Sindicatos gregos anunciam greve geral de 48 horas

O establishment grego ficou abalado pela greve geral de 15 de junho, que se combinou com a continuação da ocupação da Praça Syntagma em Atenas e outras grandes praças em outras cidades e com a demanda generalizada do povo grego para se livrar do governo de “mentirosos e ladrões”, como é amplamente chamado. 

Ao longo do dia da greve geral, o Primeiro Ministro Giorgios Papandreou ofereceu sua renúncia para se formar um governo de “unidade nacional”, apenas para depois retirar sua renúncia. O Pasok, o partido do governo, agora está tentando cerrar fileiras e manter alguma estabilidade. Espera-se que remanejamento dos ministros do governo seja suficiente para obter um voto de confiança para Papandreou na terça, 21 de junho (o debate começa no domingo, 19 de junho, no parlamento). Após um êxodo dos parlamentares do Pasok – alguns renunciando o cargo, outros deixando o partido – o grupo parlamentar do Pasok agora está mais unido com medo de perder mais e mais.

Contudo, esse é um governo extremamente fraco. Possui uma maioria de apenas 155 de 300, mas isso não é tudo – o pior problema é que as massas gregas percebem sua fraqueza, compreendem que ele foi abalado e se reúnem sob o slogan “Fora”. 

O governo e as forças por trás dele – a “troika” da União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e FMI, assim como os grandes negócios gregos – estão agora ameaçados por dias de resistência de massas intensificada a seus cortes selvagens. 

No domingo, 19, manifestações e assembleias em Atenas central atingirão o auge mais uma vez na Praça Syntagma, em frente do prédio do parlamento. Desde o início da ocupação da praça pelos “Indignados” em 25 de maio, os domingos são sempre usados para mostrar a força do movimento e discutir em uma enorme assembleia, de mais de 5 mil pessoas, o que fazer a seguir. 

Na segunda, dia 20, o GENOP, o sindicato dos eletricitários, começará uma greve de 48 horas. Essa greve será avaliada depois de dois dias e continuará imediatamente, se necessário. A Companhia DEI, até agora, continua estatal (o Estado possui 51% de suas ações), mas está ameaçada com mais privatizações ao longo dos cortes agora impostos pela troika e aceitos pelo governo do Pasok.

O sindicato dos trabalhadores municipais (POE/OTA) está chamando greve e ocupações dos prédios das prefeituras por meio de assembleias, seguindo o exemplo da Praça Syntagma. Contudo, não está claro se esse anúncio será seguido por ação real. 

Greve geral de 48 horas chamada pelas centrais

Na sexta, 17 de junho, as centrais sindicais do setor público e privado se reuniram e chamara uma greve geral de 48 horas, dois dias antes da votação do “segundo memorando” – o novo pacote de cortes severos – no parlamento. Espera-se que ela ocorra por volta de 28 de junho. 

Sob pressão do movimento de massas – os Indignados junto com trabalhadores em greve geral, 15 de junho – os líderes sindicais foram forçados a intensificar a resistência. O exemplo dos trabalhadores do GENOP pode levar a mais ações vindas de baixo. Após nove greves gerais desde o início da crise, que foram usadas apenas para protestar e dissipar a raiva, essa é uma mudança significativa. Trabalhadores, desempregados e jovens mostraram uma verdadeira determinação de batalha, com o claro objetivo de impedir mais cortes. As assembleias ofereceram a oportunidade de agir de forma mais independente dos líderes sindicais e pressioná-los a agir. 

Papel e poder das assembleias

Em Atenas, ativistas tentaram criar assembleias locais em vários bairros. Algumas vezes elas são inicialmente pequenas e mais uma reunião de ativistas de esquerda. Em algumas áreas, 100 a 150 se encontravam localmente em praça pública e começavam a agir: tentando se organizar para as grandes manifestações, oferecer resistência local contra ataques aos hospitais, apresentar demandas de como proteger os desempregados etc. Essas assembleias locais ainda estão em uma etapa inicial, e seu desenvolvimento futuro ainda não está claro. Dependerá do desenvolvimento geral do movimento e da luta de classes. 

A assembleia da Praça Syntagma está no centro desse movimento. As decisões tomadas lá são os marcos para o movimento, especialmente as assembleias locais. 

Os oradores são escolhidos por sorteio. Qualquer um que quiser falar recebe um número e os números são tirados ao acaso. Depois da discussão, as propostas são votadas.

Algumas questões foram resolvidas nas últimas três semanas. Por exemplo, agora é mais ou menos consenso que a dívida externa não deve ser paga. Após muito ceticismo compreensível em relação aos líderes sindicais, uma clara maioria agora saúda e almeja forjar laços fortes entre seu movimento dos Indignados e os trabalhadores em luta. A questão da nacionalização dos bancos é um debate em andamento e uma maioria é a favor dela, mas sem completo acordo sobre o que fazer a seguir. 

Outras questões estão sob debate. Na última quarta, a questão de se deixar a Zona do Euro e a UE foi posta sob votação e uma maioria a apoiou, mas sem uma alternativa clara. Enquanto os apoiadores do KKE (Partido Comunista – que não compareceu à assembleia, descrevendo-a como “pequeno-burguesa”) argumentaram na manifestação que a Grécia poderia resolver seus problemas melhor se fosse deixada sozinha, outros argumentaram para se levar em conta a economia grega no contexto da economia global. 

Enquanto a questão for posta apenas como uma “escolha” entre o euro, dominado pelas potências imperialistas da Europa, e um retorno à dracma numa base capitalista – ainda dominada pelas grandes economias capitalistas – será uma difícil escolha entre dois males. 

Xekinima (o CIT da Grécia) defende uma resistência a escala europeia dos jovens e trabalhadores contra a UE capitalista e todas as suas instituições, abrindo o caminho para a cooperação socialista, em todos os níveis, como parte de uma confederação socialista voluntária dos Estados operários da Europa. 

Outras questões debatidas diziam respeito ao papel dos partidos políticos, como se livrar do governo do Pasok, e com o que substituí-lo, mas apenas algumas respostas foram dadas.

Se essas assembleias se espalhassem a nível local, especialmente para os locais de trabalho e as assembleias do Syntagma juntassem delegados de todas essas assembleias, o embrião de uma futura alternativa pode ser criado: a base para um governo que trabalhe a favor dos interesses dos trabalhadores, desempregados, pobres e jovens. 

No momento, as assembleias oferecem uma chance de organizar a resistência contra os ataques, pôr os líderes sindicais em cheque e envolver ativamente mais pessoas para parar a agenda dos capitalistas gregos e internacionais.

  

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