A Autoridade Palestina, à beira da Guerra civil?
Palestinos entrevistados recentemente na imprensa descrevem sua vida em Gaza e na Cisjordânia como “Vivemos na sala de um filme de terror”.
Exceto que isto não é entretenimento nem sequer do pior gosto, é a vida real e é aterrorizante. E nada é tão real horrível como para os residentes de Beit Lahia em Gaza na sexta passado, sete dos quais foram despedaçados por bombas israelenses enquanto faziam um piquenique na praia próxima de suas casas.
Três meninos palestinos, de dez, sete e um ano de idade morreram no que as autoridades israelenses chamaram “este infeliz incidente”. Quanto mais sofrimento podem suportar as famílias palestinas da classe trabalhadora?
Este é somente um incidente em uma tormenta crescente de instabilidade, violência e desintegração da sociedade a um ritmo acelerado. Este tornado social, econômico e político ameaça devorar não somente a Autoridade Palestina (AP) mas também Israel e todo o Oriente Médio.
Choques armados
Em maio, os acontecimentos na AP deram uma aterradora advertência, se era preciso alguma, da devastação futura que podem esperar os Palestinos se a classe trabalhadora e os camponeses pobres permanecem como observadores marginalizados da situação. Enfrentamentos armados sérios se desenrolam entre as milícias do Hamas e da Fatah, com o pano de fundo do colapso econômico e a bancarrota enquanto uma guerra de palavras era dirigida entre o governo do Hamas e o líder da Fatah e Presidente Palestino, Abbas.
Estes choques são conseqüência direta das políticas imperialistas e das políticas capitalistas de Israel na AP desde as eleições gerais Palestinas de janeiro, que deram uma derrota arrasadora à FataH, a força política dominante entre os Palestinos nos últimos 40 anos. Por outro lado, o Hamas, apesar de sua retórica anti-imperialista, não tem uma estratégia viável para levar as massas Palestinas a uma libertação nacional e social genuína.
É uma organização cujos lideres praticam políticas de divisão, teocráticas e contra a classe trabalhadora. Quando eles assumiram recentemente o controle dos conselhos locais na AP, fizeram cortes em postos de trabalho e serviços, e venderam propriedades dos conselhos.
A vitória do Hamas foi um golpe sensacional aos planos imperialistas de “democratizar o oriente médio”, substituindo regimes existentes com outros mais complacentes com os interesses ocidentais.
Que vexame para Bush! Sua resposta pública à eleição foi “Nós apoiamos a democracia, mas isso não quer dizer que tenhamos que apoiar governos eleitos como resultado da democracia”. Depois destes comentários o imperialismo dos EUA e seus aliados se moveram para derrotar imediatamente a nova administração do Hamas mediante o corte de toda ajuda econômica aos territórios e na realidade tratar de destruir o pouco que resta da infraestrutura da AP.
O orçamento da AP é aproximadamente de US$1.9 bilhão por ano, dos quais US$1.3 bilhões vêm dos EUA e impostos coletados em nome da AP pelas autoridades israelenses.
Junto a isto, o capitalismo israelense usou as Forças de Defesa de Israel para exercer uma pressão militar massiva sobre a AP e um terrível castigo coletivo sobre sua população. Nos últimos dois meses as FDI têm jogado 6.000 projéteis em Gaza bombardeando zonas que estão somente a cem metros de residências civis.
As sanções econômicas e a campanha militar tem tido um efeito terrível sobre as vidas de milhões de pessoas. Os hospitais tem ficado sem suprimentos, de maneira que há gente morrendo de insuficiência renal. As mulheres palestinas estão vendendo suas jóias familiares por uma miséria para conseguir que suas famílias vivam a um passo da inanição.
Dor Alon, uma companhia israelense que mantêm o monopólio do fornecimento de combustível para Gaza e a Cisjordânia cortou os suprimentos no começo de maio usando como desculpa o não pagamento das contas. Isto apesar do fato que a autoridade israelense tem retido os US$50 por mês que coleta em impostos em nome da Autoridade Palestina e que é usado normalmente para pagar o fornecimento de combustível.
Os dois bancos que fornecem moeda estrangeira à AP também anunciaram ao mesmo tempo que estavam detendo o fluxo de moeda à AP porque estavam preocupados de serem perseguidos pelos tribunais dos EUA por ajudar “organizações terroristas”.
Esta campanha não tem nada a ver com o suposto caráter terrorista do Hamas. As autoridades israelenses, norte-americanas e da União Européia, todas elas tem negociado com representantes do Hamas durante anos.
Imperialismo
O imperialismo quer obrigar o Hamas a aceitar o direito do estado de Israel a existir, implementar os acordos de paz anteriores e anunciar o cessar definitivo do fogo.
Esta é uma tentativa de colher numa armadilha e castrar a administração do Hamas e usa-la para controlar e fazer retroceder as massas palestinas que estão cada vez mais furiosas por seu sofrimento. Está bastante claro que este seria o primeiro passo para forçar a saída do Hamas do governo e trazer de volta a Fatah como sócio principal de um chamado governo de unidade nacional como parte de um “golpe sigiloso” desenhado pelos EUA.
Os líderes do Hamas, cujo governo enfrenta a bancarrota iminente passaram à ofensiva. Mais de 165.000 empregados do governo não têm sido pagos por mais de três meses.
Estes trabalhadores e membros das principais agências de segurança são os provedores, segundo estimativas, de 1.5 milhões de outros palestinos na AP. O colapso na pobreza tem sido repentino e catastrófico e tem alimentado um enorme descontentamento entre os combatentes da Fatah, ostensivamente empregados pelo governo como parte das forças de segurança. O Banco Mundial recentemente produziu um informe no qual se disse que seus cálculos anteriores de que os Palestinos veriam uma queda de 30% em seus ingressos pessoais era uma subestimação.
Um dos líderes do Hamas, Mashaal, declarou que a Fatah estava cooperando com o imperialismo norte-americano e o governo israelense para minar o governo democraticamente eleito do Hamas. Isto foi seguido pelo anúncio da administração anunciando a organização de uma nova milícia organizada com batalhões de combatentes do Hamas. Como resultado a Fatah mobilizou suas milícias exigindo o pagamento dos salários e protestando contra os comentários de Mashaal. Uma série de assassinatos de represália logo se espalhou por Gaza e a Cisjordânia.
Foi a apresentação de um novo plano proposto por prisioneiros da Fatah e Hamas nas duas últimas semanas o que acelerou o tempo dos desenvolvimentos políticos e causou dificuldades ao governo do Hamas.
O plano dos prisioneiros propunha a idéia de criar um estado palestino no território limitado pelas fronteiras anteriores a 1967 (quando o capitalismo israelense ocupou pela primeira vez os territórios de Gaza e a Cisjordânia) com Jerusalém Oriental como sua capital.
Isto efetivamente implica o reconhecimento implícito do estado de Israel, algo que nacionalmente o Hamas não está preparado para fazer formalmente.
Embora haja um chamado ao retorno dos refugiados palestinos a seus lugares e aldeias ao longo da Palestina e Israel, está claro que não poderia fazer movimento nesta questão com a repetição da posição de 2002 dos líderes árabes de que não haveria direito automático de retorno sem compensações.
A razão desta iniciativa é que Abbas quer minar o Hamas e retomar o controle da AP. Está plenamente respaldado pelo imperialismo ocidental em seu objetivo. Mas a elite palestina também está desesperada e trata de reconquistar a iniciativa à luz da ameaça do primeiro ministro israelense Olmert para impor uma solução unilateral às fronteiras entre Israel e AP.
Abbas aumentou a pressão ameaçando chamar um referendo se a administração do Hamas não firmar o documento dos prisioneiros. O referendo tem sido fechado para fins de julho.
Este é um alto risco estratégico para Abbas, no momento há uma maioria favorável a votar no referendo mas nas duas últimas semanas tanto os prisioneiros da Jihad Islâmica como do Hamas tem retirado seu apoio ao documento.
A questão do referendo pode se transformar em outro foco de conflitos armados entre as milícias do Hamas e da Fatah e não necessariamente se concretizará.
Embora o grupo dos quatro (Nações Unidas, EUA, União Européia e Rússia) ofereceu um trato para enviar US$50 milhões por mês em pagamentos de emergência através do escritório de Abbas para pagar os mais necessitados, isto somente alimentará tensões e fricções entre Hamas e Fatah.
O que é claramente necessário é reafirmar os interesses da classe trabalhadora e do campesinato pobre nesta situação.
Mesmo se ganhar apenas o apoio de um pequeno punhado inicialmente, a necessidade de construir um movimento unido da classe trabalhadora sobre políticas socialistas se faz cada dia mais urgente enquanto a situação é cada vez mais perigosa.
Só o Maavak Sozialisti (Luta Socialista), o CIO em Israel, levanta consistentemente essas idéias entre os israelenses e palestinos apesar da complicada situação política.