Rio de Janeiro em convulsão
Avenidas e rodovias paralisadas devido a protestos e ações de grevistas virou rotina no Rio de Janeiro. Após as jornadas de junho do ano passado o povo já não aceita mais de cabeça baixa os ataques do governo e dos patrões. É o que vimos com a greve do Comperj, dos professores das redes municipais, servidores públicos federais, nas obras do Parque Olímpico, resistência de comunidades que estão sendo removidas, etc. Os ataques aos direitos da população continuam e se intensificam, mas não sem resistência e luta!
Sérgio Cabral entregou a gestão desmoralizado. Ele deixou de participar da inauguração de obras em Campos dos Goytacazes por medo de protestos. Seu sucessor Pezão, segundo a pesquisa Ibope, está em último lugar na corrida eleitoral para o governo do estado, com 5% das intenções de voto.
Seja qual for o novo governador após as eleições deste ano, não terá a mesma estabilidade política que tinha Cabral antes das lutas de junho, quando sua popularidade despencou. Desta forma, não será fácil efetivar ataques aos direitos da população sem enfrentar protestos e lutas.
Operários nas obras do Parque Olímpico exigem condições dignas!
Pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou que 55% da população acredita que a copa do mundo vai trazer mais prejuízos do que benefícios. O povo está vivendo na pele o aumento da especulação imobiliária e remoções para favorecer as empreiteiras e expulsar os pobres das áreas centrais e “nobres”, perseguição a camelôs, criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, etc.
O maior símbolo da contradição gerada pela Copa são as greves nas obras dos megaeventos. Agora quem cruzou os braços foram os operários que trabalham na construção do Parque Olímpico dos Jogos de 2016, uma das principais obras das Olimpíadas. Eles estão em greve desde o dia 03 de abril e em assembleia no dia 14 de abril os operários decidiram mantê-la, com adesão total pelos trabalhadores. O consórcio Rio Mais ainda não apresentou uma proposta à categoria.
Dura repressão à comunidade da Telerj
Muitas comunidades estão sendo removidas para atrair o grande capital, empurrando os pobres cada vez mais para as periferias. Em nome dos megaeventos se justifica o aumento da repressão e da criminalização da pobreza, como vemos com a desocupação do prédio da Telerj, no Engenho Novo. Na madrugada do dia 11 de abril mais de 1,5 mil PMs retiraram as 5 mil famílias que viviam no prédio desocupado de propriedade da Oi, antiga Telerj. Foi usada muita violência contra crianças, mulheres, e idosos. Tomados por raiva e indignação os moradores da ocupação depredaram o que encontraram pelo bairro, que virou palco de uma guerra civil.
Mais de 50 famílias ficaram ocupadas na frente da prefeitura. Depois de reunião entre a comissão de moradores e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social a resposta da prefeitura tem sido cadastrar as famílias no Programa Minha Casa Minha Vida, sem previsão para a entrega das casas e sem alternativa emergencial de moradia.
Após mais uma repressão orquestrada pela Guarda Municipal, com o apoio da Tropa de Choque da PM na madrugada do dia 17, uma parte dos moradores da comunidade da Telerj foram para a Catedral Metropolitana do Rio.
As lutas se multiplicam!
A extrema repressão utilizada na reintegração de posse da Telerj é só mais um exemplo de uma política clara de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Esta política se intensifica com a militarização da vida. A desculpa de combate ao tráfico está em função da imposição deste projeto de cidade, dos interesses das grandes corporações, como vemos agora com a presença das forças armadas no complexo de favelas da Maré.
A presença das forças armadas não tem prazo de término e nem uma quantidade definida de contingente. Isso será definido de acordo com a necessidade dos governantes de aumentar o “controle social”, a repressão a qualquer mobilização social, em especial durante a realização dos megaeventos. A concessão do mandado de busca coletiva permite que a polícia entre na casa das pessoas a qualquer momento, tratando a população pobre como bandidos em potencial.
Resistência contra violência policial
A exacerbação de poder da polícia e da criminalização da pobreza estão mais explícitos graças à reação da população, de denuncia e resistência, como vemos nos diversos protestos na Praça Seca, Zona Oeste do Rio, contra assassinatos de jovens negros pela polícia. Douglas Rafael da Silva Pereira, jovem morador da comunidade Pavão-Pavãozinho, foi espancado até a morte após a ação da polícia, por ter sido confundido com traficante.
Mais uma vez a população desta comunidade, juntamente com moradores do Cantagalo e diversos apoiadores, foram à rua exigir um basta à violência do estado. O que também ocorreu com o caso Claudia da Silva, trabalhadora que morava no Morro da Congonha, em Madureira, que foi assassinada pela polícia e arrastada pelo camburão por várias centenas de metros em via pública.
Aumentam as lutas, explosões sociais e greves. Os trabalhadores do Estaleiro Brasa estão em greve desde o dia 15 deste mês, o qual é responsável pela construção da “Plataforma Cidade de Ilha Bela”, os garis do Rio e Niterói fizeram greves vitoriosas, os operários da Comperj paralisaram por completo o funcionamento da petroquímica por 40 dias e os hospitais federais paralisaram.
Na educação, os trabalhadores aprovaram indicativo de greve para as redes municipal e estadual a partir de 7 de maio, quando farão paralisação unificada. Outras redes municipais em estado de greve devem se somar a esta greve unificada que luta por reajuste emergencial de 20%, melhorias no plano de carreira, implementação do 1/3 da carga horária em planejamento extra-classe, fim da meritocracia e da privatização da educação, entre outras reivindicações.
O papel da esquerda
Uma maior articulação das inúmeras lutas que ocorrem poderia incentivar outras categorias e movimentos sociais a que também saíssem à luta. Falar em greve geral hoje não é algo abstrato, pois as greves já explodem e se multiplicam mesmo sem uma articulação maior.
Os movimentos sociais e partidos de esquerda (PSOL, PSTU e PCB), precisam dar um passo a diante neste novo cenário. A classe dominante está mais articulada e está intensificando a repressão contra as lutas sociais. Precisamos construir espaços de articulação, trocas de experiências e construção de um programa e plano de lutas.
Por isso entendemos que a Plenária de movimentos sociais, o fórum de saúde, os fóruns unificados de luta e o Comitê Popular da Copa e da Olimpíada são espaços muito importantes para unificar a esquerda. No entanto, vemos que estes ainda são insuficientes e mantêm a fragmentação dos lutadores e lutadoras, pois setores privilegiam um dos espaços e não outros. Precisamos mais do que nunca apontar para a necessidade de construção de uma greve geral construída pela base e a realização de um novo encontro nacional dos lutadores e lutadoras mais amplo, que nos preparem para as lutas que virão. Isso pode proporcionar um enorme salto de organização da classe trabalhadora.