Eleições PSOL 2010: Balanço e perspectivas

A participação do PSOL nas eleições de 2010 teve muitos elementos positivos. A candidatura de Plínio deu um perfil público mais à esquerda ao partido e aproximou o PSOL dos ativistas dos movimentos sociais. Os mandatos conquistados ou mantidos contrabalançaram em parte as perdas importantes que o partido teve. Apesar disso, a pergunta que fica é se isso era o máximo que a esquerda socialista poderia obter dessas eleições. Em nossa avaliação, apesar da conjuntura muito difícil com as ilusões em Lula, a oposição de esquerda poderia ter conseguido muito mais se não tivesse cometido alguns erros fundamentais nesse processo.

O congresso do PSOL em agosto de 2009 deveria ter tido como centro o debate sobre os efeitos da crise e as perspectivas para o lulismo. Mas, o que ocorreu foi uma intensa disputa pela direção do partido entre dois blocos antes unidos. De um lado, uma nova maioria foi construída com APS, Enlace e dessa vez contando com a participação do CSOL. De outro, MES, PP-MTL e Heloísa Helena, ficam em minoria, mas mantém a presidência do partido e grande poder para gerar novas crises.

Apesar da disputa intensa, que quase levou à ruptura do partido no meio ao Congresso, ambos os lados, quando estavam juntos (com a exceção do CSOL), defendiam as mesmas políticas e foram responsáveis por retrocessos importantes no PSOL nos anos anteriores. Isso se deu com o esvaziamento dos núcleos, a perda do caráter militante do partido, a construção de um congresso com pouca discussão prévia, inchado na base (aberto a filiados sem qualquer militância ativa) e restrito na cúpula (com menos delegados). Promoveram também o crescimento do eleitoralismo e as alianças para fora do nosso campo de classe.

Os setores majoritários de ambos os lados voltaram a se unificar na defesa de uma aliança do PV de Marina Silva. As ilusões da maioria da direção do PSOL numa possível aliança com o PV, pressionados por uma lógica puramente eleitoral, provocaram enorme confusão na base de apoio ao partido e uma perda de tempo injustificável nas vésperas da campanha eleitoral.

Derrotada essa posição pela pressão da base e pelo oportunismo extremo demonstrado por Marina e o PV, passou-se à uma disputa interna extremamente desgastante. Boa parte dos antigos defensores da aliança com o PV passou a sustentar a pré-candidatura de Martiniano Cavalcanti e acabaram caindo no vale-tudo em busca da vitória a qualquer preço. Foram novamente derrotados, mas o desgaste foi sentido.

Candidatura do Plínio uma vitória da esquerda

A vitória da pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio foi uma vitória da esquerda socialista para além do PSOL. Infelizmente, não foi entendida dessa forma pelos potenciais aliados do PSOL numa Frente de Esquerda, como aconteceu em 2006. PSTU e PCB priorizaram a autoconstrução e a demarcação de terreno em detrimento da unidade da esquerda num cenário muito difícil para todos. O PSTU declarou que somente aceitaria conformar a Frente se Heloísa fossa a candidata, mesmo sabendo que ela representava o setor que mais ardorosamente defendeu as alianças com o PV e Marina.

Foi uma derrota para o conjunto da esquerda a ausência da Frente de Esquerda nestas eleições, um erro grave que fragilizou a construção de uma alternativa e um banho de água fria no processo de reorganização da classe. Não devemos subestimar o peso que isso jogou na crise que ocorreu no Congresso da Classe Trabalhadora que se reuniu em Santos, mas fracassou na tarefa de construir uma Central sindical e popular unitária.

A vitória de Plínio fortaleceu as posições mais à esquerda no PSOL, caracterizando a candidatura para as eleições presidenciais como sendo uma candidatura do partido em defesa das bandeiras e reivindicações da classe trabalhadora. Plínio simbolizou uma vitória em torno de uma candidatura própria, da defesa intransigente das alianças classistas e significou um avanço no que se refere à construção do PSOL enquanto partido.

Mas mesmo sem a Frente de Esquerda, o PSOL teve uma importante aparição no cenário Nacional. Plínio nos debates públicos apareceu claramente como sendo uma alternativa ao PT e PSDB e mesmo à pseudo-alternativa, eco-capitalista, de Marina Silva (PV). Apesar de não ter a mesma expressão nacional que Heloisa Helena seu mérito foi de colocar o PSOL em evidencia, apresentar um programa alternativo e desmistificar as falsas diferenças entre os três candidatos (as).

Para dentro do partido foi capaz de reaproximar uma camada de militantes e ativistas que vinham se afastando, pelos retrocessos e refluxos internos, mobilizou um setor importante da juventude socialista que foi às ruas fazer sua campanha, assim como obteve apoio de setores importantes dos movimentos sociais, como de partes do MST, por exemplo.

A candidatura de Plínio impediu que o PSOL cometesse um suicídio político e ocupou um vazio deixado pela esquerda nestas eleições. Do ponto de vista do resultado estritamente eleitoral, os quase 900 mil votos obtidos estão muito aquém do impacto político geral da candidatura.

Resultado eleitoral do PSOL

No cenário nacional o PSOL manteve o mesmo número de deputados federais. A não eleição de Luciana Genro (RS) foi compensada pela eleição de Jean Willys a partir da estrondosa votação de Chico Alencar no Rio. Junto com a reeleição de Ivan Valente (SP), o partido mantém três deputados federais.

A importante perda do mandato do deputado estadual Raul Marcelo em São Paulo, fez com que a bancada do PSOL na ALESP ficasse reduzida ao mandato de Carlos Gianazzi que foi reeleito. Em compensação no Rio, o espetacular desempenho de Marcelo Freixo garantindo sua reeleição para a ALERJ propiciou a eleição de uma nova deputada estadual no Rio, Janira Rocha.

O Rio de Janeiro talvez tenha representado a grande vitória do partido nestas eleições. Não por acaso este foi o estado em que Plínio foi mais bem votado. Marcelo Freixo e Chico Alencar bateram o recorde de votos em campanha. Marcelo com cerca de 177 mil votos e Chico Alencar com mais de 240 mil, foram os segundo deputados, estadual e federal, mais bem votados do RJ.

Com uma campanha militante, de rua, aguerrida o PSOL se colocou como uma alternativa política possível.

As derrotas de Luciana Genro no Rio Grande do Sul e de Heloisa Helena em Alagoas foram derrotas do conjunto do partido. Todavia, apesar da boa votação, evidenciaram os problemas internos do partido. Estas candidaturas representavam as forças políticas que dentro do PSOL foram contrarias a candidatura própria e que defenderam alianças com partidos fora da frente de esquerda. Não por acaso um dos candidatos ao senado pelo PSOL no RS retirou sua candidatura em apoio a Paulo Paim do PT. No caso de Heloísa, a postura intransigente no sentido de rejeitar a candidatura oficial nacional do PSOL e isolar-se do resto do partido, não criou as condições necessárias para que fosse possível enfrentar as forças reacionárias da direita tucano-lulista no estado de Alagoas.

Mesmo sem Heloisa Helena, no Senado o PSOL passou de um para dois senadores. A eleição de Marinor Brito pelo Pará e Randolfe Rodrigues pelo Amapá refletiram o impacto da Lei da Ficha Limpa. No caso de Randolfe, sua eleição aconteceu em meio a grande polêmica interna que não pode ser simplesmente ignorada pelo partido. Randolfe deu apoio informal ao candidato a governador do PTB no estado do Amapá mesmo depois da Executiva Nacional ter formalmente rejeitado uma inaceitável coligação com esse partido. Com essa trajetória, o destino de Randolfe é incerto. Mais grave foi a absoluta omissão da direção majoritária diante do escândalo dessa posição.

Campanha de Plínio e posição sobre o segundo turno

Mesmo com todos os elementos positivos da campanha de Plínio, as contradições internas do PSOL não deixaram de aparecer na campanha majoritária nacional. A defesa do socialismo não assumiu forma ofensiva. Para o grande público, a campanha presidencial geralmente falava de socialismo apenas quando era acusada de ser socialista por algum órgão de imprensa. De forma geral tivemos muitas dificuldades em ligar a idéia de uma sociedade alternativa com as demandas e reivindicações mais imediatas.

Mesmo empurrados à esquerda pela vitória de Plínio, os setores majoritários da direção (incluindo setores de ambas as chapas principais do II Congresso) conseguiram impor uma inflexão na linha política que a pré-candidatura de Plínio construiu nos debates com Matiniano.

No segundo turno, as contradições internas ficaram mais explícitas. Para nós este era mais um momento para se denunciar a falsa polarização entre PT e PSDB e fixar um projeto alternativo e fortalecer a coerência defendida no primeiro turno. Desconstruir a falsa imagem de esquerda de Dilma e Lula é vital no atual momento, assim como denunciar a direita tradicional representada por Serra.

Na contramão disso setores significativos do partido, sobretudo a bancada parlamentar recém eleita, defenderam voto crítico em Dilma, como sendo o mal menor. Com a máxima “Nenhum voto em Serra”, a Executiva do partido se posicionou abrindo a possibilidade de um voto crítico em Dilma assim como do voto nulo. Na prática o PSOL liberou os votos da sua militância. Mesmo com Plínio declarando que seu voto seria nulo, a repercussão maior foi a manifestação de voto em Dilma por parte dos parlamentares do PSOL.

Perspectivas para o PSOL em 2011

O futuro do PSOL dependerá em primeiro lugar da luta de classes. Uma retomada das lutas num amplo movimento de resistência aos ataques do novo governo e à crise internacional que chega cada vez mais perto, poderá criar um cenário propício para fortalecer o PSOL como partido das lutas e da transformação radical da sociedade.

Sem isso, as tendências em direção a uma acomodação institucional do partido e seus parlamentares e uma repactuação conservadora das forças internas são riscos nada desprezíveis. Nesse caminho o PSOL se consolidaria como legenda eleitoral importante, mas com pouco significado do ponto de vista da reconstrução de uma esquerda socialista de massas no Brasil.

O cenário alternativo, tão negativo quanto a repactuação conservadora interna, seria a reabertura de uma guerra interna pelo poder sem aprofundamento do debate político, nos moldes do que foi o II Congresso.

Para evitar isso é preciso inserir o PSOL nas lutas, organizar o partido pela base e fortalecer um pólo de esquerda conseqüente no seu interior.

Devemos aproveitar o saldo político positivo que aproximou uma nova camada de militantes do PSOL nas eleições e retomar, com este setor, a construção de núcleos, setoriais, e de campanhas de luta no conjunto da classe trabalhadora e da juventude. É também tarefa da esquerda do PSOL dar a batalha pela democracia interna, pelo debate político, e pelo direito e respeito às posições minoritárias.

  

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