Dia Internacional das Mulheres 2022

Em 1917, as mulheres da classe trabalhadora iniciaram a revolução que parou a guerra – vamos fazer isso novamente!

As feministas socialistas do mundo inteiro marcharão e organizarão greves contra a guerra imperialista, expondo mais uma vez a brutalidade da opressão e exploração capitalista.

Na véspera do dia 8 de março, o dia internacional de luta das mulheres trabalhadoras, Rosa – Feministas Socialistas Internacionais (ROSA Internacional) e a Alternativa Socialista Internacional (ASI) chamam as mulheres da classe trabalhadora de todo o mundo para enfrentar a guerra, a exploração, a opressão e o sistema por trás dela: o capitalismo!

Como se as mulheres da classe trabalhadora já não tivessem razões suficientes para lutar contra as dificuldades que são colocadas sobre seus ombros, a “Guerra Fria” entre os EUA e a China pelo domínio mundial acrescenta outra ameaça existencial ao se transformar em um conflito militar “quente”, como o que está acontecendo no momento, com a intervenção agressiva e a horrível guerra levada a cabo pelo regime russo contra a Ucrânia.

A guerra é a continuação da política por outros meios, resulta das crescentes tensões imperialistas que foram jogadas brutalmente sobre os ombros do povo da Ucrânia. Mas a guerra é também a parteira da revolução. Embora isso pareça distante no momento, devemos lembrar os numerosos exemplos de mulheres da classe trabalhadora que se levantam e se organizam contra a guerra.

Não porque as mulheres seriam mais pacíficas por natureza, como mostram numerosas mulheres políticas pró-capitalistas em nações imperialistas belicistas, mas porque as mulheres da classe trabalhadora são brutalmente afetadas pela guerra. Enquanto enfrentam a perspectiva de ter que lamentar a perda de parceiros e filhos convocados para lutar na linha de frente, elas têm a tarefa de manter a sociedade funcionando enquanto enfrentam a fome e as dificuldades criadas para elas mesmas e seus filhos. Como as mulheres em áreas de conflito militar sabem por dura experiência, elas também enfrentam a ameaça da violência sexual como arma de guerra para desmoralizar o campo inimigo.

Na guerra atual, a contagem das mortes de civis já começou. Acordando ao som de foguetes e disparos nas ruas na madrugada de 24 de fevereiro, o povo ucraniano foi apanhado entre as forças imperialistas que lutam pelo domínio mundial. Isto acontece após semanas de belicismo da Rússia, bem como da OTAN e dos EUA. Já sofrendo com dificuldades econômicas e corrupção de sua própria elite governante, eles não tiveram voz no conflito que levou a guerra atual, mas apenas sofrerão com as consequências, aumento dos preços dos alimentos e da energia e lastimar as baixas de guerra.

O grito pela paz é forte em toda a região: imediatamente começaram os protestos contra a guerra, o que, significativamente, também ocorreu na Rússia. Não é surpreendente que o reacionário regime de Putin tenha respondido os protestos com severa repressão. Nas últimas semanas ficou claro que não há esperança de paz vindo das elites dirigentes de nações capitalistas ou de organizações internacionais como a ONU e a OTAN. A luta pela paz só pode vir do próprio povo da classe trabalhadora.

Esta não é a primeira vez na história que as mulheres socialistas tiveram que enfrentar uma guerra imperialista. Em 1915, elas organizaram a primeira conferência socialista internacional contra a Primeira Guerra Mundial, unindo socialistas da Rússia, Polônia, Alemanha, Suíça, Itália, Holanda, França e Grã-Bretanha atravessando as linhas de batalha. Nessa época, protestos e motins liderados por mulheres contra a inflação e a guerra já haviam começado a se desenvolver em vários países beligerantes. O manifesto da conferência afirmava:

“Qual é o propósito desta guerra, que inflige a você um sofrimento tão terrível? Dizem que é para o bem do país, para a defesa da pátria. Qual é o bem da pátria? Não significa o bem-estar dos muitos milhões que a guerra converte em cadáveres, aleijados, desempregados, mendigos, viúvas e órfãos?

O que colocou a pátria em perigo? Foram os homens usando outros uniformes do outro lado da fronteira? Mas eles tampouco queriam a guerra tal como os seus maridos. Eles ignoram as razões de assassinar seus irmãos que usam uniformes diferentes. Não! A ameaça à pátria vem de todos aqueles que enriquecem com o sofrimento das grandes massas e baseiam seu governo na opressão.

Quem se beneficia com a guerra? Apenas uma pequena minoria em cada nação. Em primeiro lugar, os fabricantes de fuzis e canhões, de chapas de blindagem e submarinos; os donos das docas e fornecedores do exército. Para aumentar seus lucros, eles fomentaram o ódio entre diferentes povos e assim contribuem para a eclosão da guerra.

A guerra serve aos interesses dos capitalistas como um todo. O trabalho das massas despojadas e exploradas produziu montanhas de bens que não podem ser consumidos por seus criadores. Eles são pobres demais; eles não podem pagar! O suor dos trabalhadores produziu estes bens; o sangue dos trabalhadores agora é derramado para conquistarem novos mercados no exterior”.

Em 1917, as mulheres por trás deste manifesto começaram a Revolução Russa, o evento que levou ao fim da Primeira Guerra Mundial. Negando às elites dirigentes das nações imperialistas belicistas a prerrogativa de decidir sobre seus destinos, elas começaram a luta que derrubou sua própria elite governante belicista. Resistindo contra a vigorosa propaganda, hoje devemos começar a construir um movimento massivo contra a guerra e o imperialismo, apelando para o movimento de trabalhadores e o movimento de mulheres a lutarem pela paz, entendendo que a permanência da existência do capitalismo e do imperialismo sempre resultará em guerra.

As que mais sofrem com as tensões imperialistas são as mulheres da classe trabalhadora na Ucrânia, Rússia, Belarus, Romênia e em outros países da região; são as mulheres da classe trabalhadora no “ocidente”, na Europa e nos EUA; são as mulheres da classe trabalhadora na China, Hong Kong e Taiwan. O mesmo se dá com  a classe trabalhadora e as mulheres pobres na Síria, Iraque, Iêmen e Afeganistão, cujas vidas foram mais destroçadas por brutais bombardeios e ocupações imperialistas. São as mulheres da classe trabalhadora unidas que têm o poder de combater tudo  isso.

Se trabalhadores, jovens e mulheres na Rússia evoluírem seus protestos e greves contra a invasão russa para uma luta, há muito esperada, para derrubar o regime autoritário, corrupto e misógino de Putin e seus acólitos, então existirá a arma mais poderosa para retirar todas as tropas russas da Ucrânia.

Somos solidários com nossas camaradas na Rússia que, enquanto este texto está sendo escrito, participam corajosamente na construção do movimento antiguerra dentro da própria Rússia. Da mesma forma, protestamos fora das embaixadas russas quando nossos camaradas foram presos após organizarem protestos contra outras guerras ou contra a violência de gênero e a favor dos direitos LGBTQI+.

Se os trabalhadores na Ucrânia protestarem e fizerem greve para tomar o poder em suas próprias mãos, expulsar as elites corruptas e organizar sua própria defesa por meio das comunidades, no seu próprio interesse, e se associarem à luta pelos plenos direitos das minorias, incluindo o direito à autodeterminação, isso seria recebido com solidariedade e apoio pela classe trabalhadora e juventude em todo o mundo

Antes de dizer “isso é impossível”, vamos lembrar o papel das mulheres e da classe trabalhadora nas lutas dos últimos anos, inclusive em Belarus e no Cazaquistão. Milhões de jovens na rua protestaram por “mudança de sistema e não de clima”; milhões de trabalhadores da saúde e da educação organizaram e lutaram por suas próprias condições e serviços públicos essenciais de qualidade acessíveis a todos. Esta é a força poderosa a partir da qual um movimento antiguerra pode ser construído!

Chamamos para protestos contra a guerra neste Dia Internacional das Mulheres. Sabemos que este é apenas mais um fardo, mais um risco para as condições de vida das mulheres da classe trabalhadora. Isto se soma às dificuldades que enfrentamos durante a pandemia, que fez a renda de 99% da humanidade cair e forçou mais 160 milhões de pessoas a viverem na pobreza. Tudo isso enquanto os 10 homens mais ricos do mundo dobraram o montante de suas fortunas.

As mulheres estão entre as vítimas mais duramente atingidas, com consequências duradouras. De acordo com o Relatório sobre a Disparidade Global de Gênero de 2021 do Fórum Econômico Mundial, a disparidade de gênero acrescentou, em apenas 1 ano, mais 36 anos para se alcançar igualdade. A previsão do relatório de 2020 indicava que seriam necessários 99,5 anos para que as mulheres atingissem alguns parâmetros de igualdade e hoje a previsão subiu para 135,6 anos!

A pandemia também mostrou que as mulheres trabalhadoras são realmente essenciais para o funcionamento da sociedade: as mulheres constituem a maioria dos trabalhadores dos serviços de linha de frente na luta contra este vírus que ameaçava a vida. Não foram os banqueiros ou os políticos, não foi a indústria armamentista ou as grandes empresas, mas as mulheres da classe trabalhadora que assumiram a luta, arriscando sua própria saúde e suas próprias vidas. Isso lhes deu a confiança para lutar ainda mais do que antes, com mais apoio na sociedade, por seu legítimo lugar na sociedade, contra baixos salários e uma carga de trabalho insuportável após décadas de austeridade neoliberal, contra o machismo e a violência de gênero, por uma sociedade solidária que nunca pode ser construída sobre os alicerces do capitalismo.

Além de construir um poderoso movimento de mulheres, nosso trabalho também é construir sindicatos fortes, combativos e democráticos, forçando as lideranças sindicais a romperem seus laços com partidos que retiram direitos dos trabalhadores e das mulheres, e assumirem a luta para sindicalizar as camadas mais oprimidas da classe trabalhadora, incluindo mulheres, negras e imigrantes.

É cada vez mais claro que não há fim para a guerra, a miséria e a opressão dentro do sistema capitalista. Não lutamos pela igualdade no empobrecimento, nem pela igualdade baseada na redução dos salários médios e das condições (relativamente) melhores dos homens trabalhadores. Não acreditamos que ter mais mulheres como representantes políticas ou como gerentes mudará nossas vidas. Não nos contentaremos com esta ou aquela pequena melhoria. Lutamos para mudar a maneira como a sociedade e a economia são dirigidas e em nome de quais interesses.

Somente uma economia planificada, baseada na propriedade pública dos grandes monopólios que dominam as vidas de milhões de pessoas, sob o controle democrático da classe trabalhadora e das massas oprimidas, pode salvar vidas que são perdidas para pobreza, guerra e doenças, além de proteger a natureza e todos os seus habitantes.

O planeta não pode mais suportar tanta devastação. Os efeitos da crise climática tiveram um impacto imediato sobre os mais pobres e já estão começando a afetar a todos. É por isso que as feministas socialistas defendem a expropriação das grandes fortunas acumuladas com o suor do nosso trabalho mal remunerado ou não remunerado, além da expropriação dos ricos para usar a riqueza criada por nós, pessoas da classe trabalhadora, em nosso benefício. Isto é necessário para reparar a destruição criada pelo sistema capitalista e lançar as bases para um mundo de paz, segurança e dignidade. É abominável que 252 homens possuam mais do que 1 bilhão de meninas e mulheres da África, da América Latina e do Caribe juntos. Somos nós, classe trabalhadora e mulheres pobres, que pagamos a conta da crise capitalista.

Mulheres trabalhadoras, pobres e jovens em todo o mundo se levantaram para questionar suas terríveis condições de vida e toda a opressão a que estão sujeitas. Da luta pelo acesso ao trabalho e à educação no Afeganistão, pelos direitos sexuais e reprodutivos na Irlanda, México, Argentina, Colômbia e Coréia do Sul, pelo emprego em condições dignas na África, Ásia e América Latina, pelo direito à terra e a um ambiente saudável no Brasil, contra o racismo estrutural nos EUA e em vários outros países. Contra a explosão da violência doméstica e familiar revelada durante a pandemia, que expôs a realidade do feminicídio. Na luta pelos direitos democráticos no Sudão, China, Líbano, Mianmar e Belarus, as lutas dos trabalhadores da saúde, professores e muitos outros especialmente afetados pelo trabalho sob a Covid em que as mulheres estavam frequentemente na vanguarda. Todos estes exemplos mostram que não somos passivos.

Cada vez mais, mulheres e jovens em todo o mundo têm questionado o capitalismo, o qual só pode ser patriarcal. Isto incluiu desafiar os restritivos e retrógrados papéis de gênero impostos a pessoas de todos os gêneros em prol da sociedade de classes e as múltiplas formas de violência que sofremos, as quais são intensificadas pelas várias formas de opressão baseada no gênero, sexualidade e raça que constituem o sistema capitalista. Cada vez mais, esta nova e radicalizada geração está chegando à conclusão de que não tem que ser assim.

Os movimentos feministas de massas que se desenvolveram internacionalmente são temidos pelo establishment quando avançam na luta e, mais especialmente, quando assumem e utilizam os métodos de luta da classe trabalhadora, como a greve, e questionam o próprio capitalismo. É por isso que setores do establishment capitalista procuram conscientemente cooptar, reivindicar a liderança do movimento e desmobilizá-lo. Para nós, mulheres trabalhadoras, um “feminismo” que visa apenas colocar mulheres da elite em governos e cargos gerenciais em empresas capitalistas, não atende nossas necessidades e não oferece nenhuma maneira de combater a opressão das mulheres. O “empoderamento” individual das feministas liberais, é incapaz de alcançar mudanças qualitativas em nossas vidas e nas vidas das incontáveis centenas de milhões de mulheres da classe trabalhadora e pobres.

O feminismo liberal tenta nos fazer acreditar na possibilidade de um capitalismo humano. Seus defensores estão muitas vezes felizes com suas próprias posições confortáveis, enquanto nós temos que nos contentar com a perspectiva de se alcançar a paridade de gênero… daqui a mais de um século! Não temos tanto tempo, mas mesmo que tivéssemos, sob o capitalismo, a diferença salarial entre os sexos nunca desaparecerá totalmente, pois as mulheres têm que combinar seu trabalho fora de casa com o trabalho não remunerado dentro de casa. A igualdade de gênero no topo da sociedade enquanto permanece a exploração da classe trabalhadora, incluindo o trabalho não remunerado e mal pago das mulheres, não mudaria nada fundamental para a desumanidade e brutalidade do sistema em relação às mulheres, a classe trabalhadora e às massas pobres do mundo, uma realidade que enfrentamos a cada minuto de cada dia.

Hoje milhares de mulheres em todo o mundo estão sofrendo algum tipo de violência e privação. O feminismo socialista luta pela libertação de todos. Para a emancipação de todos, precisamos construir uma nova sociedade na qual a classe trabalhadora assuma a economia e a administre democraticamente com base nas necessidades e não no lucro. Esta luta por uma nova sociedade socialista é, por si só, um passo para superar a opressão das mulheres e lançar as bases para sua total eliminação, pois se baseia em uma nova e elevada solidariedade e fraternidade com os homens trabalhadores. Nela não há espaço para opressão de qualquer tipo.

Fazemos um chamado não apenas às mulheres, mas aos homens da classe trabalhadora, sindicatos, movimentos sociais, partidos de esquerda: marchem e façam greve conosco no dia 8 de março, mas levantem as bandeiras do feminismo socialista todos os dias do ano! Muitas conquistas dos últimos anos foram possíveis porque as mulheres usaram os melhores métodos da tradição de luta da classe trabalhadora. Os crescentes chamados para uma greve internacional impulsionada pelas mulheres nos últimos anos por ocasião do 8 de março são exemplos práticos disso. Não podemos esquecer que o dia 8 de março tem em seu DNA as greves e exigências de mulheres trabalhadoras por pão, terra e paz que levaram à Revolução Russa de 1917. Podemos repetir isto, nos organizado internacionalmente com um programa comum a ser construído em lutas em todos os cantos deste mundo – incluindo o apoio de nossas irmãs e irmãos da classe trabalhadora na Ucrânia e na Rússia que se levantam contra a guerra imperialista e aqueles que a apoiam e lucram com ela.

Somos solidários com as mulheres – e os homens – da classe trabalhadora em todas as suas lutas por paz e dignidade, contra a exploração e a opressão. Para nós da ROSA Internacional e da ASI, é imperativo permanecer ativas depois de 8 de março. Encheremos as ruas de uma forma segura na pandemia de Covid-19 para difundir nossa mensagem, organizaremos greves e caminhadas onde pudermos. Chamamos vocês para se juntarem a nossas fileiras e para construírem conosco um movimento feminista socialista que defende a urgência de um novo caminho para a sociedade, sem opressão e sem exploração.

Por um feminismo antirracista, socialista e internacional!

Você pode gostar...