Três perguntas sobre os EUA hoje

Jesse Lessinger é militante do Socialist Alternative (CIO nos EUA). Ele participou da II Escola Latino-americana realizada em 12-16 de fevereiro em São Paulo e fizemos essa entrevista sobre a situação dos EUA.

CRISE: Como os trabalhadores dos EUA estão sendo afetados pela crise econômica?

Na mídia está se dizendo que essa é a maior crise que o capitalismo atravessa desde a década de 1930. Analisando diferentes dados, percebem-se as grandes dificuldades que os trabalhadores estão enfrentando. De 2007 até janeiro desse ano já se contabilizam 3,6 milhões de demissões, sendo que mais da metade delas ocorreu nos últimos meses e ainda se prevê que até o final do mês ultrapasse o número de 4 milhões de demissões. Além disso, os milhões de déficit no orçamento apontam para cortes nos serviços públicos como educação, saúde, transporte público. Ou seja, a conta da crise é jogada sobre os trabalhadores, precarizando suas condições de vida. É um verdadeiro Tsunami econômico caindo sobre os ombros da classe trabalhadora. 

OBAMA: Como fica a relação do aprofundamento das contradições e da precarização das condições de vida e trabalho com o aumento da expectativa de superação dos problemas com a eleição de Obama?

Os efeitos da crise trazem conseqüências sociais, políticas, econômicas, afetam a consciência e aprofundaram a rejeição à Bush. A procura por soluções levou a um certo apoio a Obama. Aumenta na classe trabalhadora uma ansiedade por encontrar soluções ao mesmo tempo em que se aumenta a raiva frente às medidas adotadas pelo governo que ajudam os banqueiros enquanto o resto sofre. Os bancos têm parte das responsabilidades da crise, os trabalhadores não. Essa situação pode ser exemplificada ao analisarmos os dados de uma pesquisa realizada que mostra cerca de 70% de apoio popular a Obama, no entanto o apoio à sua política econômica é bem menor. Isso demonstra uma contradição em que se contrapõe a esperança de mudança, mas ao mesmo tempo medo de piora da realidade concreta. Mas o fato é que ele vai aplicar um pacote de estímulos à economia e ajuda aos bancos muito maior do que fez Bush, mas o seu apoio fará com que a população tenha mais paciência, estão no clima de “esperar e ver”.

Mas é preciso explicar que o apoio de Obama tem dois lados. Além desse respaldo popular ele também possui apoio da classe dominante que também precisa encontrar saídas para a crise do sistema capitalista e restaurar a imagem dos EUA pós Bush. Procuram um rosto novo e mais amigável ao mundo para o imperialismo. Nesse sentido é possível perceber qual lado terá mais influência em seu governo, visto que o seu conselho é composto tanto por membros do governo de Clinton como também do conselho de Bush.

A continuidade fica explícita também na postura frente à guerra no Iraque, onde Obama afirma que retirará tropas de lá, mas está deslocando-as para o Afeganistão. Na América latina utiliza “guerra contra as drogas” para criar uma frente de governos que se alinham à política estadunidense. É a aplicação da mesma política com uma forma diferente, mas mantendo a sua essência.

ORGANIZAÇÃO DA LUTA: Nesse contexto quais seriam as perspectivas de luta da classe trabalhadora e os desafios para sua organização?

A eleição de Obama e a esperança em seu governo não são precondição para frear a luta dos trabalhadores. Um exemplo disso foi a greve de Chicago em dezembro do ano passado onde os trabalhadores de uma fábrica resolveram ocupá-la três dias antes de seu fechamento para garantir os contratos e os benefícios. A vitória foi parcial, pois não conseguiram impedir as demissões, mas conseguiram fazer-se cumprir as cláusulas contratuais.

Os trabalhadores demonstraram para o conjunto da classe que só se consegue soluções a partir de ações militantes coletivas. Isso não significa a possibilidade de uma onda de greves imediatamente devido à fraqueza que o movimento sindical enfrenta, mas a crise econômica profunda está preparando a base para o desenvolvimento da consciência de classe pela volta da idéia de luta de classes. Isso é fundamental para a reconstrução de uma base socialista nos EUA.       

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