Egito: Movimento revolucionário das massas luta pela derrubada da ditadura de Mubarak

Protestos em massa se espalham pelo Egito após as orações de sexta-feira, exigindo um fim para a presidência de Hosni Mubarak que dura 30 anos. Manifestações ocorreram em Alexandria, Suez, Mansoura, Sharqiya e Cairo. Em muitas destas ocorreram confrontos entre manifestantes e a polícia. A polícia utilizou gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição viva. Em regiões como Alexandria e Suez, o movimento atingiu proporções de insurreição, com a polícia e forças de segurança se retirando de partes da cidade devido a resistência de massas.

Esses são os maiores protestos desde os motins causados pelo aumento dos preços de alimentos de 1977, quando o regime de Sadat for forçado a reduzir os preços dos alimentos, e ao mesmo tempo aprofundar a repressão. Mas o movimento atual é de uma escala muito maior. É uma enorme revolta popular com característica revolucionária.

Nos protestos da quinta-feira (27/01) manifestantes tentaram incendiar uma sede local do partido governante, Partido Democrático Nacional. Houve relatos essa semana de tentativas por parte dos manifestantes de fraternizar e ganhar o apoio dos policiais. “Irmãos! Irmãos! Quantos eles pagam a vocês?” diziam os manifestantes aos policiais em Cairo.

Os manifestantes estão dando prova de uma enorme coragem confrontando o aparato do estado. Em alguns casos, os manifestantes estão forçando a polícia a recuar. Há relatos de que manifestantes tomaram uma delegacia em Alexandria e que a “polícia desistiu de combatê-los. A polícia e os manifestantes estão conversando, e os manifestantes estão trazendo água e vinagre (contra o gás lacrimogêneo) para os policiais” (Peter Bouckaert, Human Rights Watch, em Alexandria).

Os acontecimentos estão se desenvolvendo rapidamente com a entrada das massas no palco político. As próximas horas e dias serão decisivos e podem levar a queda de Mubarak. Ainda falta ver se o aparato de repressão do estado consegue resistir a maré de protestos. O papel potencial do exército, nas ruas ou nos bastidores, ainda não está claramente definido. No momento em que escrevo, há relatos de que a tropa de choque em Alexandria foi tomada pelos manifestantes, que se armaram com escudos da tropa de choque, fazendo com que os comandantes perdessem o contato com seus subalternos. Em Suez, manifestantes tomaram as armas dos policiais e arrombaram vans da polícia. Duas delegacias foram tomadas e os presos soltos.
 

A polícia e o exército

Instintivamente, os manifestantes fizeram um apelo aos policiais e soldados de base. Os manifestantes no Cairo gritaram palavras de ordem apelando pelo apoio do exército: “Onde está o exército? Venha ver o que a polícia está fazendo conosco. Queremos o exército. Queremos o exército”. Um repórter do Al Jazeera relatou que os manifestantes pulavam e comemoravam ao lado de uma van do exército, sem que os soldados fizessem algo.

Socialistas deverão fazer um apelo de classe para a base do exército e da política, que é oriunda principalmente da classe trabalhadora e dos pobres. Isso incluiria um chamado para a criação de comitês de ação de base e pelo expurgo dos oficiais e da hierarquia, para minar e neutralizar as forças de segurança como uma ferramenta de repressão de Mubarak.

Se a desintegração total ou parcial da polícia, como vimos em Alexandria e Suez hoje, se propagasse pelo país, o regime de Mubarak cairia. Contudo, mesmo sendo gravemente ferido pelos eventos extraordinários nas ruas, o regime Mubarak está lutando pela sua sobrevivência e pode aplicar uma repressão ainda mais selvagem. Mubarak mandou o exército tomar o controle sobre a segurança, indicando que ele não confia que a polícia seja capaz de segurar a onda. Realmente, a polícia no Cairo foi incapaz de controlar os protestos de rua.

O regime está tentando esmagar o movimento de massas, impondo um toque de recolher esta noite, bloqueando a maior parte da Internet e mandando forças de segurança à sede local do Al Jazeera. O exército foi colocado na rua, incluindo tanques. Alguns setores dos manifestantes acham que o exército é um potencial salvador mais isso pode se reverter rapidamente se os soldados   forem usados para prevenir brutalmente mais protestos.

Os eventos seguem em ritmo acelerado, e no momento em que escrevemos não está claro como o movimento vai responder esses novos acontecimentos. Levará o aumento da repressão – o “chicote da contrarrevolução” – a um aumento dos protestos e uma maior determinação por parte das massas em derrubar Mubarak? A base do exército vai passar para o lado dos manifestantes? Ou será que a força bruta do estado vai conseguir fazer o movimento retroceder temporariamente?

Mesmo Mubarak conseguindo se manter no poder, ainda que por um tempo, tirando o movimento das ruas pela bruta força, os eventos incríveis de hoje – o levante das massas – significam que o regime está moribundo. Os dias no poder de Mubarak estão contados, já não é possível o regime continuar governando do mesmo modo.

As manifestações de hoje marcam o quarto dia consecutivo de protestos no Egito, que está seguindo o exemplo de Tunísia. Até agora, pelo menos sete pessoas morreram durante os protestos e centenas foram presas. Um porta-voz da Irmandade Mulçumana, oposição ao governo, disse que vinte membros de sua organização, incluindo dirigentes, foram presos na quinta-feira (27/01).

O governo tentou barrar as manifestações de hoje bloqueando o acesso a Internet e aos celulares. Mas antes da Internet ser bloqueada, os ativistas conseguiram usar as redes sociais para chamar os manifestantes as mesquitas e às igrejas hoje. O regime também alertou que ia colocar uma “tropa de elite especial antiterrorista” em pontos estratégicos no Cairo.

As ações desesperadas do regime de Mubarak mostra que ele está perdendo a sua base social. Cerca de 30% da população de 80 milhões tem menos de 20 anos, a idade média é de somente 24 anos. Os eventos dessa semana mostram que o povo trabalhador perdeu o medo do regime. O jornalista veterano, Robert Fisk, comentou que “eles não tem mais medo… os homens de Mubarak perderam a iniciativa… a sujeira e as favelas, os esgotos a céu aberto, a corrupção por parte de todos os funcionários do governo, as prisões superlotadas, as eleições s ridículas, todo o amplo edifício de poder esclerótico, finalmente levou os egípcios às ruas” (Independent 28/01/2011).
 

A Irmandade Mulçumana

A Irmandade Mulçumana reagiu lentamente aos eventos dessa semana. Seus líderes tergiversava sobre se iam apoiar o movimento ou não. A Irmandade então se apressou a tentar alcançar a juventude nas ruas, tomando a iniciativa hoje de apoiar os protestos depois das orações de sexta-feira. Houve manifestantes gritando “Deus é grande!” ao sair das mesquitas. Fisk comentou que “Esse não é um levante islâmico”, alertando porém “ele pode ser tornar um”. Ele acrescenta que no momento “são simplesmente as massas de egípcios sufocados por décadas de fracasso e humilhação”.

Mesmo com as greves impressionantes nos últimos anos e a criação de vários sindicatos independentes, até agora a classe trabalhadora do Egito não entrou na luta como uma força organizada independente, impondo sua autoridade nos eventos e dando uma direção clara para a derrubada do regime de Mubarak. Um chamado a uma greve geral agora teria uma apoio da ampla maioria e iria paralisar a sociedade. Comitês de luta eleitos nos locais de trabalho, nos bairros, escolas e universidades, coordenados localmente, regionalmente e nacionalmente, poderiam ser a ponta de lança da resistência contra Mubarak e formar a base de poder dos trabalhadores e dos pobres.

Os trabalhadores precisam de seu próprio partido de massas, com um programa pela transformação socialista da sociedade. Mas na ausência de organizações fortes dos trabalhadores e da esquerda que possam liderar a erupção social, a Irmandade vai tentar preencher o vácuo.

Outro que tenta preencher o vácuo é Mohamed ElBaradei, que hoje alertou Mubarak que seu regime “está no seus últimos momentos”. Respondendo a crítica contra o fato que ele voltou ao Egito dias após o início dos protestos, ele respondeu enfatizando sua “solidariedade” com os manifestantes.

ElBaradei, líder da Aliança Nacional por Mudança, como a Irmandade Mulçumana, está tentando canalizar o movimento de massas sob o seu “controle”.

ElBaradei se ofereceu para ajudar a liderar um “governo de transição” e alertou que “se a comunidade internacional não se posicionar isso terá muitas implicações…”.

De fato, o imperialismo estadunidense está extremamente preocupado com o desenvolvimento. Por décadas, os EUA e outros poderes imperialistas ocidentais apoiaram seu aliado Mubarak. Agora, preocupado com o possível resultado do movimento, o presidente Obama hipocritamente disse que Mubarak deve “fazer mudanças no sistema político”. Mubarak é um fiel seguidor da política dos EUA na região, incluindo o papel de agente penitenciário sobre os palestinos na Faixa de Gaza e um aliado contra Irã. Se o regime de Mubarak cair, a política imperialista dos EUA na região vai se desfazer e entrar em território desconhecido.

Com o fracasso da repressão de Mubarak, até agora, em barrar os protestos, o imperialismo e a classe dominante egípcia pode ser forçados a remover Mubarak e fazer outros mudanças no regime, para salvaguardar o futuro da elite do Egito e o aliado importante dos EUA na região. Eles estão aterrorizados com a possibilidade de um colapso total do regime, com a possibilidade da Irmandade Mulçumana preenchendo o vácuo. Hoje, o regime de Teerã comentou provocativamente que o movimento de massas no Egito é um “eco” da revolução de 1979 no Irã que no final levou ao regime dos mulás.
 

Mudança de regime?

A remoção do Mubarak seria uma grande vitória para o movimento de massas nas ruas. Mas os trabalhadores e os jovens não devem confiar em nenhum governo de “unidade nacional” ou “salvação nacional”, que provavelmente incluiria restos do regime de Mubarak e seria dominado por outras forças de “oposição” pró-burguesas. Não é descartado tentativas de incorporar a Irmandade Mulçumana (ou partes dela) num novo regime, já que seus líderes já deram provas, durante bastante tempo, de que estão despostos a se acomodar e chegar a um acordo. Eles reivindicam que seu variante de islã político é “moderado”. Mas como vimos no caso da Tunísia, esse tipo de “mudança de regime” não vai satisfazer as necessidades e as reivindicações das massas.

O movimento revolucionário tunisiano está se espalhando por todo o mundo árabe, de Iêmen a Jordânia e agora, de forma mais espetacular, no Egito. Cada governo pobre da região está ameaçado de, mais cedo ou mais tarde, enfrentar movimentos de massa nas ruas e sua possível queda. A massa do povo trabalhador mostra seu poder e respondem de forma contundente a falsa ideia de que eles não iram lutar. Os movimentos de massas que varrem a África do Norte e o Oriente Médio é uma grande inspiração aos trabalhadores e jovens pelo mundo inteiro e, com toda razão, uma grande preocupação para as classes dominantes.
 

O CIT defende:
  • Pelo fim da repressão e brutalidade policial – Pela solidariedade internacional com o povo egípcio
  • Por ações de massa dos trabalhadores, incluindo uma greve geral, para derrubar Mubarak e todo o regime podre e brutal
  • Por direitos democráticos imediatamente, incluindo direito de se reunir, fazer greve e se organizar em sindicatos independentes
  • Pela criação de comitês de luta e defesa contra a repressão estatal, eleitos democraticamente nos locais de trabalho, bairros, escolas e universidades, coordenados em nível local, regional e nacional para ser a ponta de lança da resistência
  • Pela criação de comitês de policiais e soldados de base, unindo-se as massas e expurgando os oficiais e a hierarquia
  • Não ao sectarismo – Pela unidade dos trabalhadores independente de religião
  • Nenhuma confiança em qualquer regime de “unidade nacional” baseado nos interesses da classe dominante e do imperialismo
  • Por eleições imediatas para uma assembleia constituinte revolucionária democrática – Por um governo de trabalhadores e camponeses quer representa a maioria
  • Por um salário mínimo digno, trabalha garantido e um programa de investimentos massivos em moradia, educação e saúde
  • Pelo fim do bloqueio egípcio de Gaza – Pela independência da Palestina e pela unidade de trabalhadores e luta de massa para derrubar os ditadores da região
  • Pela nacionalização das grandes empresas, bancos e latifúndios no Egito e um planejamento democrático da economia para satisfazer as necessidades da população e não da elite
  • Por um Egito socialista e uma confederação socialista igualitária e voluntária da região

 

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