Derrotar as politicas neoliberais
Há dois anos atrás, Luis Inácio Lula da Silva, recém empossado presidente da República, discursou na Praça do Pôr do Sol, em Porto Alegre, diante de mais de cem mil pessoas que participavam da terceira edição do Fórum Social Mundial. O entusiasmo e a emoção eram generalizados. Lula pediu que confiassem nele, que jamais trairia sua história de vida. Mas pediu paciência. As coisas não mudariam de uma hora para outra. Era preciso ser responsável como um pai é em relação a um filho.
A esperança era a tônica naquele momento. Quase todos estavam dispostos a esperar e agüentar um pouco mais se fosse necessário. Afinal, já esperamos tanto. Até mesmo a ida de Lula a Davos, no Fórum Econômico Mundial, minutos depois de seu discurso em Porto Alegre, para encontrar-se com a cúpula do grande capital internacional, foi tolerada por muitos.
Dois anos de decepção
Dois anos depois, a situação é bem diferente. O governo Lula não apenas não promoveu nenhuma mudança progressiva do ponto de vista das massas excluídas, exploradas e oprimidas, como ainda aprofundou uma série de medidas que os governos neoliberais anteriores não conseguiram aplicar.
Do alto de sua autoridade de militante operário, Lula pediu confiança e paciência para poder frear a resistência e dessa forma ser mais eficiente que seus antecessores na aplicação das políticas neoliberais.
Num momento em que se discute e se age para aprofundar a reforma agrária na Venezuela ou para reestruturar a dívida da Argentina, o governo Lula se desvincula de todos esses supostos ‘radicalismos’ e segue à risca a cartilha do dos banqueiros e especuladores. Lula deixa de fazer a reforma agrária para poder pagar pontualmente a dívida com o sangue e suor do povo brasileiro.
Negociatas para manter a base de apoio
O ‘capital inicial’ de autoridade de Lula já não existe como antes. As coisas são mais difíceis agora. O resultado das eleições municipais de 2004, com derrotas importantes como em São Paulo, Porto Alegre, Belém, Campinas, etc, demonstra isso.
Mas, a direção do PT e o governo não tiraram nenhuma lição dessa derrota. Pelo contrário, buscam compensar com mais acordos espúrios, acenam com uma reforma ministerial que incorpore gente do calibre de Roseana Sarney, fazem todo tipo de negociatas baixas para garantir Greenhalgh na presidência da Câmara Federal, acordos em torno do ex-collorido Renan Calheiros no Senado e por aí afora.
A economia e o povo vão muito mal…
O governo apresenta os índices de crescimento econômico em 2004 como demonstração da correção da política econômica. Mas, o fato é que se dizem que a economia vai bem, o povo, por usa vez, continua muito mal.
Os empregos gerados são muito mal remunerados e a renda média dos trabalhadores tem caído sistematicamente. A saúde, educação, transporte e os serviços públicos em geral só têm piorado com os cortes nos gastos. A reforma agrária não avança e a miséria continua infestando o campo e as grandes cidades. A violência urbana atinge níveis desesperadores atingindo principalmente os mais pobres.
Além disso, a situação real da economia está muito longe de ser realmente boa. Crescer com base nas exportações e aproveitando-se de um cenário externo temporariamente favorável não supera os problemas de fundo da economia brasileira.
Na verdade, apenas reproduz um modelo excludente e dependente, colocando o país completamente a mercê dos problemas estruturais da economia capitalista mundial. A contínua elevação das taxas de juros elevou a dívida pública em mais de 80 bilhões de reais em 2004. Somente a elevação de 0,5% efetivada nos últimos dias representará 2 bilhões de reais que não serão investidos em benefício da população, mas que vão direto ao bolso dos banqueiros e especuladores.
O superávit primário do setor público entre janeiro e novembro de 2004 alcançou o patamar de 5,29% do PIB. É o dinheiro que falta à educação, saúde e ao desenvolvimento econômico e social.
Construindo a luta independente
Camadas importantes da classe trabalhadora organizada têm se distanciado cada vez mais do governo e do PT. Cada vez mais jovens e trabalhadores compreendem que desse governo não se pode esperar uma mudança de rumos. Não se trata de disputá-lo, mas de derrotá-lo.
A quinta edição do Fórum Social Mundial em 2005 também está marcada pela disputa de dois caminhos diferenciados. De um lado, estão aqueles que, com suas ONGs e entidades atreladas e dependentes do Estado, se limitam a gravitar em torno do governo, esperando que algumas migalhas caiam da mesa do banquete dos banqueiros e especuladores.
Do outro, estão muitos movimentos sociais e ativistas que assumem a tarefa de organizar a luta contra a política desse governo e que não se iludem mais com os apelos e a retórica demagógica que pede paciência.
A construção da luta independente dos trabalhadores é a tarefa central. Para isso, é fundamental construir a unidade dos diferentes movimentos sociais numa mesma luta, uma luta que parta das reivindicações imediatas, mas que vincule essas bandeiras com a necessidade de uma alternativa política dos trabalhadores e oprimidos.