China: recessão, ataques e lutas

Os trabalhadores chineses estão prestes a enfrentar uma série de demissões em massa na indústria. Devido à desaceleração que atinge o país, o governo planeja mandar embora milhões de operários nos setores mais afetados, como mineração e siderúrgicas. Mas o povo não deixa barato e já começa uma onda de protestos e paralizações contra esses ataques.

A produção de carvão e aço na China caiu mais de 6% nos primeiros dois meses de 2016, consequência dos efeitos da crise mundial e da própria desaceleração da economia do país. O preço do carvão caiu 50% desde 2012.

A maior parte da indústria pesada na China é controlada por empresas estatais, de propriedade dos governos das províncias ou do próprio governo central. A atual onda de demissões é um elemento chave da política econômica do presidente Xi Jiping e visa salvar essas empresas, sem se importar com as consequências para os trabalhadores.

Segundos dados oficiais, mais de 890 mil postos de trabalho foram eliminados nas mineradoras de carvão desde o fim de 2012. Nos próximos quatro anos, o governo planeja demitir mais de 1,3 milhão de trabalhadores das mineradoras e mais de 500 mil na indústria do aço. Mas esses números podem ser ainda piores: segundo analistas independentes, no total, o governo poderá demitir entre 5 a 6 milhões de trabalhadores nas indústrias estatais.

Dessa forma, a situação na China é semelhante à de outros países que passam pela atual crise econômica mundial. Os bancos e as grandes empresas, que foram as principais responsáveis pela crise, exigem bilhões de dólares em auxílios financeiros do governo. Enquanto isso, os trabalhadores e os mais pobres sofrem com desemprego, inflação, salários mais baixos, cortes na previdência e outros ataques aos seus direitos.

O governo de Xi Jiping entende as consequências sociais dessa política e por isso tem aumentando a repressão contra todo tipo de oposição.

Temporada de lutas

Para os trabalhadores nas regiões mais industrializadas, o pesadelo já começou.

A Longmay, de propriedade do governo da província de Heilongjiang, é a maior mineradora de carvão do nordeste da China, com mais de 250 mil empregados. Só essa empresa tem mais empregados em minas de carvão do que os 28 países que compõe a União Europeia. Em setembro, os diretores da companhia anunciaram que, por conta da crise econômica, teriam de demitir mais de cem mil trabalhadores.

No início de março, mais de dez mil operários da Longmay cruzaram os braços por uma semana, exigindo o fim das demissões e o pagamento de seis meses de salários atrasados. Trabalhadores da Longmay contaram para chinaworker.info como sua famílias passam fome, por falta de dinheiro para comprar comida. Ao mesmo tempo, nas províncias de Jilin e Shaanxi, trabalhadores das siderúrgicas e mineradoras também realizaram protestos e entraram em greve.

A China vive uma verdadeira temporada de lutas dos trabalhadores. Em 2015, aconteceram 2.774 greves e paralizações em todo o país – mais que o dobro de 2014. Cerca de 90% dessas paralizações acontecem por conta de atrasos no pagamento de salários.

A paralização dos trabalhadores da Longmay obteve sucesso e obrigou a empresa a suspender as demissões temporariamente e pagar os salários atrasados e outros benefícios, como indenizações por acidentes de trabalho. Entretanto, se essas lutas não seguirem adiante e se unificarem, as vitórias irão se desfazer e os trabalhadores terão de enfrentar ataques ainda mais duros nos próximos meses.

O governo promete medidas de compensação para os trabalhadores demitidos, como indenizações e recolocação em outros setores da economia, como turismo, comércio e indústrias de alta tecnologia. Entretanto, esses novos empregos terão salários mais baixos e, ainda assim, não será possível auxiliar todos os demitidos.

Reformas neoliberais

O Partido Comunista Chinês, de “comunista” tem só o nome. A atual reforma econômica do governo é inspirada claramente no neoliberalismo. As políticas neoliberais foram implementadas primeiro por Margaret Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos nos anos 1980. Na década seguinte, essas políticas foram exportadas para os países da América Latina – entre eles, o Brasil e o resto do mundo.

A missão do neoliberalismo é simples: garantir o lucro das empresas e dos capitalistas. Para atingir esse objetivo, vale diminuir os gastos do governo, sucatear os serviços públicos e privatizar as estatais a preço de banana. Vale também atacar a classe trabalhadora, diminuindo os salários e destruindo as leis trabalhistas.

Mesmo drásticas, essas reformas não conseguirão reverter a crise na China. A solução é conceder mais empréstimos às empresas estatais, que ficarão ainda mais endividadas. Mais cedo ou mais tarde, essa situação se tornará insustentável, o que irá agravar a crise ainda mais. E o aprofundamento da crise na China significa também um agravamento da situação para países emergentes e exportadores de produtos primários, como é o caso do Brasil.

Em muitos países, os trabalhadores ainda hoje sofrem as consequências dos ataques neoliberais das décadas de 1980 e 1990. Caso o governo chinês realmente siga em frente com essas políticas – entre elas, seu plano de demitir entre cinco a seis milhões de trabalhadores – o aumento do desemprego poderá causar uma nova explosão de lutas, com resultados extremamente graves para o regime.

Controle democrático dos bancos e das indústrias

Os governos das províncias pegaram bilhões de dólares em empréstimos junto aos bancos para salvar as empresas estatais. Enquanto isso, a classe trabalhadora sofre com mais demissões e outras medidas de austeridade. Para nós do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, essas dívidas devem ser canceladas! Afinal, esses empréstimos foram contraídos por políticos e diretores das empresas que criaram projetos inviáveis e megalomaníacos, impulsionados pelo governo central, obcecados em crescimento do PIB a qualquer custo.

Seja na China, no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, os trabalhadores não podem pagar pela crise! Os banqueiros, políticos e empresários que criaram a crise econômica devem ser responsabilizados. Em seu lugar, os bancos e as indústrias estratégicas precisam ser colocados sob controle democrático dos próprios trabalhadores. Essa é a única maneira de, a longo prazo, evitar novas crises e mais ataques.

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