A Verdadeira História do Militant
Capítulo Três – Políticas prévias requentadas
É possível visitar web sites e jornais de organizações que divergiam conosco, mas continuar encontrando algo fresco. Não se pode dizer o mesmo do web site de Grant/Woods, que devido a seu tom acadêmico não é atrativo para jovens trabalhadores em especial, os que buscam uma alternativa de luta socialista. Isto não impede Woods de declarar, com a modéstia que lhe é peculiar: “Muito poucos discutiriam que nosso web site é o melhor do mundo”. Deixando de lado que estes “poucos” são a maioria, isto indica que se trata de um “grupo virtual”, sem nenhuma força real no movimento. Sewell não pode informar nada desde a cisão (dez anos atrás), exceto o lançamento de seu web site.
Ainda mais, quando comparam o Socialist Party a seu próprio Socialist Appeal, sempre é o primeiro e não o último que é comparado com o Militant, admitindo portanto que nós somos os herdeiros reais desta tradição contínua de luta. Nenhum alarde ou bravata de Woods, Grant e Sewell pode ocultar isto.
Qual é o balanço?
De acordo com a própria admissão de Sewell, eles se reduziram a um resíduo depois de sua decisão de separar-se de nós, tendo coletado recursos de antemão para poder financiar suas próprias instalações de imprensa, retendo cotizações etc. E terminaram como um resíduo, sem conseqüências para o movimento dos trabalhadores, e nunca são mencionados por outros grupos, mesmo os mais pequenos da Grã-Bretanha.
Sewell trata de consolar a si mesmo com o conto de fadas de que eles conservaram a maioria do CIO. Benditas estas ilusões se lhes fazem bem. Como diz o provérbio russo: “Apreciamos o engano que nos levanta o ânimo mais do que mil verdades agonizantes”. Basta apenas um fato para indicar o ridículo que é a conclusão de Sewell. Na lista, muito pequena a que dizer, das seções do CIO que saíram com eles, colocam a Dinamarca na relação dos que estavam com a “oposição”, mas este grupo consistia apenas de três pessoas. Até onde sabemos, desde então continuam sendo três pessoas, e agora com diferenças com eles. Na Bélgica superamos dramaticamente os que se foram com Grant e cia e somos provavelmente seis vezes seu tamanho, com uma diferença proporcional ainda maior na Alemanha e em muitos outros países. Na Irlanda, tanto no norte como no Sul, eles não tem nada. Na Irlanda do Sul, o Socialist Party, que é parte do CIO, tem um deputado muito conhecido, Joe Higgins, e esteve perto de conseguir um segundo deputado nas recentes eleições gerais, tem vereadores, um movimento de juventude significativo e em crescimento, e é amplamente visto como uma parte importante e dinâmica da esquerda. Na Grécia, Sewell, sem conhecer a situação real, trata de dizer que houve uma divisão “meio a meio”, mas que os operários foram com eles. Nada pode estar mais longe da verdade. Sua organização grega, também se dividiu, com uma parte abandonando finalmente a idéia que o PASOK segue sendo uma área de trabalho viável.
Todas as forças mais vitais que estiveram envolvidas na construção de uma organização viável na Suécia, com um periódico semanal, vieram conosco na divisão de 1991, e são um componente importante do CIO. O grupo Grant é virtualmente inexistente ali, sua figura principal é um individuo muito rico que ocasionalmente aparece nas manifestações para distribuir panfletos. Eles conseguiram manter uma presença na Espanha, através do Sindicato de Estudantes com apoio do estado, mas sem ganhar forças substanciais da imensa juventude radicalizada que existe nesse país.
Obrigado a enfrentar a realidade, mesmo este grupelho se tem visto obrigado a rever sua posição sobre os ex-estados stalinistas. Mas isto não pôs fim às suas trapalhadas. Por exemplo, eles caracterizam o Partido “Comunista” russo como uma “organização tradicional” dentro da qual as forças fundamentalmente ilusórias de Woods e Grant e todas as forças marxistas e socialistas conscientes deveriam trabalhar. Até a pouco, este partido representava a parte da burocracia que perdeu na repartição do butim que seguiu o colapso da economia planificada nos anos 90 (veja o recente documento do CIO sobre as Relações Mundiais para comentários sobre isto)
A posição do grupo Grant/Woods sobre continuar trabalhando nas chamadas organizações tradicionais é tão absurda, frente à verdadeira situação existente, que depois que Grant tenha abandonado a cena, Woods y Sewell provavelmente a jogarão fora como uma chapa quente. De fato, no “epílogo” de Sewell, este assunto apenas é mencionado exceto em retrospectiva em relação com sua cisão em 1990-1991 do CIO.
Woods está mais preocupado com assuntos de prestigio pessoal que de princípios, estratégia e tática corretas. Pode dar as reviravoltas políticas mais surpreendentes e vincular-se com gente que até agora tem sido condenadas incessantemente como “seitas”.
Testemunho disto é a recente carta aberta de Woods a um grupo na Argentina, o Partido Obrero (PO) sobre a questão da “Assembléia Constituinte”. O que mais chama a atenção é o tom persuasivo de Woods ao invés das severas palavras denunciatórias de Sewell e Grant em seu livro para todos os que eles designam como “seitas”. (Logicamente eles são menor seita de todos)
Colaboração com nacionalistas de direita.
Esta gente também se ligou com o grupo Bietz em Moscou, que diz ser “marxista”, mas é lúmpem em sua composição social e métodos. (Recentemente teve quatro cisões,e um individuo foi expulso por promover o homossexualismo). Quando falei num encontro público no 1° de maio de 1998, convocado por nosso partido na Rússia, “Resistência Socialista”, que é a organização trotskista mais numerosa e a única em escala de toda a CEI (ex-URSS), fui confrontado com o grupo Bietz, querendo fazer-me calar.
Os seqüentes são comentários de nossos camaradas em Moscou sobre os membros do CEI de Woods: “Uma vez que foram incapazes de entender a nova situação política que seguiu ao colapso do stalinismo, o grupo Grant-Woods enfrentou uma crise, nenhum grupo com qualquer experiência no movimento real poderia aceitar sua posição estéril e dogmática, baseada como era no passado histórico das décadas de 70 e 80, assim não lhes resta outra opção que buscar qualquer grupo que estivesse disposto a trabalhar com eles em qualquer condição. “Um deles é a seita russa que se chama a si mesma Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT),que Rob Sewell chama de “Democracia Obrera”, sabendo que o próprio nome deste grupo causaria incômodos em suas fileiras.
O líder deste grupo, Sergei Bietz, uma vez foi membro do CIO. Sua retórica revolucionária provou não ser mais que uma fina roupagem, quando, em agosto de 1991, nas primeiras horas do golpe contra Gorbachov se negou a sair às ruas e preferiu vê-lo pela TV. Depois disto, se desenvolveram diferenças ideológicas que levaram a ele e a outros mais a romper com o CIO.
Como justificação teórica para romper conosco sustentou que havia condições russas especificas que significavam que os revolucionários russos não precisavam de uma internacional. Depois da saída manteve um pequeno grupo ultra-sectário ao redor de si, cujo maior objetivo na vida parece ser boicotar as atividades do CIO. Alimentado pelo rancor pessoal encontrou, ao que parece, um verdadeiro amigo em Alan Woods, forjando um acordo de princípios não sobre a base do programa político, mas do ódio ao CIO.
As palhaçadas deste grupo já foram extremamente incômodas para Ted Grant no passado. Mostram todos os rasgos de um grupo sectário, desde suas estritas exigências de uma revolução violenta e falta de compreensão do programa de transição a uma desonestidade total sobre seu tamanho e influência. Estão preparados para unirem-se com qualquer um para atacar o CIO.
Seus numerozinhos no encontro público organizado pelo CIO em Moscou em maio de 1998 em que habitou Peter Taaffe, eram típicos. Nesta época o CIO estava muito ativonuma campanha antifascista cujo principal objetivo era o assim chamado Partido Nacional Bolchevique dirigido por Limonov, uma organização nacionalista de direita que atraiu um monte de jovens usando símbolos aparentemente radicais como o de Che Guevara, mas cujos ideólogos principais eram fascistas. Por exemplo usavam a braçadeira Nazista, com a única diferença que substituíram a suástica pela foice e o martelo. Quando alguns destes grupos apareceram na reunião, o moderador anunciou que não lhes permitiria falar. A metade da reunião irrompeu em protesto, acusando-nos de ser judeus. Imaginem nossa surpresa ao ver Bietz animando-os e Woods sorrindo tranqüilamente.
O grupo Bietz está carregado com todos os problemas que Sewell diz que falsamente existem no CIO. Devido a seus disparates ultraesquerdistas é incapaz de construir qualquer trabalho em longo prazo em nenhuma região. Sob pressão de Woods, alguns de seus membros tem aceitado trabalhar no Partido Comunista. Mas o fazem da maneira que uma vez Ted Grant tanto criticou no grupo de Healy. Não defendem um programa, mas fazem grandes concessões aos jovens stalinistas que tentam ganhar.
Um exemplo recente ocorreu quando um de seus membros, numa reunião interna, defendeu incluir algumas reivindicações dos homossexuais. Bietz o rechaçou, depois que todos os jovens stalinistas ficaram horrorizados. Em lugar disto este membro foi acusado de promover a homossexualidade e prontamente foi expulso. Para assegurar a maioria, um grupo de stalinistas foram incorporados, mas é claro que depois eles saíram.
A ironia é que ainda que o CIO não espere, em qualquer momento, um grande ingresso de trabalhadores no PC, devido a sua posição de princípios é o CIO que tem ganhado jovens comunistas, verdadeiros lutadores trotskistas, como Iomur Kurmanov.
O PRT é similar a seu malogrado homônimo britânico em mais coisas que apenas seu nome. Sua falta de princípios políticos, sua demagogia ultraesquerdista e seu rechaço a discutir os preconceitos reacionários dos stalinistas, faz o grupo particularmente atrativo somente a um tipo de “revolucionários”, não o trabalhador ou estudante pensante mas ao demagogo lumpenizado que desfruta de aventuras ultraesquerdistas, mas é incapaz de enfrentar o trabalho paciente e escrupuloso, incluindo o estudo teórico, necessário para construir uma verdadeira organização revolucionaria.
Nas últimas semanas parece que o PRT russo está a ponto de implodir da mesma maneira que os Healystas britânicos. Tem sofrido uma onda de expulsões e divisões, além de uma luta pelo controle de seu web site, mais ou menos a única coisa que mostra um sinal de vida em seu grupo. Qualquer um que não está de acordo com Woods e Bietz é rechaçado pelas razões mais sem princípios. Nestas circunstâncias, com a falta de qualquer vestígio de democracia interna, os subsídios pagos pelo grupo Grant jogam um papel adicional corruptor, quem não está de acordo perde seus subsídios e tendo menos membros há mais dinheiro a receber na divisão. Ao contrário disso o CIO está ganhando uma reputação de lutadores com princípios pela classe trabalhadora e conseqüentemente continua crescendo e expandindo sua influência.
A questão nacional
Woods intervira na reunião anteriormente mencionada numa tentativa de explorar as diferenças que surgiram entre o CIO e o Partido Socialista na Grã-Bretanha de um lado, e nossos então camaradas na Escócia de outro lado, sobre a questão de criar um partido socialista amplo, o Partido Socialista Escocês. Esses camaradas ao mesmo tempo também propunham a liquidação da tendência revolucionária dentro deste partido, o queinfelizmente fizeram. Woods acusou a mim e ao CIO de capitular ao “nacionalismo” escocês, porque estávamos preparados a apoiar a idéia de uma Escócia Socialista independente como um passo até a Confederação Socialista da Inglaterra, Gales e Irlanda. A reunião foi informada que esta não era a primeira vez que Alan Woods havia feito erros fundamentais sobre a questão nacional. Ele é de origem galesa e no passado negou que Gales fosse uma “nação” até que foi corrigido por mim e Ted Grant.
Apesar disto, Woods ainda seguia escrevendo quase dez anos mais tarde em relação à questão nacional no Leste Europeu, especificamente a Iugoslávia, o seguinte: “as aspirações nacionais e o direito à autodeterminação não são, e não podem ser, absolutas. Tal demanda em um contexto histórico dado pode ter um caráter progressivo. Mas pode ser completamente reacionário e retrógrado. É necessário a cada caso examinar o contexto concreto, determinar que interesses de classe estão envolvidos… Ainda que a questão nacional é muito complicada, geralmente é suficiente pôr o assunto em termos concretos para chegar a uma posição correta. Em 1991, no começo do colapso da Iugoslávia, os autores do presente documento participaram de um debate com alguns autodenominados marxistas, no curso do qual um sectário interrompeu Ted Grant, com um grito atrás da sala: “Qual é sua posição sobre à autodeterminação da Croácia?” Rapidamente Ted reagiu com uma contra-pergunta apropriada: “Que quer dizer? Quer saber se apoiamos os Ushtakis ou os Chetniks?” (Isto é, os fascistas sérvios ou os fascistas croatas). Aquele que interrompeu o orador não fez mais perguntas” (O marxismo e a questão nacional).
Esta é uma surpreendente, para não dizer escandalosa “interpretação” da posição marxista sobre a questão nacional. O direito à autodeterminação das nações oprimidas, incluindo o direito de se separar de um estado particular é uma demanda democrática burguesa, que é absolutamente vital em um programa marxista genuíno. Para os marxistas é axiomático que a parte é subordinada ao todo, assim o direito à autodeterminação está subordinado à luta geral pelo socialismo e, em certos períodos concretos da historia pode chocar com esta aspiração.
Autodeterminação
A autodeterminação para a Saarland em 1935 significava o caminho para a Alemanha de Hitler, dado a composição étnica alemã da população. Os marxistas, sob o conselho de Trotsky, se opuseram a isto porque significava pôr a Saarland sob o tacão do fascismo de Hitler. Na Alemanha em 1989, o CIO estava a favor da reunificação alemã sob uma base socialista e democrática. Mas para começar nos opúnhamos à reunificação alemã sob uma base burguesa, porque isto significaria a liquidação da economia planificada da Alemanha Oriental.
A relação era completamente diferente em relação à Iugoslávia em 1991, a qual, devido ao stalinismo estar em processo de desintegração. É completamente falso dizer que a escolha entre o povo croata ou sérvio era entre diferentes forças nacionalistas fascistas. Era necessário levantar um programa socialista para o conjunto da Iugoslávia, que incorporasse o direito à autodeterminação para todas as nacionalidades que compunham a “federação”, e em particular as nacionalidades que se sentiam oprimidas pelo nacionalismo sérvio dominante da burocracia stalinista em desintegração.
É certo que a ala croata da burocracia iugoslava usou a separação como um palanque para a restauração capitalista. Como apontou o Militant no momento: “O Militant não é partidário do separatismo, mas nós apoiamos o direito de todas as nacionalidades à autodeterminação e mesmo à independência se desejam… O enorme voto majoritário a favor da independência na Eslovênia e na Croácia, animado pelo movimento dos povos ao longo de toda Europa Oriental, reflete a esperança que a secessão de alguma forma pode abolir a pobreza e terminar com o jugo do estado dominado pelos sérvios.”
Os trotskistas deveriam portanto se opor à independência nesta etapa, dado o estado de ânimo amplamente majoritário e o voto a favor dela? A resposta de Woods e Grant é “Sim!” No seu lugar eles contrapunham a fórmula de uma federação balcânica. Esta posição poderia vingar se houvesse uma força marxista genuína com raízes na população. Nesta situação os marxistas poderiam contrabalançar o nacionalismo das forças pró-capitalistas aburguesadas, croatas e eslovenas, não ignorando os desejos da imensa maioria a favor da independência, mas dando-lhe um conteúdo democrático e socialista. Às vezes isto pode significar opor-se a um referendum específico sobre a independência chamando a um voto “Não”, especialmente quando é apresentado em termos que violam o direito de comunidades minoritárias dentro dos estados independentes propostos. Mas mesmo então é necessário posicionar-se a favor de uma independência genuína, com garantias para as minorias, ligando isto ao mesmo tempo com uma Confederação Socialista na região. Em 1991, O Militant sugeriu que isto “significaria a reconstituição da Iugoslávia como uma federação socialista democrática voluntária com plenos direitos para todas as repúblicas e nacionalidades.”
O posterior desmembramento da Iugoslávia, acompanhado por guerras civis étnicas significa que já não é possível defender a volta à “Iugoslávia”, que agora está associada na mente das massas com terríveis massacres e sofrimentos para todas as nacionalidades que a compunha. É por isto que agora propomos a idéia de uma confederação socialista democrática nos Bálcãs. Mas isto de forma alguma significa, como argumentam Grant y Woods, que isto exclua, agora ou no começo dos anos 90, a necessidade do marxismo genuíno de apoiar a luta pela independência ou estabelecimento de estados independentes e socialistas como um passo para a confederação socialista mais ampla na região.
Trotsky era partidário do direito da autodeterminação para Ucrânia, incluindo a separação da Rússia stalinista. Isto se resumia no slogan sugerido: “Por uma Ucrânia independente, democrática e socialista.” Woods e Grant se opuseram a uma posição similar quando se aplicava ao stalinismo em desintegração. Ao invés de combater o nacionalismo, isto nos entrega nas mãos de nacionalistas reacionários de cada nação da antiga Iugoslávia. Deixa o campo aberto para que essas forças apareçam como o campeão dos direitos nacionais dos povos oprimidos sob o stalinismo iugoslavo. É completamente falso argumentar que tanto na Sérvia como na Croácia a população estava seguindo os fascistas croatas da Ushtasi, ou os fascistas Chetniks sérvios.
Lênin escreveu há muito tempo, e isto foi assumido por Trotsky, que o direito à autodeterminação para as nacionalidades oprimidas deveria ser inscrito nas bandeiras do marxismo. Isto permitiria aos trabalhadores e ao movimento socialista ganhar a maioria da nação. Ao mesmo tempo esta demanda deveria ser situada num contexto socialista. É por isto que nos colocamos a favor do direito de autodeterminação mas, acompanhado disto, especialmente nos antigos estados multiétnicos, a idéia de uma federação socialista (O CIO agora alterou ligeiramente esta com a idéia mais precisa de uma “Confederação”). Tudo isto é alheio a este grupelho que opera com fórmulas abstratas, que podem repetir alegremente (erradamente), em escritórios e pequenas reuniões, mas que se evaporariampor completo uma vez aplicadas a um movimento real implicando na luta por direitos nacionais, democráticos e étnicos.
Este assunto é obviamente o Calcanhar de Aquiles de Grant e Woods. Este falou na escola de verão internacional do CIO em 1988, na Bélgica, onde afirmou que: “Em 1917 a questão nacional foi resolvida pelos bolcheviques”. Este é um exemplo típico da predileção de Woods pela hipérbole. A revolução russa e o estado operário democrático que surgiu dela, alcançou maravilhosos efeitos na esfera da questão nacional. Mas não a “resolveu”, o que só poderia ser possível depois de um grande período de desenvolvimento econômico e cultural, junto com o triunfo da revolução mundial. O colapso do stalinismo, e com ele da URSS provocou uma explosão sem precedentes de questões nacionais e étnicas, incluindo a criação de numerosas outras nações que se sentiam encarceradas na prisão da “federação” stalinista, o que era a URSS sob o stalinismo.
O CIO: Intacto e crescendo
O epílogo de Sewell carece completamente de valor para todos que reivindicam serem trotskistas. Nos anos 30 Trotsky dizia que os bolcheviques tiveram suas disputas, mas que nunca se conduziram do modo venenoso que algumas organizações trotskistas com os quais se viu obrigado a trabalhar então. Isto foi produto do isolamento destas forças e da pressão do stalinismo no mesmo movimento trotskista. Mas estas disputas nos anos 30 eram pequenas rinhas comparado com os assassinatos de imagem personalizados, que setransformaram na marca de muitos grupelhos na Grã-Bretanha e internacionalmente nos últimos 50 anos. Este produto da pressão do stalinismo, o epílogo de Sewell é uma expressão particularmente odiosa deste gênero. Fazem-se afirmações sem provas. Atribuem-se declarações a indivíduos sem que seja dada nenhuma fonte. Qualquer intriga de corredores do movimento passa a ser explicação aceita do que aconteceu. Por exemplo, em relação à eleição parcial de Walton, ele cita Dave Nellist dizendo que a decisão de se apresentar sob a bandeira do “Real Labour” era “como perus votando pelo Natal”. Nenhum encontro que algum membro do Militant possa recordar Dave Nellist fez uma declaração semelhante. Ele declarou que “esta afirmação de Sewell do que eu disse não é certa”.
Dave Nellist é amplamente respeitado como um porta-voz da classe trabalhadora e é aceito como alguém de grande integridade. Ele não mentiria e estaria disposto a admitir que fez declarações sem pensar que posteriormente não manteve. Este não é um destes casos. Rob Sewell, age como a imprensa sensacionalista britânica, ao estilo do The Sun; fazendo pouco, fazendo irritante e exagerando.
Há mesmo uma intenção de dizer que Pat Wall os apoiou postumamente. Ele foi um tremendo lutador trotskista durante décadas, um parlamentar marxista, um amigo pessoal meu e de outros na maioria de 1991. Nada pode “provar” que se Pat Wall estivesse vivo apoiaria o grupinho de Grant ou nós. Ainda que seja significativo que seu filho, Simon seja um membro firme do CIO e de nosso partido na Escócia. Mais ainda, Paulina, a viúva de Pat, estava absolutamente horrorizada quando viu que este grupo o reclamava como um dos “seus”. Ela deixou claro a Keith Dickinson que já não era membro do Partido Trabalhista, não apoiava gruo de Grant – Woods, era colaboradora no jornal The Socialist do Socialist Party e em geral estava de acordo com nossa posição sobre o Partido Trabalhista e a construir uma alternativa.
Há numerosos erros de fatos e interpretações nesta suposta “história”, que outros corrigiram. O obituário escrito uma vez mais para o CIO, não é diferente do que esta tendência faz periodicamente, nós estaríamos “colapsando”, estamos de joelhos, porque nos mudamos de um grande local central em Hackney! A realidade é que, como todos os grupos trotskistas no planeta, fora essas organizações que existem numa bolha de fabricação própria, as dificuldades objetivas nos debilitaram em número, mas não ao ponto que eles imaginam. Por razões de espaço é impossível listar aqui os êxitos do CIO, que tem presença em 35 países e em todos os continentes. Mas o CIO tem crescido substancialmente em várias áreas chaves, tais como a Nigéria com 600 membros, na África do Sul, Austrália, Grécia, etc. Na Grã-Bretanha o Partido Socialista tem 1500 membros, publicamos um jornal semanal de 12 páginas, uma revista teórica mensal, e produzimos livros e panfletos em nossa própria imprensa. Um balanço da “influência” do grupo Grant e da nossa mostra que eles estão totalmente ausentes do movimento sindical, das manifestações de massas em número significativo, das lutas contra os fascistas e racistas, das batalhas em nível local nas municipalidades, e assim segue.
Por que dedicamos este espaço a eles agora? Como dissemos no começo é por sua intenção de falsificar a história, à maneira dos stalinistas. São aspirantes políticos de “ladrões de tumbas”. Tratam de reclamar crédito pelos êxitos do Militant nos quais não foram os responsáveis principais. Por exemplo, Sewell apresenta a si mesmo como responsável principal da construção da organização em Galés do Sul. Ele jogou um papel, mas a parte do leão, na construção de nossa influência nos últimos 20 anos, o melhor período de nossa organização na Gales do Sul, foi obra de membros do Comitê Nacional como Alec Thraves e Dave Raid, junto a uma equipe profissional de liberados y militantes de base experientes de Gales.
Um só fato é suficiente para responder as falsas pretensões de Sewell. A maior reunião trotskista que já se organizou em Galés do Sul não foi pelo RCP em Neath, mas pelo Militant em 1986 no distrito de Kinnock em Islwyn. 500 trabalhadores e jovens vieram a esse encontro escutar Dereck Hatton e eu expliquei o caso do Militant em oposição à caça às bruxas desta época. Essa reunião foi organizada primeiramente pelo Comitê Regional de Gales (Sewell estava baseado em Londres nesta época). A luta massiva contra o Poll Tax também foi organizada em Gales do Sul pelos camaradas mencionados.
As tarefas do movimento de massas eram cada vez mais cansativas para esta tendência crescentemente conservadora que se refugia nas pequenas salas de reuniões e estudo. Nossa direção na luta contra o Poll Tax foi um enorme alento para o marxismo na Grã- Bretanha. Junto à batalha de Liverpool mostrou como as idéias genuínas do marxismo e do trotskismo podiam se fundir a um movimento de massas que poderia, no mínimo, obter êxitos parciais numa localidade ou área de trabalho. No processo deixou critérios para lutas vitoriosas, e mesmo hoje é um ponto de referência constante para os que vão à luta; a privatização da ferrovia foi descrita como o “Poll Tax sobre rodas”, a privatização do controle de tráfico aéreo como “Poll Tax no céu”, para citar só dois exemplos. Sem a luta do Poll Tax nós não teríamos ampliado nossa posição na Escócia e Tommy Sheridan não teria sido eleito como parlamentar do Parlamento Escocês, como o foi.
Sem dúvida, não fomos capazes de explorar o Poll Tax suficientemente em termos de aumento da militância por inúmeras razões. Este foi sobre um único assunto e contra o pano de fundo do retrocesso geral no movimento dos trabalhadores devido às conseqüências da greve dos mineiros, o auge econômico que estava acontecendo, e os efeitos do colapso do stalinismo.
Mas a maior barreira foi que continuávamos atados ao Partido Trabalhista e não podíamos fazer campanhas por membros abertamente sob nossa bandeira. Se isto se tivesse agravado seriamente em 1987, teria sido a senha para uma separação quatro anos antes de quando aconteceu efetivamente devido a esta tendência conservadora.
A imagem que dá este grupo de seu renascimento e de nosso “colapso” é uma canção no escuro para manter alto seu espírito. Qualquer papel que alguns deles jogaram na construção de um movimento trotskista viável se esgotou quando romperam com o CIO. Todas as tendências serão postas a prova nos tumultuosos acontecimentos que se aproximam eminentemente e temos confiança que o CIO atrairá para suas bandeiras os elementos mais sérios teoricamente e combativos capazes de reconstruir uma poderosa força trotskista e uma influência de massas que possa mudar o mundo.
Tradução para o português de Diego Siqueira. Versão original disponível no sítio www.socialistworld.net