Uribe é um braço de Bush na América Latina

A invasão da Colômbia sobre território equatoriano, em uma ação contra as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que levou à morte de Raul Reyes, número dois da guerrilha, trouxe o medo de uma possível guerra no continente.

A invasão do Equador foi justificada pela Colômbia como necessária para combater o terrorismo, numa clara referência à resolução da ONU que permitiu o ataque dos EUA ao Afeganistão. O que não foi uma grande surpresa, já que Uribe, presidente da Colômbia, tem sido tutelado por Bush, o maior defensor da “Guerra contra o terror”.

Plano Colômbia

O “Plano Colômbia”, voltado para acabar com o tráfico de drogas e as FARC, é o maior exemplo da intrínseca relação entre estes países, que agora aprovarão um tratado de livre comércio. Mais de quatro bilhões de dólares já foram destinados para a Colômbia só nos últimos anos, assim como ajuda técnica militar que faz deste país a maior força bélica no continente. A Colômbia ainda contará com uma nova ajuda americana, de 3,9 bilhões de dólares, para os próximos sete anos.

Como o melhor amigo dos EUA na América Latina, Uribe dança conforme a música dos imperialistas. A recompensa para quem trouxesse Reyes, vivo ou morto, era de 2,7 milhões de dólares, mais um indício que revela a política de que tudo vale para enfrentar as FARC, até apoiar os paramilitares. Criados para combater as FARC, os grupos paramilitares utilizam de ação violenta, tortura e assassinatos bárbaros. Além dos muitos milhares de camponeses obrigados e deixar suas terras, o número de vítimas fatais dos paramilitares é estimado em pelo menos dez mil pessoas. Esta realidade é mantida com a impunidade dos burgueses e políticos que apóiam os “paras”.

Paragate

No ano passado o governo de Uribe esteve envolvido em um escândalo que evidenciava seu envolvimento com os paramilitares. O que ficou conhecido como “Paragate”, levou a chanceler Consuelo Araújo a ter que se afastar do governo, além da prisão de vários parlamentares governistas e do ex-chefe da inteligência colombiana, Jorge Noguera Costa. Porém, estes pegaram penas curtas, que seriam cumpridas em suas luxuosas casas.

A Colômbia é o país que possui maior índice de morte de sindicalistas, dirigentes dos movimentos sociais e da esquerda. Mantendo essa política repressiva e violenta contra as FARC, o governo controla as lutas sociais e tenta paralisar a força dos trabalhadores.

As FARC foram criadas em 1964 como reflexo das enormes desigualdades sociais e puderam crescer a ponto de serem vistas pelos serviços de inteligência dos EUA como força capaz de tomar o poder na Colômbia nos anos 90.

As FARC, porém, perderam grande parte de seus objetivos iniciais. Hoje sua luta não vai muito além do objetivo de não ser esmagada pelo governo e pelos paramilitares, já que Uribe deixa clara sua posição de não querer negociar. Os seqüestros e a cobrança de taxas ao narcotráfico refletem muito mais uma necessidade de sustentar-se materialmente do que objetivos políticos revolucionários.

Sabotagem contra negociações de refens

A morte de Reyes é a maior demonstração dessa política intransigente por parte de Uribe, pois ele era o responsável nas FARC pela negociação de liberação do reféns. Uribe é criticado por ex-reféns e familiares dos aprisionados pelas FARC, que pedem para que o presidente aceite a desmilitarização de duas cidades, Pradera e Flórida, para que haja a troca de 40 reféns por 500 guerrilheiros, presos na Colôm­bia, numa negociação intermediada pelo presidente da Vene­zuela, Hugo Chávez. 

Entre os seqüestrados está Ingrid Bettancourt que, por possuir cidadania francesa, acabou provocando o envolvimento do governo da França nas negociações. Ingrid foi senadora e candidata a presidência em 2002 e poderia se transformar numa potencial adversária do próprio Uribe que tenta criar condições para uma nova reeleição. Não é difícil imaginar porque Uribe não tem nenhum interesse em sua libertação.

A possibilidade de um acordo global que leve ao desarmamento da guerrilha está praticamente descartado em razão da postura de Uribe e também da experiência dos anos 80 quando setores guerrilheiros depuseram armas e se integraram à luta política institucional, mas acabaram sendo massacrados aos milhares pelos paramilitares com apoio do governo.

Milhões de desalojados pelo terror

O ‘Plano Colômbia’, sob o pretexto de acabar com o narcotráfico, está acabando com o meio ambiente, utilizando técnicas de fumigação com inseticidas lançados nas plantações de coca, matando os rios, esgotando a terra e desalojando centenas milhares de pequenos agricultores. Algo como 10% da população, entre 3 a 4 milhões, estão desalojados, metade tem menos de 15 anos.

Para enfraquecer e dividir os trabalhadores latino-americanos, o governo Bush nos EUA “pinta” as FARC como terroristas e as vinculam a Chávez e Correa, criminalizando assim, os regimes de esquerda da América Latina. 

Mesmo que apresentem uma suposta preocupação com a ligação de Uribe com os paramilitares, os democratas americanos em nada divergem da política ofensiva de Bush “contra o terror”. Em uma declaração pública, Hillary Clinton, pré-candidata democrata a presidência dos EUA, afirma que “Chávez deve parar imediatamente com as suas provocações” e continua, “a Colômbia tem todo o direito de se defender de organizações terroristas”.

Isolado no continente, Uribe só recebeu apoio direto de Bush. Mesmo assim a reunião da OEA (Organização dos Estados Ame­ricanos) e do Grupo do Rio (fórum criado para mediar conflitos no continente) não foram explícitos na condenação de Uribe, limitando-se a fazer menções genéricas sobre a defesa da soberania sobre os territórios de cada país.

Unidade dos trabalhadores

Somente a unidade dos traba­lhadores latino-americanos pode garantir a paz e integração solidária entre os diferentes países da região. A perspectiva de uma federação socialista dos países da América Latina é a única alternativa autêntica à submissão ao imperialismo e sua política de dividir para dominar.

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