A luta para garantir o Restaurante Universitário!
A Universidade Pública vem sofrendo com cortes e contingenciamentos, um desmonte que se agravou nos governos Temer e Bolsonaro. Durante a pandemia, ironicamente, foi somente porque os alunos permaneceram por quase dois anos assistindo às aulas remotas que várias universidades conseguiram se manter abertas. Com o orçamento reduzido, o retorno presencial é insustentável em várias universidades. Na Unifesp Baixada Santista, não é diferente.
As consequências dessa constante falta de recurso são sentidas no dia a dia. Na Unifesp BS, estamos há anos com “planos” de construção de novos prédios próprios nos terrenos vazios ao redor da Unidade Silva Jardim. O que temos no lugar de propriedades próprias da Unifesp, é a concessão pela prefeitura de Santos de espaços em situações precarizadas.
Serviço terceirizado
Apesar de ser composto por 5 prédios diferentes em Santos, só oferece Restaurante Universitário (RU) no prédio da Silva Jardim.
O RU atualmente é gerenciado por uma nova empresa terceirizada, Star Nutri Serviços Eireli App, que, desde o início do ano letivo foi incompetente.
Em 12 de abril, com uma fila extensa na entrada do RU, fomos surpreendidos com a informação de que “a comida acabou”. Todas as pessoas da fila foram mandadas embora, sem nenhuma alternativa, e os estudantes ficaram sem respostas e sem almoço. Este incidente não foi o único, poucos dias antes, faltou guarnição, tendo apenas arroz e feijão no prato.
Além disso, houve uma redução do horário de funcionamento, que tornou ainda mais difícil garantir a alimentação de estudantes do período noturno; que só chegavam na universidade próximo ao fechamento do restaurante. Há também estudantes que jantam o mais tarde possível pois é a última refeição até o horário de abertura do almoço no dia seguinte.
Condições de trabalho
As condições de trabalho das trabalhadoras terceirizadas também é preocupante. Nas primeiras semanas, a empresa operou o jantar com apenas 4 trabalhadoras na cozinha, fazendo refeições para mais de 380 pessoas. Neste período, havia somente 12 trabalhadores para atender todos os períodos (almoço e jantar), e 4 delas entravam às 10h10 e ficavam até o fechamento do RU às 21h, fazendo o armazenamento e limpeza.
As trabalhadoras terceirizadas estavam cumprindo quase 11 horas de trabalho por dia, sem pagamento de hora extra! Esses são os efeitos da terceirização. Enquanto a empresa coloca seus próprios interesses de lucro, nós pagamos: os trabalhadores terceirizados com más condições de trabalho e a comunidade com um serviço precarizado.
Nossa atuação e conquistas
Nas primeiras semanas de aula, a Juventude da LSR lançou um abaixo assinado com reivindicações tanto de estudantes (aumento do horário de funcionamento, implementação de máquinas de cartão de débito, crédito e vales), como de trabalhadoras (contratação de novas funcionárias, diminuição da carga horária e pagamento das horas extras). No texto, defendemos também o fim da terceirização e estatização do RU, pautas históricas do movimento estudantil e que nos custa consequências como essa situação atual. Mais de 300 estudantes e apoiadores assinaram conosco!
Conseguimos incluir na pauta da reunião do Conselho de Campus da Baixada Santista o debate sobre o restaurante. Garantimos uma audiência pública com a Direção Acadêmica e com uma representante da empresa. Nesse processo, tivemos algumas conquistas.
Os horários de funcionamento do Restaurante e recarga de crédito/ticket foram estendidos até às 20h. Não houve mais falta de comida. Os estudantes conseguiram participação paritária na nova Comissão de Alimentação. A equipe agora opera com 16 pessoas no total, o pagamento das horas extras foi prometido no final do mês de abril. A carga horária das trabalhadoras oficialmente reduziu uma hora. Mas, ainda existe sobrecarga e ainda ultrapassam seus horários de trabalho constantemente, já que o número de estudantes que dependem do restaurante vem crescendo – reflexo da crescente insegurança alimentar no país.
Ensino Superior para quem?
Os cortes constantes e a falta de recursos para a Educação são também sentidos em outras políticas de permanência estudantil além do RU.
Sabemos que os auxílios estudantis têm valores baixos e a possibilidade de se tê-los garantidos também é menor, já que com a falta de recursos, esses programas atendem cada vez menos estudantes.
Em meio a isso tudo, ocorre esse ano a revisão da política de cotas. É fato que as cotas foram e continuam sendo uma ferramenta fundamental no processo de diversificação da Universidades Pública. 2022 é um ano fundamental de luta não só pela permanência estudantil, mas também pelo acesso à Educação!
Preparar para mais lutas e vitórias!
Essas questões não são apenas de interesse dos universitários e dos trabalhadores da área. O sucateamento da educação pública traz consequências para a formação profissional da classe trabalhadora, o que, por sua vez, pode contribuir para a intensificação da precarização do trabalho, como por exemplo, a Uberização. Esta nova dinâmica individualiza as relações de trabalho e intensifica a exploração, cada vez mais distante dos direitos conquistados pela luta.
É fundamental que estejamos preparados e organizados para lutar contra o desmonte da Universidade e Educação. Precisamos exigir mais investimento para o Ensino Público. Só assim conseguiremos garantir um retorno presencial seguro, melhor infraestrutura nos prédios, mais políticas afirmativas e de permanência e maior diversidade e inclusão nos campi.
Organizados, mobilizados e juntos conseguiremos traçar estratégias e conquistar mais reivindicações como foi e está sendo a luta pelo Restaurante Universitário na Unifesp BS!