Uma visão socialista sobre o boicote a Israel

Boicote, desinvestimento e sanções – Perguntas e respostas sobre a campanha BDS.

Seguindo um apelo dos defensores de um boicote acadêmico a Israel, o físico Stephen Hawking recentemente recusou um convite para falar em uma conferência em Jerusalém. Ele se junta a outros que boicotaram Israel, de uma forma ou de outra, particularmente em reação ao horror da guerra de Gaza em 2008/09, aos assassinatos de ativistas turcos da flotilha de ajuda humanitária em maio de 2010, e na semana de ataques a Gaza em novembro de 2012. Que atitude devem sindicalistas e socialistas adotar diante as campanhas de boicote?

  • Quando as campanhas de boicote surgiram?

Houve vários chamados para sanções e boicotes – inclusive por alguns israelenses – após o início da segunda intifada palestina, em 2000, que se deparou com grande brutalidade do regime israelense. Sanções foram discutidas em uma conferência das Nações Unidas contra o racismo, realizada na África do Sul em 2001, na qual delegados dos EUA e israelenses se retiraram. Então, em 2002, um boicote foi chamado por diversas organizações palestinas e, em 2004, em Ramallah, foi lançada uma campanha acadêmica e cultural de boicote a Israel.

Um ano depois, um pedido da “sociedade civil” palestina de “boicote, desinvestimento e sanções” (BDS) foi feito, até que Israel “esteja em total conformidade com os preceitos da lei internacional”, pondo fim à sua ocupação e colonização de todas as terras árabes – referindo-se àquelas tomadas na guerra de 1967. Apelou para a derrubada do muro de separação, pelo reconhecimento dos direitos de igualdade plena dos cidadãos palestinos de Israel e respeito pelos direitos dos refugiados palestinos a voltar para suas casas.

Essas demandas são apoiadas justamente pela maioria das organizações de trabalhadores e organizações sindicais em todo o mundo. Muitos também apoiaram o chamado para o BDS, embora em muitos casos, eles são seletivos, justificadamente, sobre quais aspectos da campanha eles apoiam.

  • Solidariedade internacional é importante para os palestinos, não é?

Sim, os palestinos em Gaza e na Cisjordânia estão vivendo em condições terríveis e sofrem incursões regulares por parte das Forças de Defesa de Israel para matar e intimidar. O bloqueio de Gaza pelo exército israelense levou a níveis muito elevados de pobreza, desnutrição, desemprego e frustração nessa terra densamente povoada. Há revolta e raiva entre os trabalhadores internacionalmente com a brutalidade e repressão do regime israelense e um compreensível desejo por muitos de apoiar boicotes e sanções se estes puderem ter algum efeito.

As condições precárias de vida, discriminação sofrida e as aspirações nacionais não cumpridas de refugiados palestinos nos países circundantes, e dos palestinos em Israel propriamente dito, também não devem ser esquecidas.

  • Podem os boicotes desempenhar um papel na luta dos palestinos?

Alguns tipos de boicote podem tanto elevar a consciência sobre a difícil situação dos palestinos e ser úteis como campanhas auxiliares junto com outras ações e apoios. Eles podem contribuir para aumentar o sentimento de “isolamento” da classe dirigente israelense no cenário mundial, colocando uma pressão adicional para que façam concessões para aliviar parte do sofrimento dos palestinos. Eles também podem, em alguns casos, ter certo efeito sobre os lucros dos capitalistas israelenses e de empresas multinacionais que estão lucrando com a ocupação israelense, trazendo uma pressão adicional.

Em termos gerais, no entanto, estes são os limites do que boicotes são susceptíveis de alcançar. A força motriz central da luta dos palestinos pela libertação deve ser a ação em massa pelos próprios palestinos. Esta, liderada e organizada democraticamente pelos trabalhadores palestinos, tem o potencial para ser incomparavelmente mais eficaz em avançar sua luta do que um ato de boicote vindo de fora pode ter.

Os palestinos realizaram ações de massa na primeira intifada, que começou em 1987, e que levou à concessão do processo de paz de Oslo e estabeleceu a criação da Autoridade Palestina em 1994. Quando esse processo não conseguiu levar melhorias concretas e a construção de assentamentos judeus continuaram, a segunda intifada eventualmente eclodiu, infelizmente, afastando da ação em massa. Grupos e organizações secretas erroneamente recorreram em desespero para atentados suicidas e outros ataques contra civis israelenses.

Mais recentemente, porém, inspirada pelos magníficos levantes em massa de tunisianos e egípcios em 2010-11, houve o início de uma nova geração de palestinos saindo à luta. Algumas amplas manifestações de palestinos nos territórios ocupados e em Israel foram realizadas, incluindo protestos em solidariedade aos palestinos detidos em prisões israelenses e greves de trabalhadores contra as medidas de austeridade.

Estes movimentos têm que se armar com planos para a escalada contra a austeridade e a ocupação. Lutas de massas democraticamente planejadas poderiam ser organizadas contra muitos alvos, incluindo o muro de separação, tomada de terras, os bloqueios e as operações brutais dos militares israelenses.

Os trabalhadores tunisianos e egípcios e o povo pobre mostraram quão eficaz a ação de massa pode ser, mesmo que suas revoluções ainda não os tenha livrado do capitalismo. Boicotes e sanções internacionais não teriam removido os antigos regimes nesses países; um longo período de sanções pelas potências capitalistas ocidentais contra o regime de Saddam Hussein no Iraque não removeu o seu regime. Nem as sanções do imperialismo ocidental estão removendo o regime iraniano. Pelo contrário, este regime usa isso para reforçar a sua base de apoio, e pessoas comuns no Irã têm que suportar o peso extra do sofrimento que as sanções os traz.

Em primeiro lugar, os trabalhadores precisam auxiliar internacionalmente os palestinos, sempre que possível, com a tarefa de construir suas próprias organizações independentes de trabalhadores – independentes de ONGs, grandes empresas e políticos pró-capitalistas – para que as massas palestinas possam decidir democraticamente por si próprias como avançar sua luta e liderar o caminho em como fazê-la. Isto significa organizações sindicais internacionalmente construindo articulações com as organizações de trabalhadores palestinos e oferecendo ajuda material. Boicotes cuidadosamente direcionados podem complementar isso, mas não devem substituir o apoio as lutas de massas e alimentar uma falsa ideia de que boicotes – uma forma relativamente passiva de ação vinda de fora – pode levar à libertação palestina.

Além de lutar contra a ocupação, os palestinos na Cisjordânia e em Gaza enfrentam a tarefa de remover as lideranças políticas pró-capitalistas, para lançar as bases de uma forma totalmente diferente de sociedade: baseada em um programa socialista que possa atender às necessidades da maioria, e não de uma elite.

  • A maioria dos trabalhadores israelenses apoia a criação de um Estado palestino, mas não apoiam boicotes. Por que isso?

Há um crescente questionamento e desconforto entre os judeus israelenses sobre a ocupação dos territórios e, de forma consistente, dois terços deles apoiam a ideia de um Estado palestino. Mas há uma intensa propaganda do governo israelense e da mídia para justificar um domínio sobre os territórios como essencial para a segurança de Israel. Ataques com foguetes vindos de Gaza a cidades israelenses são usados como uma razão para intensificar a repressão, e muro de separação e as restrições à circulação são declaradas necessárias para proteger os israelenses. A mentalidade de cerco também é alimentada por temores de Israel ser atacado a partir de países vizinhos, especialmente o Irã. Como parte de toda essa propaganda, a campanha BDS é retratada pela maioria dos políticos tradicionais israelenses como anti-semita e como uma rejeição do debate democrático.

Trabalhadores judeus israelenses realmente temem por sua própria segurança e querem proteger o Estado que estava destinado a ser um refúgio seguro para os judeus. Isto, com o bombardeio constante de propaganda, sem surpresa os leva a acreditar que os defensores da campanha BDS ao redor do mundo não entende a situação em Israel. Além disso, muitos dos judeus israelenses que são mais críticos para com a brutalidade de seu governo contra os palestinos, ao mesmo tempo, não veem por que os trabalhadores israelenses devam ser punidos por isso por sofrerem os efeitos de boicotes.

Por isso, precisa ser levado em conta que as campanhas de boicote podem ajudar a propaganda do governo israelense no nível nacional, e pode criar uma barreira entre os trabalhadores em Israel e internacionalmente, consequências negativas que precisam ser ponderados contra as vantagens.

  • Devem todas as campanhas de BDS ser evitadas por causa do ponto de vista dos trabalhadores de Israel?

Não necessariamente, porque alguns tipos de boicote seletivo ou sanções podem auxiliar a causa dos palestinos, enquanto, ao mesmo tempo, serem encaradas como menos hostil aos trabalhadores israelenses do que os boicotes totais de “tudo que é israelense”. “Seletivo” pode significar o alvejar a exportação de armas e equipamentos para Israel que poderiam ser usados contra os Palestinos; empresas que lucram com a ocupação; bens produzidos nos assentamentos judaicos; certos eventos esportivos e culturais que visam ganhar publicidade; a universidade Ariel nos territórios ocupados; ministros israelenses quando eles fazem visitas ao exterior – entre outros alvos possíveis. Isso pode deixar mais claro para os trabalhadores israelenses que os boicotes destinados a tais alvos cuidadosamente escolhidos são dirigidos a estabelecimentos israelenses e não aos trabalhadores, especialmente se acompanhado por uma atitude de apoio por parte dos boicotadores para com as lutas dos trabalhadores israelenses.

Em 2011 uma campanha para boicotar a Universidade Ariel foi assinada por mais de 145 acadêmicos em Israel e muitos outros, desde então, acrescentaram seu apoio. Acadêmicos, internacionalmente, devem apoiar essa campanha, ao invés de um boicote que se volte contra acadêmicos israelenses indiscriminadamente.

Campanhas de boicote dirigidas a empresas que não são israelenses também podem desempenhar um papel, por exemplo, a da Caterpillar por estar exportando escavadeiras equipados com metralhadoras, ou a empresa francesa Veolia por estar prestando serviços aos colonos judeus. Em maio de 2011, a empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn se retirou da construção de uma linha de trem de Tel Aviv à Jerusalém porque parte delas entrou em terra que segundo a determinação da ONU é palestina.

É importante que as organizações de trabalhadores palestinos sejam consultadas sobre boicotes já que, por exemplo, algumas das empresas alvejadas empregam palestinos que poderiam ser afetados. Além disso, o governo israelense pode fazer retaliações colocando sanções à Autoridade Palestina através de outras medidas. Muitos palestinos, no entanto, apoiam boicotes apesar das possíveis repercussões.

Boicotes totais de “todas as coisas israelenses”, além de serem particularmente alienantes aos trabalhadores israelenses, não se focam naquilo que seria mais eficaz. Além disso, alguns produtos são quase impossíveis de evitar, já que muitos produtos feitos em Israel são partes de produtos finais montados em outros países e é comum que as empresas israelenses escondem sua identidade na arena global – ou passar produtos através de outro país mudando sua “origem” – se antecipando dessa forma à boicotes ou críticas.

Outra questão é que boicotes de consumidores são muito difíceis de controlar e construir. Eles se apoiam em decisões de diferentes indivíduos, muitos dos quais rejeitam participação ou têm informação insuficiente para tomar uma decisão, pois as campanhas raramente são promovidas na grande mídia. Algumas campanhas são iniciadas por pequenos grupos e anunciadas principalmente em sites de internet, e não são sempre operadas democraticamente.

Sanções organizadas por organizações sindicais têm um potencial mais poderoso. Os sindicatos têm as estruturas para permitir a discussão e planejamento da ação democráticos, e membros que podem colocá-la em prática. Em 2009, o sindicato de trabalhadores do transporte da África do Sul mostraram um tipo de ação possível quando se recusaram a descarregar um navio israelense que estacionou em Durban.

Outro grande problema com boicotes totais é que eles são muitas vezes promovidos por organizações ou grupos que colocam todos os israelenses como colonos e são muito hostis à classe operária israelense, os descartando por supostamente adotar uma ideologia sionista ou racista, sendo assim incapazes de agir como uma força progressista. Algumas organizações nem sequer aceitam que Israel tem uma classe trabalhadora. No entanto, enquanto as campanhas de BDS podem ajudar a expressar indignação e afetar os interesses de alguns dos capitalistas israelenses, a maior ameaça para os lucros desses capitalistas reside na ação organizada pelos trabalhadores israelenses. Boicotes são um incômodo para a classe dominante israelense em comparação com a ameaça que determinadas ações dos trabalhadores israelenses pode ser para os seus lucros – e, finalmente, à sua dominação.

  • Mas será que os trabalhadores israelenses vão se colocar em luta contra a ocupação?

Há lutas constantes em Israel contra a perda de empregos, privatizações, baixos salários, cortes nos serviços, nos locais de trabalho e diversas questões sociais. Em 2011 houve um grande movimento “cidade de barracas” contra a escassez crônica de habitação, aluguéis altos e “injustiça social” em geral. Isto incluiu manifestações de tamanho sem precedentes, envolvendo centenas de milhares de pessoas. Em 2012 houve uma greve geral de quatro dias para conquistar melhorias para os trabalhadores precarizados. Durante os últimos três anos tem havido greves em hospitais, entre assistentes sociais, na Haifa produtos químicos, nas ferrovias, companhia aérea, e muitas outras.

Muitas das disputas envolveram trabalhadores judeus lutando contra os ataques dos patrões lado a lado de trabalhadores palestinos israelenses nos mesmos setores ou locais de trabalho. Isso forja a unidade na luta pela base, embora os líderes sindicais frequentemente tentem evitar levantar a questão da discriminação específica enfrentada pelos trabalhadores palestinos.

Governos israelenses têm intensificado ataques aos direitos democráticos dos palestinos israelenses, mas também dos judeus. Por exemplo, uma lei aprovada em 2011 permitiu que qualquer pessoa que chame o boicote a Israel possa ser processada por alvo do boicote mesmo se nenhum “dano” tenha sido causado.

E em relação à ocupação? Com a inexistência de um partido de massas dos trabalhadores israelenses que possa desenvolver um programa tanto para fazer avançar as atuais batalhas de trabalhadores israelenses quanto auxiliar a luta dos palestinos pela sua autodeterminação, há um desânimo geral sobre a maneira de acabar com a ocupação. Mas o desenvolvimento de ações em ambos os lados da divisão nacional e eventuais movimentos para formar novos partidos de trabalhadores, vai começar a mudar isso.

Nas eleições gerais de janeiro de 2013, 17 mandatos parlamentares foram ganhos pelo recém-formado partido, Yesh Atid, que se comprometeu a representar as pessoas comuns. Este partido pró-capitalista, liderado pelo milionário Yair Lapid, já não está cumprindo suas promessas. Lapid assumiu o cargo de ministro das Finanças e está governando através de medidas de austeridade. Mas a súbita ascensão do seu partido revela uma efervescência eleitoral, como os eleitores estão procurando uma alternativa aos habituais políticos capitalistas fracassados e corruptos no poder.

A classe trabalhadora e a classe média dos judeus israelenses não têm nada a ganhar com o conflito nacional. É a sua classe dominante que a preside e tem interesse em mantê-la. A raiva contra a regime dos “magnatas” em Israel – expressa recentemente nas ruas nos protestos contra o novo orçamento – vai alimentar o desenvolvimento da consciência sobre a necessidade de desafiar os principais partidos políticos com uma alternativa de esquerda.

Como os palestinos nos territórios avançam nas suas próprias lutas, se uma abordagem de apoio é tomada por trabalhadores judeus e palestinos para com às batalhas de uns aos outros, a articulação e solidariedade podem desenvolver com benefício mútuo. Como parte deste processo, as ideias socialistas podem ganhar um eco e se firmar como o único caminho para resolver os problemas que são insolúveis sob o capitalismo, para alcançar dois estados socialistas lado a lado, da Palestina e de Israel.

  • O chamado por desinvestimento trará resultados?

A escritora de esquerda Naomi Klein argumentou que desinvestimento é a parte mais importante do BDS, porque são as grandes empresas que têm o “poder real”, e não os indivíduos. As multinacionais têm o poder potencial de infligir sanções, mas o lucro é a sua principal motivação, não os direitos humanos ou os padrões de vida dos trabalhadores. Eles geralmente estão dispostos a fazer negócios com os regimes mais opressivos do mundo se isso serve seus interesses.

Por isso, é de pouca utilidade apelar para a sua boa natureza ou implorar-los a agir. A maneira de forçá-los a fazer alguma coisa é através de uma campanha de peso da força na sociedade que tem muito mais poder potencial do que uma grande empresa: os sindicatos dos trabalhadores e movimentos organizados.

No entanto, embora possa haver sucesso em pressionar grandes empresas a desinvestirem e etc., este tipo de campanha continuará a ser de natureza auxiliar. O capitalismo global é um sistema caótico; quando as empresas desinvestirem haverá outras que vão entrar em seu lugar. Antes do processo de paz de Oslo, para cumprir com o boicote árabe a Israel, muitas multinacionais boicotaram Israel porque o mercado árabe era importante para elas. Mas essa ação de boicote em grande escala não impediu a repressão a povo palestino.

Em qualquer caso, apenas um apoio crítico, no máximo, deve ser dado a campanhas de boicote movidas por capitalistas árabes, muçulmanos ou outros das classes dominantes, porque estes não são motivados pelos interesses dos palestinos comuns. Em vez disso, essas elites realizam tais campanhas e propagandas para reforçar o seu apoio doméstico, enquanto, na realidade, eles têm muito mais em comum com os capitalistas israelenses do que com os trabalhadores e os pobres de seus próprios países. São as organizações de trabalhadores e sindicais, internacionalmente, que devem decidir que tipo de campanhas de BDS deve ser colocado em prática.

  • Quão eficaz foi a campanha de boicote contra o apartheid na África do Sul?

O boicote à África do Sul desempenhou um papel na atividade global contra o apartheid, mas não foi a força decisiva que o removeu. Ele foi derrotado principalmente pela ação de massas da classe trabalhadora negra, incluindo greves e desobediência civil. A economia sul-africana, na verdade, cresceu durante os anos de boicote, assim como a economia israelense desde que a campanha BDS foi iniciada.

No apartheid da África do Sul, uma esmagadora maioria da classe trabalhadora negra apoiou o boicote contra a elite branca. Em Israel, a maioria da classe trabalhadora não está pedindo um boicote de Israel, e isso precisa ser reconhecido, mesmo que isso não signifique que certos boicotes não devam ser apoiados. Isso significa, no entanto, que as organizações socialistas de trabalhadores precisam a nível internacional explicar aos trabalhadores israelenses que eles não estão alvejando-os, e ter uma abordagem que ajude a expor as divisões de classe em Israel.

  • Os sindicatos a nível internacional deveriam manter vínculos com a federação sindical israelense, a Histadrut?

Os líderes da Histadrut sempre tiveram laços bem estreitos com a elite israelense. Eles desempenham um papel semelhante ao das lideranças sindicais a nível mundial, tentando desviar a ação dos trabalhadores, tanto quanto possível, e fazer acordos com os patrões que se estão muito aquém do que trabalhadores – judeus e palestinos – estão demandando.

Os líderes da Histadrut apoiaram a guerra brutal do exército israelense em Gaza em 2008/09 e o ataque de 2010 sobre o navio da flotilha de ajuda humanitária à Gaza. Mas suas declarações sobre estas questões não foram feitas após discussão e debate democrático entre nas bases da federação sindical. Setores de trabalhadores israelenses denunciam regularmente os líderes Histadrut por não agirem a favor de seus interesses. Por exemplo, assistentes sociais os criticaram durante e após a greve de 2011. Em 2012, a maioria dos trabalhadores ferroviários deixou a Histadrut em desgosto depois de uma batalha contra a privatização (muitos se sentiram forçados a voltar depois de um tribunal ter decidido que somente a Histadrut poderia representá-los).

Os trabalhadores membros da Histadrut enfrentam a tarefa vital de remover os líderes que estão bloqueando os interesses dos trabalhadores, e substituí-los por líderes que estarão sob o controle democrático dos trabalhadores filiados. Enquanto isso, os sindicatos a nível internacional devem manter os vínculos com a base dos trabalhadores da Histadrut – que abrange mais de 700 mil, a esmagadora maioria de trabalhadores organizados em Israel, incluindo os palestinos e os trabalhadores migrantes. É mais eficaz manter articulações com as bases se vínculos formais são mantidos com os órgãos dirigentes da Histadrut, não no sentido de dar qualquer apoio às posições desta burocracia da federação sindical, mas para ter diálogo e vínculo com a classe trabalhadora organizada em Israel.

Artigo publicado pela primeira vez na Socialism Today, a revista do Socialist Party (CIT Inglaterra e País de Gales) em maio de 2013.

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