Não era só por 20 centavos, mas por um projeto justo de cidade!
A população foi às ruas em junho de 2013 pela revogação do aumento da tarifa e conquistou esta reivindicação. Mas não deixamos as ruas, pois o problema do transporte não está resolvido pelo não aumento da tarifa. Nós queremos questionar toda a lógica de transporte imposta nas cidades que permitiu, novamente, o anúncio de aumento da passagem no Rio de Janeiro e em outras cidades.
Discutir a crise do transporte é por em debate onde será investido o dinheiro público e o projeto de cidade. O acesso ao transporte público implica em discutir o direito a cidade: como podemos ter acesso à educação, lazer, saúde (ainda que serviços precários) se a tarifa é mais uma catraca? Hoje, nós temos 37 milhões de brasileiros que deixam de usar o transporte coletivo regularmente por não poderem pagar a tarifa, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos. O aumento periódico da tarifa é também desproporcional ao da inflação. Em São Paulo este aumento entre 1995 e 2011 foi de 263%, enquanto a inflação foi de 131%.
O recente caso de pane no metrô em São Paulo revoltou novamente a população. A cidade de onze milhões de habitantes transporta, só nas cinco linhas do metrô, quatro milhões de usuários por dia, sendo o metrô mais superlotado do mundo. O metrô é a melhor alternativa de transporte público e é preferência da população por ser um serviço rápido. Porém, o investimento nele é baixo e cada vez mais existe a ameaça de privatização.
Temos poucos trilhos no país e muitas rodovias. Os dados apresentados pelo Ilaese (Instituto Latino Americano de Estudos Sócio-Econômicos) mostram que a preferência de investimentos nos transporte rodoviário, onde circulam 90% dos passageiros do Brasil, se intensifica nos anos 1950 com o desenvolvimento das indústrias automobilísticas, como a Ford e a GM. Isso explica porque, desde então, a prioridade das autoridades públicas foi diminuir a expansão das ferrovias e aumentar a das rodovias.
Os governos priorizam o automóvel
Hoje, os atuais governos diminuem os impostos dos automóveis para aumentar as vendas de carros, investem em rodovias para “dinamizar” o trânsito e ainda financiam as concessionárias privadas e permitem que elas extraiam os lucros do transporte, tudo isso com o nosso dinheiro, que poderia ser investido em transporte público de qualidade e sem tarifa! Nós precisamos estatizar o transporte coletivo, com tarifa zero e controle democrático dos trabalhadores!
Mas também, discutir a crise do transporte é pensar em por que milhões de trabalhadores e trabalhadoras devem se deslocar todos os dias a distâncias enormes para trabalhar, por que a juventude tem que estudar em locais cada vez mais distantes de suas casas, por que o lazer e a cultura estão distantes de nossas casas e bairros.
Vivemos em uma cidade que nos segrega. Ao mesmo tempo em que existem muitos imóveis vazios nas regiões centrais, a única opção de moradia para boa parte do povo é a rua ou a periferia distante. Isso porque, com a especulação imobiliária, torna-se cada vez mais caro viver no próprio bairro. Para a população pobre, a especulação é sinônimo de aumento no aluguel, nos impostos, ou mesmo sinônimo de remoção de ocupações e favelas.
E, por isso, moramos cada vez mais distante do nosso trabalho, da nossa universidade, da biblioteca, do parque, dos hospitais, sem direito a moradia digna com saneamento básico, sem transporte de qualidade!
Nos querem cada vez mais longe do acesso aos mínimos direitos e, por isso, precisamos também pensar no transporte coletivo junto com a necessidade da reforma urbana com expropriação da propriedade privada, sejam imóveis ou catracas!
Por isso, a nossa luta tem que ir além de cada ano protestar contra o aumento da passagem. Temos que lutar por um outro modelo de transporte e de cidade. E, para fazer isso, precisamos unir a nossa luta com outros que sofrem as consequências do mesmo sistema capitalista. Isso se faz construindo comitês da luta contra o aumento das passagens em cada cidade, que se una a luta por saúde, educação, moradia, etc., e que possamos impulsionar um grande encontro nacional dos movimentos em luta para decidirmos juntos como levar essas disputas adiante.
- Transporte de qualidade para toda a população! Chega de ficar apertado feito sardinha!
- Tarifa zero nos transportes públicos! O transporte é um direito, não mercadoria!
- Estatização dos transportes, sob controle democrático dos trabalhadores e usuários!
- Dinheiro tem. É só parar de desviar os nossos impostos para a corrupção, os gastos da Copa e o pagamento da dívida pública que coloca bilhões no bolso dos banqueiros e especuladores.