Grécia paralisada por uma semana de grandes greves e greve geral
Quarta-feira, 15 de dezembro, ocorreu uma das maiores greves gerais na Grécia dos últimos anos. Nada funcionou no país, com exceção dos transportes públicos de Atenas, que levava trabalhadores para o centro da cidade para protestar contra a terceira onda de ataques de austeridade acordado entre o governo do PASOK, a UE (União Européia) e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A greve foi 100% sólida nas docas, estaleiros, siderúrgicas, Coca-Cola e em muitos outros setores, enquanto ela estava próxima de 90% no setor elétrico, das telecomunicações, correios, companhia de água, o setor bancário, etc. O sistema ferroviário (não o metro de Atenas) teve uma paralisação completa, enquanto todos os vôos foram cancelados e nenhum barco deixou os portos. O número de setores que responderam ao chamado de greve é longo demais para mencionar todos. Basta dizer que, até mesmo os juízes entraram em greve e fizeram campanha junto com os outros trabalhadores do sistema judiciário. Os taxistas entraram em greve, mesmo dentistas privados e químicos. Apesar de um clima frio e muito chuvoso, cerca de 100 mil se manifestaram em Atenas e dezenas de milhares protestaram em outras cidades.
A greve geral vem em meio a um surto de greves que culminou esta semana. Isto levou a uma quase paralisia da sociedade grega. Trabalhadores dos transportes públicos foram os mais ativos nesta semana. Trabalhadores ferroviários assumiram a administração central da Autoridade Ferroviária, e o grupo do PASOK do sindicato dos trabalhadores ferroviários (que tem a maioria e controla o sindicato) declararam que não querem ter nada mais a ver com as políticas de governo do PASOK e com aqueles que a aplicam – o que significa que algum tipo de divisão começando a se desenvolver no interior dos sindicatos dirigidos pelo PASOK, embora isso ainda está longe de estar certo.
Há uma série de greves no setor bancário. Os médicos do sistema de seguridade social estão em greve por toda esta semana. Há grandes pilhas de lixo se acumulando em Atenas em consequência da greve dos garis.
O setor da educação está em ebulição, com universidades sob ocupação. Um encontro nacional dos reitores das universidades se posicionou contra as propostas de “reforma da educação”, anunciado pelo ministro da educação. Ao mesmo tempo ocorreram reuniões entre professores e estudantes de esquerda, pela primeira vez, com o objetivo de coordenar as lutas do setor educacional como um todo.
Os meios de comunicação de massa estão em tumulto, com o movimento de greve mais importante em 30 anos em curso neste setor. Além da greve geral na quarta, 15 de dezembro, jornalistas e outros trabalhadores dos meios de comunicação entrarão em greve na sexta-feira e sábado. Isso vai atingir “a galinha dos ovos de ouro” [os dias mais lucrativos] dos grandes proprietários da mídia – os jornais de domingo.
É a terceira onda de ataques por parte do governo e da UE e do FMI desde maio passado, quando o memorando entre a “tríade” foi assinado, que está provocando as greves. A redução maciça das condições de vida dos trabalhadores gregos, com redução de salários em 20% a 30% nos últimos meses, e a extensão dos ataques ao setor privado (ataques que começaram no setor público) é agora seguido pela destruição das negociações coletivas e pela aceleração das privatizações de tudo o que ainda não foi privado no setor público (acompanhado com novos ataques contra os salários dos trabalhadores neste setor).
A, na prática, abolição da negociação coletiva, atinge todos os trabalhadores na Grécia e em todos os setores. Acordos coletivos assinados pelos sindicatos ou pelas confederações, portanto, todos os sindicatos do país – não será mais obrigatória para os patrões. Os empregadores serão livres para empregar trabalhadores com contratos individuais.
A indignação com estes novos ataques é enorme. Nas ruas as pessoas entrevistadas pela televisão estatal nacional falam nos mais fortes termos condenatórios sobre os “300 mentirosos e ladrões” (ou seja, os 300 membros do parlamento grego). Presumivelmente, é impossível encontrar pessoas dispostos a falar favoravelmente as políticas do governo!
Os oficiais de alto escalão do governo e as lideranças do PASOK não podem mais caminhar livremente pelas ruas das principais cidades, ou ir aos bares tradicionais e nos seus distritos eleitorais. Eles não são apenas xingados e cuspidos, mas são inclusive agredidos fisicamente pelos transeuntes que os reconhecem. Na quarta-feira, um dos líderes do partido da oposição de direita, a Nova Democracia (ND), que serviu no governo anterior (2004-2009, seguido pelo governo do PASOK) que cometeu o erro de deixar o Parlamento e ir andando a um restaurante caro. Ele foi espancado pelos trabalhadores, que gritavam: “Ladrões sem vergonha!”. O parlamentar escapou com ferimentos graves quando manifestantes mais calmos apareceram para “protegê-lo” da raiva dos outros, entendendo que o ataque contra o parlamentar poderia prejudicar o movimento.
O potencial para um enorme movimento de massas, que podem barrar as políticas do governo do PASOK e se livrar do governo do primeiro-ministro Giorgos Papandreou é compreendida por todos, mas não há nenhuma direção para levar a luta adiante.
A greve geral convocada pelos líderes sindicais gregos são de caráter simbólico e não são realmente destinados a parar as políticas PASOK. Eles só servem para desabafar e para “assustar” o governo a fazer algumas concessões.