A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

O desafio de Thatcher ao movimento trabalhista

A resistência dos siderúrgicos aumentou a resolução de outros trabalhadores em barrar o caminho do rolo-compressor de Thatcher. O sentimento da classe trabalhadora foi demonstrado na poderosa manifestação do TUC, com 140 mil pessoas em Londres no começo de março. Ela foi chamada para protestar contra a lei anti-sindicato do governo e sua política econômica. Foi a maior demonstração sindical desde o protesto contra o ato anti-sindicato de Heath em fevereiro de 1971. Visível foi a participação dos apoiadores do Militant e especialmente os Labour Party Young Socialists que foram “aplaudidos quando entraram na Trafalgar Square cantando a Internacional’.” (1)

Havia um sentimento geral, percorrendo o movimento trabalhista e a classe trabalhadora, que os trabalhadores britânicos enfrentariam uma catástrofe econômica a menos que os líderes do movimento agissem. The Times estava falando sobre o “irreversível declínio” do capitalismo britânico. Isso poderia solapar drasticamente todos os ganhos passados dos trabalhadores.

Começou a crescer um apelo para o TUC chamar um dia de greve geral – em 14 de maio, foi sugerido. O TUC chamou um “dia de ação” mas se recusou a ir até o fim e chamou por uma paralisação completa. Não obstante a atitude dos líderes, o 14 de maio ainda foi uma demonstração massiva da classe trabalhadora ao governo Conservador. As indústrias chave, as minas, ferrovias, portos e estaleiros foram paralisados pela ação grevista. Dezenas de milhares de trabalhadores pararam o serviço para tomar parte do dia da ação. Os apoiadores do Militant falaram nas plataformas por todo o país recebendo uma resposta entusiástica. A principal razão para o sucesso parcial do dia de ação não estava com os líderes da cúpula do TUC, mas dos delegados e conselhos sindicais que tomaram iniciativas locais. Não havia um chamado claro por uma campanha para forçar uma eleição geral e derrubar os Conservadores. Contudo, a crescente combatividade da classe trabalhadora, mostrada na greve dos siderúrgicos, na magnífica demonstração em março, e também no dia de ação em 14 de maio relançou mais uma vez a questão da greve geral.

Militant devotou espaço para discutir esta questão de um ponto de vista tanto teórico quanto prático.Os marxistas não podem brincar com o slogan de greve geral.Em tempos de elevadas tensões de classe algumas organizações se apressam em adotar o slogan de greve geral ilimitada. De outro lado, líderes sindicais direitistas temem a idéia de greve geral como o diabo teme água benta. Em abril, Len Murray, secretário geral do TUC, se opôs à idéia de greve geral numa entrevista na TV argumentando que se os sindicatos ganhassem eles não saberiam o que fazer com o poder que teriam! Ele também denunciou como “analfabetismo político” o sentimento generalizado dos trabalhadores para fazer do paro de 14 de maio um meio de mobilizar as massas trabalhadoras para uma eleição geral para derrubar o governo.

Militant publicou uma análise minuciosa da situação na Grã-Bretanha comparando-a com a época da última greve geral em 1926. Esta foi uma séria derrota para a classe trabalhadora que demorou décadas para se recuperar. Uma greve geral sob modernas condições, particularmente no começo dos anos 80s, não necessariamente viria a ser como em 1926.

O resultado em 1980 “poderia ser similar à França em 1968”. A greve geral de 1968 apenas terminou pela oferta de grandes concessões à classe trabalhadora na forma de aumentos salariais e redução da semana de trabalho:

Logo também na Grã-Bretanha um desenvolvimento similar irá significar sem dúvida uma vitória parcial para a classe trabalhadora. Mas a derrota da greve geral pode resultar também em desilusão para os trabalhadores avançados, especialmente se o poder for posto ante a classe trabalhadora. Por todas estas razões o Militant se opõem ao slogan de uma greve geral ilimitada para este estágio na Grã-Bretanha. A tarefa é ganhar a vasta maioria dos sindicatos e movimento trabalhista para o programa e perspectiva de forçar demissão deste governo conservador, e a subida ao poder de um governo trabalhista com um programa socialista. Isso pode ser melhor conseguido pelo slogan de uma greve geral de 24 horas, como alerta aos conservadores. (2)

Militant então seguiu para mostrar que depois de uma greve geral, mesmo limitada de 24 horas, a Grã-Bretanha “jamais seria a mesma novamente. Uma greve geral de 24 horas pode preparar o terreno para todo o tipo de greve geral num estágio posterior.” (3)

Enquanto a história desta época tende a se concentrar nas batalhas entre direita e esquerda dentro do movimento trabalhista, ela quase omite que este também foi um período de grandes demonstrações e grandes convulsões sociais.

Por exemplo, o NEC do Partido Trabalhista controlado pela esquerda chamou uma série de magníficas demonstrações sobre a questão do desemprego. Em torno de 150 mil pessoas atenderam a histórica demonstração em Liverpool em novembro de 1980. A ela se seguiram demonstrações de massas em Glasgow, Cardiff, Birmingham e Londres. Pela primeira vez em gerações o Partido Trabalhista estava tomando a iniciativa em mobilizar o povo trabalhador para a ação.

A correlação de forças era tal que o governo Thatcher foi obrigado a voltar atrás em seus planos de confrontar de frente o movimento trabalhista. Isso foi mostrado na indústria mineira no começo de 81. A ameaça de iniciar o fechamento das minas se encontrou com a ameaça de imediata ação grevista em Gales do Sul. Isso resultou em pânico dentro do governo. Thatcher, pela primeira vez desde que chegou ao poder, foi forçada a uma

retirada humilhante… não houve nem mesmo a leve insinuação de que o governo pudesse usar o Ato do Emprego contra os mineiros ou contra a ação solidária, e está realmente claro que o episódio estimulou a moral e a confiança de outros grupos de trabalhadores tais como os servidores civis e da água que agora estão preparando-se para desafiar os Conservadores sobre a questão salarial. (4)

Contudo Militant alertou: “Os mineiros mostraram o que pode ser feito por uma corajosa e determinada ação, mas se os Conservadores estão permitidos a fazer isto, eles irão voltar mais tarde com mais ataques aos direitos dos trabalhadores e às condições de vida.” (5)

Como no passado (por exemplo, em 1925) quando os capitalistas enfrentam a resistência do movimento trabalhista, eles podem esperar sua hora, construir suas forças, e preparar para atacar mais tarde. Invariavelmente a cúpula dos sindicatos aceitou complacentemente a situação sem uma preparação séria para as futuras batalhas. Os mineiros iriam pagar um preço muito alto depois que Thatcher e seu ajudante Nicholas Ridley construíssem estoques de carvão, fortalecessem a polícia e preparassem novas leis na tentativa de tentar e esmagar os mineiros.

A 500ª edição do Militant

Este movimento coincidiu com a edição 500 do Militant. A confiança dos apoiadores do jornal foi indicada pela declaração celebrando este evento:

O jornal é mais do que papel, tinta e fotos. É a expressão do que agora é uma vibrante corrente marxista dentro da classe trabalhadora. (6)

Os inimigos do Militant certamente reconheceram seu significado. Em janeiro de 1980 o maior jornal do capitalismo britânico, The Times, sob a manchete, “Tempo para um expurgo”, chamou para uma ação a ser tomada contra o Militant. (7)

Eles diretamente ligaram a virada rumo à esquerda com a crescente influência do Militant e seus apoiadores dentro do movimento trabalhista: “O crescimento da tendência Militant está portanto, ligado às disputas constitucionais dentro do partido.” (8)

O companheiro de mentiras do The Times, The Sun, publicou uma de muitas diatribes contra o Militant sob a manchete “O perigo que se esconde na esquerda”. A virada nesta época era “como eles [o Militant] atacam as crianças”. (9)

Como sempre foi o “Dr. Morte”, David Owen, que deixou o gato fora da bolsa. Ele revelou as verdadeiras intenções por trás do ataque ao Militant. Numa reunião em Newcastle, organizada pela chamada Campanha pela Vitória Trabalhista, Owen distinguiu o Militant como o “verdadeiro inimigo” mas disse à reunião que “o grupo que estamos atrás é o [esquerdista] NEC”. (10)

A fala de Owen significou que a direita, crescentemente isolada dentro do movimento trabalhista, estava atacando histericamente a esquerda como um passo rumo à divisão do Partido Trabalhista. Em fevereiro de 1980 a Aliança Social Democrata anunciou que eles iriam lançar seus próprios candidatos ‘Social Democratas’ contra os candidatos da esquerda trabalhista na próxima eleição geral.

Se tal declaração tivesse sido feita pelo Militant isso levaria à sua imediata expulsão do partido. Nenhuma ação foi tomada contra a direita. Ao invés disso, líderes da ‘esquerda’ como Michael Foot tentaram persuadir e rogar a eles para não dividir o Partido Trabalhista.

Mas as ameaças da direita eram em vão. Na conferência do partido em outubro

um histórico passo à frente foi tomado… quando o estatuto foi emendado para fornecer a reeleição automática dos mandatos dos MPs, e quando a conferência votou o principio de um amplo direito de voto para a eleição do líder do partido.(11)

Contudo, a reta final para o congresso foi pontuada pela maré crescente dos ataques ao Militant abastecidos com o Relatório Underhill Report. Consistindo de 522 páginas e pesando 5lbs, e um custo de £35, este relatório foi calculado para aleijar o Militant. Mas o Comitê Executivo Nacional apenas tomou nota dele, se recusando a cumprir as instruções da imprensa capitalista e da liderança Conservadora para um expurgo do Militant.

As explosões

Em abril de 1980 houve explosões e distúrbios da juventude em Bristol. Estes foram seguidos por eventos similares em abril de 1981 em Brixton e, em julho, em Toxteth, Liverpool. Nos três movimentos o Militant estava presente, jogando um papel positivo para ganhar a juventude para as idéias socialistas. As explosões foram resultado do patrulhamento policial barra-pesada e a perseguição aos jovens, combinadas com o desemprego em massa e a piora das condições sociais dos pobres nas áreas super-povoadas. Militant citou uma declaração do LPYS: “Desde sua formação o Grupo Especial de Patrulha tem sido sistematicamente empregado contra os negros e sindicalistas engajados na ação.” (12)

Militant exigiu o fim da perseguição policial, a dissolução do Grupo Especial de Patrulha e empregos e salários decentes para todos. Mas mesmo a explosão de St Paul não foi nada perto da convulsão que teve lugar em Brixton. Militant reportou:

Ela foi provocada por uma massiva presença policial na sexta à noite e, especificamente, a luta começou devido a uma prisão particularmente brutal por volta das 17hs no sábado. A juventude da área atirou de volta na polícia. (13)

A faísca que levou a essa explosão foi “os sentimentos de frustração e raiva… na comunidade negra com o incêndio em Deptford, na qual 13 pessoas negras morreram.” (14)

Ao contrario dos argumentos da imprensa na época, e que se tornou mito desde então, não foi um ‘distúrbio racial’. A raiva e violência foram dirigida inteiramente contra a policia.

A luta envolveu majoritariamente negros, mas porque eles eram a maioria que vivia na decadente área central de Brixton. Mas tanto jovens negros e brancos estavam envolvidos. Pessoas brancas que andavam pela área de combate, e havia muitas delas, não eram atacadas, ou ameaçadas, ou intimidadas. (15)

Os apoiadores do Militant interviram para tentar dar ao movimento uma direção positiva. Sob sua iniciativa o Comitê Trabalhista para a Defesa de Brixton foi formado, que organizou reuniões massivas e elaborou um programa de luta, dos quais as demandas centrais eram:

Uma urgente investigação do movimento trabalhista, aumentar a luta por soluções socialistas para crise social e econômica que foi a base da explosão [e por uma] investigação sobre a polícia.(16)

Este comitê recebeu apoio generalizado tanto da comunidade quanto do movimento sindical e trabalhista. Apoiadores do Militant como Clare Doyle jogaram um papel central na organização do Comitê de Defesa. Por causa de sua intervenção e uma visita a Liverpool na época dos distúrbios de Toxteth ela foi apelidada de “Red Clare” pela mídia.

Estes eventos foram os mais sérios distúrbios na Grã-Bretanha neste século. Brixton e Toxteth foram apenas a expressão mais visível de uma rebelião generalizada que estava tendo lugar entre a juventude, em 1980-81. Nós pontuamos que:

Os motins estalaram perto de todas as principais cidades porque as mesmas condições desanimadoras, as mesmas frustrações, o mesmo ódio dos Conservadores e a mesma raiva da polícia existem em todo lugar. (17)

O governo Conservador estava aturdido com estes eventos, com a própria Thatcher visitando Liverpool e, de acordo com The Times visivelmente “cansada e tensa, de ressaca” Militant reportou os comentários de um trabalhador de Liverpool: “Se nós pudéssemos segurá-la aqui, ela seria enforcada, afogada e esquartejada em quatro pedaços!” O Militant rendeu a hostilidade da imprensa capitalista e da direita do movimento trabalhista porque intervia em cada movimento da classe trabalhadora, incluindo estes eventos, procurando dar uma liderança positiva. Como os motins de Toxteth se desdobraram os LPYS também interviram:

Nosso segundo folheto no domingo colocou a futilidade do amotinamento, e apontou para uma resposta política a estes problemas. A resposta foi tremenda. Ao longo da Upper Parliament Street e Kingsley Road, em meio a toda a batalha, houve um entendimento das razões dos motins que mostrava a real necessidade de lutar contra o capitalismo. O fato de que esse ódio ao capitalismo foi sendo canalizado para um motim é uma condenação ao movimento trabalhista e sindical, que falhou em dar uma alternativa verdadeira a esta juventude, uma condenação dos sucessivos governos trabalhistas que abjetamente falharam em resolver os problemas sociais. (18)

Não hesitamos em mostrar os aspectos negativos comentando que o humor de simpatia na explosão

mudou completamente a medida que a noite passava. Assim que deixamos a área principal, nós caminhamos até Lodge Lane. Nenhum policial estava à vista, mas gangues de jovens que estavam quebrando lojas, pondo fogo em edifícios e intimidando a população local. Qualquer simpatia que havia rapidamente desapareceu, com gente usando os distúrbios para forrar seus próprios bolsos. (19)

Nós concluímos:

Os Young Socialists e o Partido Trabalhista podem realmente crescer com os presentes eventos. Mas apenas se claramente declararmos nossa oposição aos saques e à violência, e permanecermos firmes em nosso programa socialista. (20)

Em conseqüência dos distúrbios, o Relatório Scarman, comissionado pelo governo, revelou em uma linguagem plana que um setor da polícia por anos havia perseguido sistematicamente a juventude, especialmente os negros. O governo também conjurou um ‘Ministro para Liverpool’, Michael Heseltine, que prometeu erradicar as condições sociais que levaram aos mais sérios distúrbios da Grã-Bretanha neste século. Militant pontuou que: “A visita de Heseltine a Liverpool é uma farsa! Foi designado como um relações públicas para encobrir o fato de que os Conservadores não têm respostas.” (21)

Este milionário Conservador gastou apenas £10 mil em comida e bebida na festa de aniversário de sua filha. O resultado da intervenção de Heseltine e dos Conservadores foi um massivo exercício de plantação de árvores em Toxteth. Os comediantes de Liverpool comentaram que isso foi bom para os cachorros, mas o desemprego não ficou menor com a saída de Heseltine. Contudo, um resultado dos distúrbios foi a demanda por um maior controle da polícia, especialmente do infame chefe de polícia de Liverpool, Kenneth Oxford.

Mais apoio ao Militant

A crescente intervenção do Militant e dos Labour Party Young Socialists tanto em 1980 quanto 1981 levou a um aumento substancial aumento do número de apoiadores do Militant Ele saltou de 2.360 em julho para 2,500 pelo fim do ano. Os LPYS também cresceram. Isso foi claramente revelado nas conferências que tiveram lugar em Llandudno em 1980 e em Bridlington em 1981. Os LPYS, sob a influência dos apoiadores do Militant, não restringiram suas atividades às salas de comitê do movimento, mas foram ativos em todos os movimentos que afetavam a juventude; nas ruas, nas fábricas, escritórios e locais de trabalho. Eles também lideraram uma importante série de demonstrações do movimento trabalhista em 1980-81 procuraram intervir em todas as questões que afetavam a juventude da classe trabalhadora.

Sob o fato do óbvio apoio generalizado ao Militant até mesmo a imprensa capitalista, pelo menos a mais séria, foi forçada a concluir que o Militant tinha construído seu apoio em base a argumentos, idéias e adesão às tradições democráticas ao movimento trabalhista. No Financial Times, Margaret van Hattem comentou:

Onde ele [Militant] é forte, esta força deriva parcialmente de um alto grau de atividade e organização, mas também do fato que os mais ativos membros do partido não fazem objeção.

Ela desmascarou os ataques da direita contra o Militant:

Mais importante, eles parecem não fazer nada desonesto ou inconstitucional – não há nada que impeça a ala direita de usar as mesmas táticas, mas eles não estão fazendo isso. (22)

Van Hattem recordou os comentários de um velho trabalhador não-Militant em Liverpool: “Eles são uma lufada de ar fresco.” Além disso, os membros do Partido Trabalhista estavam de fato seguindo uma virada rumo à esquerda e se as políticas do Militant tivessem sido adotadas, o fluxo de membros ao partido se tornaria uma enxurrada. Uma indicação disso foi a resposta à transmissão da eleição dos Labour Party Young Socialists, resultando em mais de 2 mil filiações em 1980.

Uma divisão trabalhista?

Sob as perspectivas de uma divisão dentro do Partido Trabalhista, o Militant comentou:

Onde isto foi tentado pelos social-democratas de direita em outros países como Japão, Holanda e Austrália, ele veio com um pesar. Com a inevitável polarização de classe tendo lugar, estes rachas direitistas, depois de algum sucesso inicial ajudados pela imprensa, gradualmente perderam apoio. (23)

Uma das preocupações dos capitalistas, que explicava a ferocidade dirigida contra Militant e a esquerda em geral, era o que poderia acontecer se um novo governo trabalhista chegasse ao poder. Tal governo se veria sob terríveis pressões da classe trabalhadora por medidas radicais a serem tomadas para resolver a crise econômica. Nós pontuamos que

Portanto, eles (os capitalistas) estão sugerindo que a ala direita adote a divisão do trabalhismo. Atrás das cenas eles podem estar advogando que alguém da direita fique no Partido Trabalhista como um obstáculo às medidas socialistas em um novo governo trabalhista. (24)

Se o Trabalhismo chegasse ao poder provavelmente haveria uma divisão, com a direita refletindo a pressão dos capitalistas dentro do gabinete. Os desastrosos eventos do governo trabalhista de 1929-31 poderiam se repetir. Em 1931 a direita empregou a divisão do trabalhismo. Herbert Morrison inicialmente queria apoiar o Governo Nacional.

Ele foi dissuadido de fazer isso por ninguém menos do que Ramsey MacDonald, que teve com ele uma conversa em Westminster Bridge para ficar dentro do Partido Trabalhista “onde ele era necessário”. Enquanto Jenkins, Owens, Williams e Rodgers – o ‘Bando dos Quatro’ – se preparavam para dividir o Trabalhismo, outros da direita permaneciam dentro dele com a missão de salvá-lo da ‘esquerda’.

A decisão da direita de dividir o Partido Trabalhista, claramente evidente em 1980, produziu pânico nas fileiras da esquerda ‘oficial’. O Tribune, por exemplo, lançou um ataque feroz ao Militant em março de 1980.

Este emanou de Richard Clements, que estava junto com Michael Foot, que foi eleito como líder partidário em novembro de 1981. Apesar do pedido do Militant, o Tribune recusou a dar um direito de resposta. Cartas de apoiadores do Militant ou eram editadas sem qualquer identificação ou eram completamente suprimidas.

O tom do ataque do Tribune era ilustrado pela declaração seguinte:

Se houvesse um Ato de Descrições Comerciais político, a tendência Militant seria processada pelas falsas pretensões que de se dizer ‘marxista’. Suas políticas são uma mistura confusa de slogans de Lenin combinados com citações pouco selecionadas de alguns dos menos inspiradores pensamentos de Trotsky. (25)

Clements chegou mesmo a afirmar que o Militant era “uma organização stalinista que faria o Partido Comunista Britânico parecer o Partido Liberal.” Stalinismo não é um simples termo de abuso político, é um termo exato para descrever o caráter e os métodos da burocracia totalitária que dominava a economia planificada da União Soviética.

Militant pontuou que a acusação de ‘stalinismo’ vindo do Tribune era um pouco fértil em vista do fato de que em sua edição de 40° aniversário Tribune republicou um obituário de Stalin escrito por Michael Foot publicado primeiramente na época de sua morte em 1953:

É claro, as realizações da era de Stalin foram monumentais em escala… quem, face a esses colossais eventos, se atreverá a questionar a grandeza de Stalin, quão super-humana deve ser a mente que presidiu sobre todos estes esmagadores eventos mundiais? (26)

Militant, seguindo a tradição de Trotsky, sempre mostrou que o stalinismo era uma perversão das genuínas idéias socialistas que lideraram a Revolução de Outubro. Nunca por um momento Militant ou seus predecessores deram crédito ao papel ditatorial de Stalin ou seus sucessores. (27)

A virada do Tribune para uma posição abertamente hostil ao Militant foi uma amostra de como isso poderia se desenvolver no futuro. De um jornal da esquerda se tornou no porta-voz dos antigos MPs da esquerda como Kinnock e o próprio Foot. Eles estavam evoluindo para a direita em oposição a Tony Benn e às fileiras do partido. Contudo, na época, estes ataques não impediram a virada rumo à esquerda dentro do partido e, com ela, a maré de apoio ao Militant.

O conflito entre esquerda e direita chegou ao auge na conferência especial do Partido Trabalhista em janeiro de 1981, em Wembley. Ela firmemente adotou o colégio eleitoral para a liderança do partido e endossou as decisões da revogação de mandatos e outros ganhos democráticos firmados na conferência de outubro de 1980. Wembley foi a última gota para o Bando dos Quatro. Com o apoio aberto dos grandes negócios, no dia seguinte ao da conferência eles anunciaram que formariam um Partido Social Democrata (SDP) separado.

Os divisionistas de direita estavam de fato jogando com a desilusão dos trabalhadores com suas próprias políticas passadas. Havia uma desilusão com os Conservadores, mas muitos trabalhadores e particularmente os eleitores da classe média ainda lembravam as retiradas do governo trabalhista de 1974-79. Esse governo foi dominado pela direita. Enquanto esforços extenuantes eram feitos para manter estes renegados dentro do partido, os brutais ataques contra o Militant eram feitos. Mas as fileiras do movimento permaneciam firmes. Por exemplo nós reportamos em março de 1981:

Num comício trabalhista de 2 mil pessoas em Brighton no último sábado, os ativistas e apoiadores do movimento deram sua inequívoca resposta aos inimigos do trabalhismo que furiosamente tem atacado a ‘virada à esquerda’ do partido. (28)

Nesta reunião Michael Foot dividiu o palanque com o apoiador do Militant Rod Fitch, novo candidato parlamentar trabalhista por Brighton, Kemptown. A aceitação de Foot dos apoiadores do Militant, no melhor dos casos indiferente, não ocorreria por muito tempo. Sob a pressão vinda da direita ele se destacaria em procurar expulsar o que ele chamava de uma “amolação pestilenta”.

1 Militant 494 14.3.80

2 Militant 496 28.3.80

3 ibid

4 Militant 541 27.2.81

5 ibid

6 Militant 500 25.4.80

7 The Times 15.1.80

8 ibid

9 The Sun 7.3.80

10 Militant 487 25.1.80

11 Militant 523 10.10.80

12 Resolução de LPYS sobre os motins de St Paul, reproduzida em Militant 498 11.4.80

13 Militant 548 17.4.81

14 ibid

15 ibid

16 ibid

17 Militant 561 17.7.81

18 ibid

19 ibid

20 ibid

21 Militant 563 31.7.81

22 Financial Times 3.11.80

23 Militant 532 12.12.80

24 ibid

25 Tribune 28.3.80

26 Militant 497 4.4.80

27 ibid

28 Militant 543 13.3.81