Uma nova crise bancária global?
A ameaça de uma crise bancária paira sobre a economia mundial após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), o segundo maior colapso bancário da história dos EUA. Houve uma turbulência nos mercados inflados. As bolsas de valores foram atingidas por um “frenesi bancário global”. Este ano, a alta em Wall Street foi eliminada e a negociação de títulos corporativos foi interrompida.
O fim do período de quase 15 anos de uma fonte aparentemente interminável de “dinheiro barato” – taxas de juros baixas ou nulas – também foi o começo do fim para o SVB.
Uma abundância de dinheiro barato inflou ativos, lucros e preços de ações durante um longo período, e serviu como lubrificante para negócios especulativos, mas o retorno da inflação no ano passado pôs um fim a essa era. Em vez de dinheiro barato, as taxas de juros (o preço do dinheiro) subiram de acordo com o aumento da inflação, aumentando a probabilidade de crises financeiras e da dívida. Desde o início de 2022, a Reserva Federal dos EUA aumentou sua taxa de juros de 0,25-0,50% para 4,50-4,75%, um aumento de mais de 1.000%.
O fato de que alguns dos chamados “bancos de nicho” foram os primeiros a cair sob o peso das altas taxas de juros e da queda dos valores dos ativos pode apontar o início de vários colapsos do setor financeiro. O próximo pode muito bem vir no setor imobiliário com excesso de alavancagem. Ou como escreveu o economista estadunidense Kenneth Rogoff no Guardian em 5 de janeiro:
“O aumento das taxas de juros, por exemplo, tem colocado uma enorme pressão sobre as empresas de capital privado que contraem grandes empréstimos para comprar propriedades. Agora, com imóveis residenciais e comerciais à beira de uma queda acentuada e sustentada, algumas dessas firmas muito provavelmente irão à falência”.
O colapso do SVB na semana passada foi seguido, dois dias depois, pelo colapso do “banco cripto”, Signature Bank, tornando-o o terceiro maior colapso bancário da história dos EUA. Estes dois bancos foram assumidos pelas autoridades dos EUA, em antecipação a possíveis compradores.
Esta semana começou com mais um banco americano, o First Republic Bank, chegando perto do colapso depois que o preço de suas ações caiu quase 60% em um dia (13 de março).
“O Silicon Valley Bank tinha feito enormes investimentos no auge dos preços dos títulos (pandêmicos). Desde a pandemia, as taxas de juros americanas subiram muito rapidamente – e os preços dos títulos despencaram. O resultado foi, portanto, grandes perdas”, escreve o jornal sueco Dagens Nyheter em 13 de março.
O SVB está longe de ser o único banco ou empresa que sofreu grandes perdas em transações semelhantes. Mesmo o Riksbanken sueco (banco central) sofreu grandes perdas na compra de títulos durante a pandemia e os contribuintes podem ter que contribuir entre 50 e 70 bilhões de coroas suecas para pagá-las.
No espaço de 48 horas, as ações dos dois bancos falidos dos EUA do fundo de pensão sueco Alecta perderam todo valor e 12 bilhões de coroas suecas (1,1 bilhão de dólares estadunidenses) que deveriam ir para as futuras aposentadorias foram perdidas. “Aqueles com aposentadorias na Alecta que nasceram em 1979 ou mais tarde serão afetados pelos investimentos falidos (do Alecta)” (SvD Näringsliv, 13 de março). As aposentadorias não devem ser determinadas pelo mercado de ações e especuladores – é necessário um sistema de aposentadoria completamente novo.
Se este é o início de uma nova crise bancária global ainda está em aberto. Mas as falências bancárias mostram como o sistema financeiro é frágil. Os colapsos dos bancos nos EUA também não são o primeiro lembrete da crise financeira que se aproxima. Em setembro passado, o Reino Unido estava à beira de um quase colapso dos mercados de títulos e do sistema de aposentadorias do país. A crise só foi evitada pelas compras maciças de títulos do governo subsidiados pelo banco central.
Os colapsos dos bancos nos últimos dias não são uma coincidência, mas uma consequência direta da crise de estagflação do capitalismo (inflação e crescimento estagnado ou negativo), e mesmo que os bancos centrais desacelerem temporariamente o ritmo de aumento das taxas de juros, novas crises não estão muito distantes, e os pobres do mundo e os trabalhadores pagarão o preço.
Não há caminho a seguir no âmbito do sistema capitalista; ele deve ser abolido para dar lugar a um mundo socialista e a uma economia democraticamente planejada para assegurar a necessidade comum e o futuro do planeta.