Demitiu, parou!
Este deve ser o lema dos trabalhadores diante das demissões que vêm ocorrendo no país!
Com a crise econômica, social e política que assola o Brasil, como parte de uma crise mundial do capitalismo, mais uma vez quem está pagando a conta são os trabalhadores.
De janeiro até agora, se estima que mais de 15 mil trabalhadores já perderam seus empregos somente nas montadoras de veículos do país. Segundo o IBGE, nas indústrias em geral já se foram mais de 46 mil empregos.
O mesmo IBGE aponta que na construção civil foram mais de 500 mil demitidos e na agricultura em torno de 200 mil. Segundo a mesma pesquisa, temos 8,3% de desempregados no Brasil. São 8,4 milhões de trabalhadores que estão sem emprego, um dos maiores índices dos últimos 12 anos.
Nos últimos meses, muitas empresas de médio e pequeno porte vêm fechando as portas. Um exemplo são as indústrias de autopeças em Minas Gerais. No interior de São Paulo, outro exemplo é Jacareí, uma cidade do Vale do Paraíba com aproximadamente 230 mil habitantes onde, só no ultimo ano, já se fecharam quase dois mil postos de trabalho.
Demissões aumentam assustadoramente
Essas demissões têm aumentado assustadoramente, tendo como carros chefe as montadoras Volks, Mercedes, Ford e GM no ABC, que demitiram centenas de pais e mães de família. No Vale do Paraíba, a GM de São José dos Campos, na véspera do Dia dos Pais, demitiu por telegrama 798 trabalhadores. A Volkswagen e Ford de Taubaté também não ficaram atrás e demitiram centenas de trabalhadores, com a desculpa de que existe crise de vendas e suas plantas não são competitivas. Junto a esta situação ainda temos as férias coletivas, o “lay-off”, etc.
O governo Dilma no passado já concedeu bilhões em incentivos fiscais a estas empresas para salvar os cofres das montadoras. Agora, libera oito bilhões do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal como incentivos às empresas. Também joga no colo dos trabalhadores o chamado PPE, “Programa de Proteção ao Emprego”, que de proteção não tem nada: o PPE permite às empresas reduzir os salários dos trabalhadores em até 30%.
Só que os trabalhadores não vêm engolindo estes ataques com naturalidade. Onde têm ocorrido demissões, os trabalhadores vêm reagindo. Foi assim na Volkswagen, Ford, Mercedes em São Bernardo do Campo. Foi assim também na GM de São Caetano do Sul, também na região do ABC. As empresas demitiram e os trabalhadores foram pra cima revertendo demissões ou garantindo alguns benefícios onde não foi possível revertê-las.
Greve radicalizada na GM de SJC reverte demissões
No caso da GM de São José dos Campos, a resposta dos trabalhadores às demissões começou no próprio domingo de Dia dos Pais. Uma assembleia com mais de 250 trabalhadores que até aquele momento tinham recebido o telegrama de demissão, tomou a decisão de realizar nova assembleia na segunda‑feira na porta da fábrica. A proposta que seria levada aos quase cinco mil trabalhadores era de greve por tempo indeterminado até que se revertessem as demissões e se conseguisse estabilidade no emprego.
A assembleia foi realizada e a greve decretada na manhã da segunda-feira, 10 de agosto. Ali teve início uma greve das mais radicalizadas dos últimos anos na GM. Mais de 300 trabalhadores se incorporaram nos piquetes nas portarias da fábrica. Todos os dias, bem cedo, um cordão humano era feito nas roletas, inibindo alguns poucos pelegos que quisessem tentar entrar na fábrica.
Esta luta recebeu toda a solidariedade dos familiares dos demitidos, que compareciam nas assembleias e davam apoio aos piqueteiros nos finais de semana. Ativistas de outras categorias, do movimento popular e dos partidos de esquerda se somavam a esta solidariedade.
Uma grande marcha de oito quilômetros, da portaria da fabrica até o centro da cidade, foi realizada. A Via Dutra, uma das rodovias mais importantes do país, foi paralisada.
Com toda esta solidariedade e apoio aos trabalhadores em greve, aconteceram as negociações das audiências de conciliação no TRT de Campinas. Nas reuniões, três ônibus de trabalhadores se deslocaram de São José até Campinas para acompanhar e pressionar as audiências.
Depois de duas reuniões, no dia 21 de agosto, a empresa aceitou suspender as demissões e abrir um período de lay-off por cinco meses. O lay-off estabelece a suspensão temporária nos contratos de trabalho com a remuneração dos trabalhadores sendo paga com verbas do FAT e da própria empresa dependendo do valor.
No caso das demissões que vierem a ser feitas após o prazo do lay-off, um adicional de quatro meses de salário deverá ser pago como indenização. Além disso, um programa de demissões voluntárias deverá ser aberto, assim como a antecipação de aposentadorias para aqueles que estiverem perto de se aposentar e se assim desejarem.
Na segunda feira, dia 24 de agosto, uma grande assembleia foi realizada na portaria da fábrica. O clima era de vitória, mesmo sabendo que era uma vitória temporária e muito parcial. Mas o ambiente era de que a luta tinha valido a pena. Os trabalhadores aprovaram a proposta e, depois de 12 dias de greve, retornaram ao trabalho com uma certeza: só manterão seus empregos realmente se houver muita luta. A assembleia também encaminhou uma agenda de lutas para o próximo período.
Unificar as lutas
Nós, da LSR e do PSOL, que estivemos presentes por diversas vezes nesta greve, parabenizamos todos os envolvidos por esta vitória, mesmo que temporária. Porém, não temos dúvidas de que os empregos e os direitos somente serão mantidos se houver muita luta e unificação com os mais variados setores que estão sendo atacados pelo governo Dilma e pelos patrões.
Precisamos criar uma grande unidade com todas as categorias em luta, movimentos populares e arrancar do governo a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, estabilidade no emprego e uma política que faça com que os ricos paguem pela crise.