Grécia: Nenhuma rendição ao grupo dos credores! Por um plano de luta anti-austeridade com políticas socialistas!
A sociedade grega está assistindo o processo das chamadas “negociações” e está cansada, frustrada e irritada com a posição tomada pelas “instituições” – a “Troika” formada por FMI, União Europeia e Banco Central Europeu.
No entanto, este cansaço e frustração com os credores também está gradualmente se transformando em decepção para com o SYRIZA. Pela primeira vez desde as eleições, corre no dito popular da classe trabalhadora grega a frase que diz que “todos eles são farinha do mesmo saco” ou que “o SYRIZA não é diferente do que os outros”, etc.
O SYRIZA não pode subestimar a importância dessas vozes. É claro que todas as pesquisas mostram que o SYRIZA tem uma vantagem importante sobre a ala da direita, do partido Nova Democracia. Mas essa liderança está se tornando cada vez menor com o tempo. Em algumas situações, a diferença entre SYRIZA e Nova Democracia é de apenas 10%. Menos de três meses atrás, era em torno de 25%.
O sentimento de decepção também é característico ao classificar o SYRIZA, onde se sente, até certo ponto, preso e traído. Parece que SYRIZA está abandonando algumas de suas posições mais importantes para o qual foi eleito para o poder do povo grego.
“Linhas vermelhas” cada vez mais tênue
As “linhas vermelhas” (palavras de ordem) que o governo está tentando manter estão longe daquelas prometidas no Programa de Salonica, o compromisso pré-eleitoral do SYRIZA. E o Programa de Salônica está longe de serem as medidas que são realmente necessárias, a fim de encontrar uma saída para a crise. Pior ainda, as “linhas vermelhas” são cada vez mais tênues conforme o tempo passa.
As instituições querem dobrar o SYRIZA de joelhos. Elas querem aplicar políticas semelhantes às impostas pela Nova Democracia e PASOK, quando eles fizeram o último governo. Em outras palavras, as instituições estão fazendo seu trabalho. A questão é: como a liderança do SYRIZA, agora no governo, está respondendo a essa pressão? Se ela disser que a ruptura é necessária, então teremos de romper. No entanto, embora fala-se de ruptura, o SYRIZA não explica o que realmente esta significa e nunca propõe um plano específico para isso! Portanto, a questão que se coloca naturalmente é: até que ponto eles querem romper quando se referem a isso?
Porque o “choque frontal” ou “ruptura” com as “instituições” significa a saída do euro! Seja pela via rápida e imediata ou através de um processo de transição mais lenta, um confronto com os credores leva a “Grexit” (saída da Grécia)! Isto está bem claro para a liderança do SYRIZA! Então, por que não dizê-lo, abertamente, publicamente e com ousadia ao povo grego, a fim de preparar as massas para este turno nas lutas?
Armadores e a mídia dos grandes negócios Precisamente porque a liderança de SYRIZA não levantou a questão da saída do euro de uma forma clara e decisiva, a grande mídia dos armadores (empresários da construção naval, um importante setor da economia grega) e dos grandes negócios pode especular sobre os sentimentos do povo grego, apresentando as pesquisas, que têm apenas um objetivo: criar a impressão de que o povo grego quer que o país permaneça de qualquer maneira dentro da zona do euro e, portanto, o governo deve ceder à pressão dos credores. No entanto, mesmo essas pesquisas tendenciosas falsificam os seus argumentos, como a Xekinima (seção grega do CIT) tem demonstrado em vários artigos.
Mentir – uma “arte” que eles sabem muito bem …
A parte da população que está pronta para luta e um enfrentamento mais direto, se for e quando tal for necessário para garantir seus direitos fundamentais, é muito grande e isso todas as pesquisas têm mostrado, sem exceção.
Isso não significa que a maioria quer um enfrentamento direto ou quer um retorno à dracma, a antiga moeda da Grécia, Por que deveriam, afinal de contas? Trabalhadores comuns naturalmente prefeririam uma moeda estável do que uma que é potencialmente instável e, naturalmente, prefeririam evitar um confronto se isso fosse possível. Isto, porém, não significa que eles não estão prontos para grandes batalhas, quando eles entendem que estas são necessárias e isso, repetimos, foi confirmada por todas as pesquisas, se olharmos de forma mais profunda.
É importante ressaltar que este é um momento em que a liderança de SYRIZA se recusa a falar claramente sobre o embate com os credores e se recusa a propor um plano sobre como enfrentar tal embate. Se a liderança de SYRIZA decidir e propor ao povo grego um violento choque com a UE, em conjunto com um plano concreto sobre como sair da crise, a resposta do povo grego será magnífica. Estas, afinal de contas, são as tradições da classe operária grega, sempre que ela têm de lutar pelos seus direitos.
O que significa fazer um “plano”?
Vamos falar concretamente sobre o que significaria uma ruptura, sem as dimensões metafísicas que lhe são dadas pela classe dominante e seus meios de comunicação de massa em sua tentativa de causar medo nas massas:
Quando em 5 de junho, o “impensável” para a classe dominante aconteceu e o governo SYRIZA se recusou a pagar a parcela com o FMI, o “céu não caiu sobre nossas cabeças” – ainda estamos vivos. Se em 30 de junho, o governo se recusar a pagar a próxima parcela para a turma das “instituições”, vamos continuar a estar vivos e o céu ainda estará no seu devido lugar.
As Instituições propuseram ao governo grego “controles de capital”, como foram aplicadas no caso de Chipre após uma proposta pela própria Troika. O governo grego disse que não! Por quê? Desde quando a esquerda é defensora da liberdade de circulação do grande capital nos mercados globais?
É trágico! Os controles de capital – uma medida que o governo de esquerda deve ter por objetivo, de modo a impedir a especulação do grande capital e os ricos, enviando seu dinheiro no exterior, ameaçando, assim, um colapso do sistema bancário – foram neste caso propostos pela UE e as “instituições”, e o governo SYRIZA disseram que não!
Estas são medidas que o próprio governo deveria ter iniciado: parar completamente o pagamento das prestações aos credores (como o governo fez em 5 de junho); impor controles de capital, de modo a parar que a riqueza escoe para o exterior.
Tendo tomado essas medidas, o governo deve se preparar para uma transição para uma moeda nacional, ligada inseparavelmente com o início de uma série de medidas socialistas. A transição para a dracma por conta própria, no contexto do capitalismo, não vai resolver nenhum dos grandes problemas enfrentados pela economia e da sociedade grega.
Medidas socialistas significam uma série de etapas necessárias para o funcionamento da economia e para a sobrevivência das comunidades da classe trabalhadora: a nacionalização do sistema bancário; nacionalização de setores estratégicos da economia; um plano de reconstrução econômica com base em organismos nacionais de coordenação por parte da indústria e entre as indústrias; o cancelamento das dívidas de pequenas empresas e trabalhadores independentes que foram destruídos pela crise; empréstimos a longo prazo e sem juros para as pequenas empresas, profissionais e pequenas cooperativas sem fins lucrativos; a democracia na produção, com controle e gestão social e de trabalhadores, em todos os aspectos da economia, etc.
Nesta base, há esperança e entusiasmo, não só para a Grécia, mas para os trabalhadores de toda a Europa, que irão apoiar e abraçar tal iniciativa tomada pelo movimento de massa anti-austeridade grego. Com base em um programa socialista, há esperança e uma perspectiva positiva para a classe trabalhadora grega. Se a Grécia se mantiver na base do capitalismo, que enfrenta sua maior crise desde a década de 1930, não há esperança alguma!