Momentos decisivos na América Latina

O ataque militar do narco-governo colombiano de Uribe sobre território equatoriano no início de março marca uma etapa mais polarizada e contraditória na América Latina. Alia­do ao aprofundamento da crise econômica nos EUA e seu impacto mundial, o novo contexto latino-americano e internacional coloca enormes des­afios para os trabalhadores e a esquerda socialista no Brasil.

O fortalecimento da direita neo­liberal venezuelana após a derrota de Chávez no referendo sobre a reforma constitucional em dezembro passado vem se juntar aos dramáticos enfrentamentos na fase final do processo constituinte na Bolívia e as provocações da direita nos departamentos da media luna. Se juntarmos a isso os riscos de uma aceleração do processo de restauração capitalista em Cuba com o novo governo de Raul Castro, teremos um quadro onde crescem os riscos de retrocesso do ponto de vista dos trabalhadores.

Confiar na capacidade de luta dos trabalhadores

Por outro lado, a força e capacidade de luta dos trabalhadores, camponeses, estudantes, indígenas e população pobre das cidades ainda existem de forma potencial e real. Países ainda hoje submetidos a governos abertamente direitistas e neoliberais, como o Peru de Alan Garcia, tendem a ver uma retomada de luta de massas, como as recentes mobilizações contra o Trata­do de Livre Co­mércio com os EUA. O impacto da recessão estadunidense sobre o México não será pequeno e poderá despertar a força que vimos em grandes mobilizações como a de Oaxaca e a mobilização de milhões contra a fraude eleitoral em 2006 que levou Calderón.

A crise capitalista também pode criar obstáculos à aceleração do processo de restauração capitalista em Cuba, além de desestabilizar governos hoje estáveis. Por trás da euforia propagandística do crescimento econômico e da ilusão do descolamento dos ‘emergentes’ em relação à crise nos EUA, poderemos ver novas grandes mobilizações por recuperação salarial diante da inflação e contra novos ataques neoliberais visando jogar o peso da crise nas costas dos trabalhadores.

Fracasso das direções nacionalistas

Na região de maior radicalização das lutas na América Latina, o vulcão andino, a direita só volta a levantar a cabeça em razão do fracasso das políticas adotadas pelas direções e governos nacionalistas. A enorme abstenção no referendo venezuelano, que levou à derrota de Chá­vez, representa um sinal claro da maioria da população pobre contra o desabastecimento, a deterioração dos serviços públicos, a corrupção e os riscos de retrocessos democráticos.

A ‘revolução bolivariana’ de Chávez, vista como grande alternativa às políticas neoliberais adotadas no resto do continente, chegou a um impasse. Ou se avança numa direção anti-capitalista e autenticamente socialista ou os pequenos avanços obtidos retrocederão e abrirão espaço para um retorno da direita.

O governo Chávez e a direção chavista do movimento de massas não tiraram as lições corretas dos resultados do ‘2 de dezembro’. Chávez girou à direita, busca mais conciliação com setores capitalistas e chegou a ponto de anistiar os golpistas de 2002 enquanto dirigentes sindicais como Orlando Chirino são perseguidos.

Também na Bolívia, o governo de Evo Morales e Álvaro Garcia Linera viu fracassar sua estratégia de repactuação com os setores mais reacionários da burguesia de Santa Cruz e demais setores oligárquicos. Isso ficou mais do que claro nos conflitos envolvendo a votação do texto final da nova Constituição que, apesar de muito moderada, se deu em meio a um conflito aberto com as oligarquias. As elites bolivianas não aceitarão pacificamente dar nenhuma concessão. As conquistas sociais devem ser arrancadas com a mobilização consciente dos trabalhadores, camponeses e populações indígenas.

A ação militar do presidente colombiano Uribe em território equatoriano é mais um sinal de como o imperialismo estadunidense e a direita mais reacionária retomam a iniciativa. Barrar esse processo só pode ser feito confiando-se na capacidade de mobilização e resistência de massas dos trabalhadores e não através de mais e mais concessões à direita e ao imperialismo.

A retomada da ofensiva por parte dos trabalhadores e das massas exploradas na América Latina implica num investimento consciente em sua organização independente de patrões e dos governos. Somen­te organizações baseadas na independência de classe poderão levantar o programa socialista necessário para atender às demandas populares, derrotar o neoliberalismo e promover a integração justa e igualitária da América Latina.

Construindo uma alternativa socialista internacionalista

Depois de realizar sua vitoriosa Escola Latino-Americana em São Paulo com mais de 80 militantes de onze países, entre latino-americanos, europeus, além de companheiros dos EUA e África do Sul, o Comitê por uma Inter­nacional Operária (CIO/ CWI), a organização socialista internacional à qual o SR brasileiro está filiado, fortalece suas iniciativas na região.

Os militantes do CIO/CWI no Brasil, Chile, Bolívia e Vene­zuela lutam para firmar as bases de uma alternativa política diferenciada tanto das posições sectárias e dogmáticas de setores da esquerda, mas também da tendência mais generalizada de adaptação e apoio absolutamente acrítico às direções e governos nacionalistas.

Construir uma alternativa socialista revolucionária internacional na América Latina capaz de dialogar com amplos setores dos trabalhadores e ao mesmo tempo levantar firmemente um programa e uma estratégia socialistas é a grande tarefa e o grande desafio do próximo período. 

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