Um exemplo de resistência no interior de São Paulo: a luta dos trabalhadores da Ajax
A Ajax é uma fábrica de baterias de automóveis que existe há mais de 50 anos, cuja sede encontra-se em Bauru. Em junho do ano passado, 340 trabalhadores foram demitidos sem depósito no FGTS, pagamento de direitos trabalhistas ou repasses da previdência social dos funcionários com tempo de serviço de 5 a 10 anos. Nesse momento, a empresa já tinha uma enorme dívida com a Companhia Paulista de Força e Luz que culminou no corte de energia em dezembro de 2014 – restabelecida em março de 2015, após liminar.
Então, no dia 05/01/2015, os trabalhadores foram dispensados do serviço com a justificativa de férias coletivas, com retorno para 05/02/2015. Antes dessa data, porém, eles já se encontravam desde dezembro de 2014 sem receber o salário, com o 13º atrasado, em torno de 7 anos sem depósito no FGTS, sem pagamento das pensões alimentícias que são descontadas direto em folha dos funcionários, além de tantas outras irregularidades trabalhistas que já faziam parte do cotidiano dessas pessoas. No mês passado, a empresa devia cerca de R$7 milhões em direitos trabalhistas, sendo a divida total da empresa por volta dos R$200 milhões.
Quando os trabalhadores retornaram ao serviço na data prevista, se depararam com as portas fechadas, sendo que matérias-primas e equipamentos foram retirados previamente da fábrica pelo próprio patrão.
Tendo em vista essa conjuntura, os trabalhadores ocuparam a fábrica de forma espontânea para protegê-la de depredações e impedir que o dono se desfaça do restante dos bens que lá existem.
A ocupação já tem quase dois meses e os trabalhadores enfrentam diversas dificuldades como a falta de água, energia, alimentos, despejo de suas casas e ameaça de saques pela população local.
No dia 13/03/2015, aconteceu uma reunião onde era previsto que a Justiça decidiria se a falência da fábrica seria decretada ou se novos investidores a assumiriam. Nessa reunião, deliberou-se esperar 45 dias para o investidor decidir se ia administrar a fábrica e, se isso acontecesse, em 90 dias a fábrica retomaria suas atividades. Ressaltando que os trabalhadores já estavam há três meses sem receber o salário e que, durante esses 90 dias, eles continuariam sem receber, totalizando seis meses. Neste momento, os trabalhadores estão lutando contra essa deliberação dos acionistas e empresários.
Deste modo, os trabalhadores, que contabilizam ainda cerca de 400, vêm fortalecendo a luta sem esperar mais por decisões do patronato. A paciência se esgotou! Reivindicam, agora, pela retenção imediata dos bens do patrão, assim como pela parada imediata da empresa Cachoeira Metais em Cachoeira de Goiás (GO), do mesmo grupo do patronato e que fornece a matéria prima. Além disso, os trabalhadores lutam pelo reestabelecimento de água e luz da fábrica, bem como procuram uma fonte de matéria-prima para tomarem a fábrica e retomarem a produção.
Essa não deve ser considerada uma luta apenas dos operários da Ajax, mas sim uma luta universal da classe trabalhadora que, por não ser detentora dos meios de produção, fica sujeita às condições de exploração dos donos das grandes corporações, resultando em descasos absurdos como este que vemos acontecer agora em Bauru e como tantos outros exemplos similares – como o caso da fábrica Flaskô que, embora tenha sido apropriada pelos trabalhadores, até hoje arca com as dívidas deixadas pelo patrão.
- Nós, da LSR-CIT, defendemos que esta empresa, assim como outras, seja estatizada, controlada e gerida pelos trabalhadores;
- Abertura das contas das empresas como a Ajax para que comissões de trabalhadores democraticamente eleitas realizem uma auditoria. Que estas comissões de trabalhadores passem a assumir um papel permanente de fiscalização e controle das empresas a partir dos próprios trabalhadores;
- Que os patrões paguem pela crise do seu sistema – cortem os lucros, não os empregos!
- Que um dos remédios para superar a crise imposta pelo capital seja a redução da jornada de trabalho sem redução de salários;
- Nenhuma demissão, estabilidade no emprego e todos os direitos garantidos pagos pelos patrões, sem dinheiro público;
- Não é favor, não é indenização, é direito! E somente os trabalhadores organizados conquistarão estes direitos!
Todo apoio à luta dos trabalhadores da Ajax Bauru! Todo apoio à luta de trabalhadores de todo mundo!