Barrar a contraofensiva de governos e patrões!
O Brasil está passando por uma crise de “estagflação”, que é a combinação de inflação alta com a economia quase parando (estagnação). O governo já admite que o PIB (a soma de tudo que é produzido no país durante um ano) crescerá num ritmo mais lento e reduziu sua previsão de aumento para esse ano de 2,5% para 1,8%. Enquanto isso, o FMI prevê um crescimento de 1,3% e a média das previsões publicadas no Boletim Focus do Banco Central aponta para um crescimento de míseros 0,9%.
A economia desacelerou fortemente esse ano, puxada para baixo pela indústria e nos marcos da crise econômica mundial. O setor automobilístico tem tido o pior desempenho. A produção no setor em maio foi 20,1% menor do que em maio de 2013. A redução do IPI já não consegue elevar as vendas.
A tendência de desindustrialização continua. O aumento do consumo dos últimos anos tem beneficiado principalmente produtos importados, enquanto a indústria doméstica tem tido dificuldades com o real relativamente forte, segundo a lógica do mercado. No primeiro semestre deste ano, as exportações de produtos manufaturados caíram 13% em comparação com 2008, antes da crise mundial. O déficit de produtos industrializados (exportações menos importações) foi de US$ 56 bilhões, três vezes a mais que em 2008.
A geração de empregos também patina. Em junho, foram geradas somente 25 mil vagas (contratações menos demissões), o menor resultado desde 1998. Para o ano inteiro, a previsão é de criação de apenas um milhão de novos postos, o pior resultado desde 2003. O desemprego só não subiu ainda por que houve um aumento da parcela da população que desistiu de procurar emprego.
A inflação acumulada (IPCA) dos últimos 12 meses ultrapassou o teto de 6,5% em julho e o Banco Central elevou sua estimativa da inflação para o ano de 2014 para 6,4%. Além disso, há riscos de novos choques de preços no curto e médio prazo. Em muitos lugares, não houve aumento do transporte público e a pressão é alta por parte das empresas para aumentar a tarifa e garantir seus lucros. Em Natal, Campinas e outros lugares, a tarifa já está aumentando.
A falta de água, principalmente no Sudeste, onde os reservatórios estão em 35% de sua capacidade, provocou um forte aumento do uso de usinas termelétricas com alto custo para gerar energia. O custo foi financiado por empréstimos, que vão ser pagos com aumentos na conta de luz. Consultorias ouvidas pela Folha de S. Paulo falam em aumento de até 25% no ano que vem.
O governo vem segurando também o preço da gasolina e, com isso, a Petrobras vem acumulando prejuízos, tendo que pagar a preço de mercado mundial o que importa ao país. Com a grande demanda de investimento no pré-sal e forte pressão das usinas de etanol (que fica menos competitivo com gasolina mais barata), é possível que o governo autorize um aumento da gasolina, após as eleições.
As famílias continuam endividadas e isso, junto com o aumento dos preços e dos juros, segura o consumo. As famílias comprometem 30,3% de sua renda para pagar dívidas, comparado com 29,2% em julho do ano passado. No primeiro semestre, foram fechados 76 mil postos de trabalho no comércio, um efeito direto da estagnação no consumo.
A desaceleração da economia afeta a arrecadação de impostos. No primeiro semestre, a arrecadação cresceu só 0,28% e o governo já reduziu em 9 bilhões a previsão de quanto irá arrecadar de impostos no ano.
O que vemos é o esgotamento do modelo de crescimento dos anos Lula e Dilma. Tudo isso aponta para um aumento dos ataques contra os trabalhadores após as eleições, independentemente de quem ganhe, seja Dilma, Aécio ou Campos. Os três são bancados por empreiteiras, bancos e outras grandes empresas e são comprometidos com a cartilha neoliberal. A pressão de seus mestres capitalistas será enorme para resolver “problemas estruturais” e o “custo Brasil”. Isso se traduz em novos ataques aos direitos dos trabalhadores, seja para evitar aumentos salariais, seja para retirar direitos conquistados e tornar mais difícil lutar contra esses ataques.
Querem evitar que os trabalhadores sigam o exemplo dos garis do Rio de Janeiro, que atropelaram sua direção pelega, fizeram uma greve com forte mobilização e conquistaram um aumento do piso salarial de 37%. Por isso, os governos têm tido uma postura mais dura contra as greves, incluindo demissões de grevistas, como no caso dos rodoviários e metroviários em São Paulo e dos professores no Rio de Janeiro.
A linha mais dura contra o aumento de salário já se mostra nas estatísticas. Os salários ainda estão aumentando, mas em ritmo mais lento. Segundo o levantamento do DIEESE o aumento real (descontado a inflação) do salário anual médio foi de 1,5% em 2013, ante 4,3% em 2012. Querem também evitar novas vitórias como as do MTST por moradia, já que podem inspirar novas lutas de outros movimentos.
O aumento da criminalização das lutas, como ocorreu no último período e durante a Copa, é só o começo. Junho e as lutas posteriores foram um sinal de alerta para os governantes e capitalistas. Eles se reagruparam e entraram na ofensiva, se preparando para lutas mais decisivas no ano que vem. A esquerda ainda não está suficientemente preparada para se colocar à altura do desafio. Precisamos construir urgentemente a unidade na luta. Isso passa por um grande encontro nacional que reúna os movimentos com disposição de luta para que se trace um plano de ação e se construa um programa conjunto.