Construindo uma alternativa para o Rio Grande do Norte
O Rio Grande do Norte combina questões antigas do campo com os graves problemas presentes no caos das cidades. As oligarquias medíocres e arrogantes que comandam a política do Estado seguem de braços dados com grandes empresários, sustentando um modelo perverso, onde a riqueza dessas famílias e grupos se fazem às custas da miséria da população e do meio ambiente.
As lutas que se fortalecem, tendo como marco 2011, em que o Estado ficou conhecido como “Rio Greve do Norte”, a Revolta do Busão, já em 2012, como as jornadas de junho de 2013, revelam uma alternativa que cresce e se consolida. Conseguir levar essa alternativa ao campo das eleições, mesmo reconhecendo seus limites, é um desafio colocado aos socialistas.
Em 2012, na capital potiguar, Natal, com a Frente de Esquerda composta não apenas por PSOL e PSTU, mas também diversos ativistas que hoje não atuam em partidos, foi possível fazer uma campanha claramente classista e socialista, em sintonia com a juventude, as trabalhadoras e trabalhadores que estão nas ruas lutando por melhores condições de vida e trabalho. O resultado disso foi a eleição de três mandatos socialistas: Amanda Gurgel (PSTU), a vereadora eleita com mais votos na história de Natal, junto com Sandro Pimentel e Marcos Antonio (PSOL). Mais do que isso, a campanha conseguiu, com grande alcance, tratar de diversos temas como a realidade na saúde e na educação, denunciar a criminalização dos movimentos sociais, e dessa forma ser de fato um canal para apresentar à população o acúmulo dos movimentos combativos. Robério Paulino, como candidato a prefeito, cumpriu um papel importante nos diversos debates promovidos por instituições da cidade e também pelos canais de mídia.
Reivindicamos essa campanha de 2012 como uma referência. No pós-junho de 2013, as possibilidades só aumentam: temos experiências recentes de como é possível transformar a realidade, quando milhares de pessoas vão às ruas.
Faz-se necessário que a esquerda apresente uma alternativa forte e clara às oligarquias capitalistas, reeditando a frente de esquerda de 2012, com PSTU, PSOL e diversos movimentos, além de abrir discussão com o PCB também. Diante do cenário colocado, em que o PT possivelmente não apresentará um candidato ao governo, demonstrando uma integração completa a essa velha política, teremos maiores possibilidades de crescimento.
A base define pré-candidato ao governo
Para os partidos tradicionais, a eleição é um jogo de troca troca: uma secretaria para um, um ministério para outro. A base dos partidos nada decide, tudo é arranjado por cima, pelos caciques partidários. O PT também sucumbiu a essa velha política, adaptou-se a ela.
No Rio Grande do Norte, por proposta também da LSR, o PSOL realizou prévias nas cidades onde o partido está estruturado, dando um exemplo nacional de como um partido socialista deve definir o programa e seu candidato. Depois da desistência de dois pré-candidatos ligados ao Bloco Unidade Socialista, ficaram dois pré-candidatos: o professor Robério Paulino e o sindicalista Santino Arruda, ambos propondo fazer uma campanha pela esquerda de Randolfe Rodrigues, imposto pela maioria artificial no congresso do PSOL, mesmo contrariando grande parte da militância ativa do partido.
Ao fim das prévias, foi escolhido o nome de Robério Paulino como pré-candidato do PSOL ao governo do estado. Robério é professor da UFRN e fundador do PSOL, atual dirigente estadual, com conhecimento profundo das velhas mazelas do estado, como a concentração fundiária, a equivocada política hídrica, a ameaça de desertificação que vivem muitas áreas do semiárido nordestino, como também dos novos problemas urbanos relacionados à educação, saúde, segurança etc. Militante e intelectual socialista, acreditamos que é quem melhor pode, na atual conjuntura, estar a frente dessa Frente de Esquerda, que para nós deve ser coletiva e sintetizar o acúmulo das lutas e da universidade em uma plataforma combativa, socialista, de negação da velha política e dos ditames dos empresários sobre o estado.
Desde o ano passado, nosso bloco vem promovendo discussões acerca das questões mais urgentes para o estado, como:
A questão hídrica e agrária: o problema não é a seca, é a cerca!
É preciso desmontar o argumento de que a triste situação de seca na região Nordeste é um problema “natural”, hídrico, da insuficiência de chuvas. Basta ver que, em diversos países, como Austrália e Israel, chove bem menos que no Nordeste e essa questão é contornada.
A maior comprovação do que dissemos acima é que, na Zona da Mata litorânea, na qual chove muito, pesquisas apontam que, fora de períodos de seca, a miséria é maior do que no sertão. Isso porque no sertão os pequenos sitiantes têm terra e pequenos rebanhos e conseguem ter alimento e alguma renda para o ano. Já no litoral, as usinas de açúcar contratam durante 3 meses, ficando os trabalhadores desempregados, sem terra e sem renda, no restante do ano.
Em ambos os casos, é urgente a reforma agrária. Os grandes latifúndios e o uso predatório da terra, representam um verdadeiro atraso que prejudica a população rural, o desenvolvimento econômico e social do estado e a própria natureza. Uma questão urgente é reverter o processo de desertificação que vive a região, com o plantio de milhões de árvores nativas e frutíferas.
Não queremos apenas “mais médicos”, queremos “mais saúde”!
Na medida em que a eleição se aproxima, os políticos prometem hospitais, melhorar os famosos ‘postinhos’, mais médicos, etc. Mas, fora dos períodos eleitorais, vêm privatizando o SUS. Entregar os serviços públicos de saúde é sucatear o serviço e transformar a saúde da população em mercadoria, além de prejudicar os profissionais e técnicos em saúde. Por isso a campanha será claramente contra a privatização dos serviços públicos.
Pensar a saúde está além de pensar os serviços públicos. Ela precisa ser vista com uma concepção integral, que envolve saneamento básico, trabalho seguro e decente para todas e todos, e até mesmo opções de cultura, lazer e esporte.
Uma revolução na educação!
O estado vive um caos na educação. Recentemente foi publicado o último ranking do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), em que o Brasil aparece em 53º lugar entre 57 países, com o Rio Grande do Norte em 15º lugar no Brasil, ficando atrás mesmo de Piauí e Rondônia, por exemplo, estados com menor arrecadação e mais pobres. Isso revela o tremendo descaso das elites locais com o ensino, ao passo que investem bilhões para sediar o megaevento da Copa do Mundo.
A Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) também vive um problema sério, com salas de aula sem ar condicionado, sem qualquer investimento. O primeiro e único concurso que a instituição realizou foi em 2010!
Vida digna para todas as mulheres: pelo fim da violência doméstica e do Estado!
O tema para o ato do 8 de março deste ano não poderia ser diferente: “Para a Copa milhões, para as mulheres migalhas!”. Recentemente foi publicado um dado que estimou em apenas R$ 0,86 o gasto por mulher na dotação às políticas de proteção a mulher no estado em 2013.
Isso é ainda mais gritante em um contexto de Copa do Mundo, em que o turismo sexual fica ainda mais evidente. O turismo sexual não se expressa apenas na situação das mulheres jovens, sobretudo negras, empurradas para a prostituição. Empresas como a FIFA e Adidas, e até própria prefeitura, tornam o corpo da mulher brasileira um “atrativo” para turistas.