Todo apoio à greve de residentes do Hospital São Paulo
No dia 9/2 residentes da clínica médica do HSP entraram em greve. Desde então mais de 27 especialidades se somaram ao movimento. Dia 12 ocorreu uma manifestação envolvendo também residentes multiprofissionais e até de outros Hospitais (como o Hospital das Clínicas, da USP). Essa ação, em um momento de pandemia, denuncia as políticas neoliberais e genocida dos governos, que deixam a saúde no sufoco mesmo em um momento tão importante.
O Hospital São Paulo (HSP) é um complexo de atendimento referenciado nacionalmente. Além de atender a população, é também um hospital escola da UNIFESP e campo de formação e pesquisa fundamentais no nosso país. São centenas de trabalhadores e estudantes atuando e milhares de atendimentos realizados, que são diretamente impactados pelo sucateamento da saúde pública.
O investimento insuficiente do governo federal no HSP é uma questão crônica e o cenário que chegamos hoje é consequência de uma política de anos. Em 2017, o HSP quase fechou as portas por uma situação muito parecida com a atual. Faltavam insumos básicos até para fazer um exame de sangue. Isso mostra como é uma questão constante e continuará sendo, se o investimento no Hospital não for garantido e as condições de trabalho das equipes atendidas.
Além da política de precarização dos serviços públicos, que foi aprofundada com a EC 95 de 2017, enfrentamos neste momento a pandemia do coronavírus. Desde o início da pandemia, os gastos de todos os serviços de saúde aumentaram, com a necessidade de mais EPI’s, mais medicamentos e maior busca por atendimento. A situação do HSP é um exemplo do resultado desastroso da destruição do sistema público e a pandemia.
Residentes relatam faltar antibióticos, luvas, exames laboratoriais e até alimentos para pacientes internados, dentre outros insumos. É muito grave! Esse cenário de caos demonstra o tremendo equívoco que foi a aprovação do teto de gastos imposto pela EC 95, e como essa medida precisa ser derrubada para garantir mais investimentos na saúde. Não há plano de enfrentamento à pandemia efetivo que não passe por corrigir anos de sucateamento da saúde pública.
Saúde não se vende
A SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) é vinculada a UNIFESP, e atua como mantenedora do HSP, mas também é uma das Organizações Sociais (OSs) que mais recebe dinheiro dos governos de São Paulo pra gerenciar equipamentos de saúde, a partir de contratos com as gestões municipais e estadual. Não é preciso vasculhar muito para encontrar uma série de escândalos de corrupção. Em 2018, foi alvo de uma CPI na ALESP, que apontou que médicos contratados eram também sócios ou donos de empresa contratados para serviços terceirizados. Novamente em 2020 iniciou-se uma CPI das Quarteirizações, que levantou denúncias de contratos fraudulentos e contratos milionários, e a SPDM mais uma vez é alvo.
Hoje, a maioria dos equipamentos de saúde em São Paulo são gerenciados por OSs, que por sua vez fazem contratos com outras empresas. Isso facilita a ocorrência de superfaturamento, desvio de verbas, e dificultam também o controle social. Os governos, quando atuam, é só depois que o caso de corrupção vem à tona, mas em geral, mesmo quando denunciadas, as OSs de porte como a SPDM seguem sendo contratadas, como foi no caso dos hospitais de campanha. É urgente devolver a saúde para a administração direta, com controle do povo e das trabalhadoras e trabalhadores dos equipamentos, dissolvendo esses contratos das OSs com manutenção das pessoas que já trabalham nesses serviços. Com relação ao HSP, para além de mais investimento, é preciso ter mais transparência com relação a essa administração, realizando uma auditoria popular das contas, com representantes que trabalham e utilizam o serviço.
Saúde se defende
O movimento grevista está fazendo panfletagens diariamente para dialogar com a população e com pacientes e, nesta sexta-feira (19/02) às 9h, haverá um ato em frente ao hospital. A pauta central é por mais orçamento público para o HSP e por condições dignas de trabalho e atendimento. O movimento está solicitando se reunir com os governos estadual e federal para exigir essas condições. Todo o apoio popular é importante para pressionar estas reivindicações! Essa luta não é apenas das trabalhadoras e trabalhadores da saúde, e precisa ser encampada pelas demais organizações da classe trabalhadora, pela juventude e pela população em geral! A defesa do HSP é de todas e todos nós!
A greve dos residentes tem se mostrado um movimento grande, com envolvimento de muitas especialidades médicas, da cirurgia à clínica médica, evidenciando que o impacto chega em todos os setores. O Fórum Nacional de Residentes em Saúde (FNRS) e residentes de diversos programas já demonstraram apoio ao movimento de greve. Em um ato, na última sexta-feira, residentes de outros hospitais (como o Hospital das Clínicas, da USP) também estiveram presentes, fortalecendo o apoio político.
Este cenário em um dos maiores hospitais da região se torna ainda mais grave, no momento em que os governos estadual e municipal decidem voltar com as aulas presenciais. Em duas semanas de aula, diversas escolas já fecharam novamente, por casos confirmados. Inúmeros relatos de professores e famílias contam sobre a falta de estrutura das escolas para as medidas orientadas de higienização e distanciamento. Se não temos o básico para as equipes prestarem atendimento na saúde, como parece razoável a volta às aulas sem as medidas adequadas de prevenção?!
Nos solidarizamos com as e os residentes em greve e estaremos no ato de 19/02 e nos próximos momentos que virão desta luta! Encorajamos todas as entidades, organizações, partidos e coletivos de luta que também prestem seu apoio ao movimento.
- Por investimento na saúde pública!
- Em defesa do SUS e dos serviços públicos!
- Contra a privatização e as OS’s na saúde!
- Pela organização dos trabalhadores em seus locais de atuação!
- Fora governo genocida!
- Pela anulação do teto de gastos, EC 95!