Criminalização dos protestos contra o aumento da passagem do Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, no dia 17/06/2013 ocorreu um grande ato da população indignada contra o aumento da passagem, que foi a gota d’água contra o governo de todos os níveis; municipal, estadual e federal.

100 mil pessoas se uniram na Candelária, seguindo pela Avenida Rio Branco, passando pela Câmara Municipal o ato partiu em direção a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e ao chegar lá encontrou uma grande proteção policial que se encontravam nas escadarias da ALERJ,  toda a proteção da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro de alguma forma já sabia que o ato se encerraria lá, mesmo não havendo nenhuma divulgação antes do ato que lá seria o local de termino, eu cheguei a perguntar as pessoas que estavam comigo no cordão de proteção do carro de som em que local o ato terminaria e só obtive uma resposta durante o ato. Se só foi definido no meio do ato que seria terminado ALERJ e lá tinha uma proteção com barras de metal e duas fileiras de PM, e não havia nada disso na Câmara Municipal de Vereadores,  é a prova que tinha pessoas infiltradas no ato e passaram a informação para algum setor da PMERJ.

Quando o ato chegou próximo a ALERJ, os manifestantes empolgados com a Ocupação do Congresso Nacional, começaram a entoar a música “A ALERJ é nossa, aha, uhu!” e “Vamos ocupar”, porém a resistência policial já estava na escadaria para impedir que isso ocorresse, e alguns setores que foram para a manifestação para radicalizar, soltaram bombas, molotov e rojões em direção aos policiais para que a ocupação pudesse ocorrer de fato. Mesmo os policiais com escudos e cassetetes, a revolta popular espontânea (mesmo que para alguns grupos, aquela revolta já estava de certa forma programada) fez com os policiais tivessem fugir para dentro da ALERJ e ficarem trancados lá, enquanto as pessoas pichavam e quebravam as janelas do maior símbolo carioca do Estado burguês e opressor. Enquanto a radicalização e a revolta popular ocorria nas escadarias da Assembleia,  e nas ruas próximas de lá, mesmo tendo uma dispersão,  um grupo de milhares de pessoas observavam todas as ações na av. Presidente Antônio Carlos, enquanto metade dos manifestantes cantavam “sem vandalismo”, a outra metade cantava “sem moralismo”.

Em um certo momento, me desloquei da multidão na av. Presidente Antônio Carlos e fui um pouco mais em frente a ALERJ e nesse momento foi jogado gases lacrimogêneos e houve um corre corre, e na rua da Assembleia observei um amigo que passou mal, então o ajudei e fui comprar água, mas ao retornar ele tinha saído do local aonde estávamos, então comecei a procura-lo em todas as ruas ao redor, e enquanto isso manifestantes faziam barricadas nas ruas, quebravam o maior símbolo do Capital, os bancos e infelizmente uma minoria quebrou lojas e pequenos grupos se aproveitaram para saquear. Após não achar meu amigo, continuei andando pelas ruas aos redores da multidão, observando todas as ações dos manifestantes descontentes com a opressão do capital e pichavam a foice e o martelo, além do A de anarquia, e de repente uma grande fogueira surgiu em frente a ALERJ e surpreso voltei para perto da multidão para poder ver o que estava ocorrendo e vi que cada vez mais as pessoas na escadaria tentando ocupar a Assembleia Legislativa, enquanto os policiais que se escondiam lá dentro com medo da população disparavam armas de fogos, que chegaram a atingir manifestantes.

Em um certo momento, a revolta das pessoas estavam em um nível tão alto que os policiais se renderam e o Corpo de Bombeiros, que chegou aplaudido pela multidão que cantavam a plenos pulmões “Uh, tá maneiro, os bombeiros são parceiros!”, para ajudar na saída dos policiais e então foi o único momento que subi as escadarias(pois em NENHUM momento tive intenção de quebrar ou pichar a ALERJ, mesmo não me opondo a tais atos), com o intuito de ajudar no cordão que levaria os policiais em direção aos carros dos bombeiros, garantindo a integridade os membros da PMERJ, porém nesse momento chegou um grande contingente do CHOQUE jogando um enorme número de bombas de gás lacrimogêneo, fazendo com que a multidão se dispersasse e os policiais presos na ALERJ saíssem pela saída lateral, corri para a praça XV devido a forte concentração de gases, porém infelizmente me perdi de alguns amigos que ainda estavam na manifestação e depois de algum tempo o CHOQUE cercou toda a região e vi um jovem e um mendigo sendo preso e fui perguntar o nome de ambos para poder ajuda-los entrando com os advogados que estavam na manifestação, mas ao perguntar o nome um policial do CHOQUE me disse “Se você não é imprensa, então vaza moleque, sai, sai” e começou a me dar empurrões e foi me seguindo até a rua Primeiro de Março, porém meu ônibus passa na rua rua Marechal Aguinaldo Caiado de Castro, então como o ato já tinha terminado há algum tempo, inocentemente voltei sozinho e passei novamente pela av. Presidente Antônio Carlos onde havia um grande número de policial do CHOQUE e um policial do nada me disse “Me dá sua mochila para eu revistar” e eu respondi que não tinha nenhum problema e ele perguntou se eu estava no ato e respondi que estava, e ao dizer que estava presente no ato ele me deu voz de prisão, apenas por estar no ato e fui colocado no ônibus do CHOQUE junto com pessoas que nunca vi na minha vida, depois de um terror psicológico (policiais chegavam dando ordem para trocarmos de assentos de tom agressivo a todo momento), além de falarem que se a gente ficasse conversando iam jogar spray de pimenta com todos os vidros fechados, após todo esse terror fomos encaminhado a 5ª Delegacia de Policia. Cheguei na delegacia pensando que ia ser liberado logo, pois não tinha cometido nenhuma depredação durante todo o ato, logo o artigo de depredação de patrimônio público não se enquadraria a mim e não teria motivo para ser preso, mas depois de umas 6 horas numa cela de 3 metros quadrados com 8 pessoas (sendo uma pessoa que não estava na manifestação, tinha sido preso por furto, ele era uma pessoa muito legal e respeitosa, mas o delegado podiam nos ter exposto nós manifestantes há uma situação delicada.), foi dito a mim que responderia pelo artigo 288, que é Formação de quadrilha! Eu que não cometi nenhum crime e não conhecia nenhum dos presos fui acusado por formar uma quadrilha. Essa acusação que foi feita a mim e há outras 10 pessoas, e a acusação de furto para o Caio (militante do PCR) e para Juliana, que é sua namorada.

Essa atitude de acusar pessoas que estavam dispersas voltando para casa, foi claramente uma ordem superior, afim de criminalizar a manifestação e para provar que a policia tem a capacidade de prender qualquer um que se rebele, então na mídia está sendo divulgado que os “vândalos” foram presos, e a policia saindo por cima; porém a verdade é que a policia não aguentou a revolta e ficaram encurralados dentro da ALERJ e a única solução para diminuir a humilhação da polícia, foi eu e outros inocentes sendo incriminados por algo que não fizemos.

Depois de uma longa noite numa cela em condições desumanas, foi dada o valor da fiança que ficou em torno de mil reais, porém o morador de rua teve sua fiança a principio estipulada em 3 mil reais e depois de muita negociação diminuiu para 700 reais que graças a uma vaquinha, conseguiu ser juntada.

É um erro enorme a acusação de formação de quadrilha da policia falar que um homem e uma garota com problemas psiquiátricos, uma mulher de 41 anos, um fotografo, além de outras pessoas que não tem nenhuma característica de formarem uma quadrilha.

A justiça real só será feita se todos os acusados de formarem quadrilhas tiverem seus processos arquivados, as fianças restituídas, pedido de desculpas pelas falsas acusações, punição dos oficiais que cumpriram ordens de prender e acusar inocentes, punição dos militares que utilizaram arma e fogo e revisão do caso dos acusados de furto para mudar para receptação ou arquivamento. Além do dano moral pela humilhação de passar a noite em uma cela minúscula e do material para todos que provarem alguma merda. Eu por exemplo ao sair da DP tive meu celular devolvido com o visor quebrado e com um broche faltando da minha mochila que apesar de pouco valor material, tem um grande valor sentimental. 

Apoie a libertação dos presos injustamente reembolsando os gastos com a fiança, deposite na conta do Pedro Assis Rodrigues Banco do Brasil: agência 2933-5 – conta 46674-3, queremos juntar os 1 mil reais gastos na fiança do Pedro e ajudar a pagar a libertação dos outros presos que também pagaram indenização para sair da prisão.

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