8 de março – um dia para relembrar as lutas e vitórias das mulheres trabalhadoras
Há mais de um século, o 8 de março tem sido o dia para comemorar e celebrar a luta da classe trabalhadora e das mulheres revolucionárias por uma sociedade socialista. Sua origem está nas lutas por salário igual e condições decentes entre as mulheres no final do século 19 e começo do século 20.
Uma conferência de mulheres socialistas da Segunda Internacional em 1910 adotou a proposta da lutadora revolucionária alemã Klara Zetkin, de criar um Dia Internacional das Mulheres.
Na Rússia, em 1917, o dia das mulheres estava marcado para 23 de fevereiro, segundo o antigo calendário Juliano. Foi nesse dia que as trabalhadoras de Petrogrado literalmente começaram uma revolução. Em protesto com o aumento de preços e escassez de alimentos, elas tomaram o centro da cidade, chamando os trabalhadores para se unirem a elas. O dia na verdade era o 8 de março, segundo o calendário (gregoriano) usado em todo o mundo.
“Abaixo a fome!” “Abaixo a guerra!” A fome estava tomando a vida de milhares de crianças, junto com os idosos, os muito doentes e os muito pobres. A I Guerra Mundial estava tirando a vida de milhões de camponeses e trabalhadores no front. A “Revolução de Fevereiro” de 1917, que acabou com o jugo do czarismo em todo o Império Russo, foi a precursora da vitoriosa revolução socialista de Outubro do mesmo ano.
Ganhos e perdas sob o capitalismo
Quase cem anos depois, o sistema do qual se diz que “não há alternativa” – o capitalismo – está passando talvez pela pior crise da sua história. Por um tempo, no século 20, em muitos países europeus e nos EUA, sob a pressão de poderosas lutas da classe trabalhadora, o capitalismo foi forçado a fornecer saúde, educação e creches. Nos períodos de crescimento, dispositivos que poupam trabalho do lar se tornaram disponíveis. Porém, a maioria das mulheres na África, Ásia e América Latina, que trabalham sem cessar, e milhões ainda dentro dos países mais desenvolvidos, se beneficiaram de poucas ou nenhuma dessas vantagens.
Na Europa e América, e outros países em certa medida, uma camada das mulheres trabalhadoras puderam insistir em pagamento igual, mesmas oportunidades e horas de trabalho flexíveis. No século 20, atitudes chauvinistas para com as mulheres e propagandas sexistas também foram desafiadas com algum sucesso. No mundo capitalista, a “dominação masculina” é parte do sistema – um legado do passado que serve para manter as divisões e a super-exploração da classe trabalhadora. Mas suas piores expressões podem ser combatidas através de protestos, especialmente se ligados ao movimento de uma classe trabalhadora unida contra os patrões e seu sistema como um todo.
Atingidas mais duramente pela crise
Hoje, no contexto da crise capitalista a escala mundial, os avanços das mulheres trabalhadoras e classe média estão sob ataque. Salário igual por trabalho igual, onde foi conquistado, tem que ser defendido. Se os líderes sindicais não travarem uma luta, esse e outros direitos básicos estão sob ataque. Avanços no reconhecimento da violência doméstica como um crime e medidas para ajudar as mulheres que buscam refúgio de parceiros violentos retrocederam.
Na primeira onda de uma crise, homens trabalhadores podem ser os primeiros a perder o emprego enquanto mulheres mais mal-remuneradas são mantidas no local de trabalho. Mas, à medida que a crise piorar e os empregos do setor público são cortados, as mulheres são atingidas mais duramente – perdendo seu emprego remunerado e vendo seus benefícios e serviços sociais diminuídos. Não é por acaso que elas estão na vanguarda das greves e greves gerais por toda a Europa.
As mulheres ainda são as principais responsáveis pelo lar. Elas fazem a maioria das compras, preparo de refeições, limpeza e cuidado para todos os membros da família. Isso, numa crise, significa preocupação dobrada com o orçamento que diminui – redução da renda e aumento dos custos. Quando os serviços públicos são cortados, isso significa mais horas e energia para o cuidado das crianças, e dos membros idosos e doentes da família. O desemprego em massa entre os jovens é uma grande preocupação. As oportunidades de instrução desaparecem e benefícios cortados ou inexistentes significam que os jovens são dependentes de suas famílias. O fardo das famílias trabalhadoras se tornam intoleráveis e os pais temem constantemente que os adolescentes desempregados serão arrastados para o alcoolismo, drogas e criminalidade.
Ao longo da crise que atinge a Europa, centenas de milhares de famílias foram destruídas pelo despejo de suas casas, emigração de jovens adultos, suicídios ou impossibilidade de cuidar dos mais jovens ou fracos. Na Grécia, mulheres desesperadas incapazes de cuidar de seus filhos estão dando eles para autoridades do governo, na esperança de que sejam cuidadas.
Não é nada surpreendente que nas manifestações na Grécia, as mulheres estejam entre as mais veementes. Elas não querem ver o relógio retroceder décadas, serem confinadas a cuidar da família, dilaceradas pela pobreza, fome, uma nova ditadura militar. Elas não têm nada a perder a não ser seu futuro. Um programa socialista de “Não à dívida; não à UE!” está ganhando apoio. A ideia de mudança revolucionária e auto-organização, acabando com os capitalistas e banqueiros e planejando a sociedade de acordo com a necessidade e não a ganância, tudo isso pode ser atraente para as mulheres – velhas e jovens. A alternativa sob o capitalismo é um pesadelo.
São as mulheres que sofrem com as guerras, fome, desastres naturais, roubo de terras e degradação ambiental. Elas sofrem mais com práticas religiosas reacionárias como casamentos forçados e mutilação genital. Mas também são as mulheres que sofrem mais com a incapacidade do capitalismo de desenvolver a economia para beneficio de todos, ao invés de para um punhado de ricos.
Se, nos chamados países desenvolvidos, horas mais longas no trabalho colocam enormes restrições sobre a vida familiar, especialmente sobre as mulheres, nas economias subdesenvolvidas, as mulheres fazem todo o trabalho mais oneroso nos campos. Também são elas que carregam água por quilômetros. Elas, junto com as crianças, são os trabalhadores mais assediadas e exploradas nas fábricas e minas.
Como a Care International pontua em seu website: 70% do um bilhão mais pobre do mundo são mulheres e crianças, dois terços das quais não podem ler ou escrever e, em muitos países, é mais provável que uma mulher morre durante o parto que que receba uma educação. Num mundo onde os ricos de cada país estão ficando mais ricos e os pobres mais pobres, a luta para ganhar as trabalhadoras para a bandeira da luta socialista e da revolução se torna mais urgente diariamente.
Índia e China
Em países como Índia e China, a maioria das mulheres e seus filhos vivem em absoluta pobreza. Uma certa camada da sociedade (cerca de 300 milhões de pessoa em cada caso) se elevou da pobreza absoluta para uma existência razoável de classe média baixa. À medida que a crise ataca, elas começam a serem forçadas de volta ao pântano da pobreza e falta de moradia. Algumas estão começando a lutar sobre a questão da habitação e meio ambiente.
Trabalhadores – homens e mulheres – que foram tirados da miséria da zona rural para grandes fábricas começaram a lutar contra as longas horas e condições de trabalho escravo impostos a eles. Na Índia, trabalhadoras jovens da Suzuki Maruti, por exemplo, formaram seus próprios sindicatos, entraram em greve e ganharam salários e condições melhores. Isso lhes deu uma chance melhor de alimentar, vestir e abrigar suas famílias e passar algum tempo com elas.
Mulheres jovens algumas vezes trabalham até 12 horas por dia nas verdadeiras estufas que são as fábricas da China. Recentemente, elas se envolveram em importantes greves. Na Foxconn (que emprega um milhão, na sua maioria mulheres) o suicídio parecia ser a única saída. Contudo, as greves do ano passado ganharam pelo menos melhorias temporárias. Ameaças de suicídios em massa mais uma vez chegaram às manchetes, mas a ideia de luta de massas está ganhando ímpeto. O cenário está sendo preparado para levantes revolucionários na atual situação da China, e muitas mulheres irão jogar um papel vital liderando-as até vitórias parciais ou plenas.
Também está aumentando o ressentimento na China contra a rígida política de um filho do regime. Ela causa grande sofrimento emocional e material, especialmente para as mulheres. Algumas que conseguem o dinheiro necessário, viajam até Hong Kong para se livrar do controle e dar à luz em hospitais de lá. Mas elas enfrentam não apenas a possibilidade de punição quando voltam, mas também tentativas racistas de atiçar a hostilidade contra os chineses continentais. Os membros do CIT em Hong Kong lutam inflexivelmente pelos direitos das mulheres e também contra toda expressão de racismo.
Direito das mulheres
As mulheres devem ter a chance de decidir livremente quando e se quiserem ter filhos (e quantos). Como gestantes, elas podem sofrer de enorme stress emocional e material por ter ou por não ter filhos. Os socialistas acreditam que elas devem ser capazes de escolher a interrupção segura da gravidez indesejada. Os membros do CIT em todo o globo fazem campanha contra os sectários religiosos e outros reacionários que não cedem à demanda por aborto gratuito, precoce e seguro. Isso deve ser visto como um direito e não o que dizem os “pró-vida” hipócritas, como “infanticídio”! Na Irlanda, a parlamentar do Partido Socialista Clare Daly tem se pronunciado pelo direito ao aborto.
À medida que a crise se aprofunda, as mulheres – solteiras ou com parceiros – irão ver que é cada vez mais difícil alimentar e vestir seus filhos. Se elas precisarem ou quiserem limitar o número de filhos que terão (ou não terão), elas não devem ser impedidas disso por restrições religiosas, estatais ou financeiras à contracepção ou ao aborto. As mulheres devem ser capazes de desfrutar de relações sexuais sem medo de uma gravidez indesejada. De outro lado, elas devem também ser ajudadas com os problemas de fertilidade, mais uma vez com a plena assistência do Estado.
Os socialistas precisam conduzir com sensibilidade campanhas contra os casamentos forçados, estupros, circuncisão feminina. A religião é importante para muitas pessoas, e elas devem ter o direito de praticar o que quiserem como indivíduos, contanto que não espezinhe os direitos básicos de outras. Isso inclui o uso da hijab ou mesmo da burka. Esse direito não deve ser negado às mulheres, nem imposto a elas.
Revolução
No ano passado, as revoluções estiveram na agenda. Em toda a história – na França de 1789 ou a Rússia de 1917, ou nas ruas de Túnis ou Cairo – elas podem eclodir pela demanda básica por pão. Elas podem acabar terminando derrubando reis, czares e ditadores.
Nas revoluções do Norte da África e Oriente Médio, as mulheres tiveram um importante papel nas batalhas de ruas e nas greves que trouxeram vitórias. As jovens, especialmente, mostraram uma feroz determinação de conquistar uma sociedade diferente da que era prescrita por ditadores e também por fundamentalistas religiosos reacionários.
Contudo, o tamanho da tarefa que ainda precisa ser completada, em países como Tunísia e Egito, é ilustrado pelos brutais ataques às mulheres mesmo na Praça Tahrir – centro da revolução. As mulheres organizaram importantes manifestações em protesto a isso. Na Tunísia, membros da seita extremista salafista têm atacado mulheres relativamente “liberadas” que trabalham nas universidades porque elas escolheram não usar o véu.
Uma reportagem recente na TV britânica mostrou que mesmo um ano depois da revolução no Egito, 90% dos pais ainda sujeitam suas filhas à mutilação vaginal – tirando delas a possibilidade de experimentar a satisfação sexual pelo resto da vida. Há um longo caminho para a luta por direitos iguais! Enquanto o capitalismo sobreviver, a exploração e opressão das mulheres irá continuar. Uma de suas piores expresses é a horripilante prática do tráfico de pessoas, a maioria com o objetivo de vender mulheres e meninas para a prostituição forçada. As campanhas contra todas as formas de exploração e opressão na sociedade atual, e da discriminação com base no sexo, nacionalidade, credo e orientação sexual, precisa de todo o apoio do movimento organizado dos trabalhadores.
As mulheres devem estar na linha de frente em todas as lutas por reformas e por revolução. O CIT fará tudo ao seu alcance para assegurar que isso aconteça. Livros, panfletos e brochuras sobre as questões que mais afetam as mulheres são de enorme ajuda. Reuniões e manifestações sobre questões específicas – fechamento de creches, maternidades, centros de recreação – podem atrair as mulheres para a luta socialista. Elas já estão jogando um papel vital nas campanhas por empregos para os jovens e nas greves de professores, funcionários públicos e da saúde contra os cortes e a austeridade.
No Sri Lanka, as mulheres que trabalham nas Zonas de Livre Comércio participaram de greves contra a reforma da previdência da ditadura Rajapakse e ganharam! No Paquistão, uma importante greve de enfermeiras foi vitoriosa. Na província de Sindh no ano passado, mulheres do CIT organizaram uma impressionante e barulhenta marcha sob a bandeira da “Associação das Trabalhadoras da Saúde Progressistas”. No Cazaquistão, as mulheres jogam um papel vital na luta contra os despejos. Nos EUA e outros lugares, os movimentos “Ocupe” viram mulheres expressando grande raiva contra os banqueiros e os privilegiados mimados 1% que dominam a sociedade sob o capitalismo. O modo como “indignad@s” é escrito na Espanha – combinando o feminino “a” com o masculino “o” – indica uma aguda consciência da importância de mulheres e homens serem tratados como iguais.
No Dia Internacional das Mulheres de 2012, o CIT sauda as bravas pioneiras socialistas. Também olha para um novo período de levantes revolucionários que se abre, no qual o CIT será preenchido e enriquecido com o recrutamento de destemidas lutadoras mulheres.
Os bolcheviques que subiram ao poder sob a direção de Lenin e Trotsky abriram imediatamente as portas para uma “Nova Vida” para as mulheres, como colocam um famoso cartaz de propaganda da época. Com base na economia nacionalizada, dirigida por representantes eleitos dos trabalhadores, e na difusão da revolução para economias mais “avançadas”, onde a indústria poderia se desenvolver mais rapidamente, o sonho de uma vida sem a labuta doméstica e no trabalho pode ser rapidamente realizado.
A ascensão de Stalin, o esmagamento do genuíno internacionalismo socialista, fechou essa porta. Sob o tacão do ditador, a vida para as mulheres se tornou cada vez mais dura – suportando o duplo fardo de longas horas na fábrica e da provisão inadequada de creches, lavanderias, restaurantes e instalações recreativas.
Ocorrem novas revoluções no mundo de hoje, contra um pano de fundo completamente diferente. Elas irão se espalhar rapidamente de um país a outro, como fizeram no ano passado. Governos de trabalhadores estabelecidos através da luta de massas hoje terão a tarefa de reorganizar e desenvolver a sociedade com base num nível muito mais elevado de tecnologia e ciência.
Os trabalhadores – homens e mulheres – que farão as revoluções socialistas do século 21 lutarão tenazmente para impedir que os velhos governantes se agarrem ao poder. Eles lutarão com unhas e dentes para impedir que qualquer figura como Stalin, ou uma camarilha privilegiada, roubem sua revolução. Com base na nacionalização e controle e gestão dos trabalhadores, se abrirão tais panoramas para a futura sociedade – baseada na satisfação das necessidades e desejos, ao invés de ganância e exploração – que ninguém aceitará que o relógio volte para trás.
Nós do CIT não descansaremos até que o socialismo seja conquistado mundialmente. Tal sociedade, baseada na propriedade pública e controle e planejamento democráticos, finalmente será capaz de utilizar harmoniosa e cooperativamente o talento de cada ser humano e cada recurso natural do planeta para o maior beneficio de toda a sociedade humana.