Maré de Rock: Pela Vida Contra o Extermínio

O evento Maré de Rock fez parte de uma série de iniciativas do fórum “Pela Vida, Contra o Extermínio”, e ocorreu no sábado 18 de outubro de 2008 em frente à Escola Municipal Bahia, num dos acessos ao bairro Maré no Rio de Janeiro.

O objetivo do evento, assim como outros relacionados ao fórum Pela Vida, Contra o Extermínio, foi denunciar e chamar a atenção da sociedade, para a questão da criminalização da pobreza, da favela e dos movimentos sociais. O local escolhido, uma das entradas da Maré, possui relação direta com as principais vítimas da atual política de segurança pública do Rio de Janeiro, que são os pobres e os favelizados.

Em função da política de enfrentamento que se instalou nas favelas do Rio de Janeiro, a polícia do Estado tornou-se aquela que mais mata e mais morre no mundo inteiro atualmente, e o Rio de Janeiro se tornou a capital mundial da morte por “bala perdida”, além de ser o Estado onde mais jovens negros e pobres morrem assassinados do Brasil.

O Governo do Estado se mostra pouco sensível com a situação de desespero que provoca nas favelas e na população pobre, que permanece pagando impostos. Esses impostos sustentam o Estado, o governo e a polícia, mas retornam a esses contribuintes em forma de escolas fechadas, tiroteios, comércio fechado, correria, desespero, ofensas morais, raciais, sociais e a morte.

Nos últimos anos, a política de terror ou política do confronto, tem trazido continuamente atos de violência, defendida e financiada pelo Estado, contra moradores do Rio de Janeiro, sobretudo moradores de áreas onde atuam o tráfico de drogas ou as milícias. A voz dos violentamente oprimidos, no entanto, deu respostas. A campanha contra o Caveirão e as marchas contra o extermínio e violência policial, foram marcas importantes da história de lutas urbanas em favor de uma vida digna de todos e contra as múltiplas formas de opressão, desigualdade e ignorância.

Apesar das ações e declarações em tom fascista do governo, não aceitamos o rótulo de descartáveis e fomos à luta, resistimos e combateremos com nossas armas o “Apartheid” instalado no Rio de Janeiro desde sempre. Agimos e agitamos com a tradição rebelde do Rock e a mobilização comunitária, as mesmas que lutaram contra as guerras, a indiferença, o preconceito, a miséria e pela liberdade em várias regiões do planeta. Nos inspiramos então na frase dita por um integrante das bandas do festival: “ninguém mata em meu nome”.

Para dar mais um sinal de denúncia, de não-acordo com as políticas públicas de “segurança” aconteceu esse festival de Rock na Maré. Este evento deu apoio e foi apoiado pelo “fórum Pela Vida, Contra o Extermínio”, que inclui diferentes grupos e atores que se colocam ativamente em oposição ao terror de Estado. O festival de bandas “Maré de Rock” contou com a contribuição de pelo menos 10 bandas, intervenções artísticas e manifestações culturais, e todos os interessados que participaram, escutando Rock, trocando idéias e festejando.

    Atualmente se articulam 
    no fórum:

  • Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos
  • Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Associação de Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Musicultura
  • Gabinete do Deputado Federal Chico Alencar (PSOL)
  • Conselho Popular
  • Justiça Global
  • Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
  • Movimento de Comunidades por Moradia Popular
  • Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência
  • Projeto Legal
  • Movimento Nacional de Direitos Humanos
  • Coordenação Nacional de Lutas
  • Movimento Direito para Quem?
  • Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis
  • Gabinete do Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL)
  • Gabinete do Vereador Eliomar Coelho (PSOL)
  • Centro Brasileiro dos Servidores Públicos
  • Frente Internacionalista dos Sem-Teto
  • além de militantes e ativistas independentes e quem mais se somar será bem-vindo!
“Pela vida, contra o extermínio”!

O “fórum” Pela Vida, Contra o Extermínio teve início no dia 08/05/08, a partir de um debate chamado “Pela Vida, Contra o Extermínio” na Associação de Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro.

Na ocasião, o debate apontou para a necessidade das organizações sociais e políticas, além de militantes e ativistas independentes, terem um fórum amplo de debate e ações que discutisse e fundamentalmente atuasse, denunciando a criminalização da pobreza, dos movimentos sociais e a truculência e despreparo na política de segurança pública do Rio de Janeiro. Ações nesse sentido haviam se esvaziado desde finais de 2007, com o término da “Campanha contra o Caveirão”.

Partindo desse contexto um conjunto de militantes, ativistas e representantes de organizações se reuni freqüentemente na sede do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos, com o objetivo de debater e articular ações contra o crescente e contínuo extermínio das populações pobres do Rio de Janeiro, especialmente das favelas.

Até o momento o fórum organizou um ato para recordar e cobrar responsabilidades após um ano da chacina no Morro do Alemão, articulou uma campanha de outdoors questionando a política de segurança no Rio de Janeiro, onde se lê: “Candelária, Vigário Geral, Baixada, Alemão, Acari, Providência… Estamos mais seguros? Infeliz é a sociedade que assiste passivamente sua juventude ser exterminada!” Esse texto vinha acompanhado de uma charge onde uma mãe segura seu filho de uniforme escolar baleado, enquanto um policial sorri e o blindado Caveirão permanece aterrorizando a comunidade. As últimas atividades organizadas pelo fórum foram um seminário chamado: “Violação de Direitos Humanos no Campo e na Cidade: A Segurança Pública Em Xeque”, na faculdade de economia da UFRJ, e uma assembléia com os moradores do Morro da Providência para discutir as ações das forças armadas naquela localidade depois do assassinato dos jovens de lá por criminosos de facções rivais, após serem entregues pelos militares aos mesmos.

 
Pela vida, contra o extermínio, porque?

Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, aproximadamente à meia-noite, vários carros de polícia pararam em frente à Igreja da Candelária. Em seguida abriram fogo contra dezenas de crianças e adolescentes que estavam dormindo nas proximidades da Igreja. Como resultado da chacina, seis menores e dois maiores morreram e várias crianças e adolescentes ficaram feridos.

No Parque Proletário de Vigário Geral, na madrugada do dia 30 de agosto de 1993, um grupo de policiais civis e militares (cerca de 40) encapuzados e fortemente armados, arrombaram casas e atiraram para todos os lados. Foram chacinadas 21 pessoas e outras quatro foram atingidas, sem chances de defesa, incluindo mulheres, homens e crianças.

No dia 17 de abril de 2003, na comunidade do Borel, carros da polícia subiram pela Estrada da Independência, e na Travessa Santo Antônio, conhecida por Vila da Preguiça, policiais chegaram atirando, às 17 horas, horário em que muitas pessoas estão na rua, chegando da escola ou do emprego. Homens, mulheres e crianças começaram a correr e outros se ajoelharam, os policiais não permitiram que ninguém se identificasse e iniciaram uma seção de tortura que culminou na execução fria de quatro moradores, jovens trabalhadores e estudantes.

No dia 28 de Junho de 2003, policiais militares cercaram e posicionaram-se em torno do sobrado na Rua Jota, em Acari, defronte à Av. Brasil, onde encontravam-se quatro jovens e uma senhora que tinha problemas mentais. Um policial entrou quebrando o telhado no cômodo dos fundos onde se encontravam os rapazes, que tentaram fugir sem reagir, mas foram executados. A senhora também foi executada no seu quarto, segundo o laudo pericial levou dois tiros no abdômen e um na palma da mão (indício de que tentou defender-se), mas exame posterior revelou que foi atingida na cabeça quando estava no chão, concluindo pelas marcas de tiro e sangue que se encontrou num canto do cômodo.

Na noite de quinta-feira, 31 de março de 2005, foram 29 mortos, vítimas escolhidas aleatoriamente em uma chacina ocorrida nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, onde os acusados são PMs.

Em uma ação planejada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que contou com 1300 policiais militares e membros da Força Nacional de Segurança, o governo do estado promoveu uma chacina no Complexo do Alemão na quarta-feira, 27 de junho de 2007, executando sumariamente 19 pessoas. Nada atesta que existiu confronto com traficantes, mas sim uma clássica operação militar de cerco e aniquilamento, com ordens de não fazer prisioneiros. Apenas duas pessoas foram presas.

Na manhã do sábado, 14 de junho de 2008, quatro jovens foram presos por militares dentro da favela e levados ao quartel do Exército. Depois de interpelados, foram levados até a favela da Mineira, a poucos metros dali e comandada por uma facção rival àquela que controla o Morro da Providência. No dia seguinte, os corpos dos três jovens apareceram junto aos detritos despejados no lixão de Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias.

Na Favela do Barbante, na noite do dia 19/08/2008, oito pessoas foram executadas a tiros por homens encapuzados. O delegado Marcus Neves, da 35ª Delegacia de Polícia, de Campo Grande, pediu a prisão de 18 pessoas acusadas de terem promovido a chacina na favela do Barbante. Segundo ele, seis são policiais militares que faziam parte de uma milícia, um dos indiciados é o ex-policial militar Luciano Guimarães, filho do vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho.

 
O pacificador

No pacificador, blindado ou Caveirão como é chamado, os policiais podem efetuar disparos sem o risco de serem reconhecidos. Normalmente o Caveirão entra nas comunidades com possantes alto-falantes repetindo refrões como “vim pegar a sua alma”, uma tática que não tem nenhuma função policial, servindo apenas para aterrorizar a população. É comum os policiais embarcados no Caveirão atirarem nos transformadores, deixando as comunidades na escuridão. As mulheres, em particular, são alvo de ofensas e frases machistas por parte dos policiais. Crianças e mesmo adultos têm mostrado sintomas de distúrbios psicológicos e emocionais devido à ação do blindado. Com menos de dois anos de utilização, o Caveirão já deixou um grande número de vítimas fatais, em sua grande maioria são moradores das comunidades, entre elas crianças e idosos. 

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