Last friday night: a juventude desejada pela burguesia

Um dos últimos sucessos de Katy Perry (famosa cantora norte-americana), Last Friday Night – Noite de sexta-feira passada – é uma música que não poderia transmitir e incentivar, de maneira mais clara, o modo de vida que a burguesia projeta e sustenta para a juventude em geral, porém sobretudo para a juventude que terá que trabalhar para ela. Vejamos algumas estrofes dessa música, retiradas de tradução realizada pelo site Terra:

Tem um estranho em minha cama
Minha cabeça está latejando
Glitter espalhado em todo o quarto
Flamingos rosa na piscina
Eu cheiro como um mini-bar
DJ desmaiado no quintal
Carne na churrasqueira
Isso é um chupão ou um hematoma?
(…)
Última sexta-feira
Sim, nós dançamos em cima de mesas
E bebemos muitas doses
Acho que nos beijamos, mas eu esqueci
 
Última sexta-feira
Sim, nós estouramos nossos cartões de crédito
Em seguida, fomos expulsos do bar
Então, nós fomos para a avenida
(…)
Última sexta-feira
Sim, eu acho que nós quebramos a lei
Sempre dizemos que iremos parar
Whoa-oh-oah
(…)
Tentando ligar os pontos
Não sei o que dizer ao meu chefe
Pensar que a cidade rebocou meu carro
O lustre está no chão
Rasguei meu vestido de festa preferido
Mandados expedidos para minha prisão
Acho que preciso de uma cerveja de gengibre
Isso foi uma falha épica
(…)
Mas esta sexta-feira
Faremos tudo de novo
Faremos tudo de novo

Tal celebração da vida desregrada, do consumo desenfreado e das relações humanas esvaziadas é uma prova exemplar de que o sistema capitalista, além de obrigar a maioria da população a vender sua força de trabalho e a um consequente modo de vida bastante difícil, também implica um modo de vida no mínimo questionável para os ricos. E isso não acontece de pouco tempo para cá! Marx, nos seus Manuscritos Econômico-Filosóficos, há mais de 150 anos, já denunciava:

“a imoralidade, a monstruosidade, o hilotismo, são, conjuntamente, dos operários e dos capitalistas, e se um poder desumano domina o operário, isso também vale para o capitalista. Quem frui a riqueza, de fato, se realiza como ser efêmero, irreal, débil, um ser sacrificado e nulo, que considera a realização humana como realização da sua desordem, do seu capricho”

Quem estoura cartão de crédito em baladas, portanto, e tem seu carro rebocado, ainda que tenha de se explicar ao seu chefe, dificilmente se encontra entre as camadas mais populares de nossa sociedade. No entanto, esse jovem ou essa jovem é estimulado(a), constantemente, a buscar no consumo em geral (e no de bebida, em particular), a sua felicidade e a sua realização pessoal. Da juventude trabalhadora à juventude herdeira, passando pela juventude das classes médias, todas elas são levadas a considerar a realização passageira de seus caprichos como a verdadeira felicidade, sem perceber que não passam de seres sacrificados e incompletos.

Não estamos, com isso, propondo, em contrapartida, uma vida de privação, nem que as pessoas se atenham a relações monogâmicas ou a qualquer fundamentalismo. Ao contrário: queremos que todas as pessoas possam trabalhar, estudar, sair com os amigos, amar e viver em abundância! Apenas apontamos como essa letra de música celebra o contrário dessa vida em abundância, e sim uma vida nula.

Que ninguém pare de dançar ao som dessa e de outras músicas, enfim, mas que atente às letras das músicas, eventualmente, e se pergunte se é mesmo isso que deseja para si e para os seus. ou “Faremos tudo de novo”?