Mulheres e megaeventos

A cidade do Rio de Janeiro tem sido palco de grandes intervenções para receber a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Essas mudanças causam impacto direto na vida das mulheres trabalhadoras, especialmente no campo do trabalho informal, que representa 60% das mulheres brasileiras. Segundo pesquisa realizada pela Casa da Mulher Trabalhadora, as ambulantes do Rio terão extrema dificuldade para trabalhar durante o período da Copa do Mundo, devido ao “choque de ordem” da prefeitura e às restrições impostas pela FIFA.

A Lei Geral da Copa, aprovada em 2012, impõe que um perímetro de dois quilômetros ao redor dos eventos oficiais da Copa do Mundo é “Território da FIFA”. Esses espaços são reservados exclusivamente para as grandes redes e marcas patrocinadoras do megaevento. Para trabalhar no “Território da FIFA”, só com autorização. Sendo assim, as maiores preocupações das ambulantes que não possuem licença para trabalhar é a garantia de sua sobrevivência e de suas famílias, tendo em vista que, com a Copa, irão aumentar tanto a repressão do “choque de ordem” quanto a violência e a extorsão da polícia.

Quem faz a bandeira?

Há também graves denúncias de exploração de força de trabalho feminina e infantil nas confecções onde são feitas bandeiras, camisetas e outros adereços em verde e amarelo. Este trabalho tem sido feito sob longas e intensas jornadas de trabalho, conforme afirmou a ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) no 1o. Encontro de Atingidos pela Copa, que ocorreu em Belo Horizonte no mês de maio. Por pouco mais de um salário mínimo, as costureiras estão produzindo de 400 a 800 dessas peças por dia, em turnos de 12 a 14 horas, sem garantia de direitos sociais ou trabalhistas.

Nas doze cidades-sede da Copa, estima-se que cerca de 200 mil pessoas foram removidas de suas casas por conta de obras como estádios e avenidas. Só no Rio de Janeiro já são mais de 30 mil pessoas retiradas de suas moradias ou sob ameaça de remoção – e as mulheres são as mais afetadas.

Turismo sexual

Outro impacto é o aumento do turismo sexual. O Brasil possui um dos maiores níveis de exploração sexual infanto-juvenil do mundo. De acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, estima-se que existam 500 mil crianças e adolescentes na indústria do sexo no Brasil. Este índice tende a crescer ainda mais com a Copa de 2014.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o mercado da prostituição deve crescer em 60% durante o torneio. Mesmo antes da Copa, já há denúncias do aumento de exploração sexual, incluindo crianças e adolescentes, nos arredores dos estádios. Nas cidades de Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Manaus, já conhecidas internacionalmente como rota de tráfico de mulheres e locais de maior incidência da exploração sexual, a situação é especialmente crítica.

Essas questões têm se configurado como desafio à organização do movimento de mulheres para construir uma agenda de lutas que enfrente esta realidade. No Rio, o Fórum Estadual de Combate à Violência Contra à Mulher tem promovido panfletagens, debates, atividades de rua e atos a fim de dar visibilidade da luta das mulheres neste contexto de conflitos urbanos em evidência.

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