Campanha eleitoral em quatro estados
Informe das eleições no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Ceará
Avanços e retrocessos no Rio de Janeiro
Paulo Gajanigo, PSOL Rio de Janeiro
Viemos de uma eleição na qual a burguesia tentou consolidar uma falsa polarização entre PSDB e PT. Também no estado do Rio de Janeiro essas falsas polarizações ficaram claras. Num movimento como o poema “Quadrilha” de Drummond, Lula que apóia Sergio Cabral que apóia Garotinho que apóia Alckmin que apóia Denise Frossard, que não apóia ninguém, mas depois apóia Alckmin! Nessa quadrilha só nós não entramos na dança!
De modo geral, as eleições cariocas significaram uma vitória para a direita. Sérgio Cabral é a figura mais representativa da continuidade. No âmbito estadual liga-se à política dos oito anos de Garotinhos. Recebeu fundamentalmente os votos que elegeram Anthony e Rosinha. Frossard ficou relegada à oposição de direita à Garotinho por parte dos ‘cosmopolitas’ da cidade do Rio de Janeiro, onde consegui o percentual mais próximo de Cabral. No âmbito federal, Sergio Cabral foi o aliado de Lula e da continuidade dos quatro anos de traição.
Para o senado, Francisco Dorneles, do PP fez uma campanha agressiva contra as bandeiras da esquerda, especialmente em relação tema do aborto, sob o qual participou da forte campanha de calúnia e difamação em relação a Jandira Feghali (PCdoB) – cartazes da candidata manchados de sangue, panfletos e sermões em missas fizeram parte dessa campanha contra a descriminalização do aborto.
Dorneles vai para Brasília levando junto uma forte bancada de direita para a câmara federal. A expressiva maioria dos eleitos são dos partidos tradicionais da direita. O PT penou para conseguir levar sete deputados, deixando, por exemplo, Biscaia de fora. O mesmo ocorreu para a Assembléia Legislativa.
Há, porém, nessa enxurrada dois pontos de resistência. Apesar da perda que representou a não reeleição de Babá, o PSOL conseguiu reeleger Chico Alencar para a Câmara e eleger o professor de história e militante dos direitos humanos Marcelo Freixo para a Assembléia Legislativa. A eleição desses dois companheiros foi uma grande vitória para um partido que há um ano e meio atrás ainda corria atrás de assinaturas para se legalizar.
O Rio de Janeiro foi o estado que conseguiu mais votos para a candidatura de Heloisa Helena: 1.425.699 votos, 17,13% (20% na capital). Um resultado magnífico para o PSOL e a Frente de Esquerda. A boa votação de Heloísa Helena foi sentida na campanha, a indignação e a identificação da revolta na figura da senadora foram os sentimentos encontrados nas ruas cariocas. Porém, o PSOL não conseguiu intervir com a mesma força que vinha das ruas.
Boa parte disso se explica pela imaturidade do partido. Mas, durante a campanha eleitoral e, em certa medida antes dela, as estruturas partidárias funcionaram de maneira débil. O órgão executivo permaneceu sem reuniões no último mês de campanha e a campanha era praticamente dirigida por uma comissão de representantes de campanhas proporcionais do PSOL. Os núcleos não mantiveram seus calendários.
As conseqüências dessa desorganização são claras. Sem órgãos do partido funcionando bem é muito difícil manter as finanças do partido para a eleição; o calendário eleitoral é pouco planejado; é mais difícil ter órgãos de base da campanha como comitês de campanha de Heloísa Helena – que poderiam ser impulsionados pelos núcleos do partido; não se consegue transferir todo o potencial de apoio ao partido para um crescimento do número de militantes; e por último, dificulta decisões sobre o rumo da campanha pelos militantes do partido.
É esse último fator o maior nocivo. Sem uma estrutura partidária real, a pressão eleitoral torna-se muito mais forte. O programa eleitoral, por exemplo, sofreu com isso, pois acabou por se distanciar do programa deliberado na Direção Nacional. Sem uma estrutura partidária, em que instância seria possível exigir que o programa eleitoral do partido fosse seguido?
A campanha no PSOL no Rio foi uma vitória acima de tudo. Com ela, o PSOL conseguiu dialogar, discutir os problemas dos trabalhadores cariocas. Isso foi sentido no apoio a Heloísa, como já dito, mas também no fato do PSOL começar a aparecer como uma possível alternativa de instrumento para os trabalhadores.
Num estado de grandes desigualdades, extrema pobreza e forte repressão policial, é imprescindível um instrumento de classe eficaz. O PSOL tem chance de ser esse instrumento, para isso precisamos reorganizar o partido, fortalecer as instâncias como espaços de discussões e deliberações, aprofundar as relações com os movimentos sociais e ampliar nossa militância.
Recompor o PSOL em São Paulo
A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio ficou em quarto lugar obtendo 532.470 votos o que equivale a 2,49%. Para deputado federal obtivemos 295.933 votos de legenda e a soma dos candidatos chegou a 156.523 votos, o que permitiu reeleger o Ivan Valente, mas foi insuficiente para reeleger o Orlando Fantazini.
Para deputado estadual obtivemos 363.685 votos na legenda e 205.290 votos nos candidatos, que permitiram eleger dois deputados à Assembléia Legislativa. A eleição do vereador de São Paulo, Carlos Giannazi, e do vereador de Sorocaba, Raul Marcelo, significam um avanço para o PSOL, uma vez que não tínhamos nenhum deputado estadual.
Por outro lado, a campanha eleitoral expôs as fragilidades do PSOL, tanto políticas como organizativa, fazendo com que o partido fosse incapaz de organizar em suas fileiras os milhares de simpatizantes que se aproximaram do PSOL e da candidatura de Heloísa Helena.
A priorização da eleição de certas candidaturas, em detrimento das instâncias, colocou o partido a reboque das visitas de nossa candidata a presidenta, quase nunca planejadas, e quando planejadas, só atendendo aos interesses de algumas candidaturas como as de Ivan Valente e Orlando Fantazini. O resultado disso foi uma militância sem entusiasmo e insatisfeita com os rumos da campanha.
A disputa pelos 26 segundos do horário eleitoral paralisou a campanha, levando a quase ruptura da Frente de Esquerda, o que significaria um desastre para todos os partidos que a compunham e o enfraquecimento da unidade da esquerda simbolizada na Frente.
A campanha de Plínio de Arruda Sampaio, que na nossa avaliação teve um perfil político mais correto dentro do que esperamos de uma candidatura socialista, foi colocada de lado pela maior parte dos candidatos a deputado. Nas últimas semanas, a boa participação de Plínio nos debates, deixou claro o enorme potencial que tinha sua candidatura.
O fato das correntes majoritárias do PSOL terem como prioridade a reeleição de seus candidatos fez com que estas secundarizassem as instâncias do partido. O GTE (Grupo de Trabalho Executivo) só foi lembrado nos momentos em que os acordos entre essas correntes era impossível. A Coordenação Estadual foi absolutamente ignorada e os núcleos só eram úteis enquanto base de apoio.
Nós do SR em São Paulo, defendemos o chamado ao voto na legenda, ou seja, nenhum candidato chamaria voto para si, mas sim utilizariam o tempo de TV para denunciar as políticas neoliberais do governo Lula e dos tucanos e fazer propaganda das idéias do partido. Também defendemos atividades que juntassem os militantes para discutir, opinar e decidir os rumos da campanha. Infelizmente, prevaleceu o cada um por si.
Agora é necessário fazer o balanço político da campanha, reconstruir os núcleos, organizar um bom pré-congresso e garantir uma intervenção nas lutas contra as reformas da previdência, sindical e trabalhista do governo Lula e a privatização do metrô, o aumento das tarifas de transporte e os ataques à educação promovidos pelo PSDB/ PFL e Serra.
A campanha no Paraná
Denis Barão e Vinicius Prado, PSOL Paraná
Isso se refletiu nas urnas. Obtivemos cerca de 15 mil votos, distribuídos em todas as regiões do estado. Entendemos que esse resultado é o reflexo ainda da baixa inserção do nosso partido nas bases sociais, mas também representa o voto ideológico e de aproximação com nosso projeto de sociedade. Quem votou no 50, votou pelo socialismo.
Já em relação a candidatura da Frente de Esquerda Paraná ao senado, encabeçada pelo PSTU, podemos apontar alguns problemas, pois este partido demorou pra chamar voto em Heloísa Helena, não chamou voto para nosso candidato a governador, bem como em momento algum citou a Frente de Esquerda Paraná, em suas inserções televisivas.
Já no segundo turno, a executiva estadual do PSOL orientou os militantes pelo não apoio para nenhum dos dois candidatos e, como aconteceu nacionalmente, alguns companheiros, ligados ao Enlace, fizeram declarações de votos ao Lula e ao Roberto Requião. Nós do SR do Paraná condenamos essa postura.
As candidaturas proporcionais do PSOL foram muito heterogêneas. Havia candidatos com muito ‘estrelismo’ e egocentrismo, sem compromisso com a construção partidária. Nesses aspectos, nós do SR decidimos apoiar para deputado estadual a candidatura do companheiro Rafael Truta, estudante de filosofia da UFPR, candidato da juventude do PSOL-PR. Mas, na militância percebemos que muitos jovens militantes do PSOL de nosso estado, têm compromisso apenas com o crescimento de sua corrente, deixando a candidatura de juventude, quase às minguas.
Para deputado federal, apoiávamos o companheiro João Luis Stefaniak, militante independente no Partido, que demonstra ser um dos militantes mais combativos e coerentes, com inserção no MST e sindicatos de Ponta Grossa (PR), defendendo sempre um PSOL classista e combativo, contra as tentativas de levar o PSOL mais à direita.
O PSOL no Ceará
O partido tem que esclarecer a sociedade que isso é uma falácia e mostrar que o ideário e o receituário da política dos Ferreira Gomes (Cid e Ciro Gomes) são de que o mercado financeiro tem sempre que sair ganhando.
Tanto a aliança PSB/PT quanto o PSDB tem a função de parasitar o Estado, praticando políticas de loteamento e desfavorecendo o funcionalismo público.
O PSOL nasceu como uma ruptura na esquerda para manter vivas as bandeiras anti-capitalistas e socialistas. Lutamos para encontrar um espaço de debate e luta na sociedade para defender essas bandeiras.
Para ser coerente com essa política é preciso ter uma posição clara em relação à Prefeitura de Fortaleza que está sob a batuta de Luizianne Lins (PT) e que deu todo apoio e suporte a candidatura elitista de Cid Gomes.
Em relação a isso, cobramos um posicionamento claro do deputado federal do PSOL em nosso estado, João Alfredo. O PSOL terá que assumir um lado e esse tem que ser da classe trabalhadora, do pobre, do jovem, da criança, da mulher, do idoso e do menino de rua. Não pode ser o lado de qualquer governo atual.
Defendemos o rompimento dos militantes do PSOL e do deputado João Alfredo com a prefeitura, entregando seus cargos, por ser uma administração que não leva em consideração as demandas advindas do povo alencarino.
O Ceará está nadando numa crise sem precedentes e é impossível crescer e se desenvolver sem um combate direto aos grupos dominadores.
O povo do Ceará já mostrou na história que é capaz de lutar por transformações, como na formação da Confederação do Equador e derrubando a oligarquia Accioly.