A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Eleição geral: Thatcher no poder
A principal questão na Grã-Bretanha em 1979 era a próxima eleição geral. O manifesto que foi formulado pelo Comitê Executivo Nacional do Partido Trabalhista era um retrocesso desastroso. As políticas socialistas repetidamente exigidas pelas conferências do partido foram completamente excluídas do programa: “As poucas reformas radicais incluídas no rascunho do manifesto também foram retiradas.” (1)
Não havia nenhuma demanda pela implementação imediata da semana de 35 horas, ou um comentário sobre a abolição da Câmara dos Lordes, exigida pelas conferências partidárias repetidamente, nem qualquer promessa de implementar a taxa sobre a riqueza. Era mais o programa do governo trabalhista direitista do que do Comitê Executivo Nacional de esquerda.
Militant alertou o que um governo Conservador significaria para os trabalhadores da Grã-Bretanha. Uma vez de volta ao poder eles poderiam
imediatamente cortar pelo menos outros £700 milhões dos gastos públicos… Reduções dos impostos das empresas e de renda para os ricos… Cortes nos subsídios estatais para a indústria, especialmente no setor estatal, junto com outras políticas ‘monetárias’ – que podem resultar em mais firmas capitalistas decrépitas indo para o buraco – que significariam um aumento dramático no desemprego. (2)
O jornal chamou urgentemente para que “todos os recursos do movimento trabalhista” fossem mobilizados para barrar os conservadores e assegurar o retorno de um governo trabalhista. E ainda, às vésperas da eleição, o direitista Grupo Manifesto declarou: “O Partido Trabalhista precisa ser o partido das políticas de rendimentos permanentes.” (3)
Quando as linhas de batalha foram traçadas, os apoiadores do Militant por todo o país atiraram-se totalmente na batalha para derrotar o inimigo Conservador. Levantando a bandeira do marxismo como representantes trabalhistas estavam três candidatos, Tony Mulhearn em Crosby, David White em Croydon Central e Cathy Wilson na ilha de Wight. Nenhuma vaga era fácil de ganhar e previsivelmente os inimigos do Militant atacaram estas campanhas. Surpreendentemente, eles foram liderados por um ‘esquerdista’, Pete Wilsman, membro da Campanha pela Democracia no Partido Trabalhista. Numa carta a nós, ele afirmou que o Militant tinha agido “muito mal” em Croydon. Ele foi respondido em artigos no jornal pontuando que:
seis reuniões públicas foram organizadas, incluindo uma com 350 pessoas para ouvir Tony Benn às 18h. no sábado. Neil Kinnock também falou em uma reunião enorme com 100 pessoas em apoio a David White. (4)
A reunião na estação New Addington foi um reflexo do entusiasmo local pela campanha. O material eleitoral emitido pelo diretório local também teve uma resposta excelente. 1.500 cópias do Militant foram vendidas e 150 foram recrutados para o LPYS. Tivesse Croydon Central lutado com o programa da ala direita, teria tido um resultado desastroso.
Embora Crosby fosse um segura assento conservador, uma campanha muito efetiva foi desencadeada e Tony Mulhearn recebeu 15.000 votos, inacreditáveis 26% do eleitorado.
Blair Peach
No Sudeste, exceto Londres, apenas sete de 132 cadeiras foram ganhas pelo trabalhismo. Durante a campanha eleitoral os racistas e fascistas, liderados pela Frente Nacional, tentaram marchar por Southall, o coração da comunidade asiática em Londres. Contudo, eles conseguiram mais do que pediram.
Uma paralisação total do trabalho teve lugar na área em resposta ao chamado por uma greve geral da Associação dos Trabalhadores Indianos. Conforme a data para a marcha se aproximava “grupos de jovens asiáticos começaram a se reunir fora do Town Hall onde a reunião da FN estaca planejada a tomar lugar naquela tarde.” (5)
A polícia recorreu à táticas barras-pesadas contra os anti-fascistas como fizeram anteriormente. Isso provocou grandes escaramuças, com a polícia se tornando cada vez mais violenta.
Ela atacou e o uso dos escudos de motim, junto com o Grupo Especial de Patrulha, resultou na trágica morte de Blair Peach pela polícia. Vergonhosamente, o Secretário do Interior Trabalhista Merlyn Rees, declarou que não haveria um inquérito público, apenas uma investigação interna sobre esta morte. De fato, a polícia agiu em defesa da ação provocativa dos fascistas. Os Labour Party Young Socialists em Southall e apoiadores do Militant estavam no meio da batalha. Contudo, ao contrário de outros grupos, esta intervenção foi feita através de um contingente organizado e disciplinado.
Nesta e nas subsequentes batalhas contra os racistas e fascistas o que se destacou foi a organizada abordagem dos apoiadores do Militant em oposição às ações anárquicas e a ‘improvisação’ de outros. Táticas desorganizadas são completamente insuficientes quando confrontadas com fascistas apoiados pelas forças do estado capitalista.
No total, a eleição geral de 1979 foi um desastre para o Trabalhismo e a classe trabalhadora. E um dia de jubilo para os ricos. No dia da eleição £1,000 milhão foi acrescentado às ações e a Bolsa de Valores fechou com o índice de ações numa alta recorde.
A votação para o Trabalhismo foi o mais baixo desde 1931. Callaghan tentou argumentar que a eleição foi um voto “contra o último inverno”. A verdadeira responsabilidade pelo desastre estava em suas mãos ao persistir no desastroso limite de 5% dos salários e outras políticas de direita. A conseqüência interna dentro do Partido Trabalhista foi que “nos diretórios, os MPs direitistas foram chamados prestar contas. A re-eleição iria se tornar de novo uma questão chave. O Partido Trabalhista pode indubitavelmente se mover mais para a esquerda no próximo período. O temor disso já foi expresso na imprensa capitalista.” (6)
Na Escócia houve um sólido voto de classe para o Trabalhismo, com o SNP perdendo nove de suas 11 cadeiras. No Sul, contudo, especialmente em Londres, no Sudeste e em alguma extensão na Região Central, “os conservadores claramente conseguiram ganhar os votos dos trabalhadores mais atrasados, mesmo de sindicalistas, junto com os esperados votos da classe média – portanto ganhando um número significativo de distritos.” (7)
Militant previu que uma reação poderia ter lugar assim que os trabalhadores sentissem as consequências da vitória Conservadora. Isso foi demonstrado nas reações ao primeiro orçamento em junho. Houve irrisórios cortes de taxas para o salário médio antes que pudessem ser liquidados pela inflação em poucos meses. Ao mesmo tempo, o VAT foi aumentado para 15% e os Conservadores deram a notícia de mais ataques selvagens nas condições de vida do povo trabalhador. Militant previu que
a classe trabalhadora irá agora enfrentar um período sob o mais reacionário governo conservador desde aos anos 30. Thatcher deixou claro que ela e sua equipe Conservadora pretendem repetir todos os ataques anti-sindicatos e anticlasse operária do governo Heath de 1970-74 – e pior. (8)
Euro-Eleições
Em junho de 1979, um mês depois da eleição geral, houve eleições para o Parlamento Europeu nas quais Terry Harrison saiu como o candidato Trabalhista por Merseyside. Essa foi a primeira vez que o marxismo em Liverpool teve a oportunidade numa frente eleitoral ampla para testar suas idéias. Terry Harrison desenvolveu uma campanha muito corajosa no que no geral foi um evento sem muito brilho. Em contraste com aqueles na esquerda que se opunham ao Mercado Comum (agora a UE – União Européia) em bases nacionalistas, Terry Harrison contrapôs a ele os Estados Unidos Socialistas da Europa. Nesta eleição a idéia de um representante trabalhista recebendo não mais que o salário médio de um trabalhador qualificado foi levantada pela primeira vez.
Eu aceito receber do meu salário o pagamento médio de um trabalhador qualificado e doar o resto para o movimento trabalhista. Todas as minhas despesas, acredito, devem ser examinadas e questionadas pelo movimento trabalhista. (9)
Tal era a campanha odiosa levantada contra Terry Harrison que num momento alguém atirou com um rifle de ar nele de um edifício residencial municipal enquanto ele estava fazendo campanha na área de Lee Park na cidade. O pára-brisa de seu carro foi quebrado pelo tiro, errando-p por pouco. O principal propósito da campanha não era assegurar uma ‘vitória’, como foi recebida, mas alcançar os trabalhadores com as idéias do socialismo e marxismo, e elevar o nível da consciência política. Contudo, a massa dos trabalhadores em Merseyside estava totalmente indiferente com o resultado da eleição. O resultado nacional parecia ser a conclusão inevitável, com os Conservadores e a ala direita do Partido Trabalhista, apoiados pela mídia, açoitando a perspectiva de um maior desemprego e empobrecimento se a Grã-Bretanha se unisse à União Européia.
Num caso único em uma eleição, em um distrito eleitoral em Vauxhall Ward nem um único voto foi registrado. Contudo, a derrota de Terry Harrison nesta eleição não minou o apoio ao marxismo entre as fileiras do Partido Trabalhista, como nossos oponentes previam. Isso foi mostrado na conferência trabalhista de 1979 que votou esmagadoramente a favor da histórica resolução da re-eleição de mandatos. Ao mesmo tempo, a conferência também passou a proposta para o NEC ter uma opinião final sobre o manifesto eleitoral do partido. A mais notável característica da conferência foi a virada para a esquerda das delegações sindicais. Historicamente a esquerda dentro do Partido Trabalhista parecia se desenvolver como reflexo da derrota do governo trabalhista, pelo menos deste o período pós-1945. Foi conseqüência da derrota do governo Wilson em 1970 que uma grande ala reformista de esquerda em torno de Tony Benn começou a tomar forma. Durante o governo de 1974-79 a esquerda ainda permanecia como uma força dentro do partido, mas foi a derrota de 1979 que um movimento de oposição à direita se desenvolveu. Os apoiadores do Militant jogaram um papel importante neste processo e isso foi reconhecido, mesmo por alguns dos mais improváveis quartéis.
Numa entrevista de televisão Shirley Williams e Jim Callaghan agradeceram o crescente apoio ao Militant dentro do Partido Trabalhista. Num comentário inesperadamente cândido, Callaghan disse na TV:
Nós (o Partido Trabalhista) temos negligenciado a educação. Temos deixado-a cair toda nas mãos do grupo Militant. Eles fazem mais educação do que qualquer um.(10)
Ele também fez um ataque frontal à principal demanda do Militant pela nacionalização das 200 maiores companhias:
Você tem que atrair as pessoas deste país em base que eles aceitam o que você está fazendo como relevante para seus problemas. Agora nós não precisamos ir ao ponto onde temos que agüentar algumas reivindicações populistas como, por exemplo, nacionalizar 200 companhias… há pessoas no partido que querem nacionalizar 200 companhias. Se você for fazer isso, o país pode dizer, ‘Isso não é relevante. Não, nós não entendemos para que é isso.’
Militant comentou:
O fato que Callaghan possa ter ido desta maneira mencionar o Militant e criticar o chamado à nacionalização dos 200 maiores monopólios é um eloqüente testemunho do apoio generalizado para essa demanda nas fileiras trabalhistas. Se isso é tão ‘irrelevante’, porque Jim se preocupa tanto? (11)
Na conferência, a responsabilidade pela derrota foi colocada firmemente nas costas da ala direita, como mostrado pelos francos comentários de Frank Allaun, presidente do partido. Ele pontuou que o TUC quase unanimemente rejeitou o rígido e inflexível teto de 5% do ano anterior. Mas a ala direita não tomou noticia e disse “que isso é porque a Sra. Thatcher está na 10 Downing Street.” (12)
Mesmo o secretário geral Ron Hayward responsabilizou a direita no PLP. Ap mesmo tempo:
ele também alertou os líderes sindicais que eles poderiam chamar por todas as investigações que quisessem, mas se era um expurgo da esquerda ou dos marxistas que eles tinham em mente, eles tinham que lembrar que eram os ativistas do partido e ‘eles não poderiam substitui-los’. (13)
Isso era uma indicação da correlação de forças dentro do Partido Trabalhista. A esquerda estava esmagadoramente em ascensão.A tentativa de Callaghan de afirmar a ‘independência do partido parlamentar’ foi firmemente repudiada na conferência. Falas de bem-conhecidos marxistas e apoiadores do Militant como Pat Wall, Ray Apps, Jeremy Birch, John Byerne, Chris Huxtable, Derek Hatton, Tony Mulhearn, Terry Pearce, Ian Stowell e Fiona Winders foram recebidos com aclamação na conferência.
Nesta conferência, o debate mais crucial se centrou em torno das diferenças entre o programa do Tribune, reformista de esquerda, e o programa do marxismo. Tony Benn no debate principal sobre economia foi obrigado a responder nossos argumentos.
Ele opôs a “extensão massiva da posse pública e um plano nacional de produção”, contrapondo a isso um programa mais ‘gradual’ de “tomada da industria”. (14)
Contudo, essa conferência foi provavelmente de caráter mais à esquerda desde que foi adotada a ‘cláusula socialista’, Cláusula IV, em 1918. A eleição para o NEC resultou num fortalecimento maior da esquerda. Um dos eleitos nesta conferência foi Neil Kinnock, então na ‘extrema’ esquerda no partido. Na reunião do Tribune ele comentou que Jim Callaghan o congratulou por sua eleição ao NEC mas que então disse: “Você sabe, Neil, há apenas um caminho para seguir daqui – para baixo.” Kinnock respondeu: “Bem, eu disse, eu sempre estou disposto a aprender com alguém com experiência.” (15)
Ataque da imprensa
Estes desenvolvimentos provocaram a ira da imprensa capitalista. A chamada imprensa de ‘qualidade’ abriu fogo sobre o Militant. A imprensa sensacionalista procurou identificar o Militant com o ‘terrorismo’. Em resposta aos ataques particularmente viciosos do News of the World, sob a manchete “A verdade sobre o exército vermelho britânico” (ao lado de um artigo intitulado “Uma escova de modelo nudista com um fuzil”) (16), Militant foi retratado como simpatizante do IRA e todo tipo de terroristas. Eu respondi em nome do Corpo Editorial, dizendo que News of the World
claramente dá a impressão de que o Militant apóia o IRA. Isso é o que Gordon Leak escreve: “grupos marxistas tem estreitas ligações com a Rússia e o IRA”… Nos opomos ao programa e métodos do IRA Provisório desde seu começo. Um cuidadoso exame das páginas do nosso jornal mostram que coerentemente temos mantido esta posição… não é isto o auge da irresponsabilidade jornalística, para não dizer do analfabetismo político, dar aos seus quatro milhões e meio de leitores a impressão que o Militant apóia terroristas? (17)
Um trabalho sujo similar foi feito pelo Sunday Express. Nem o Express nem o News of the World publicaram nossas cartas. Militant disse num artigo sobre a campanha de provocação
Um dos fundamentos teóricos de Marx é sua oposição à tática do terror individual… Em 1972 a primeira cópia do Militant Irish Monthly publicou um grande artigo dizendo: “A estratégia do IRA Provisório não derrotará o imperialismo”… O Imperialismo britânico, que é um sistema militar e econômico, apenas pode ser derrotado pela ação massiva unitária da classe trabalhadora britânica. (18)
Em linhas que se destacavam por sua claridade, especialmente quando contrapostas às atuais ‘negociações de paz’, nós também declaramos:
É perfeitamente verdade que os provocadores podem continuar alguma forma de operações por um longo período de tempo… Mas se o imperialismo pode derrotar rapidamente o IRA não é a questão principal. Para aqueles que apóiam os provocadores a questão real não é tanto se eles podem ser derrotados mas se eles podem ter sucesso em derrotar o imperialismo. A resposta é definitivamente não. Nem em 1979, nem em 1980, ou – se eles puderem continuar – até o ano 2000 eles terão sucesso. O legado real destes atentados será ter fornecido às classes dominantes, do Norte, Sul e Grã-Bretanha a desculpa para aumentar a repressão. (19)
Havia um pavor real nas fileiras da burguesia, ecoado pela direita dentro do Partido Trabalhista, de uma expectativa de um giro massivo à esquerda. Nesta situação as idéias do marxismo podem se tornar um significativo pólo de atração.
O tremendo crescimento e influência dos Labour Party Young Socialists sob a influência das idéias marxistas foi indicado pelos 450 jovens que se reuniram no acampamento de verão de 1979. Eles foram saudados por Tony Benn. A juventude trabalhista tomou a luta pelo socialismo até mesmo na Câmara dos Comuns. Num debate num comitê parlamentar, no qual os LPYS ‘varreram o chão’ com os Jovens Conservadores, 200 jovens, em sua maioria trabalhadores, se juntaram para escutar Tony Saunois, então o representante dos Young Socialists no NEC do Partido Trabalhista, debater com um ‘prodígio sem espinhas’ do Partido Conservador.
A Direita ameaçando uma divisão
Enquanto ainda membros do partido, Roy Jenkins e seus apoiadores na verdade chamavam pela formação de um novo ‘partido centrista’. William Rodgers, proeminente líder da equivocada ‘Campanha por uma Vitória Trabalhista’, estava ameaçando dividir o partido. Rodgers mesmo admitiu que se o Trabalhismo adotasse políticas de esquerda poderia ter ganho as eleições, mas continuou com a objeção de que tal resultado poderia colocar a continuação do capitalismo em perigo. Isso poderia, ele disse: “impor uma pesada carga em nosso sistema parlamentar ou em nossa economia mista.” Isso foi uma clara declaração para abandonar o direito a qualquer idéia de mudança da sociedade numa direção socialista. Foi por isso que eles dirigiram seu ataque – e pediram por expurgos – contra os mais firmes advogados e defensores das aspirações socialistas do partido. Rodgers exigiu mesmo que o partido retornasse às mãos da direita “dentro de um ano”. A imprensa capitalista, com o Daily Telegraph na vanguarda, a incitou a “mover-se mais rápido na tentativa de criar tal partido” e dividir o Trabalhismo.
Argumentamos que não obstante qualquer sucesso de curto prazo para tal grupo, amparado por uma massiva publicidade de imprensa, “não há futuro a longo prazo para a ala direita trabalhista”. (20)
Rodgers, o advogado das chamadas políticas ‘populares’, tinha apenas 176 membros em seu moribundo diretório partidário em Stockton, no Nordeste da Inglaterra. As declarações de Rodgers e Jenkins foram apenas tiros iniciais de uma batalha que estava para se estender pelo próximo ano e que resultaria na direita se dividindo.
Intervenção Sindical
Na frente industrial os patrões, encorajados pela vitória de Thatcher, tomaram a ofensiva contra a classe trabalhadora. A maior e mais longa luta, que se seguiu ao fechamento da planta da Western Ship Repairs em Birkenhead, ainda continuava. Os apoiadores do Militant, especialmente Richie Venton e Richie Knights, jogaram um ativo papel nesta disputa. Nossas propostas foram adotadas pelo Comitê de Ação dos Trabalhadores e também pelos trabalhadores em assembléias de massa. Uma destas propostas era de que o governo trabalhista nacionalizasse a planta, sob o controle e gerenciamento dos trabalhadores para proteger empregos. Muitas assembléias foram realizadas e duas demonstrações organizadas por toda Birkenhead. A liderança trabalhista direitista, contudo, se recusou a agir sobre o fechamento da Western quando estavam no poder. Embora a planta não estivesse salva, o papel jogado pelos apoiadores do Militant na disputa, e a apropriação de nossas idéias pelos trabalhadores em luta, marcaram um desenvolvimento qualitativo na intervenção do marxismo nas disputas sindicais de Merseyside.
O gerente da British Leyland, ‘garoto-maravilha’, Michael Edwardes, estava espezinhando todos os direitos e condições dos trabalhadores. Edwardes, como parte do plano de golpear os trabalhadores da BL, tomou a decisão de demitir Derek Robinson, proeminente membro do CP, organizador dos delegados de Longbridge e presidente do comitê conjunto de delegados da BL. Isso era um passo rumo à destruição dos direitos trabalhistas por todo o comitê conjunto. Comentando isso 16 anos depois, o Financial Times descreveu a demissão de Robinson como a “crise dos mísseis cubanos das relações sindicais britânicas… sua saída [Robinson] pôs todo o movimento de delegados sindicais na defensiva.” Mas ela provocou também uma marcha espontânea envolvendo pelo menos 50 mil trabalhadores.
A intenção dos líderes sindicais de direita era destruir o ímpeto da greve chamando ao invés disso um ‘inquérito’. Isso devolveu a iniciativa à gerência e resultou no isolamento de Robinson. Isso por sua vez preparou o terreno para mais golpes contra a organização de delegados. Militant pontuou que: “Mesmo antigos apoiadores direitistas do AUEW ficaram surpreendidos pela recusa descarada de defender um principio sindical básico: defesa de um delegado sindical ameaçado.” (21)
Dado a evidente raiva em ascensão dos trabalhadores, a questão que estava posta nas páginas do Militant era ‘Quanto Thatcher durará?’ A questão da escala do tempo é sempre a mais difícil em política. Nem sempre acertamos o tempo certo mas normalmente indicamos corretamente os processos gerais que poderiam levar a certas conclusões. Dissemos:
Tal é a situação do capitalismo britânico, que a classe dominante sempre tentará enfraquecer e acorrentar os sindicatos, e diminuir as condições de vida da classe trabalhadora. Mas se Thatcher provar ser muito estúpida, os implacáveis capitalistas britânicos e seus representantes no Partido Conservador não hesitarão em removê-la do cargo. (22)
Este prognóstico não se realizou imediatamente. A guerra das Falklands e a virada à direita, junto com o boom econômico dos anos 80, fortaleceram sua posição. Contudo, ele foi confirmado quando Thatcher foi derrubada em 1990 por a classe dominante ter concluído que o desastre do poll tax demonstrava que ela tinha passado de sua ‘vida útil’.
Greve do aço
1980 estava para ver uma enorme polarização entre as classes na industria e o aumento do abismo entre esquerda e direita dentro do movimento trabalhista. Os operários siderúrgicos foram os primeiros a entrar na batalha. Uma greve nacional oficial foi chamada, a primeira vez qu uma ação foi sancionada desde 1926. Os patrões do aço tinham calculado que dado a massiva caída na indústria, com perdas de empregos parecendo serem aceitas com o mínimo de resistência, eles poderiam escapar com um aumento dos salários de 4%. Eles ficaram surpreendidos quando, de 700 filiais da Confederação Sindical do Ferro e Aço(ISTC) apenas 12 votaram contra a ação grevista. Por trás dos patrões estava o governo Thatcher que procurava por cada oportunidade de desafiar e esmagar um setor decisivo da classe trabalhadora. Mas os siderúrgicos demonstraram uma magnífica capacidade de luta com ações de solidariedade sem precedentes de outros trabalhadores. Militant se distinguiu na greve com relatos detalhados dos siderúrgicos. As vendas do Militant dispararam e os operários mais avançados começaram a entrar nas fileiras dos marxistas.
Mas uma vez mais os líderes oficiais dos sindicatos se recusaram a tomar medidas que poderiam fazer a greve maior. Eles se recusaram a estender a greve para siderúrgicas privadas. Nós comentamos:
Depois de semanas nas linhas de piquete, a determinação dos siderúrgicos está ilesa. Quando o presidente do ISTC, falando num comício em Scunthorpe, chamou por “um acordo honrado”, ele ia de encontro com um coro espontâneo “20% e sem deduções”. (23)
Durante esta greve, e como parte do debate geral sobre questões econômicas que tomavam lugar no movimento trabalhista, a questão de impor um controle mais uma vez emergiu como a questão principal. Muitos trabalhadores em desespero pela decadência da indústria concordavam com o que parecia ser uma simples panacéia. Isso foi reforçado pelo aumento do desemprego a medida que a recessão de 1979-1981 começou a morder. Mais indústrias de manufaturas foram perdidas na Grã-Bretanha do que durante a recessão de 1929-33. Sobre a imposição de controle o Militant argumentava:
Aneurin Bevan uma vez descreveu impor controle como construir um muro em torno do caos. A ameaça aos empregos dos trabalhadores vem do funcionamento do sistema capitalista, não da competição estrangeira… impor controles não pode dar uma ‘pausa para respirar’ para reinvestir. Sem a restrição da competição estrangeira, os patrões britânicos poderiam apenas aumentar os preços de seus bens. Isso não poderia nem mesmo salvar empregos, já que aumentar a inflação pode cortar as reais condições de vida, reduzindo o mercado ainda mais e o desemprego ameaçando de novo. (24)
Depois de uma épica batalha de mais de 13 semanas a greve do aço terminou em abril. Contudo, o comitê negociador do ISTC aceitou isso por apenas 41 votos a 27.
1 Militant 451 13.4.79
2 Militant 449 30.3.79
3 ibid
4 Militant 460 15.6.79
5 Militant 454 4.5.79
6 Militant 455 11.5.79
7 ibid
8 Militant 454 4.5.79
9 Do material eleitoral de Terry Harrison, citado por Peter Taaffe e Tony Mulhearn em “Liverpool A City That Dared To Fight”, p61.
10 Militant 478 9.11.79
11 ibid
12 Militant 473 5.10.79
13 ibid
14 Militant 474 12.10.79
15 ibid
16 News Of The World 9.9.79
17 Militant 471 21.9.79
18 Militant 474 12.10.79
19 ibid
20 Militant 482 7.12.79
21 ibid
22 Militant 479 16.11.79
23 Militant 493 7.3.80
24 Militant 495 21.3.80