Tese para I Conferência Sindical do PSOL
Para debate na Conferência Sindical do PSOL
Alternativa Socialista, Alternativa Revolucionária Socialista, Coletivo Liberdade Socialista e Socialismo Revolucionário
I. INTRODUÇÃO
O Partido Socialismo e Liberdade nasceu como uma nova ferramenta de luta política dos trabalhadores diante da falência do PT e outros projetos da esquerda. A fundação do PSOL só foi possível porque existiu um processo real de resistência política e sindical contra as medidas neoliberais adotadas pelo governo Lula já em 2003.
Esse processo envolveu a mobilização do funcionalismo contra a reforma da previdência, do movimento estudantil contra a reforma universitária, de muitos setores rurais contra o privilégio ao agro-negócio e a ausência de reforma agrária, além de um descontentamento e desilusão com o governo por parte de algumas camadas mais conscientes e organizadas da classe trabalhadora. A formação da Conlutas num primeiro momento e da Intersindical mais tarde, também refletiu esse processo.
Apesar da importância dos processos de luta sindical, estudantil e popular na formação do PSOL, o partido nunca conseguiu construir uma linha clara e unitária de atuação nos movimentos. Numa visão profundamente equivocada sobre a divisão de tarefas entre partido e sindicato, setores majoritários na direção do PSOL adotaram uma linha que privilegia a atuação do partido nas disputas eleitorais.
Muitas vezes referindo-se ao importante debate sobre a situação da classe trabalhadora hoje, os limites do corporativismo sindical e a crise do sindicalismo tradicional, chegaram à falsa conclusão de que não há mais futuro na luta sindical. Alegando a necessidade de falar diretamente para as amplas massas desorganizadas, levaram o partido para uma política que prioriza a exposição midiática, o impacto na chamada opinião púbica e a disputa eleitoral que acaba sendo feita sem qualquer relação com as lutas concretas dos trabalhadores.
Mesmo reconhecendo um contexto de dificuldades objetivas da luta sindical e popular, não se pode deixar de responsabilizar a direção majoritária do partido pela fragilidade e fragmentação da intervenção do PSOL no processo de reorganização sindical e popular.
Essa Conferência Sindical deve buscar definir uma política que arme o partido para intervir nos processos reais da luta de classes no próximo período. Mas, não podemos tergiversar diante do fato de que apenas uma mudança global na política do partido, para além do debate apenas sindical, resgatando suas bases fundacionais e avançando a partir delas, poderá colocar efetivamente o PSOL como grande referência política progressiva e conseqüente das lutas operárias, estudantis e populares.
Qualquer tentativa de costurar um acordo superestrutural entre as correntes que busque impor uma unidade artificial entre os diferentes setores do partido estará fadada ao fracasso. Se basear-se apenas nos interesses específicos e imediatos do partido em manter controle e maioria sobre aparatos sindicais, sem um debate profundo sobre as tarefas estratégicas para o movimento sindical e o papel do partido, não estaremos solucionando os problemas do PSOL e muito menos do movimento sindical e popular.
A tarefa central dessa Conferência Sindical, em nossa opinião, é aprofundar seriamente os eixos gerais da resolução votada no I Congresso do partido. E isto só poderá ocorrer se avançarmos no sentido de unificar a Conlutas e a Intersindical, assim como outros setores dos movimentos sociais e forjando na luta cotidiana uma nova direção unitária, democrática, classista, internacionalista e socialista para a classe trabalhadora e todos os oprimidos.
II. CONJUNTURA NACIONAL E INTERNACIONAL
Crise econômica internacional
A crise econômica que se abre com o estouro da bolha do mercado imobiliário dos EUA, acaba tendo um efeito comparável ao da guerra do Iraque ao desmentir grande parte da propaganda ideológica burguesa dos anos 90. Um dos elementos dessa ofensiva ideológica apontava para a capacidade do capitalismo globalizado e fortalecido pelas novas tecnologias, internet, etc., em superar suas crises e apontar uma perspectiva de crescimento eterno e abundante.
Desde o início dos anos 90, os ataques neoliberais tiveram como objetivo restaurar os lucros das grandes empresas. Nos períodos de crise, tentaram manter o consumo e sustentar o sistema financeiro, aumentando a quantidade de crédito barato. Essa política obteve certo sucesso ao salvar os EUA da crise asiática de 1997-98 e da crise pós 11 de setembro de 2001, mas o preço foi a geração de enormes bolhas especulativas. Essas bolhas agora estão estourando e gerando uma crise que vários comentaristas da própria burguesia afirmam que pode se tornar a mais profunda em décadas.
Uma recessão nos EUA afetará as exportações da China e indiretamente poderá atingir todos os seus parceiros comerciais generalizando o impacto da crise. As economias da Europa e Japão já rebaixaram as previsões de crescimento. Essas economias são os principais mercados da China e dos outros países do chamado “BRIC” (Brasil, Rússia, Índia e China).
Uma recessão severa terá efeitos brutais sobre milhões de pessoas em todo o mundo com perda de empregos, moradores perdendo suas casas e aumento da pobreza. Não está descartado que a recessão ou desaquecimento econômico se combine com mais aumentos de preços e inflação generalizada.
Se a situação internacional já estava marcada pela profunda instabilidade, com a crise econômica que se inicia, o cenário pode ser ainda pior. Basta lembrar os efeitos das crises anteriores sobre o processo latino-americano no final dos anos 90 e início do novo século. A luta contra as políticas neoliberais e os efeitos da crise chegou a provocar situações com elementos revolucionários em vários países.
América Latina
Se o final do século XX foi marcado pela ofensiva neoliberal, o novo século nasceu na América Latina com a marca da resistência popular. O movimento de massas que derrubou Mahuad no Equador e a ‘guerra da água’, contra a privatização do setor, em Cochabamba, Bolívia, no ano 2000, foram seguidos pelo ‘Argentinazo’ no final de 2001, pelo levante popular contra o golpe na Venezuela em 2002, pela ‘guerra do gás’ que derrubou Goni na Bolívia em 2003 e vários outros exemplos de luta de massas contra o neoliberalismo.
A ausência de uma clara estratégia revolucionária de poder e de um programa conseqüente abriu espaço para que essa luta de massas se canalizasse para os processos institucionais com a eleição de novos governos não identificados com a receita neoliberal. Uma parte desses novos governos – em especial Lula no Brasil, Kirchner na Argentina, Tabaré Vasquez no Uruguai, etc. – utilizaram um passado de esquerda e uma retórica ‘progressista’ para conter o movimento de massas e recauchutar as políticas neoliberais.
Nos países onde a polarização e pressão social, além da debilidade dos regimes políticos burgueses foram maiores – em especial na região andina envolvendo Bolívia, Venezuela e Equador – os governos de Evo Morales, Hugo Chavez e Rafael Corrêa foram levados a um conflito maior com as forças pró-imperialistas e as elites locais. Empurrados por insurreições populares, como no caso da resistência ao golpe na Venezuela em 2002, ou para não ter o mesmo fim de governos que traíram as expectativas populares, como no caso de Gutierrez, derrubado pelas massas no Equador ou Carlos Mesa na Bolívia, esses governos adotaram medidas numa direção diferente das de Lula, por exemplo. Isso aconteceu ao não promoverem contra-reformas neoliberais como as que caracterizaram os demais governos e ainda programarem nacionalizações parciais nos setores energéticos e de telecomunicações.
Ao mesmo tempo, mesmo quando assumiram uma retórica mais radical, falando até mesmo em socialismo (como no caso de Chávez) buscaram adotar políticas de reconciliação com as elites nacionais e setores do imperialismo, numa estratégia que se mostrou completamente fracassada.
A situação atual aponta para uma retomada da força política de setores reacionários e pró-imperialistas tanto na Venezuela como na Bolívia. Em ambos os casos, isso se dá em razão da incapacidade dos governos de Chávez e Evo Morales em levar até as últimas conseqüências uma política efetivamente antiimperialista e anticapitalista.
A sabotagem econômica, o desabastecimento, a violência urbana e permanência da pobreza e péssimas condições de vida na Venezuela somente poderiam ser eliminadas com uma ruptura clara com a lógica do sistema capitalista, com a nacionalização de todos os setores chaves da economia e o controle democrático dos trabalhadores sobre uma economia planificada racionalmente. Essa não é a estratégia de Chávez que, principalmente depois da derrota no referendo sobre a reforma constitucional de 2007, girou à direita tanto no discurso quanto na prática. Também não é o caso de Evo Morales e de seu vice Garcia Linera com sua estratégia de implantar um ‘capitalismo andino amazônico’ na Bolívia.
O giro à direita desses governos acontece junto com ações no sentido de cerceamento do direito democrático de organização e mobilização independente dos trabalhadores. Esse é o caso emblemático do dirigente sindical venezuelano Orlando Chirino, inaceitavelmente demitido da PDVSA.
Para derrotar a direita reacionária na Venezuela e Bolívia é fundamental reorganizar a classe trabalhadora e seus aliados entre os pobres urbanos e rurais, a juventude, os camponeses e povos indígenas com base na independência de classe frente aos governos e patrões e num programa anticapitalista e socialista. Esperar que Chávez ou Morales façam aquilo que somente a classe trabalhadora organizada de forma independente pode fazer é a melhor estratégia para a derrota.
A política externa brasileira sob Lula é coerente com sua política interna pró-neoliberal. As tropas brasileiras no Haiti, as pressões para segurar a radicalização do processo na Venezuela e impedir as nacionalizações na Bolívia, o papel sub-imperialista a serviço das transnacionais em relação aos países do Mercosul e outros, deixa isto bem claro. Lula está disposto a jogar papel importante na aceleração do processo de restauração capitalista em Cuba em nome dos capitalistas nacionais e internacionais.
Conjuntura nacional
O governo Lula é um governo do grande capital financeiro nacional e internacional. Isso fica evidente quando vemos quem realmente ganhou com as políticas implementadas desde sua posse em 2003. A força política do governo baseia-se no fato de que há uma importante unidade burguesa, incluindo a oposição tucana, em torno do programa de reformas neoliberais. Lula também conseguiu uma base de apoio entre setores mais amplos da sociedade principalmente através das expectativas de estabilidade e crescimento econômico e nas políticas assistencialistas. Por fim, mas não menos importante, o governo pôde frear parcialmente as lutas sociais fomentando a divisão entre os de baixo, enfraquecendo e, em muitos casos, desvirtuando completamente algumas das organizações de massas dos trabalhadores e demais setores oprimidos.
O segundo mandato de Lula significa a manutenção da mesma política econômica centrada na remuneração do grande capital especulativo e no incentivo ao agro-negócio, mesmo quando passou a adotar um discurso que tentava apresentar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) como um grande projeto de desenvolvimento econômico.
As obras do PAC refletem a mesma lógica neoliberal e anti-social quando adotam as parcerias público-privadas (PPPs) ou quando refletem o modelo exportador que só beneficia as grandes transnacionais e destrói o meio ambiente e as comunidades locais. Além disso, os investimentos previstos no PAC não avançam em razão da prioridade dada à remuneração do capital especulativo.
Os exemplos da dramática crise na saúde, o crescimento do desmatamento na Amazônia, o aumentos dos preços dos alimentos e os escândalos de corrupção, são mais elementos para reafirmar o caráter continuista do segundo mandato de Lula.
O ano de 2007 foi marcado por uma série de lutas contra as políticas do governo com um caráter unitário mais acentuado, principalmente depois do ‘8 de Março’ contra Bush e Lula e do grande Encontro de 25 de março.
Esse movimento pôde até mesmo descolar setores dos movimentos sociais antes mais atrelados ao governo e paralisados por suas políticas de cooptação. A experiência do MST com a absoluta prioridade do governo ao agro-negócio e a forte pressão de uma situação insustentável para os acampados e assentados, levou o movimento a somar forças em ações como a do Dia Nacional de Lutas em 23 de maio. O recuo da direção majoritária do MST em relação à unidade do movimento no segundo semestre, principalmente depois do plebiscito popular de setembro, mostra os limites de sua ruptura com o governo. No entanto, é preciso reforçar o trabalho dos movimentos rurais que já romperam e buscar sempre levar o MST a romper definitivamente com o governo e construir a luta unitária.
O impacto da crise sobre o Brasil
Ao contrário da propaganda oficial, o descolamento da economia brasileira da crise econômica internacional não é uma realidade plausível.O impacto da crise econômica internacional sobre o Brasil pode se dar de várias formas. A dependência em relação aos preços das commodities é um dos elementos que deixa o país muito vulnerável. Uma queda nos preços dos produtos exportados pelo Brasil afetará diretamente a sua economia. A diminuição dos mercados compradores de produtos brasileiros em razão da recessão internacional afetará diretamente o país.
A propaganda governista sobre o Brasil ter se tornado credor externo ao invés de devedor esconde o fato de que a dívida foi internalizada e está a ponto de ultrapassar o patamar de um trilhão de reais. A dívida interna continua sendo um enorme peso sobre a economia nacional. O pagamento dessa dívida no setor público é a prioridade absoluta do governo e é o que limita os gastos sociais, os investimentos e a remuneração do funcionalismo público.
Nesse quadro, com os resultados externos ameaçados, é inevitável que a burguesia e seu governo passem a focar ainda mais o ajuste fiscal. Isso significa cortes, congelamento salarial e reformas neoliberais como as da previdência social. Também no setor privado, para compensar as perdas dos empresários, mais arrocho e ataques sobre os trabalhadores.
Não se pode dizer com precisão sobre o ritmo e a intensidade do impacto da crise internacional sobre o Brasil, mas sabemos que ela virá e enfraquecerá as ilusões sobre a estabilidade da economia brasileira e a geração de empregos. A resistência dos trabalhadores aos ataques que virão precisa de um processo unitário de lutas e mobilizações muito superior ao que existe hoje.
Retomar a jornada unitária de lutas
Nesse cenário é fundamental que os sindicalistas do PSOL estejam na linha de frente do combate às reformas neoliberais do governo Lula e dos governos estaduais e trabalhem pela retomada da jornada unitária de lutas iniciada em 2007.
É preciso construir as mobilizações convocadas para 1º de abril contra a transposição do rio São Francisco, em defesa dos empregos, dos direitos dos trabalhadores e do serviço público, contra a reforma universitária, por terra, moradia, etc. O tema das privatizações em vários estados, assim como parte do PAC de Lula, além das medidas contrárias aos trabalhadores embutida na proposta de reforma tributária, não podem ser esquecidos. Devemos ainda continuar a denunciar as propostas de reformas da previdência e trabalhista hoje pulverizadas em outras medidas e ações do governo e dos patrões.
Também é fundamental que nossos militantes, parlamentares e dirigentes reforcem a jornada de lutas dos movimentos populares urbanos no final de março e início de abril, as mobilizações estudantis no mesmo período e que trabalhemos para que as ações do MST em abril sejam parte de uma mobilização integrada com outros setores e com um claro conteúdo de oposição ao governo. O 1º de Maio também tem que refletir a retomada unitária das mobilizações.
Nossa ação nos movimentos também deve reforçar as bandeiras internacionalistas pela retirada das tropas brasileiras do Haiti, denunciando a intervenção de Uribe no Equador, pelo fim da invasão do Iraque e Afeganistão e em defesa do povo palestino. Os sindicalistas do PSOL devem participar no Encontro Latino-Americano e Caribenho dos Trabalhadores em 7 e 8 de julho.
III. CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL
Movimento sindical
A degeneração da CUT, mais do que uma conseqüência lógica de sua opção política, é fruto do abandono das bandeiras históricas por uma acomodação nos marcos do regime e da predominância do capital. Desta forma, a Central Única dos Trabalhadores deixou de ser uma ferramenta de luta e passou a servir de braço sindical dos projetos eleitorais do PT.
Com a assunção de Lula ao poder, seguindo fielmente esta estratégia eleitoral traçada ao longo das últimas décadas, a CUT também completa seu ciclo e ingressa em uma fase ainda mais degenerada: acomoda-se totalmente as verbas governamentais, passa a disputar cargos no aparelho de Estado e aprofunda a burocratização de seus quadros e instâncias.
Por outro lado, desde que assumiu, em 2003, Lula vem cumprindo regiamente seus compromissos com a burguesia. Mantém uma política econômica restritiva, atraindo capitais externos e comemora anos após ano, recordes (com superação de metas) no superávit primário. Os bancos também celebram lucros fantásticos a cada exercício e o país arrecada cada vez mais impostos e tributos. Lula investe em políticas compensatórias, como a Bolsa-Familia, para manter seu prestigio junto às camadas mais pobres da população.
Os ataques de Lula continuarão. A burguesia pressiona cada vez mais por retiradas de direitos, como a terceira reforma da previdência e a reforma trabalhista. Também pretende abocanhar os fundos públicos e a poupança dos trabalhadores, especialmente para a aposentadoria. Projeta-se a transferência de cerca de R$ 10 bilhões para o sistema financeiro privado, até 2010, somente dos fundos de previdência dos servidores. A CUT tem papel fundamental nesta política entreguista do governo Lula. Ambos traíram as esperanças de milhões, encerrando um ciclo na história da luta de classes no Brasil, e, diante deste contexto, um amplo setor de militantes viu a necessidade urgente de buscar a reorganização da esquerda socialista e de construir novas ferramentas de luta.
Desta forma, já em 2003, passou-se a discutir a ruptura destes lutadores com a CUT. Dessas rupturas, surgiram a CONLUTAS e, mais tarde, a INTERSINDICAL. A construção destes instrumentos mostrou que, mesmo num período de refluxo das mobilizações, contraditoriamente ao que muitos afirmavam, era possível apontar para uma nova alternativa de organização para a classe trabalhadora.
É inegável que a construção da Conlutas foi decisiva para impedir pelo menos a dispersão de um importante setor da nossa classe e também para organizar a luta tão necessária contra as reformas neoliberais do governo Lula (marca registrada da Conlutas).
A formação da Intersindical se deu numa dinâmica e ritmo diferenciados, embora reflita o mesmo processo. Entretanto, a Intersindical, do nosso ponto de vista, está avançando a passos lentos para assumir a necessidade da construção de uma alternativa unitária contra os governos e os patrões. A superestimação das disputas internas do movimento sindical não pode estar acima dos interesses da classe trabalhadora. A luta por uma nova Central unitária, democrática e pela base deve ser o eixo ordenador de todas as intervenções. Nesse processo devemos lutar contra desvios burocráticos, antidemocráticos, hegemonistas, etc., que possam ocorrer.
O tempo urge. Os ataques do governo vão continuar e a reação da classe ainda é pequena diante da gravidade e do aprofundamento das reformas neoliberais que estão por vir. Mas não temos duvidas de que cedo ou tarde os trabalhadores brasileiros, a exemplo de seus irmãos latino-americanos da Venezuela, Bolívia, Equador, entre outros, poderão ganhar as ruas. E neste cenário a tarefa principal dos lutadores da esquerda socialista do nosso país é o de jogar força no fortalecimento de uma organização que, supere o modelo tradicional de uma central sindical para responder as necessidades do conjunto dos trabalhadores, estudantes, desempregados, etc.
Por fim, é preciso reafirmar que somente com a atuação firme na reorganização desta nova ferramenta, foi, e continua sendo possível incentivar novas rupturas com a CUT, já que a experiência da classe é, às vezes, mais lenta do que gostaríamos.
Será necessário, mais do que nunca, incentivar e promover o debate, ação comum e o avanço na direção da unidade efetiva entre a Conlutas e a Intersindical A Conlutas vem propondo o debate sobre a unificação desde o início de 2007. Por esta razão, nós, militantes da Conlutas e do PSOL, queremos fazer, nesta Conferência Sindical, um chamado claro as correntes do partido, que realmente dirigem e organizam uma significativa parcela do movimento, para que aceitem abrir imediatamente este debate, definindo sob quais bases esta unificação será possível. Não é aceitável que diante da necessidade de reorganizar os trabalhadores para lutar contra os ataques da burguesia, setores que afirmam ter um perfil claro de independência em relação aos governos e patrões e que defendem a luta contra o capitalismo continuem construindo duas organizações distintas.
Movimento popular
A atual etapa neoliberal provoca a exclusão de milhões de trabalhadores do mercado de trabalho no mundo inteiro. É da essência deste sistema econômico-social manter uma reserva de desempregados. No entanto, nos últimos 30 anos, com a adoção de medidas que diminuem o papel do Estado na economia, a situação piorou. O controle sobre a produção, o aumento da tecnologia, as novas técnicas produtivas, a ampliação dos domínios pelas grandes empresas transnacionais, a ofensiva ideológica, também ocasionaram um maior controle sobre a capacidade de reação de nossa classe.
Na realidade, a conformação de nossa classe mudou. Hoje no Brasil pelo menos a metade vive de trabalhos informais, sem carteira assinada, e grande parcela migrou para a área de serviços. Surgem e se fortalecem a partir daí os chamados “excluídos”, conceituação que não é a melhor, mas que explica onde está parte de nossos companheiros trabalhadores.
Estes se organizam a partir dos movimentos sociais, como sem-teto, sem-terra, perueiros. Outro perfil de organização surge via juventude através do hip-hop, movimentos culturais, etc.
Não se pode, portanto, limitar a nossa tarefa a organização dos trabalhadores sindicalizados. Precisamos analisar mais profundamente a composição da classe e, a partir desta análise, definir qual o grau de dedicação e de esforços uma nova Central deve dedicar aos movimentos.
A conjuntura atual exige mais do que nunca, que o movimento sindical e social atuem de forma unificada. É preciso romper os cercos do corporativismo e trabalhar a solidariedade, aproximando os sindicatos das lutas concretas que acontecem em cada região / cidade.
Para tanto, é preciso romper com as amarras e estruturas burocráticas que impedem o avanço da luta social e sua organização democrática e pela base. Neste sentido, é preciso definir com clareza, a importância de impulsionar a construção e fortalecimento dos movimentos sociais, principalmente porque o movimento sindical encontra-se hoje com dificuldades para estruturar suas lutas e unificar a classe.
Combate a todas as formas de opressão
A ofensiva neoliberal ataca o conjunto da classe trabalhadora, mas não podemos ignorar que, no interior de nossa classe, alguns setores são particularmente atacados. É o caso das mulheres, dos negros, GLBTT, etc.
No caso das mulheres trabalhadoras, os ataques oriundos das reformas trabalhista e previdenciária são evidentes, através da retirada de direitos conquistados como a licença maternidade, aumento do tempo de contribuição previdenciária com equiparação entre os sexos.
Entre as tarefas vitais do próximo período está o esforço consciente de organizar as mulheres trabalhadoras levando em consideração suas especificidades no marco da luta geral dos trabalhadores.
Uma campanha em defesa da legalização do aborto também se mostra fundamental nesse contexto de ofensiva conservadora em torno do tema. Hoje cerca de 70% das mulheres que morrem por complicações referentes a aborto mal feito são negras e pobres, pois estas não podem recorrer a clinicas clandestinas ficando reféns do SUS que diante da legislação não atende estas vitimas da hipocrisia social. A luta contra a violência sexista, doméstica, sexual de todos os tipos deve também ser incorporada à nossa pauta.
Para os trabalhadores negros, a opressão racista é um complemento da exploração de classe. Os baixos salários, a falta de oportunidades, além da violência policial e opressão generalizada tendem a se intensificar com a crise capitalista e as políticas neoliberais. Não existe capitalismo sem racismo. A luta dos trabalhadores negros e de todos os oprimidos é parte fundamental da luta de todos os trabalhadores.
Pela base
Defendemos que a organização de uma nova Central seja fortalecida cada vez mais a partir de entidades de base, sindicatos, movimentos populares, estudantis e outros. Além disso, é fundamental que possua uma concepção baseada no seguinte caráter: aberta, democrática, classista, autônoma e antiburocrática. É imprescindível que rejeite qualquer política de conciliação com os patrões e os governos e que organize os trabalhadores para lutar por condições dignas de vida e também para transformar a sociedade.
Defendemos, também, que a nova Central tenha total autonomia em relação aos partidos políticos, pois temos que evitar erros históricos que transformam organizações dos trabalhadores em apêndices eleitorais dos partidos. No entanto, defendemos que os partidos da classe sejam considerados parceiros no interior da central e que, no terreno eleitoral, a nova Central se posicione sempre contra qualquer aliança com a burguesia.
Entendemos, também, que para que o projeto de uma nova Central supere as experiências que conhecemos, será necessário mudar radicalmente as organizações de base que dirigimos. É importante lembrar que nós (assim como toda a esquerda socialista) que disputamos os aparelhos com a pelegada, muitas vezes ganhamos os sindicatos e acabamos reproduzindo as mesmas práticas burocráticas e fortalecendo a estrutura conservadora que herdamos. Precisamos nos colocar em sintonia com o sentimento profundamente democrático da militância socialista e com os princípios da democracia proletária, prevenindo a formação de castas burocráticas, assegurando a autonomia política e material das organizações que dirigimos.
Além disso, é preciso fortalecer a participação dos trabalhadores nas instâncias do sindicato, sua organização por local de trabalho, reuniões sistemáticas para debater os problemas imediatos da categoria e os gerais da classe. Também a realização de assembléias amplas e democráticas, fazendo com que a base participe da vida cotidiana do sindicato e que tenha efetivo controle sobre a entidade e seus dirigentes é a única forma de manter os sindicatos a serviço da classe trabalhadora.
É imperativo combatermos os privilégios dos dirigentes sindicais, pois eles, na maioria das vezes, levam os dirigentes a perder sua identidade com a base e os deixa a um passo da conciliação com os governos e patrões para obter vantagens pessoais.
O Socialismo
Uma nova Central sindical e popular não pode também abrir mão da estratégia socialista. A árdua luta do dia a dia, as necessidades corporativas das nossas categorias nos sindicatos, as dificuldades materiais dos que militam no movimento popular, impõe aos dirigentes e a base uma pauta imediata difícil de ser vencida. Portanto, ao encarar esta luta cotidiana, muitas vezes acabamos deixando de lado o investimento maior que é a formação de massa crítica contra o maior inimigo que é o capitalismo.
Por fim, queremos reafirmar que o papel da nova Central vai além daquele que é o de responder as necessidades mais imediatas dos trabalhadores que se organizam nos sindicatos e no movimento popular, mas é sim fazer com que estes trabalhadores acreditem e lutem pelo socialismo.
O internacionalismo
Consciente de que a luta dos trabalhadores é a mesma em todos os lugares do mundo e que enfrentamento com a burguesia e o imperialismo é comum a todos os povos, a nova Central deve buscar uma integração com as demais organizações de trabalhadores de outros países, especialmente da América Latina. As experiências acumuladas pelos trabalhadores serão fundamentais para formar nossa militância e as constantes trocas de informações serão de extrema utilidade.
Por isso, a nova Central deve estar em permanente contato com estes trabalhadores e se possível interagindo com suas organizações para estimular a formação dos militantes e buscando atuar de forma coordenada em todos os continentes.
Propostas para serem construídas unitariamente Pela Conlutas e Intersindical:
– Calendários comuns de mobilização, tanto nas lutas específicas das categorias como nas lutas gerais.
– Realizar Encontros Estaduais neste semestre e Encontro Nacional no segundo semestre para debater:
a. Concepção/prática sindical e Programa;
b. Bases necessárias para a unificação;
c. Plano de Ação e de Lutas.
– A possibilidade de unificar a intervenção nos vários processos eleitorais que teremos pela frente.
SUBSCREVEM ESTE DOCUMENTO: AS, ARS, CLS, SR.