Uma saída pela esquerda diante da crise do partido
O contexto da III Conferência Eleitoral do PSOL não é de normalidade partidária. O momento é de extrema gravidade. Uma ameaça paira não apenas sobre a realização plena da Conferência, mas também sobre a possibilidade concreta do partido se apresentar na disputa eleitoral desse ano.
As dificuldades da conjuntura política do país, com as ilusões em Lula e as traições das direções dos movimentos de massas, exigem de nós, mais do que nunca, seriedade, firmeza e clareza política para manter acesa a chama de uma alternativa socialista conseqüente. Mas, é exatamente no momento em que o máximo de grandeza é exigida que a pequenez de alguns se mostra de forma mais escancarada.
Uma tentativa de golpe foi promovida por um setor da direção do partido, o setor alinhado com a pré-candidatura de Martiniano Cavalcanti e aquele que mais insistiu na tentativa de coligação do PSOL com o PV de Marina Silva e Zequinha Sarney.
A página do PSOL na internet foi seqüestrada, suas finanças bloqueadas, burlas e irregularidades foram promovidas de forma consciente em Plenárias municipais onde não houve fiscalização. Boicote e tentativas de sabotagem das instâncias regulares de direção do partido foram promovidos tentando impor um resultado previamente estabelecido à Conferência ou minar sua realização. Tudo isso recoberto por uma cortina de fumaça composta por uma campanha de boatos, falsas informações e artigos sensacionalistas de baixíssimo nível circulando na internet.
Métodos stalinistas de luta fracional, com a substituição do debate político pelos golpes e manobras, foram introduzidos no PSOL de forma vergonhosa. Sua combinação com a nefasta prática petista de inchaço artificial de reuniões, manipulação de votos e fraudes, trazem ao PSOL um perigo evidente. A lógica desse tipo de ação conduz ao esfacelamento do partido numa guerra interna sem fim.
Diante desse cenário, a corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), parte do Bloco de Resistência Socialista (BRS), assume uma posição clara: é preciso barrar a tentativa de golpe promovida por dirigentes da pré-candidatura Martiniano.
Reivindicamos as decisões tomadas pelo Diretório Nacional do PSOL, em reunião auto-convocada por 36 de seus membros e que contou com a participação de 40 membros no dia 01/04, no sentido de regulamentar aspectos importantes da Conferência, garantir sua realização e impedir os golpes e abusos anti-regimentais promovidos por um setor da direção.
Repudiamos de forma clara os métodos stalinistas e as práticas ‘neopetistas’ no interior do PSOL e chamamos a todos (as) os (as) militantes a que se engajem na luta pela recomposição do partido sobre bases democráticas e socialistas, extirpando do seu interior todo tipo de fraude e violência.
Alertamos ainda que qualquer contemporização e acordo de cúpulas que implique em concessões em relação a essas práticas representará, cedo ou tarde, o fim do PSOL e, portanto, não podem ser admitidas.
Ao mesmo tempo, fazemos um chamado a toda a militância séria do PSOL a que reflita e tire todas as conclusões políticas sobre as razões que levaram o partido a essa situação.
Desde a fundação do PSOL em 2004, há um processo gradual e contínuo de rebaixamento da linha política do partido e de seu caráter militante, democrático e organizado pela base. Situações como a recente tentativa de coligação com o PV, onde o PSOL abriria mão de sua candidatura presidencial em favor de uma candidata do partido de Zequinha Sarney, seriam inconcebíveis nos momentos inicias do PSOL.
O caminho para essa linha suicida já tinha sido pavimentado nas eleições municipais de 2008. Naquele momento, a maioria da direção nacional do partido (incluindo o MES e MTL e também a APS e setores do Enlace), admitiu coligações eleitorais com partidos que nada tem a ver com a classe trabalhadora. A coligação com o PV em Porto Alegre e com o PSB em Macapá, além de muitas outras desse tipo, foram aprovadas pela maioria da direção nacional.
A recente tentativa de coligação com o PV em torno de Marina Silva, embora tenha sido estimulada principalmente pela presidenta do partido, Heloísa Helena, e as correntes MES e MTL/PP, acabou contando também com o apoio da direção da APS, apesar do questionamento de muitos de seus militantes. O fracasso dessa política é hoje evidente. Mas, é preciso que os setores sérios da militância do PSOL tirem todas as conclusões dessa experiência.
Se a coligação com o PV teria representado um grande desastre, a simples tentativa de construir essa coligação já foi um erro grave. Isso só provocou confusão e dúvida na base social do PSOL, fez o partido perder um tempo precioso na construção de sua alternativa eleitoral e também prejudicou as possibilidades de reconstituição de uma Frente de Esquerda com PSTU e PCB.
Diante desse erro só existem duas alternativas. A pré-candidatura de Martiniano Cavalcanti representou a opção pela insistência suicida na mesma lógica que levou à tentativa de coligação com o PV. A outra alternativa é tirar as lições desse erro até as últimas conseqüências. Não se pode ficar no meio do caminho sob pena de repetir o erro no futuro.
O câncer que atinge o PSOL nesse momento tem nome. Trata-se do eleitoralismo que subordina a luta socialista dos trabalhadores à lógica da busca por mandatos a qualquer preço. Essa lógica também tem conseqüências organizativas.
Está em curso há um bom tempo uma política de diluição da militância ativa do PSOL num mar de filiados que não tem quase nenhuma relação real com o partido. A filiação ampla e sem critérios acaba inevitavelmente refletindo a lógica da disputa interna e não o processo de nucleação de companheiras e companheiros vinculados às lutas sociais e que tem consciência do que significa ser membro do PSOL.
No processo do II Congresso do partido, em 2009, pela primeira vez na história do PSOL, os Núcleos de base não puderam eleger delegados ao Congresso. Ao mesmo tempo, pela primeira vez também, não se cobrou do filiado que participava das Plenárias nenhuma comprometimento maior com o partido. Nem mesmo a contribuição financeira foi cobrada, pois acabava sendo paga pelas correntes ao invés do filiado. Para decidir os rumos do PSOL bastava preencher uma ficha dentro do prazo e pronto.
O Congresso refletiu uma política de inchaço na base e estreitamento na cúpula, uma vez que o número de delegados no Congresso foi menos da metade do observado no I Congresso do partido. Isso abre espaço para uma política de manipulação de grandes massas de filiados na base e controle burocrático dos delegados na cúpula, matando o debate político vivo e real no interior do partido.
O eleitoralismo e a perda do caráter militante do PSOL são uma receita acabada para fazer ressurgir entre nós os terríveis e nefastos desvios da experiência petista. É preciso cortar esse mal pela raiz. Para isso, é preciso que todos aqueles que se mostram indignados com os métodos golpistas no PSOL avancem em suas conclusões e adotem um novo rumo no partido.
Com Plínio presidente, a Frente de Esquerda e um programa socialista
O PSOL ainda tem condições de sair dessa crise aprendo suas lições. Em nossa opinião, isso só será possível se a Conferência Eleitoral eleger o companheiro Plínio de Arruda Sampaio como nosso candidato à presidência da República.
A Conferência deve ainda deliberar como prioridade a busca de recomposição de uma Frente de Esquerda e dos Trabalhadores nas eleições, vetando qualquer possibilidade de coligação com partidos governistas e burgueses em geral.
A Conferência também deve proibir a possibilidade de que o PSOL, nacional e nos estados, receba recursos financeiros de empresas e do inimigo de classe. Deve também indicar os caminhos para uma retomada do caráter militante do PSOL, fomentando a organização de base e os espaços democráticos para a participação da militância.
A campanha Plínio presidente deve estar baseada num programa anti-capitalista e socialista. Um programa que vincule as reivindicações básicas dos trabalhadores por salário, emprego, moradia, terra, serviços públicos, democracia pra valer, contra a corrupção, com demandas que questione a lógica de funcionamento do sistema capitalista e do Estado burguês.
Nosso programa deve apontar claramente a necessidade da suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes tubarões capitalistas e a estatização do sistema financeiro, das empresas que foram privatizadas (como a Vale) ou semi-privatizadas (como a Petrobrás) e das principais empresas estratégicas no país, sempre com controle democrático dos trabalhadores.
Podemos sair da Conferência derrotando o golpismo e estabelecendo as bases para uma campanha eleitoral com força militante, com entusiasmo consciente e com comprometimento socialista. Mas, para isso, é preciso colocar o dedo na ferida e resgatar o projeto original do PSOL.
Plínio presidente, com a unidade da esquerda e um programa socialista!