Nova vitória de Evo Morales na Bolívia

Com 60,86% dos votos na eleição do último dia 12 de outubro, Evo Morales se tornou o primeiro presidente boliviano a obter um terceiro mandato. Entretanto, sem uma ruptura com o capitalismo, o povo da Bolívia continua sob o risco de um retorno às políticas do passado.

Ao contrário da agitada campanha que tivemos aqui no Brasil, em nenhum momento a liderança de Evo esteve ameaçada por seus adversários da direita. Samuel Doria Medina (da Frente de Unidade Nacional) e Jorge Quiroga (Partido Democrata Cristão), juntos, tiveram cerca de 30% dos votos, a média histórica da votação da direita na Bolívia.

Um fato inédito é que Evo conseguiu uma vitória também nos antigos redutos dos partidos de direita, como o estado de Santa Cruz. As classes médias bolivianas também votaram em massa no candidato indígena, o que mostra que o MAS (Movimento ao Socialismo, o partido do governo) tem objetivos semelhantes ao PT no Brasil: promover um governo de conciliação de classes, que tenta satisfazer aos interesses de diferentes setores da sociedade, baseado na alta de seus artigos de exportação, em especial produtos primários.

O capitalismo boliviano continua

Evo e o MAS chegaram ao poder na Bolívia em 2006, apoiados nas rebeliões de massas conhecidas como “guerra da água” e “guerra do gás”. Naquele momento, os trabalhadores e os camponeses indígenas se mobilizaram contra os efeitos perversos de quase vinte anos de governos neoliberais, que condenaram a imensa maioria da população a uma miséria assustadora.

Essa onda de protestos populares, que ocorreu entre 1999 e 2005, conseguiu interromper as privatizações da água e do gás natural. Isso tudo apesar da resistência das elites do estado de Santa Cruz, que tentaram quebrar as mobilizações e reconquistar sua hegemonia por meio da violência e das ameaças de separatismo.

Naquele momento, seria possível romper com o capitalismo e com os latifundiários e usar os imensos recursos naturais da Bolívia em benefício do seu povo. No entanto, esse não foi o caminho escolhido por Evo Morales. Apoiado pela diplomacia brasileira, ele preferiu negociar um compromisso com a direita boliviana: a elite aceitou sua derrota política e o MAS garantiu que não ameaçaria as bases de seu poder econômico. Assim, ambos buscariam uma fórmula que garantisse a continuidade do capitalismo na Bolívia.

A partir do segundo mandato, Evo aprofundou o seu giro à direita: aprovou leis que facilitam o acesso de multinacionais às reservas de minérios da Bolívia, mandou a polícia disparar contra indígenas que protestavam contra a construção de uma estrada que cortava a região de sua reserva (estrada essa que foi construída pela empreiteira brasileira OAS), recusou-se a ajustar os salários dos docentes e do funcionalismo público, interrompeu o processo de reforma agrária, além de ter legalizado o trabalho infantil.

No plano político, o MAS cooptou setores da burocracia sindical, para pôr fim à independência da COB (Central Operária Boliviana), além de ter feito acordos com figuras da oposição da direita – inclusive com organizações que apoiaram o separatismo em Santa Cruz. Evo também abandonou seus antigos discursos sobre os direitos indígenas, ao combater as regras que davam direito de decisão e de veto às comunidades nativas sobre obras nos territórios das reservas.

Em defesa do voto nulo!

A Alternativa Socialista Revolucionária, organização-irmã da LSR na Bolívia, entende que nem a direita e nem o MAS são capazes de dar uma resposta real ao quadro de completa falta de perspectivas para a imensa maioria da população. Portanto, nossos companheiros defenderam o voto nulo nestas eleições e a retomada das lutas populares no país!

Estabilidade momentânea

No momento, Evo desfruta de uma certa estabilidade política, resultado da boa situação econômica. Isso permite que ele possa desenvolver alguns programas de transferência de renda e investimentos nas áreas sociais. Essas medidas ajudam a amenizar os aspectos mais bárbaros do capitalismo boliviano, mas não são suficientes para solucionar de verdade os problemas do povo.

Quando o atual cenário positivo da economia passar, o programa de conciliação de classes do MAS se mostrará incapaz de dar uma direção positiva à sociedade e, mais uma vez, a Bolívia poderá passar por uma nova rodada de convulsões sociais.

Você pode gostar...