ultrajante editorial, apoiou o grampo do MI5 ao Militant:

Se o objetivo de uma organização é a derrubada da democracia em que ele opera, então aquela democracia tem o direito de mantê-la sob vigilância. O MP Militant Terry Fields está para perguntar ao governo se o grampo ainda continuará. O Echo pode adicionar outra questão: senão, porque não? (17)

Respondemos ao Echo:

O Militant defende o direito democrático de reunião, fala e voto – liberdades ameaçadas por Thatcher. Não tem nada a esconder. Se o governo quer saber o que dizemos, deve comprar o Militant ou escutar nossas políticas socialistas em reuniões abertas e democráticas. (18)

Foi visível que não nos foi dado a oportunidade, no programa ou imprensa que apresentou estas revelações, rebater as alegações feitas contra nós. Houve revelações posteriores a respeito de espionagem ao Militant. Brian Crozier, ativista de direita e antigo redator de discursos para Thatcher, produziu um livro, em 1994, chamado Free Agent. Nele ele admite a “infiltração” de um espião em nossas fileiras em 1979. Ele concluiu que éramos muito eficazes!

Greve das ambulâncias

Em outubro os motoristas de ambulâncias saíram em greve. Os Conservadores mais uma vez conduziram uma desesperada campanha de mentiras numa tentativa de desacreditar estes trabalhadores. Eles até tentaram a armação com mentiras sobre “chamadas não respondidas”. Mas isso falhou uma vez mais à medida que os trabalhadores permaneciam unidos e ganharam um massivo apoio público. A resposta usual à coleta dos trabalhadores de ambulância nas ruas era “vocês estão lutando por todos nós”. 90% do público apoiava a sua demanda de pagamento, com coletas massivas nas ruas; muito mais de £100,000 foram coletados apenas em Liverpool. Mas tal era a frustração dos trabalhadores de ambulância que alguns, como em Glasgow, decidiram sair em greve até mesmo sem “cobertura de emergência”.

Também cresceu por um sentimento de ação grevista total em outras áreas. Sob pressão o conselho geral do TUC decidiu chamar uma demonstração nacional em apoio aos trabalhadores no sábado 13 de janeiro. Sua percepção de uma manifestação era meramente de “cortina de fumaça”. Notamos como a disputa de 1988 foi “deixada sem direção e diminuída; a história não pode se repetir”. (19)

O que irava os trabalhadores de ambulância e outros era que enquanto MPs Conservadores se premiavam a si mesmos um aumento de 10% do salário eles permaneciam firmes contra os trabalhadores de ambulância que exigiam um aumento de 6.5%. Além disso, o governo estava usando tropas numa provocação deliberada contra os sindicatos.

A disputa se arrastou por seis meses, uma das mais longas desde 1945. Mas a vitória estava ali para ser tomada, se uma ação efetiva tivesse sido organizada.

O sindicato dos trabalhadores de ambulâncias convocou apenas uma conferência nacional de delegados, e nas últimas semanas da luta. Esta conferência teve um impacto imediato, resultando no exército sendo convocado para cobrir as equipes que participaram dela. A questão crítica, como nas maiores disputas anteriores disputas desde que Thatcher chegou ao poder, era a questão de uma ação de solidariedade séria. O TUC nunca pediu para que se organizasse a ação de solidariedade, outro mais do que os 15 minutos de protesto de 30 de Janeiro de 1990, mas que mostrou o potencial. 20 mil trabalhadores marcharam pelo centro de Liverpool naquele dia. 30 mil tomaram as ruas de Glasgow; milhões de trabalhadores estavam com os motoristas de ambulância naquele dia. Em conseqüência Tommy McLaughlin delegado sindical das ambulâncias de Merseyside declarou: “Vamos ter um paro nacional por um dial, não apenas os 15 minutos oficiais.” (20) Infelizmente os líderes sindicais uma vez mais recuaram com medo.

O acordo feito em março de 1990 deu 17.6% por dois anos mas em termos de dinheiro teve apenas o valor de 13% porque foi introduzido por etapas. Roger Poole, o chefe sindical negociador, afirmou que o sindicato deu um golpe na política de pagamentos do governo. Contudo, a maioria dos motoristas de ambulância não acreditava que foi um bom acordo. Eles estavam bem conscientes das dificuldades do governo, com o poll tax e outras questões prementes, e acreditavam que uma ação efetiva poderia arrasá-lo. 81% votaram pelo acordo mas apenas porque eles não viam nenhuma alternativa depois de seis meses de luta. Apesar de tudo esta luta serviu para provar e endurecer um setor da classe trabalhadora que nunca esteve envolvida em ações deste tipo no passado.

1 Militant 974 5.1.90
2 Militant 928 20.1.89
3 Militant 937 24.3.89
4 ibid
5 ibid
6 Militant 934 3.3.89
7 Militant 951 30.6.89
8 Militant 952 7.7.89
9 Militant 953 14.7.89
10 Militant 956 11.8.89
11 Militant 958 1.9.89
12 Militant 959 8.9.89
13 Militant 971 1.12.89
14 Militant 946 26.5.89
15 Militant 941 21.4.89
16 Militant 939 7.4.89
17 Liverpool Echo, citado no Militant 939
18 Militant 939 7.4.89
19 Militant 973 15.12.89
20 Militant 978 2.2.90