É possível uma derrota do imperialismo!
A sangrenta guerra do imperialismo piora a cada dia. O preço em mortes está aumentando e o Iraque está mergulhando em uma guerra civil, étnica e religiosa.
Longe de ser um processo pacifico e ‘democrático’, como os poderes imperialistas prometem, as eleições marcadas para 30 de janeiro irão aprofundar a resistência do povo iraquiano e a crise do governo Bush.
Trabalhadores e jovens de todo o mundo corretamente demonstraram sua simpatia e solidariedade diante dos 200 mil mortos pelo Tsunami na Ásia. Mas o povo iraquiano vem sofrendo o seu próprio tsunami militar desde que o imperialismo norte-americano e britânico desencadearam sua invasão.
Desde o começo da guerra mais de cem mil pessoas morreram, centenas de milhares foram feridos ou mutilados. Outros sofreram torturas e humilhações nas prisões administradas pelo exército norte-americano. Outros milhões foram vitimas da falta de água ou comida.
Fallujah, uma cidade de 350 mil pessoas, foi arrasada, com sua população se dirigindo a campos de refugiados, seguidos por bombardeios que nos fazem lembrar de Guernica, durante a guerra civil espanhola.
Ao lado desse sofrimento humano, há o estupro econômico. Medidas de privatização resultaram em festa para as grandes construtoras como a Halliburton, uma empresa diretamente ligada ao vice de Bush, Dick Cheney.
A devastação não acaba aqui. Antigos sítios arqueológicos na cidade da Babilônia, onde dois mil soldados americanos estão estacionados, vêm sendo espoliados.
A resistência aumenta cada vez mais
Contudo, novos problemas surgem a cada dia e os EUA afundam passo a passo em um pântano. A resistência do povo iraquiano aumenta cada vez mais.
Agora os soldados britânicos também estão sendo acusados de usar métodos brutais de tortura, semelhantes aos usados pelos militares americanos na prisão de Abu Ghraib.
Essa revelação foi acompanhada pelo pronunciamento oficial norte-americano de que a procura por armas de destruição em massa não revelou nada. A cada dia novas revelações diminuem o apoio a esta guerra e para Bush e Blair em seus países.
Apesar do deslocamento de 150 mil soldados, as forças de ocupação falharam em controlar todo o país. Os EUA agora querem mais 30 mil para uma base ‘temporária’- que logo se tornará permanente.
Os invasores foram incapazes de esmagar a resistência armada, apesar do uso de métodos brutais de repressão como os usados em Fallujah, Mosul ou Samarra
Quando Bush perguntou a Colin Powell sobre o progresso da guerra, este incrivelmente admitiu que “nós estamos perdendo”. Ele também disse que gostaria de ver as tropas norte-americanas fora do Iraque o mais rápido possível. Mas, isso não seria possível por causa das força insurgentes que não permitem ao governo Bush preparar uma retirada para esse ano.
Bush, ao ouvir isso, dispensou Powell de sua presença. Ainda assim, não há nenhuma esperança de uma vitória militar. Zbigniew Brzezinski, antigo conselheiro de segurança militar do presidente Carter, explicou o que era necessário para uma vitória: 500 mil soldados, 500 bilhões dólares de investimento militar, um recrutamento generalizado entre a população e a introdução de um novo imposto de guerra! Com certeza, isso não é nada animador para o imperialismo.
Minando a confiança das tropas
O impasse militar e as condições de vida no Iraque estão minando a moral e a confiança das tropas. Isso é ajudado pelo fato de que os soldados estão sendo obrigados a cumprir longos períodos nas missões.
Um terço dos soldados americanos são da reserva. O seu comandante, General James Helmly escreveu recentemente um memorando que alertava que a força de 200 mil reservistas estava “rapidamente se degenerando em uma força falida”.
As forces de ocupação enfrentam uma resistência muito maior do que o número de soldados estrangeiros ocupando o país. O General Shahwani, chefe do novo serviço de inteligência iraquiano, declarou que a resistência iraquiana ultrapassa 200 mil pessoas – sendo que 40 mil delas são “combatentes da linha dura”.
A resistência não pode ser esmagada por meios puramente militares. Mesmos nas cidades onde os EUA afirmaram terem ‘pacificado’ a situação, os lutadores apenas se reagruparam e voltaram a atacar. Em uma delas, Samarra, que foi ‘pacificada’ três meses atrás, o chefe de policia local foi morto em 10 de janeiro, pego num fogo cruzado entre soldados norte-americanos e guerrilheiros.
A segurança está tão ruim que em quatro províncias iraquianas (com cerca de 10% da população), incluindo Bagdá, as eleições não terão condições de serem realizadas.
Os 150 mil iraquianos que vivem na Inglaterra e os 234 mil que vivem nos EUA terão mais chance de votar do que 40 % da população do país!
Boicote às eleições
Há um boicote sendo feito pela esmagadora maioria dos sunitas, que são 20% da população iraquiana. Mesmo o moderado partido islâmico iraquiano, a principal facção sunita, se retirou das eleições.
Os sunitas, que foram a elite governante sob Saddam Hussein, temem se tornar uma minoria oprimida sob um governo xiita.
As facções xiitas estão decididas a usar estas ‘eleições’ para tomar o poder e se tornarem a principal força política. O aiatolá Sistani já declarou que é mais importante votar do que rezar.
Sob uma ocupação imperialista não é possível uma eleição genuinamente democrática no Iraque. Por causa do medo dos assassinatos, a maioria dos candidatos não divulgou seus nomes, ou seja, as pessoas terão que votar numa lista partidária sem saber quem são os candidatos!
Tudo isso mostra o que Bush quer dizer quando fala em instalar regimes ‘democráticos’ em todo o Oriente Médio.
Qualquer governo que saia destas eleições não terá nenhuma legitimidade e não oferecerá nenhuma alternativa ao imperialismo e ao capitalismo.
Contudo, Bush está determinado a levar estas eleições adiante, em parte por razões de prestigio político, junto com a necessidade de uma legitimação política.
As crescentes divisões sectárias religiosas entre a maioria xiita e a minoria sunita estão em parte sendo provocadas pela política norte-americana. Longe de resolver esta crise, as eleições aprofundarão a guerra civil entre os dois grupos.
Balcanização do Iraque?
A contradição entre a necessidade de uma saída estratégica e militar a catástrofe social está forçando o imperialismo a explorar outras políticas.
Os neoconservadores estão estudando a possibilidade de implementar uma ‘balcanização’ do Iraque (despedaçando-o em territórios mutuamente hostis).
Eles favoreceriam a formação de um complacente regime teocrático xiita (com a maioria das reservas de petróleo), ao lado de um regime sunita baseado nas regiões centrais.
Tal política terá conseqüências enormes internacionalmente, provocando uma reviravolta por todo o mundo árabe, onde os sunitas são maioria
Há também a possibilidade do governo da Arábia Saudita ser derrubado, com a chegada ao poder de outro mais reacionário, anti-ocidente, do tipo da Al-Qaeda.
Alguns neoconservadores estão tão assustados com essa possibilidade que se preparam para uma eventual intervenção militar na Arábia Saudita!
Os comentaristas burgueses mais sérios vêem a possibilidade de uma guerra civil no Iraque com preocupação.
O International Herald Tribune alertou: “Quando os EUA se preparavam para invadir o Iraque, havia um ponto que todos concordavam que deveria ser evitado a todo o custo: uma guerra civil entre muçulmanos xiitas e sunitas que poderia criar instabilidade em todo o Oriente Médio e daria aos terroristas uma região desgovernada que poderia ser usada como uma base de operações… as próximas eleições estão apontando cada vez mais para o pior cenário possível. É hora de pensar em adiar as eleições.”
Tal alerta caiu em ouvidos surdos. Bush agora está considerando seriamente usar a opção “salvadora” de esquadrões da morte de elite para caçar e matar combatentes sunitas, onde estiverem, mesmo na Síria.
Artigos no New York Times e Washington Post argumentam que “se quisermos eleições apropriadas no Iraque, temos que ter uma guerra civil apropriada” e que os EUA deveriam ver “um Iraque dividido como um instrumento útil”. Isto mostra toda a manobra que está sendo preparada contra o povo iraquiano.
Não haverá democracia enquanto houver ocupação
O CIO se opõe a qualquer participação nessas eleições fraudulentas e apóia o boicote do povo iraquiano.
Isso precisa ser ligado com a idéia de uma Assembléia Constituinte para determinar o futuro do Iraque, com eleições organizadas por comitês eleitos por todo o povo e não por um governo fantoche dos EUA.
Nenhum regime democrático pode se estabelecer no Iraque enquanto a ocupação continuar.
A luta pela retirada dos invasores do Iraque e de todo o Oriente Médio precisa ser reforçada.
Em face da ocupação, o povo iraquiano tem o direito à autodefesa. O CIO apóia a criação de uma força de defesa constituída pela juventude e trabalhadores sunitas e xiitas.
Esta força de deve ser controlada por comitês eleitos democraticamente pelos trabalhadores, estudantes, desempregados e camponeses.
Organizar a resistência com democracia e um programa anti-imperialista e anti-capitalista
Contudo, nossa defesa do direito do povo iraquiano de se defender e lutar pela retirada das forças de ocupação não significa que apoiamos todas as ações da resistência, especialmente dos grupos constituídos de elementos islâmicos de extrema direita, do tipo da Al-Qaeda.
O assassinato do dirigente sindical Hadi Salih não pode ser justificado, mesmo que ele tenha colaborado com o governo e recebido dinheiro deste. O CIO apóia a construção de sindicatos democráticos, livres de qualquer interferência governamental.
O melhor meio para se opor às políticas e métodos de líderes como Hadi Salih é através do debate democrático e levantando uma alternativa socialista que defenda os direitos e interesses da classe trabalhadora.
É preciso lutar pelo direito de organizar assembléias e sindicatos livres, pelas eleições democráticas e controle de todos os líderes sindicais, por um programa que lute por melhores salários e condições de vida, se oponha às privatizações e defenda o controle democrático dos trabalhadores dos meios de produção.
Esse é o caminho para derrotar os líderes sindicais que apóiam as forças de ocupação, muito melhor do que assassinatos individuais. Tais assassinatos apenas aprofundam as divisões sectárias e podem ser usadas contra a classe trabalhadora e as idéias socialistas.
A organização guerrilheira Sendero Luminoso usava brutalmente estes métodos contra ativistas sindicais independentes e socialistas no Peru nos anos 80. Eles faziam isso para intimidar os trabalhadores e impedi-los de conduzir suas próprias lutas e construir suas organizações fora do controle do Sendero.
As condições sociais desesperadoras do Peru permitiram ao Sendero desenvolver-se como uma força messiânica que usava métodos brutais contra seus oponentes. Os socialistas se opõem ao uso de tais métodos também no Iraque.
Pela retirada das tropas!
O caos do Iraque está provocando inúmeros problemas sociais e políticos para o governo Bush em casa. Mesmo com sua reeleição a oposição à Guerra cresce a cada dia. A maioria da população, 56% do total, é contra a continuidade dela.
As mortes de soldados aumentam cada vez mais – agora em torno de dois mil com mais de 25 mil feridos ou mutilados – e a falta de qualquer esperança de vitória os leva também a se oporem à guerra.
Alguns deles deixaram os seus sentimentos muito claros à Rumsfeld quando da sua visita ao Iraque.
Bush enfrentará a exigência cada vez maior dos trabalhadores, soldados e de suas famílias para a retirada das tropas.
O movimento anti-guerra sem dúvida irá crescer e será parte crucial da derrota de Bush e do imperialismo norte-americano e britânico.
O aprofundamento da crise no Iraque mostrará a necessidade de construir uma alternativa socialista internacional. O capitalismo apenas trouxe a carnificina para a região.
Apenas com a retirada das forças imperialistas da região e a criação de uma confederação socialista e democrática do Oriente Médio, se oferecerá uma real solução para esse derramamento de sangue.