Campanha eleitoral do PSOL no Rio Grande do Norte: Um exemplo de coerência para toda a esquerda socialista
A campanha coletiva de Robério Paulino ao governo do Rio Grande do Norte foi um exemplo para o partido e para toda a esquerda socialista em diversos sentidos. Numericamente, obteve um resultado muito superior ao que a esquerda obtém normalmente no país e aos resultados alcançados pelo PSOL em eleições anteriores no estado.
Foram 129.616 votos, que representam 8,74% dos votos válidos. Em Natal, atingiu 22,45% dos votos, quase um em cada quatro votantes, superando em muito os 3,57% obtidos em 2012, quando se candidatou a prefeito, pela Frente de Esquerda com o PSTU.
É o melhor resultado para o PSOL em uma capital nesta eleição e o segundo melhor em toda história do partido em capitais, ficando atrás apenas dos 28,15% de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro em 2012.
Em várias outras cidades tivemos resultados expressivos: Parnamirim 17,39%, Caicó 12,25%, São Gonçalo do Amarante 9,37%, Ipureira 8,50%, Mossoró 7,75% e em pelo menos mais oito cidades ficamos acima de 5%.
Campanha educativa
No entanto, o mais importante de tudo não foi o resultado numérico, mas sim o grande papel de educação política, de elevação da consciência, de reencantamento de muitas pessoas que já não acreditavam na politica e que passaram a ver uma luz no fim do túnel, não apenas no terreno eleitoral. Em termos qualitativos, a campanha cumpriu a tarefa pela qual se propôs: ser uma expressão dos anseios das grandes manifestações de junho de 2013 e, ao mesmo tempo, uma alternativa pela esquerda aos que estão cansados das velhas famílias que dominam há anos o estado, aliadas com grandes empresas.
Além disso, segundo muitos analistas políticos, a votação de Robério foi o fator central que levou a eleição para o segundo turno e contribuiu decisivamente para a derrota do grande bloco das oligarquias Alves e Maia, encabeçado por Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados que, com uma máquina de apoio de 18 partidos, 120 prefeitos e mais de 1000 vereadores, ganhou o primeiro turno, mas acabou por perder as eleições. É um marco na história local, que pode significar o começo do fim da era oligárquica no estado.
Papel da juventude
A campanha foi abraçada principalmente pela juventude das universidades, dos colégios, pelos professores, servidores e trabalhadores do comércio e, em geral, encontrando também grande eco mesmo entre jornalistas, advogados e até entre os policiais. Os jovens militaram intensamente pela campanha, conseguindo votos entre suas famílias e amigos. A imensa simpatia e o apoio massivo da juventude é um sinal de vitalidade e acerto da campanha.
Em defesa das lutas sociais
Além de atacar com firmeza a velha política do estado, o financiamento privado de campanhas e denunciar as manobras das pesquisas eleitorais, o PSOL defendeu as lutas sociais, os direitos dos trabalhadores, melhores salários, medidas imediatas de recuperação da saúde, da educação e da segurança pública, a Reforma Agrária, a luta contra a opressão das mulheres, da população LGBT, etc. Em todos os eixos, reivindicou o fortalecimento da democracia direta, se comprometendo a, se eleito, realizar grandes congressos envolvendo trabalhadores das respectivas categorias. Também colocou em debate como garantir dinheiro para efetivar essas propostas, como elevar a arrecadação de impostos e corte de cargos comissionados e demais gastos com privilégios tais como viagens.
Política para o semiárido
Outro diferencial foi apresentar uma abordagem ousada e diferente para a questão do semiárido nordestino e a desertificação, com uma nova política hídrica e o plantio de milhões de árvores, combinando assim a questão ambiental que, infelizmente, em geral, é ignorada pelas campanhas da esquerda socialista.
A preocupação de dialogar com a consciência dos trabalhadores e a juventude, com seus anseios, suas dúvidas, suas desconfianças, sem apresentar chavões tão típicos da esquerda nem sequer rebaixar o programa foi uma preocupação constante, fazendo uma ponte compreensível entre nossas estratégias e as reivindicações mais sentidas pela população.
As decisões da candidatura de Robério Paulino e boa parte dos eixos de campanha foram tomadas democraticamente em prévias internas do partido, em diversas cidades do interior e na capital. Para a construção do programa, também se realizaram reuniões abertas de apoiadores e simpatizantes do partido pelo estado. Foi uma campanha modesta, de apenas 30 mil reais, financiada por apoiadores, sem aceitar dinheiro de empresas e, mesmo assim, conseguiu um excelente resultado, mostrando que não é preciso rebaixar o programa, fazer alianças espúrias como no Amapá, ou aceitar dinheiro de empresas para fazer uma campanha vitoriosa, como se chegou a fazer no Rio Grande do Sul.
Faltou Frente de Esquerda
Infelizmente, o PSTU no estado não aceitou reeditar a Frente de Esquerda de 2012, apesar da proposta do PSOL de até aceitar ceder a cabeça de chapa desde que houvesse um processo democrático pela base, onde ativistas sociais pudessem decidir quem deveria encabeçar a Frente, como hoje faz o movimento Podemos, na Espanha. O PSTU argumentava que tinha mais peso social no estado e que, por ter a vereadora de Natal Amanda Gurgel ao seu lado, poderia ter mais votos que o PSOL, avaliação que se mostrou completamente equivocada.
Esse resultado também coloca o PSOL no estado em outro patamar de inserção social, aumentando as oportunidades de crescimento por todo o RN, mas ao mesmo tempo exige superar a característica infelizmente muito sectária de várias correntes do partido, que variam do hegemonismo ao sectarismo e que, mesmo durante as eleições, não acreditaram no potencial da candidatura e não se integraram como necessário na campanha majoritária.
Encerrado o processo eleitoral, é o momento de consolidar nas fileiras do PSOL diversos apoiadores do interior do estado e da capital que apostam na construção de uma esquerda consequente para barrar os ataques dos governos estadual e federal e conquistar mais direitos, com a certeza de que votar foi só o começo.
Alguns eixos do programa
Saúde: Recuperação imediata dos hospitais regionais, melhores condições de salário e trabalho para os servidores, combate à privatização, investindo no mínimo 20% do orçamento.
Educação: Acabar com o analfabetismo em oito anos, recuperar as escolas, combate à precarização da UERN, investimento de 25% do orçamento, no mínimo.
Segurança: Reequipar as delegacias, convocar os 824 concursados da policia militar, mas também repensar o modelo de segurança, buscando combater pela raiz os problemas, investindo pesadamente na questão social, dando um futuro às crianças e à juventude. Abrir a discussão sobre a desmilitarização da policia militar com a categoria e com a população, defendendo uma polícia civil única e cidadã, que não reprima os movimentos sociais.
Questão hídrica e agrária: Construção de milhares de cisternas-calçadão de até 100 m em cada propriedade, utilização das estradas como coletores, desmatamento zero, reforma agrária e plantio de milhões de árvores.
Opressões: Delegacia das mulheres 24h e combate ao turismo sexual. Cartilhas educativas de combate à homofobia.